Breves Considerações sobre a Aliança da Criação e a Plenitude do Espírito em Efésios 5:18 - 6:9

por

Wilson de Angelo Cunha

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Introdução

Vez por outra, percebe-se, ao estudar a história da igreja ou das doutrinas cristãs, que não somente a pessoa e obra do Espírito Santo tem sido entendidas erroneamente, como também o seu papel na vida da igreja. Hoje dia, esse quadro permanece o mesmo.

Acontece que a plenitude do Espírito Santo ou o enchimento do Espírito Santo é confundida com a prática, por parte dos que são ou que se denominam cheios do Espírito Santo, de atitudes estranhas, como por exemplo: gritar; pular; entrar em transe, falar em línguas e etc.

Ao contrário disso, o autor desse artigo crê que a plenitude do Espírito Santo ocorre gradualmente na vida cotidiana da igreja. Ele ocorre no relacionamento entre marido e mulher; no relacionamento dos pais e filhos; e no relacionamento dos empregados com os empregadores. Ou seja, é no dia a dia da vida cristã, que os cristãos se enchem e são cheios pelo Espírito Santo.

O autor desse artigo crê igualmente que a plenitude do Espírito Santo está diretamente relacionada com a doutrina da Aliança da Criação. Como veremos no decorrer desse artigo, a doutrina da Aliança da Criação diz que, ao criar o homem à sua imagem, Deus estabeleceu com ele um vínculo (aliança/relacionamento) de amor e vida. Ela diz também que Deus administra essa aliança por meio de seus mandatos ou ordenanças: o mandato espiritual, que enfoca a resposta do homem ao relacionamento de Deus com ele; o mandato social, que focaliza o relacionamento do homem com seus semelhantes e, especificamente, o relacionamento do homem com sua esposa e filhos; o mandato cultural, que fala do relacionamento do homem com a criação de Deus, bem como com o trabalho que Deus lhe concede. Em primeiro lugar, portanto, analisaremos os 3 primeiros capítulo do livro de Gênesis, a fim de mostrar que a Aliança está presente ali.

Depois disso, analisaremos Efésios 5.18-6.9 para mostrar que os aspectos indicadores da doutrina da Aliança estão presentes ali. Em primeiro lugar, a figura do casamento, muita usada na Escritura para descrever a Aliança de Deus com o seu povo, está claramente presente ali; em segundo lugar, veremos que os mandatos da Aliança também estão claramente presentes nesse texto; em terceiro lugar, veremos, pela análise do contexto de Efésios 5, que é perfeitamente plausível falar da doutrina da Aliança na carta de Paulo aos cristãos de Éfeso.

Logo após isso, analisaremos os aspectos particulares de cada um dos mandatos em Efésios 5.18-6.9. Por último, delinearemos algumas aplicações do assunto proposto para a vida da igreja hoje.

1. Definição Da Palavra Pacto

A palavra berith aparece cerca de 290 no Antigo Testamento e é, conforme indica W.J. Dumbrell, em seu livro Covenant & Creation, geralmente traduzida por “pacto” ou “aliança”.[1] Há uma grande discussão sobre a etimologia dessa palavra. O estudioso do Antigo Testamento, Dr. Mauro F. Meister indica, em seu artigo Uma Breve Introdução Ao Estudo Do Pacto, as três posições mais defendidas:

1. Berith é derivada do assírio birtu, que significa “laço”, “vínculo”;

2. O substantivo berith tem origem na raiz de barah, que significa “comer”, estando relacionada com a cerimônia que selava um acordo ou relacionamento entre partes;

3. O substantivo berith está ligado à preposição bein, que significa “entre”.[2]

A questão é saber qual é a mais provável das três alternativas acima. Estudiosos do Antigo Testamento como W.J. Dumbrell, Gerard Van Groningen, Mauro F. Meister e O. Palmer Robertson defendem a primeira alternativa que diz que berith é derivada do assírio birtu, significando “laço”, “vínculo”.[3]

O. Palmer Robertson diz que o uso contextual dessa palavra no A.T. confirma a posição dos estudiosos citados acima. Gerard Van Groningen fornece, em seu artigo Covenant(s), exemplos de usos dessa palavra em vários contextos da Escritura, que favorecem a sua posição. Os contextos são:

· Gênesis 26.26-31: Abimeleque e Isaque fizeram um “acordo”, “pacto”, para viverem em paz. Esse “pacto” foi confirmado por um juramento.

· Josué 9.15: Josué e o Gibeonitas se uniram, por um juramento, para viver juntos em paz;

· Reis 5.12: Salomão e Hirão fizeram um “tratado”, “pacto”, para viver em paz conjuntamente;

· Samuel 20.3, 16.-17: Davi e Jônatas se uniram, quando fizeram uma “aliança” de amizade;

· Malaquias 2.14: O casamento é apresentado como uma “aliança”. Duas pessoas se unem, se casam, fazem uma aliança.[4]

É importante ressaltar que em todos os contextos acima, a palavra berith denota a obrigação de uma pessoa para com outra. Por exemplo: a obrigação do homem ser fiel à mulher de sua mocidade em Malaquias 2.14. Isto favorece, em muito, a posição sustentada pelos estudiosos acima.

Esses paralelos mostram, claramente, que a Aliança é um vínculo de amor e vida.

A etimologia de berith, conforme defendida acima, insinua que há mais de uma parte no pacto. Por causa disso, alguns estudiosos defendem que o Pacto é bilateral. De fato, pode-se dizer que o Pacto é bilateral porque ele envolve duas partes. No caso de uma aliança feita entre duas pessoas (Davi e Jônatas), entre nações (Salomão e Hirão), pode-se dizer que as partes são iguais. No caso da aliança feita entre Yahweh e o homem não se pode afirmar que a Aliança é bilateral, porque não há duas partes iguais, propondo os termos de uma aliança. Assim, a Aliança de Yahweh com o homem é unilateral. Gerard Van Groningen expressa esse fato muito bem, ao dizer:

... Deus iniciou, determinou os elementos, e confirmou a Sua aliança com a humanidade. Esta aliança é unilateral. Embora seja feita com pessoas, elas são recipientes, não contribuintes; não se espera que elas ofereçam elementos à Aliança; elas são chamadas a aceitá-los conforme são oferecidos; a guardá-los conforme requerido, e a receber os resultados que Deus, por juramento, assegura que não serão retidos.[5]

Tendo estabelecido a raiz mais provável para berith e, portanto, o que está envolvido no seu significado, qual seja, o de “laço”, “vínculo”, “obrigação”, é necessário definir o que berith significa.

Entre os estudiosos acima, dois apresentam uma leve diferença na definição de berith. O. Palmer Robertson a define, em seu livro O Cristo dos Pactos, assim:

Aliança é um pacto de sangue. Envolve compromissos com conseqüências de vida e morte. No ato de estabelecimento da aliança, as partes se comprometem mutuamente, por meio de um processo formal de derramamento de sangue. Este derramamento de sangue representa a intensidade do comprometimento da aliança. Por meio da aliança elas se ligam para a vida e para a morte.[6]

A objeção à definição de Robertson de berith é que, nem sempre o elemento “derramamento de sangue” está presente no estabelecimento de uma aliança. Um dos casos é o de Gênesis 1-2, onde Yahweh estabelece a sua aliança com o homem, sem, contudo, derramar sangue.

Por outro lado, Mauro F. Meister define pacto assim:

Portanto, quando se trata do pacto divino-humano pode-se dizer que o pacto é um vínculo/elo de amor, iniciado e administrado pelo Deus triúno com a sua criação, representada pelos nossos pais.[7]

Esta é a definição que adotaremos nesse trabalho.


2. O Pacto da Criação

2.1. A plausibilidade de um pacto da criação

A palavra “pacto” não aparece no relato da criação. Isto é, para muitos, prova de que não é legítimo falar de um pacto de Deus com o homem, estabelecido no momento da criação. Dr. Fred Klooster é um exemplo.[8] Contudo, deve-se levar em conta os seguintes fatos:

· O. Palmer Robertson argumenta, em seu livro Cristo Dos Pactos, que a palavra berith também não aparece em 2 Sm 7 ou 1 Cr 17, onde Deus confirma a sua aliança com Davi. Isto não significa que esses textos não falam de uma aliança de Deus com Davi, pois, tanto 2 Sm 23.5 como Salmo 89.3 falam de uma aliança de Deus com Davi.[9]

· Gerard Van Groningen argumenta, em seu livro Criação e Consumação, que o termo “Trindade” também não aparece na Escritura, embora seja ensinado por muitas referências às três pessoas. Em Gênesis 3 o Pacto da Redenção/Graça foi incorporado ao Pacto da Criação; contudo, o termo berith não aparece no capítulo 3 de Gênesis. Nem por isso, argumenta Van Groningen, muitos teólogos deixam de sustentar o Pacto da Redenção/Graça.[10]

Além disso, deve-se olhar para três passagens das Escrituras que dão suporte à doutrina do Pacto da Criação. As passagens são: Jeremias 33.20,21,25,26.; Oséias 6.7 e Gênesis 6.18.

Jeremias 33.20,21,25,26

O. Palmer Robertson demonstrou convincentemente, através de uma análise exegética cuidadosa, que esse texto dá suporte à doutrina do Pacto da Criação. Tanto o verso 20 como o verso 25, de Jeremias 33, falam de “uma aliança feita com o dia e com a noite”. A questão é saber se isso é uma referência à criação, ou à aliança de Deus com Noé.

Gênesis 8.22 deixa claro que a aliança de Deus com Noé reza o que segue: “sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite nunca cessarão”. Por causa da referência ao “dia e a noite”, Robertson conclui que Jeremias podia ter se referido à aliança de Deus com Noé.[11]

Contudo, Gênesis 1.14 também se refere ao “dia e a noite”. A questão é saber se Jeremias aludia a Gênesis 8, ou a Gênesis 1.

Para resolver essa questão, Robertson recorre à passagem paralela de Jeremias 33, que é Jeremias 31.35ss, onde se lê o seguinte:

Assim diz o Senhor, que dá o sol para luz durante o dia e a ordem fixa da lua e das estrelas para luz da noite,

Se esta ordem fixa se dissipar de diante de mim, diz o Senhor, deixará também a descendência de Israel de ser uma nação diante de mim para sempre”.

O problema dessa passagem é que a palavra berith “aliança” não aparece. A questão chave, na resolução dessa dificuldade, é a palavra “ordem fixa”, proveniente de hûq, que significa “estatuto”. Robertson demonstra que hûq equivale a berith, em muitas passagens da Escritura, tais como: 1 Reis 11.11; 2 Reis 17.15; Sl 50.16; 105.10.[12] Por causa disso, a passagem se refere à aliança de Deus com o dia e a noite.

Jeremias 31.35 diz que Deus dá o sol para a luz do dia e a ordem fixa da lua e das estrelas para luz, durante a noite. Robertson conclui, dizendo que a referência ao sol e à luz como os portadores de luz para o dia e para a noite se acha na narrativa da criação, o que não acontece na narrativa da aliança de Deus com Noé.[13]

Além disso, continua Robertson, a referência tanto às estrelas como à lua se acha em Gênesis 1.16, mas não em Gênesis 9.[14]

Assim, Jeremias 33 se refere à aliança que Deus estabeleceu com o dia e com a noite, no momento de sua criação. Portanto, à luz de Jeremias, parece razoável falar de um Pacto da Criação.

Oséias 6.7

Essa passagem declara que o povo de Israel “transgrediu a aliança como Adão”. O ponto central dessa passagem, para nossos propósitos, é a palavra “Adão”. Conforme O. Palmer Robertson indica, em seu livro O Cristo Dos Pactos, esse termo é entendido de três formas:

1. “Adão” é entendido como designando um lugar. Dessa forma, o texto deveria ser lido assim: “Eles transgrediram a aliança em Adão”.[15]

Essa interpretação requer uma emenda no texto hebraico: a preposição “k” (como) deveria ser trocada pela preposição “l” (em). Contudo, o estudioso de Antigo Testamento, Dr. Mauro F. Meister, diz que não há base suficiente para que tal mudança seja feita.[16]

De fato, Josué 3.16 se refere ao lugar chamado “Adão”. Entretanto, como O. Palmer Robertson indica, não existe indicação de que Israel tenha cometido algum pecado ali.[17]

2. “Adão” é entendido como designando a “humanidade” ou o “homem”. Ou seja, Israel pecou à semelhança dos homens.

Embora Robertson reconheça a força dessa posição, ele reconhece também que essa posição acrescenta significado em demasia ao texto.[18]

3. “Adão” é uma referência ao pecado do primeiro homem, isto é, Adão. Essa é a posição mais plausível, porque não requer emendas desnecessárias e leituras exageradas de Oséias 6.7.

Sendo assim, Oséias 6.7 admite que Adão quebrou a aliança. Se quebrou, havia uma aliança. Se havia uma aliança, esta era a Aliança da Criação.

Gênesis 6.18

Em sua tese de mestrado, Walking With God As A Covenant Man, Sebastião Arruda, após apresentar alguns exemplos do uso do causativo de qûm, apresenta também alguns usos onde ele significa “estabelecer” ou “confirmar”:

· 2 Samuel 7.25: Davi ora para que Deus “confirme” as promessas feitas no capítulo anterior;

· 1 Reis 12.15: A palavra divina sobre a divisão do reino foi “confirmada”;

· Jeremias 11.5; 23.20; 29.10; 30.24; 33.14: o verbo espressa a intenção divina de “cumprir” ou pode se referir à intenção divina de “executar” o que havia sido prometido;

· Gênesis 26.3: Deus aparece a Isaque e promete “cumprir” as promessas feitas a Abraão;

· Números 30.14: um marido “estabelece” os votos de sua esposa, ao recusar anulá-los.

Por causa desses textos, Sebastião Arruda conclui que a melhor tradução para a expressão vahaqimot et briti itk é: “Eu ratificarei meu pacto contigo” ou “Eu confirmarei meu pacto contigo”.[19]

O texto diz, portanto, “confirmar a aliança”. Isto significa que Deus vai confirmar algo que ele havia feito; nesse caso, ele vai confirmar a Aliança da Criação.


3. O significado dos termos “imagem” e “semelhança” em Gênesis 1.26 e o estabelecimento da aliança

Gordon J. Wenham reuniu as diversas opiniões sobre esse assunto. Elas são:

1. “Imagem” e “semelhança” são distintos. A imagem relaciona-se com as qualidades naturais do homem (razão, personalidade, etc) que fazem o homem assemelhar-se com Deus; enquanto que semelhança refere-se às graças supranaturais, isto é, ética.

2. A imagem refere-se às faculdades mentais e espirituais que o homem divide com o seu Criador.

3. A imagem consiste de uma semelhança física, isto é, o homem parece-se com Deus. Wenham diz que essa posição tem a seu favor, o fato de que “tselem”, na maioria das vezes, denota uma imagem física. Gênesis 5.3 é um desses casos. Esse verso diz que Adão gerou a Sete, segundo a sua imagem (tselem). Isso siginifica que Sete, parecia-se fisicamente com o seu pai. Contra essa posição, Wenham diz que O Antigo Testamento enfatiza freqüentemente a incorporeidade e invisibilidade de Deus (cf. Dt 4.15-16);

4. A imagem de Deus faz do homem representantivo sobre a terra.

5. A imagem é a capacidade que o homem tem de relacionar-se com Deus.[20]

Essas alternativas ressaltam a dificuldade em definir o que os termos “imagem” e “semelhança” significam. A maioria delas apresenta um ponto importante do que estaria implicado nos termos em discussão, o que torna difícil escolher uma posição ou outra. Contudo, Wenham cita uma observação muito importante de Claus Westermann sobre Gênesis 1.26, que ajuda o estudioso desse texto a enfatizar mais um do que outros dos aspectos apresentados acima. Westermann observa que a frase “em nossa imagem” modifica o verbo “façamos” e não o substantivo “homem”.[21] Por causa disso, Wenham conclui dizendo que há um tipo especial na atividade criadora do homem, que o coloca em um único relacionamento com o seu Criador, capacitando-o a respondê-lo.[22] Van Groningen também enfatiza isso, embora o faça de outra forma, quando ressalta que por duas vezes é dito do homem que “fez/criou criou à imagem de Deus”. A importância dessa repetição fica ainda mais clara, quando se percebe que de nenhuma outra parte da criação é dito, por mais de uma vez, que Deus a criou. O texto diz simplesmente que Deus criou; do homem é dito que “fez/criou à imagem de Deus”.[23]

Van Groningen ressalta, ainda, dois aspectos importantes envolvidos nos termos em discussão. Os dois são: “semelhança” e “relacionamento”. Por semelhança, em termos de capacidade e virtudes, o homem espelha o seu Criador. Nesse sentido, a declaração de Dumbrell é esclarecedora: “... Pela criação, o homem é, portanto, o representante visível no mundo criado do Deus invisível (...)”.[24] O termo “relacionamento” requer um pouco mais de consideração. Sobre esse termo Van Groningen diz:

Um outro fator importante deve ser enfatizado sob o título de relacionamento. Por Deus ter criado o homem à sua imagem e semelhança, o relacionamento é um mais do que semelhança. Deus estabeleceu um vínculo de vida e amor entre si próprio e o homem. A relação de semelhança entre uma pessoa e sua estátua é formal, sem vida e sem expressão de racionalidade, vontade ou emoção. Não é assim com Deus e o portador da imagem dele. Assim como Deus deseja e ama, assim também o portador da sua imagem. E, este vínculo de vida e amor funciona mutuamente, dinamicamente, significativamente e é frutífero - até onde, e a não ser que seja distorcido pelo pecado. Este vínculo de vida e amor é conhecido como sendo pactual.

Deve ficar claro, aqui, que Deus estabeleceu um relacionamento de vida e amor, que é chamado de relacionamento pactual, quando criou o homem à sua imagem. Isto é importante neste trabalho.


4. O Pacto Como Meio Administrativo


4.1. O Que São Os Mandatos?

Van Groningen diz que, ao estabelecer sua aliança, Deus exigiu que a humanidade respondesse de maneira viva, amorosa, dinâmica e fiel. Para Van Groningen, “... as repostas que Deus exigiu são estipulações pactuais ou mandatos (...)”.[25] Ele diz também que o pacto foi feito para ser um instrumento do reino.[26]

Assim, a resposta da humanidade ao relacionamento de Deus deve ser dada, através do cumprimento dos mandatos pactuais. Mais tarde, será visto na Escritura que termos ou expressões como: justo e andou com Deus (como no caso de Enoque) estão intrinsecamente relacionados com a obediência aos mandatos pactuais.

Passamos, agora, ao estudo desses mandatos, que são: cultural, social e espiritual.


4.1.1. Mandato Cultural

Para Van Groningen, Deus colocou o homem em um relacionamento singular com o cosmos, através do mandato cultural. Esse era um relacionamento de governador sobre o domínio cósmico. O homem deveria exercitar suas prerrogativas reais fazendo o seguinte:

· Governando

· Desenvolvendo

· Mantendo[27]

Para Van Groningen o governo do homem sobre o cosmos envolve trabalho. Por causa disso, ele acentua também dois aspectos importantes sobre o trabalho:

· Privilégio real: O homem tem privilégio porque ele pode usufruir das fontes naturais do reino cósmico para o seu sustento. Como vimos, Gênesis 1.29 diz que Deus providenciou para o homem o sustento necessário para o mantimento da sua vida.

· Responsabilidade real: O homem é responsável pelo cosmos. Já foi ressaltado acima que o homem deveria fazer isso governando, desenvolvendo e mantendo o reino cósmico. Esses três aspectos devem caminhar sempre juntos na visão bíblica sobre o trabalho. O homem não deveria usar excessivamente do reino cósmico, a ponto de destruí-lo. Antes, ele deveria usá-lo com responsabilidade, de modo que o seu trabalho glorificasse a Deus. O homem não deveria também deixar as fontes naturais do reino cósmico intactas; ele deveria usá-las e desenvolvê-las para a glória de Deus. Esse princípio não é estranho às Escrituras. Mateus relata no capítulo vinte e cinco do seu livro a parábola dos talentos. É muito importante notar que o servo bom e fiel é aquele que desenvolveu o que havia recebido do seu senhor (cf. v.20,21,22,23). Ao passo que o servo mau é aquele que não desenvolveu o que havia recebido do seu senhor (cf. v.26).

O. Palmer Robertson ressalta dois aspectos importantes no mandamento do trabalho. Eles são:

· O trabalho não é indefinido: Isto é, são seis dias de trabalho de acordo com o modelo da criação. Robertson cita Murray sobre esse ponto; um comentário que não pode deixar de ser transcrito aqui. Murray diz:

A ênfase colocada sobre os seis dias da semana deve ser devidamente apreciada. A ordenança divina não é simplesmente referente ao trabalho; é trabalho com certa constância. Há, na verdade, descanso do trabalho, o descanso de um dia inteiro em cada sete. Provê-se a subsistência do ciclo de descanso, mas há também o ciclo do trabalho. E o ciclo do trabalho é tão irreversível quanto o ciclo do descanso. A lei de Deus não pode ser impunemente violada. Podemos estar perfeitamente certos de que muitos dos nossos males físicos e econômicos procedem da falta de observância do dia semanal de descanso. Mas podemos também estar perfeitamente certos de que muitos dos nossos males econômicos resultam da nossa falha em reconhecer a santidade dos seis dias de trabalho. O trabalho não é apenas um dever; é também uma bênção. E, de igual maneira, seis de trabalho são tanto um dever quanto uma bênção.[28]

O que deve ser ressaltado aqui é que Deus estabeleceu um padrão de trabalho e de descanso: seis para um. O mais importante é que Deus abençoa a obediência constante desse padrão.

· O trabalho é o principal meio pelo qual é assegurado o desfrute da criação por parte do homem.[29]

Outra observação importante sobre o trabalho é dada por Robertson. Ele ressalta que esse mandato do trabalho é mantido no Novo Testamento. Em 2 Tessalonicenses 3.10-12 lê-se:

Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: Se alguém não quer trabalhar, também não coma. Pois, de fato, estamos informados de que entre vós há pessoas que andam desordenadamente, não trabalhando; antes se intrometem na vida alheia. A elas, porém, determinamos e exortamos, no Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando tranqüilamente, comam o seu próprio pão.[30]

O mandato cultural, portanto, estende-se a todas as áreas da vida: política, tecnologia, ciência, ensino, prestação de serviços e etc. Ele deve ser cumprido dentro do padrão estabelecido por Deus na criação.

4.1.2. Mandato Social

O mandato social pôde ser dado porque Deus criou a humanidade não só à sua imagem e semelhança como também macho e fêmea. Van Groningen diz que “... este mandato provê a base divinamente ordenada para o casamento, para a família restrita e a família extensiva - os clãs, as nações e a comunidade da humanidade de todo o mundo”.[31]

Sendo o casamento o meio estabelecido por Deus para dar existência à família restrita e, conseqüentemente, à família extensiva, será analisado agora o que é o casamento e alguns dos seus princípios básicos, conforme estabelecidos na criação.


O que é o casamento?

Em seu livro A Família da Aliança, Van Groningen define casamento assim: “... O casamento é uma aliança. Na verdade, ele pode ter um aspecto contratual, ele tem um aspecto legal, ele tem um aspecto de arranjo de vida, mas casamento como uma aliança é muito mais”.[32]

Depois de apresentar a definição acima, Van Groningen começa a discutir alguns aspectos vitais envolvidos na definição do que é o casamento. Ele distingue os seguintes aspectos:

· O casamento é um vínculo inquebrável: Van Groningen diz: “... Casamento é uma relação de ligação entre um homem e uma mulher. Casamento é o vínculo de amor e de vida que une um homem e uma mulher que então estão unidos para o resto de suas vidas até que a morte os separe”.[33]

· O casamento é uma representação da aliança de Deus com o seu povo: Van Groningen diz: “... O casamento humano expressa todos os dias simbolicamente a Aliança de Deus conosco (...)”.[34]

Esses dois aspectos são de fundamental importância para as implicações a serem apresentados abaixo.

O. Palmer Robertson também apresentou, ao analisar o texto de Gênesis 1.26-29, alguns aspectos do casamento. Eles são:

· Deve-se notar a maravilha da fusão interpessoal envolvida no casamento: Gênesis 2.22-24 diz que o homem e a mulher se tornarão “uma só carne”. Para Robertson esse expressão “... não se refere simplesmente aos vários momentos da consumação marital. Em vez disto, esta unidade descreve a condição permanente de união alcançada pelo casamento”. O termo “união permanente” é muito importante aqui.

· A ordenança da criação determina a estruturação interna que caracteriza a instituição divina do casamento: Gênesis 2.18 diz que Deus faria para o homem “uma auxiliadora idônea”, porque não é bom que ele esteja só. Para Robertson, essa frase indica que a mulher foi criada para ser auxiliar do homem no relacionamento conjugal. Para ele também, essa ordem interna do casamento não é estranha ao Novo Testamento. Em 1 Coríntios 11.9 Paulo diz que a mulher foi criada por causa do homem. Sobre isso, Robertson diz: “... O propósito da existência do homem como ser criado não é ser um auxílio para a mulher. Mas o propósito da existência da mulher como ser criado é glorificar a Deus sendo um auxílio para o homem”.[35]

Robertson continua analisando a expressão “que lhe seja idônea”, que significa “que lhe seja correspondente”. Ele nota a importância dessa frase, ao observar que toda a criação poderia servir ao homem. Mas em nenhuma parte da criação poderia ser achado algo que lhe servisse de modo correspondente. Isto, somente a mulher poderia fazer.[36]

Para Robertson, esse “... traço distintivo da mulher indica que ela não é menos significativa do que o homem com respeito à pessoa dela (...)”.[37] Assim como o homem, a mulher possui a imagem de Deus em si. Robertson diz: “... Somente como igual em pessoalidade podia a mulher ´corresponder´ ao homem”.[38]

O terceiro aspecto levantado por Robertson destina-se à análise do que ele chama de “aberrações sexuais”. É o que fazemos agora, ao mostrar as implicações do que já foi dito acima.

· Robertson nota que a poligamia contradiz a ordem da criação do casamento: Robertson diz: “... A criação de uma só mulher do homem original enfatiza a integridade e a exclusividade da união alcançada no relacionamento conjugal. Não se pode jamais introduzir uma terceira parte sem destruir a união que já existe. `Desde o princípio´ Deus indicou que os dois, e somente dois, formarão uma só carne”.[39]

· Robertson nota que o divórcio contradiz a ordem da criação do casamento. Foi visto acima que o casamento é um “vínculo inquebrável” e que ele é também “uma representação da aliança que Deus tem com o seu povo”. Van Groningen diz que Deus não quebra a sua aliança; tal como ele, a aliança do casamento não deve ser quebrada. Malaquias 2.16 diz que Deus odeia o divórcio. Van Groningen é também esclarecedor nesse ponto:

Como Deus não se divorcia, assim marido e mulher não devem se divorciar. Divorciar-se é quebrar o matrimônio da Aliança. Divorciar-se é dizer que a aliança matrimonial não é um vínculo de ligação para todos os tempos. O divórcio diz que nós podemos nos separar depois de certo tempo e ir para nossos diferentes caminhos por causa de outras opções, devidos a desapontamentos, por causa das falhas de um ou de ambos. Mas Deus deixou bem claro nas Escrituras, que o divórcio não é uma opção. O profeta Malaquias afirmou claramente ´Deus odeia isso' (2.16). Referimo-nos antes a Mateus 19.1-7 quando Jesus afirma que o divórcio é proibido, e se naquele tempo foi permitido por Moisés, foi por causa da dureza do coração. O divórcio nunca foi intencionado. O divórcio contraria a pura essência do casamento como uma aliança que nunca deverá ser anulada.[40]

· Robertson nota que o homossexualismo contradiz a ordem da criação relativa ao casamento. O homem deve deixar pai e mãe e unir-se com a sua mulher. Ele não deve deixar pai e mãe para unir-se com alguém do mesmo sexo. Isto é uma aberração sexual; uma perversão natural da ordem da criação.[41]

· Van Groningen observa que o casamento deve ser feito entre os filhos da Aliança somente. De acordo com Deuteronômio 7, um filho da aliança não pode se casar com um pagão. Após analisar esse texto, Van Groningen apresenta a razão porque um filho ou uma filha da Aliança não pode se casar com um pagão:

... A razão sustentada é que aquele que não é submisso pode bem exercer uma influência maior e fazer seu companheiro virar as costas a Deus. Não é para haver casamento entre pessoas de diferentes crenças e a razão para isso é que o povo da Aliança de Deus é um povo santo, separado para Deus, santificado pelo sangue de Cristo, inspirado pelo seu Espírito. O povo da aliança é um povo santo, escolhido por Deus para ser sua possessão preciosa e não é para ser manchado e se tornar não santificado por um relacionamento, ligando-se a alguém que não é submisso a Deus e que, portanto, não está entre aqueles que são sua abençoada possessão.[42]

Para Groningen, o casamento deve ser uma unidade na fé.[43] Van Groningen conclui assim:

O Novo Testamento é claro. Não devemos estar em jugo desigual, seja na adoração, seja na formação de uma família. Deus diz que o casamento é uma aliança e uma aliança liga duas vidas, dois seres que são totalmente um só no Senhor, um só na esperança, um só na fé, um só no amor, e esse casamento da Aliança é o começo e a base, a fundação, de acordo com as ordenanças de Deus, da família da Aliança.[44]

Para Van Groningen, o casamento é o começo e a base da família da Aliança; para Robertson a ordenança da criação para o casamento e a família tem significação contínua nos propósitos da redenção. Ele diz: “... A propagação da raça através da instituição do casamento indica o meio primário pelo qual encontram realização os propósitos de Deus na redenção. Deus realiza seus propósitos de redenção não por um método contrário às estruturas da criação, mas por método em conformidade com a criação”.[45]

Por causa disso, apresentaremos, de forma detalhada, como a família é importante nos propósitos da redenção.

Roberto S. Rayburn demonstra, em seu artigo The Presbyterian Doctrines Of Covenant Children, Covenant Nurture And Covenant Succession, como a família serve aos propósitos da redenção. Ele distingue os seguintes pontos, que serão somente alistados aqui:

1. A Graça corre nas linhas das gerações;

2. É da vontade e do propósito declarado de Deus que a graça corra nas linhas das gerações;

3. O paradigma bíblico é que os filhos da Aliança cresçam na fé desde a infância;

4. Os filhos da Aliança são membros da igreja;

5. Os pais devem educar seus filhos na fé Cristã e no amor;

6. A educação dos filhos da Aliança na fé Cristã é o instrumento divino para despertá-los à vida espiritual.[46]

Esses pontos servem para mostrar a necessidade da obediência ao mandato social.

4.1.3. Mandato Espiritual ou Mandato da Comunhão

Para Van Groningen, esse mandato envolve a resposta do homem ao relacionamento estabelecido por Deus, entre ele e os homens criados à sua imagem. Deus estabeleceu um relacionamento íntimo entre si e a humanidade. Van Groningen acentua três aspectos sobre isso:

1. Deus caminhava no jardim com o homem e a mulher;

2. Deus estabeleceu o sétimo dia como um dia de descanso, onde o homem e a mulher dirigiam a sua atenção unicamente para Deus;

3. Deus ordenou que esse tempo deveria ser separado para o relacionamento amoroso e comunhão íntima.[47]

Embora o mandato espiritual envolva os aspectos mencionados acima, é importante ressaltar brevemente alguns aspectos do sábado do Senhor.

 

O Sábado

Van Groningen destaca, em seu artigo O “Sábado” no Antigo Testamento: Tempo para o Senhor, Tempo de Alegria Nele, alguns pontos importantes e esclarecedores sobre Gênesis 2.1-3. Eles são:

· Gênesis 2.1-3 enfatiza a cessação da atividade, não o descanso ocioso: a melhor tradução para as expressões “finalizou” e “completou” é “Deus declarou terminado”. O termo “descansou” significa que Deus “sabateou” no sétimo dia. Para Van Groningen, isso significa “... que ele celebrou o término do que havia criado, tendo declarado sua obra como acabada. Ele escolheu aquele dia como um Dia Santo, no qual desfrutou o que era bom, perfeito e completo (...)”.[48]

· Deus criou um padrão no tempo e para o tempo. A ênfase da passagem em discussão, para Groningen, é que Deus estabeleceu um padrão regular para o tempo, que tem propósito no mundo criado, especialmente no relacionamento entre Deus e o ser humano. Ele diz que “... Deus nos mostra aqui que a sua obra de criação é perfeita, está consumada e que seu ciclo temporal está estabelecido”.[49]

· O propósito do estabelecimento desse padrão é abençoar o homem. Deus “abençoou” e “santificou” o sétimo dia. O termo “abençoar” indica o que Deus fará pela criação e, em particular, pelo ser humano, a coroa e o agente responsável pela criação. O termo “santificar” indica que Deus separou para si uma sétima porção do tempo, que deve ser observada pelo homem. Sobre isso, Van Groningen diz: “... Portanto, esse tempo foi declarado um canal, um verdadeiro meio potencial para um contato direto entre Deus e o homem (...)”.[50] E mais: “Em resumo, esse é o tempo para o homem cultuar a Deus (...) É tempo para fazer tudo o que pode para ter comunhão direta com Deus (...)”.[51]

· O homem deveria desfrutar do sábado. Assim como Deus descansou no sábado de tudo que fizera, assim o homem deveria, depois de trabalhar seis dias, descansar desfrutantemente no sábado.[52]

É necessário dizer algo sobre a mudança da guarda do sétimo dia para o primeiro dia da semana. Van Groningen diz que, uma vez que o homem pecou, o sábado foi colocado no plano recriador ou redentor de Deus. O dia da ressurreição e o dia de Pentecostes marcam, historicamente, o início desse ato recriador de Deus. Para Van Groningen, isso explica porque tanto o dia da ressurreição como o dia de Pentecostes se tornou o dia específico em que uma sétima parte do ciclo temporal foi chamada de Dia do Senhor.[53]

5. Exegese de Efésios 5.18-21

5.1. Existe algum indício nessa passagem que indique a doutrina da aliança?

Como nos 3 primeiros capítulos de Gênesis a palavra “aliança” não aparece em Efésios 5.18-6.9. Contudo, podemos ver tópicos que se relacionam diretamente com ela. Em primeiro lugar, Efésios 5.22-33 fala, em última instância, do relacionamento de Cristo com a Igreja, usando a figura do casamento. Van Groningen indica, em seu artigo Covenant, que a Bíblia usa a figura do casamento para se referir a Aliança de Deus com o seu povo.[54]

Ezequiel 20.37 afirma claramente que a aliança é um vínculo. Deuteronômio 7.9 ensina que essa aliança é um vínculo de amor. No seu livro A Família da Aliança, Van Groningen salienta que o casamento é uma representação da aliança, do relacionamento amor-vínculo, entre Deus e o seu povo. As Escrituras se referem a isso repetidamente (Ez 16.8-16; Jr 3.14; 31.32).[55] A aliança como um vínculo pode ser mais bem entendida, através de uma comparação entre esta e o casamento. Esta comparação é dada por Sebastião Arruda, na sua tese Walking With God As A Covenant Man.[56] Vejamos:

Aliança
Casamento
1. Sua origem está na iniciativa de amor do Criador, onde ele promete ser nosso Deus e requer que pertençamos a ele exclusivamente; assim, ele cria um relacionamento entre ele e seu povo.
1. Ele se origina na iniciativa de amor do noivo e na reposta positiva da noiva, criando, assim, um relacionamento feliz.
2. É permanente e indissolúvel. Yahweh sempre é fiel à sua aliança.
2. É permanente e indissolúvel, protegendo a união conjugal de confusões emocionais e ações destrutivas.
3. É governado pelos mandamentos de Moisés lidos como as palavras da Lei para todo o povo, que os aceitou: “E tomou o livro da aliança e o leu ao seu povo; e eles disseram: Tudo o que falou o Senhor faremos e obedeceremos” (Ex 24.7).
3. É governado pelos mandamentos. O marido deve amar sua esposa, a esposa deve ser submissa ao seu marido, os filhos devem honrar os pais e etc (Ef 5.21-6.9).
4. Guardar esses princípios trará bênçãos ao fiel, ao passo que a desobediência trará suas resultantes maldições.
4. Guardar esses princípios do relacionamento familiar trará bênçãos incontáveis para o marido, esposa e filhos; ao passo que a desobediência conduzirá à destruição familiar.
5. O relacionamento pactual requer sacrifício. Cristo foi o sacrifício que assegurou nosso perfeito relacionamento com Deus.
5. O relacionamento familiar requer o sacrifício do perdão contínuo, do não egoísmo e da compreensão.
6. A condição para assegurar a continuidade da Aliança: a instrução dos filhos de modo que eles continuem a ser o povo da Aliança.
6. A condição para assegurar a continuidade da família: a instrução dos filhos.
7. O relacionamento pactual requer fidelidade e exclusividade (1 Pe 2.9). Yahweh é um Deus zeloso (Ex 20.5).
7. O relacionamento familiar requer fidelidade e exclusividade. Todo o que ama é zeloso.
8. A união mística com Cristo é um privilégio do povo da aliança.
8. No relacionamento conjugal, ambos são uma só carne (Gn 2.24).

 

Portanto, visto que casamento é uma figura usada para representar a aliança de Deus com o seu povo e visto também que ela expressa esse relacionamento de modo íntimo, e ainda, que o casamento é o assunto de Efésios 5.22-33, conclui-se que, aqui, temos o primeiro e fortíssimo indício de que podemos falar de aliança e plenitude do Espírito Santo.

Em segundo lugar, Efésios 5.18-6.9 fala claramente de relacionamentos. Efésios 5.18-21 fala do relacionamento do homem com Deus; Efésios 5.22-6.9 fala do relacionamento do marido e da mulher; dos pais com os filhos e dos servos com os senhores. Isto reflete os relacionamentos estabelecidos na criação, que são, como já vimos, os mandatos da aliança da Criação.

Em terceiro lugar, o tema da aliança não é estranho à carta de Efésios. No capítulo 2, Paulo de dirige ao Efésios, lembrando-lhes que, em outro templo, eles eram gentios e estranhos às alianças das promessas (v. 12). Mas em Cristo, continua Paulo, eles se tornaram membros da família de Deus (v. 19). No capítulo 4, Paulo, então, os exorta à preservação da unidade do Espírito; ao correto uso dos dons; ao revestimento do novo homem. No capítulo 5, ele continua a exortá-los a que sejam imitadores de Deus (v. 1-2), a que deixem as obras das trevas (v.3-14); a que sejam sábios, remindo o tempo (v. 15-17), a que sejam cheios do Espírito Santo (v. 18), cumprindo os mandatos da aliança (5.19-6.9).

Conclui-se, portanto, que é perfeitamente plausível falar de aliança e plenitude do Espírito Santo em Efésios 5.18-6.9.



5.2. Estrutura da Passagem


Peter T. O’Brien fornece a estrutura dessa passagem:


Não vos embriagueis com vinho...,

Mas enchei-vos do Espírito,

Falando uns com os outros,

Com salmos, hinos e cânticos espirituais,

Cantando e fazendo música com os vossos corações ao Senhor,

Agradecendo a Deus,

Por todas as coisas

No nome de nosso Senhor Jesus Cristo,

Submetendo-vos uns aos outros,

No temor de Cristo,

As esposas aos seus maridos...[57]

 

A questão a ser resolvida nessa passagem diz respeito à função dos cinco particípios presentes nela em relação com o imperativo “enchei-vos do Espírito”. Peter O’Brien defende que é melhor entendê-los como dependentes particípios de resultado que descrevem o enchimento ou a obra do Espírito ao encher os cristãos.[58] O’Brien fornece as seguintes razões para a sua posição:

1. O particípio imperativo é menos freqüente no Novo Testamento do que muitos têm afirmado;

2. A situação semântica e estilística de Efésios 5.18-21 é diferente de outros exemplos de particípio imperativo. Nesse parágrafo os cinco particípios estão desarticulados e seguem o verbo principal, plhrousqh (‘enchei-vos’). Estilisticamente, Efésios tem outros exemplos de particípios dependentes, sendo o exemplo mais óbvio o de 1.3-4, onde vários estão reunidos;

3. O assíndeto no verso 22, juntamente com a falta de um imperativo levou muitos a considerar “sujeitando-vos” como tendo sido emprestado do verso 21 e, portanto, considerado como imperativo. Mas a despeito da distância do verso 18, ele é melhor lido juntamente com os quatro particípios precedentes. Além disso, esta é única grande parte da carta que começa sem conjunção. Isto significa que 5.22-6.9 não é uma unidade separada, mas intimamente relacionada com 5.15-21.[59]

4. O’Brien diz que essa posição se encaixa melhor no contexto do que a sugestão de entender esse particípio como meios ou maneiras.[60]

Este último argumento, contudo, é perfeitamente refutável. Primeiro, porque o verbo “enchei-vos” está no imperativo, presente, passivo. O imperativo indica que os efésios deveriam se encher; o passivo indica que eles seriam cheios e o presente indica continuidade. Se eles deveriam se encher, a pergunta é: como eles deveriam se encher? A resposta são os particípios que se seguem. De modo negativo, Paulo disse para os efésios não se embriagarem. Eles sabiam como se embriagar. De modo positivo, ele disse: enchei-vos. A pergunta é: eles sabiam como se encher do Espírito? Para mim, a resposta mais plausível é não, uma vez que os efésios tinham pouco ou nenhum conhecimento do Espírito Santo (cf. At 19.2). Paulo, então, mostra-lhes o caminho através dos cinco particípios que se seguem. Portanto, o autor desse artigo considera os particípios como indicadores de meios que conduzem aos mesmos resultados. Os crentes devem se encher do Espírito através do cumprimento dos particípios.

Sendo assim, os cinco primeiros particípios indicam claramente o relacionamento do crente com o seu Criador. O último fala do relacionamento do crente com o seu próximo – marido e mulher (Ef 5.22-33), pais e filhos (6.1-4) e servos e senhores (6.5-9). Se os particípios indicam meios para o enchimento do Espírito, e se eles falam de relacionamento, então, pode-se afirmar que os mandatos da aliança estão presentes aqui. Resta, agora, analisar brevemente os aspectos particulares de cada um dos mandatos da aliança, aqui, em Efésios 5.18-6.9.

5.3. Efésios 5.18-20: O mandato espiritual


a. Falando uns com os outros salmos, hinos e cânticos espirituais

Por causa da repetição de palavras, termos cognatos e expressões sinonímicas, Peter T. O’Brien sustenta que o verso 19 apresenta um paralelismo. Assim, “falando em salmos e cânticos espirituais” é o mesmo que “louvando e cantando”.[61] Conseqüentemente, argumenta O’Brien, o apóstolo não se refere a duas reações separadas de falar com salmos (v.19a) e cantando (v.19b), mas descreve a mesma atividade a partir de perspectivas diferentes.[62] Sendo assim, cada cláusula tem o seu foco e ênfase particulares:


b. Falando entre vós com salmos, e hinos, e cânticos espirituais

Peter T. O’Brien diz que a primeira cláusula tem uma dimensão tanto corporal quanto horizontal, uma vez que os cristãos devem falar uns com os outros em salmos, hinos e cânticos motivados pelo Espírito (v.19).[63] Em Colossenses 3.16 o apóstolo Paulo ordena aos colossos: “... instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração". O’Brien sustenta que “falando” em Efésios 5.19 é substituído por “instruí-vos e aconselhai-vos” em Colossenses 3.16. Isto implica que Paulo tem em mente a instrução, edificação e exortação comuns, que ocorrem em uma série de músicas despertadas pelo Espírito.[64] Portanto, em Efésios 5.19 a música tem como objetivo a instrução, exortação e edificação. Somente quando os cristãos cantam músicas instrutivas é que eles são cheios do Espírito Santo.

Outra questão a ser resolvida é se os termos “salmos”, “hinos” e “cânticos espirituais” são distintos. Peter T. O’Brien é da opinião que não é possível fazer uma distinção precisa entre esses três termos.[65] As razões fornecidas por ele são:

a. Eles são as palavras mais comuns usadas na LXX para músicas religiosa e ocorrem intercambiavelmente nos títulos dos salmos;

b. O termo “salmo” é empregado por Lucas para se referir aos Salmos do Antigo Testamento (cf. Lc 20.42; 24.44; At 1.20; 13.33); contudo, esse mesmo termo assumiu, mais tarde, um sentido mais amplo, indicando cânticos de louvor (cf. 1Co 14.26; Cl 3.16), dos quais os salmos do Antigo Testamento eram vistos como protótipos espirituais;

c. O termo “hino” denota qualquer “hino festivo de louvor” (Is 42.10; cf. At 16.25; Hb 2.12). Em Efésios 5.19 e Colossenses 3.16 ele indica uma expressão de louvor a Deus ou a Cristo;

d. O termo “cânticos” é usado no Novo Testamento para cânticos em que os atos de Deus são louvados e glorificados (cf. Ap 5.9; 14.3; 15.3).[66]

Isto leva O’Brien a concluir que esses três termos descrevem os cânticos motivados pelo Espírito. Através deles, os cristãos instruem, edificam e exortam uns aos outros.[67]


c. Louvando e cantando de coração ao Senhor

Em seu livro, The Letter to the Ephesians, O’Brien diz que o foco dessa cláusula é o cântico que provêm do mais profundo ser da pessoa que o canta.[68] O’Brien diz, também, que “louvar” e “cantar” devem ser considerados uma unidade, por duas razões: 1. eles estão unidos pela conjunção “e”; 2. os dois são seguidos pela expressão qualificativa: de coração ao Senhor.[69]

O termo “coração” aqui, na opinião de O’Brien, não específica uma disposição interior; antes, denota todo o ser da pessoa.[70]

É necessário notar que a cláusula termina, tendo como objeto “o Senhor”. De acordo com os versos 8, 10, 17, 20, bem como com o restante da carta, O’Brien sustenta que “Senhor”, aqui, em Efésios significa “Jesus Cristo”.[71] Portanto, ao contrário da cláusula anterior, esta tem uma direção vertical.

d. Dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo

O’Brien nota corretamente que esse verso inicia com o quarto particípio (agradecendo) numa série de cinco, tendo quatro modificadores que apontam para as características importantes de se dar graças.[72] A estrutura de O’Brien para esse verso é a seguinte:

Dando graças

regularmente

por tudo

em nome de nosso Senhor Jesus Cristo

a nosso Deus e Pai[73]

 

Três coisas são notadas por O’Brien:

1. O agradecimento deve ser feito “regularmente” ou “constantemente”; O’Brien nota também que “agradecimento” para o apóstolo Paulo aproxima-se de louvor.[74]

2. A base para o agradecimento é: todas as coisas.[75]

3. O agradecimento deve ser dirigido a Deus, em nome de Jesus Cristo. O termo “nome” refere-se, aqui, ao que a pessoa é e ao que ele faz. Portanto, o agradecimento tem como base quem Jesus Cristo é e o que ele fez por seu povo, através da sua morte e ressurreição.[76]


5.4. Efésios 5.21-6.4: O mandato social

Nesta parte, analisaremos em primeiro lugar o significado do verso 21. Depois, analisaremos os aspectos particulares do mandato social, em cada um dos relacionamentos: esposo e esposa; pais e filhos; servos e senhores.

a. sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo (v.21)

O’Brien nota que o verso 21 é uma espécie de verso conjuntivo, pois ele inicia com o último particípio de uma série de cinco.[77] O verbo-chave, sujeitando-vos, merece maior consideração aqui.

O’Brien diz que “sujeitando-vos” significa “arranjar sob”.[78] Ele diz, também, que o verbo era usado para descrever a submissão de alguém numa disposição ordenada a outra pessoa, que estava acima dela em alguma medida, como por exemplo, a submissão dos soldados em um exército a alguém superior a eles.[79] O’Brien nota igualmente que essa palavra aparece no corpo paulino 23 três vezes e tem a ver com ordem. Ele cita Markus Barth, que discerne dois grupos de declarações: a. quando o subordinado ativo ou o chamado passivo divino é usado, o poder de sujeitar pertence somente a Deus (cf. 1Co 15.24-28; Rm 8.20; Ef 1.21, 22; Fp 3.21); b. o apóstolo usa indicativos médios, particípios, ou imperativos para descrever a subordinação de Cristo a Deus, dos membros da congregação uns aos outros, aos cristãos com dons espirituais, das esposas, dos filhos e dos escravos (1Co 15.28; 14.32; Cl 3.18; Ef 5.21, 22).[80] O’Brien nota que nas 40 ocorrências restantes no Novo Testamento o verbo tem um tom de autoridade e sujeição ou submissão a ela.[81]

O’Brien nota que o significado desse verso é disputado, pelas seguintes razões:

1. A submissão deve ser entendida como sendo algo “mútuo?”;

2. Como o verso 21 se relaciona com a vida familiar (5.22-6.9) com a qual está intimamente relacionado?[82]

As principais linhas de interpretação também são apresentadas por O’Brien. Antes de apresentá-las é preciso saber que a questão toda gira em torno de se o verbo no verso 21 deve ser considerado como estando na voz média ou passiva. Apresentaremos, em primeiro lugar, a posição daqueles que consideram o verbo como voz média.

Estes sustentam que o verso 21 fala de submissão mútua, de uns para com os outros no corpo de Cristo. As razões para essa posição são:

a. Paulo emprega a voz média para indicar uma submissão ou subordinação voluntárias, e isso significa agir de maneira amorosa para com outra. Isso significa também exemplificar o amor sacrificial que deve caracterizar a comunidade cristã.

b. Essa visão faz justiça ao pronome recíproco, “uns aos outros”, que indica submissão mútua. A implicação dessa posição para o relacionamento familiar é que não só as esposas devem se submeter aos maridos, como também os marido devem se submeter às esposas.

2. Os que consideram o verbo como voz passiva, entendem que o verso 21 é um cabeçalho geral que encoraja os crentes a serem submissos.[83] O’Brien ressalta corretamente que essa visão defende submissão a autoridades apropriadas e não submissão mútua, como a posição acima.[84] As razões dessa posição são as seguintes:

a. A primeira razão se baseia no significado da palavra. Como já foi dito acima, o termo descreve regularmente a submissão de alguém em uma disposição ordenada a outra pessoa, como por exemplo, em um exército: um soldado está subordinado ao seu capitão. Defender, portanto, submissão mútua é mudar o sentido da palavra.

b. O pronome “uns aos outros” não indica sempre completa reciprocidade. Em Apocalipse 6.4, “matassem uns outros”, não significa que uma pessoa matou a outra ao mesmo em tempo que era morta por outra. A frase seria mais bem traduzida assim: “de modo que alguns matassem outros”. Da mesma forma, “levai as cargas uns dos outros” em Gálatas 6.2 não significa que todos devem trocar as duas cargas com todas, mas sim que os mais capazes devem ajudar os que são menos capazes.[85] Assim, o pronome recíproco nem sempre indica um relacionamento simétrico e é mais apropriado entender o pronome aqui como indicador de submissão a autoridade apropriada.[86]

c. O verso 21 é uma declaração programática, que introduz o assunto da submissão. Isso é comprovado no verso 22, que não tem verbo. Seria impossível entender o verso 22, desconectando-o com o verso 21. Portanto, sendo o verso 21 um cabeçalho geral, nos versos que se seguem o apóstolo passa a detalhar essa submissão.[87]

b. O relacionamento esposo/esposa

Nesse ponto, indicaremos somente alguns aspectos peculiares do mandato social, conforme indicado em Efésios 5.22-33. O texto diz que os maridos devem amar as suas próprias esposas (v. 25) e que as mulheres devem ser submissas aos seus próprios maridos (v. 22). Esse tópico consiste em mostrar o conceito correto de amor à luz do Novo Testamento, bem como definir o que significa a submissão da mulher.

· O conceito de amor no Novo Testamento

O conceito de amor é apresentado de maneira breve e profunda, por Sebastião M. Arruda, em sua tese de mestrado Walking With God As A Covenant Man. Esse ponto tem, portanto, como base o seu texto.

O conceito de amor. Para os formadores de opinião, amor tem que ver somente com algum tipo de sentimento, cujo único ingrediente é o sexo. Para eles, amor nada tem que ver com obrigação ou responsabilidade. O verdadeiro conceito de amor pode ser visto no relacionamento de Deus com a humanidade. De acordo com a Teologia da Aliança, Deus expressa seu amor:

a. Dando à humanidade todas as condições necessárias para um relacionamento feliz;

b. Prometendo ser nosso Deus e requerendo que sejamos exclusivamente dele;

c. Estabelecendo um compromisso indissolúvel com o seu povo, que é governado por suas leis. Estas leis trazem bênçãos se obedecidas e maldições se desobedecidas.

O amor de Deus pela igreja também expressa o verdadeiro conceito de amor, qual seja: o verdadeiro amor é sacrificial. Este conceito está totalmente esquecido no relacionamento de muitos casais, inclusive na igreja.

O amor de Deus assegura também uma união mística do seu povo para com o seu Filho, Jesus Cristo. Assim, o verdadeiro amor deve assegurar que duas pessoas, e somente duas, e somente homem e mulher, tornem-se uma só carne. O verdadeiro conceito de amor não está presente, em qualquer relacionamento que negue os princípios apresentados acima.

Portanto, a expressão “amai vossas mulheres” (v. 25) indica que o marido deve seguir o exemplo de amor sacrificial de Jesus Cristo (Ef 5.25-27), ao amar a sua própria esposa.

 

c. A submissão da mulher ao marido

O’Brien nota corretamente no centro do mandamento para a mulher ser submissa está a noção de ordem.[88] O’Brien lembra também que o usa da voz média enfatiza o caráter voluntário da submissão.[89] Deus estabeleceu papéis para a vida familiar e o papel da mulher é ser submissa ao marido.

Isto não significa inferioridade ao homem. Em 1 Coríntios 15.28, o mesmo verbo é usado para falar da submissão do Filho ao Pai. Isto não indica inferioridade e denota uma submissão funcional. Assim também as mulheres devem ser funcionalmente, e não inferiormente, submissas aos seus próprios maridos.

 

d. O relacionamento pais/filhos

· A obediência dos filhos aos pais

Efésios 6.1 diz que os filhos devem obedecer aos pais. O’Brien nota que o verbo é um imperativo ativo e denota uma obediência absoluta.[90] Ele nota também que, em Paulo, o verbo “obedecei” em Efésios 6.1 e seu substantivo “obediência” refere-se: 1. submissão de uma pessoa a Cristo; 2. a submissão de uma pessoa ao evangelho; 3. a submissão de uma pessoa ao ensino apostólico (cf. Rm 6.17; 10.16; Fp 2.12; 2Ts 1.8; 3.14; Mt 8.27; Mc 1.27; 4.41; Hb 5.9; 11.8; Rm 1.5; 5.19; 6.16; 15.18; 16.19, 26; 2Co 10.5, 6).[91] Isso significa, na opinião de O’Brien, a obediência dos filhos aos pais é parte de sua submissão a Cristo. Isto é indicado pela expressão “no Senhor”, que salienta O’Brien, é sinônima da expressão “como ao Senhor” ou “como a Cristo” em Efésios 5.22 e 6.5 respectivamente.[92]

· O tratamento que os pais devem dar aos filhos

De modo negativo, os pais não devem provocar os filhos à ira. Jonh R.W. Stott salienta que Paulo tem em mente prevenir os pais de usar mal a sua autoridade, fazendo exigências irritantes ou irracionais que não levam em conta a inexperiência ou imaturidade das crianças, ou ainda pela grosseria e crueldade extremas, ou pelo favoritismo ou mimo excessivos, ou pela humilhação e omissão, ou pelo sarcasmo e zombaria.[93]

Também sobre esse mesmo ponto, Leon Morris diz, em seu livro Expository Reflections on the Letter to the Ephesians:

Antes, a preocupação dos pais é pelo bem-estar de cada membro da família. Especificamente, os pais não devem exercer o tipo de ação que irá zangar seus filhos. Isto significa que eles devem ter o cuidado de entender que efeito as coisas que eles dizem e fazem terão sobre seus filhos.[94]

De modo positivo, os pais devem criar os filhos na “disciplina” e “admoestação” do Senhor. “Disciplina” e “admoestação” podem se referir à educação ou ao treino de modo geral (cf. At 7.22; 22.3; 2Tm 3.16; Tt 2.12), ou o sentido mais específico de disciplina ou correção (1Co 11.32; 2Co 6.9; Hb 12.5, 7, 8, 11).[95] O’Brien diz que aqui em Efésios 6.5 parece que o apóstolo tem o sentido geral em mente, ao passo que o termo “admoestação” aponta para o aspecto mais específico da educação, que se dá por admoestação verbal ou correção.[96]

A expressão “do Senhor” pode ser entendida de duas maneiras: 1. como um genitivo subjetivo, indicando que Deus está por trás daqueles que ensinam e disciplinam seus filhos. Isto significa os filhos, através da educação piedosa fornecida por seus pais conhecerão e obedecerão ao Senhor. 2. como um genitivo de qualidade, indicando que o treino e a instrução devem ser realizados na esfera do Senhor, isto é, Paulo fala de instrução Cristã aqui.[97] Desde que as duas possibilidades têm boa base e desde que o apóstolo Paulo tinha em mente tanto o aspecto geral da educação quanto o específico, então, ele pode ter se referido às duas possibilidades acima. Os pais devem ensinar piedosamente os seus filhos a Escritura Sagrada e por causa disso os filhos conhecerão e amarão o Senhor.

5.5. Efésios 6.5-9: Mandato Cultural

O mandato cultural está presente aqui, porque, como veremos abaixo, esses versos falam da maneira como os servos devem realizar o seu trabalho e do modo como os senhores devem tratar seus servos.

a. O relacionamento servos/senhores

Efésios 6.5 começa com a exortação para que os servos obedecem. A palavra “obedecei” é a mesma usada em Efésios 6.1, que exorta os filhos à obediência aos pais. O’Brien nota corretamente que a esta exortação seguem-se quatro descrições do serviço que deve ser oferecido pelos servos. O serviço deve ser:

1. com temor e tremor, na sinceridade do vosso coração, como a Cristo (v. 5). O’Brien indica que Paulo é o único escritor do Novo Testamento a usar a expressão “com temor e tremor” (cf. 1Co 2.3; 2Co 7.15; Fp 2.12), indicando “... uma atitude de devida reverência e temor na presença de Deus, um temor piedoso do crente em vista do dia final (...)”.[98]

2. não servindo à vista, para agradar a homens (v. 6). O’Brien nota que a expressão “servindo à vista” “... significa o serviço realizado somente para atrair a atenção, e que não era feito por sua própria causa ou para agradar a Deus ou satisfazer a própria consciência (...)”.[99]

3. como servos de Cristo, fazendo a vontade de Deus (v. 6);

4. de coração, como ao Senhor (v. 7).[100] O’Brien lembra que a expressão “como ao Senhor” indica que os efésios serviam não somente a homens, mas ao Senhor.[101]
Efésios 6.9 introduz a exortação aos “senhores”. O’Brien diz que as frases “de igual modo procedei” e “deixando as ameaças” indicam que a atitudes dos senhores devem ser governadas pelo relacionamento deles com o Senhor, e também que eles devem rejeitar qualquer forma de manipulação, humilhação, e ameaças assustadoras contra os servos.[102]

APLICAÇÃO

Vimos, portanto, que o meio estabelecido por Deus para que os crentes sejam cheios do Espírito Santo é o cumprimento dos mandatos da Aliança da Criação. Os crentes, portanto, devem buscar a plenitude do Espírito Santo assim:

1. O marido deve amar sacrificalmente a sua esposa; ele deve seguir o exemplo de amor de Cristo pela sua igreja. Isto envolve também cuidado, respeito, perdão contínuo e compreensão;

2. A esposa deve ser submissa ao seu marido; isto, de modo algum indica inferioridade, mas, antes, indica piedade;

3. Os filhos devem resoluta e absolutamente obedecer aos seus pais;

4. Os pais devem ser exemplos para os seus filhos, através de um comportamento piedoso; eles devem também educar os seus filhos na Palavra de Deus;

5. Os empregados devem efetuar o seu trabalho com todo o seu coração e devem fazê-lo para Cristo. Isto significa que eles serão empregados pontuais e dedicados; significa que eles serão cheios do Espírito Santo;

6. Os empregadores devem tratar os seus empregados sem ameaças; eles devem tratá-los com temor a Cristo.

CONCLUSÃO

Vimos, portanto, que a plenitude do Espírito Santo ocorre através da obediência aos mandatos da Aliança da Criação. Os cinco particípios de Efésios 5 indicam o meio e não somente os resultados da plenitude do Espírito Santo. Isto porque: 1. “enchei-vos” está no imperativo, presente, passivo. O imperativo indica, nesse caso, uma ordem; o presente indica continuidade e o passivo indica que os crentes serão cheios do Espírito Santo. 2. Os crentes de Éfeso, tendo um precedente de desconhecimento do Espírito Santo (cf. At 19.2), precisam saber como ser cheios do Espírito Santo. O apóstolo lhes mostra o caminho através dos particípios.

Vimos que é perfeitamente plausível relacionar plenitude do Espírito com Aliança da Criação, pois: 1. A figura do casamento, comumente usada para descrever a Aliança de Deus com seu povo, está claramente presente em Efésios 5.22-33; 2. Os mandatos estão inegavelmente presentes em Efésios 5.18-6.9; 3. O tema da Aliança está presente em outros lugares na carta aos Efésios. Por exemplo, o capítulo quatro apresenta o tema de andar com Deus (4.1). Esse tema é freqüente na Escritura e aparece logo nos primeiros capítulos da Bíblia, quando diz que Enoque andou com Deus (cf. Gn 5.21-24). Sebastião Arruda mostrou convincentemente que andar com Deus significa obedecer os mandatos da aliança da Criação.[103]

Depois disso, ressaltamos os aspectos particulares de cada um dos mandatos, de acordo com Efésios 5.18-6.9. Os aspectos são: a. mandato espiritual: o marido deve amar a esposa como Cristo amou a Igreja e a esposa deve ser submissa ao marido; b. os filhos devem ser obedientes aos pais e estes devem educar os seus filhos; c. os empregados devem realizar o seu serviço com todo o seu coração; eles devem fazê-lo para Cristo. Os empregadores, por sua vez, não devem ameaçar os seus empregados.

BIBLIOGRAFIA

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NOTAS:

[1] W.J. Dumbrell, Covenant & Creation, Grand Rapids, Baker Book House, 1984, p. 15.

[2] Cf. Mauro F. Meister, Uma Breve Introdução Ao Estudo Do Pacto, Fides Reformata, V.III, N.1, (Janeiro-Junho 1998), p. 117. cf. também: Gerard Van Groningen, Covenant(s), manuscrito não publicado, p. 1; O. Palmer Robertson, Cristo dos Pactos, Campinas, LPC, 1997, n.3.

[3] cf. W.J. Dumbrell, Covenant & Creation, p. 16; Mauro F. Meister, Uma Breve Introdução Ao Estudo Do Pacto, p. 117; Gerard Van Groningen, Covenant(s), p. 1; O. Palmer Robertson, Cristo dos Pactos, p. 8-9.

[4] Gerard Van Groningen, Covenant(s), p. 2.

[5] Gerard Van Groningen, Covenant(s), p. 3. cf. também: Mauro F. Meister, Uma Breve Introdução Ao Estudo Do Pacto, p. 117-118.

[6] O. Palmer Robertson, Cristo dos Pactos, p. 17; cf. também: O. Palmer Robertson, Current Reformed Thinking On The Nature Of The Divine Covenants, WTJ, XL, Fall 1997, N.1, p. 70.

[7] Mauro F. Meister, Uma Breve Introdução Ao Estudo Do Pacto, p. 119. Van Groningen define pacto da seguinte forma: “A Aliança, como geralmente aparece nas Escrituras, é a aliança que Deus iniciou unilateral e soberanamente com a criação e especialmente com os que possuem a sua imagem. Deus estabeleceu um vínculo com aqueles que criou à sua imagem. Deus estabeleceu esse vínculo como um relacionamento real e vivo com ambos, homem e mulher, a quem se refere como seus semelhantes (...) Mais, é um vínculo de vida. A Aliança, portanto, é um vínculo de amor real, de vida de amor caracterizada pelo relacionamento indestrutível entre duas partes, especialmente no contexto bíblico, entre Deus e os seres humanos” (Harriet e Gerard Van Groningen, Família da Aliança, São Paulo, Cultura Cristã, 1997, p. 27).

[8] Cf. Fred H. Klooster, Covenant, Church, And Kingdom In The New Testament, manuscrito não publicado, p. 82.

[9] O. Palmer Robertson, Cristo dos Pactos, p. 20.

[10] Gerard Van Groningen, Criação e Consumação, São Paulo, Cultura Cristã, V.1, p. 89.

[11] O. Palmer Robertson, Cristo dos Pactos, p. 21.

[12] Idem, p. 22.

[13] Idem, p. 22.

[14] Idem, p. 22.

[15] O. Palmer Robertson, Cristo dos Pactos, p. 23.

[16] Mauro F. Meister, Uma Breve Introdução Ao Estudo Do Pacto, p. 120-121.

[17] O. Palmer Robertson, Cristo dos Pactos, p. 23.

[18] Cf. Idem, p. 24, n. 6.

[19] Cf. Sebastião M. Arruda, Walking With God As Covenant Man, Tese de Mestrado em Antigo Testamento, apresentada no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, 1997, p. 21.

[20] Gordon J. Wenham, Genesis 1-15, in: Word Biblical Commentary, V.1, Waco, Word Books, 1987, p. 29-32.

[21] Idem, p. 31.

[22] Idem, p. 31.

[23] Cf. Gerard Van Groningen, Criação e Consumação, p. 83.

[24] W.J. Dumbrell, Covenant & Creation, p. 34.

[25] Gerard Van Groningen, Criação e Consumação, p. 90.

[26] Idem, p. 95. Para um entendimento correto da relação entre pacto e reino ver: Thomas F. Henry, Covenant and Kingdom, A Right Relationship, Tese apresentada no Covenant Theological Seminary, 1989, p. 1-240.

[27] Gerard Van Groningen, Criação e Consumação, p. 90.

[28] John Murray, Principles of Conduct, Grand Rapids, 1957, p. 83, in: O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos, p. 72-73.

[29] O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos, p. 72-74.

[30] O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos, p. 73-74. Confira outros textos que exortam os cristãos ao trabalho: 1 Tessalonicenses 4.11; Efésios 4.28.

[31] Gerard Van Groningen, Criação e Consumação, p. 91.

[32] Gerard Van Groningen, A Família da Aliança, p. 45.

[33] Idem, p. 46.

[34] Idem, p. 48.

[35] O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos, p. 69.

[36] Idem, p. 69.

[37] Idem, p. 69.

[38] Idem, p. 69.

[39] O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos, p. 71.

[40] Gerard Van Groningen, A Família da Aliança, p. 49.

[41] O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos, p. 71.

[42] Gerard Van Groningen, A Família da Aliança, p. 50.

[43] Gerard Van Groningen, A Família da Aliança, p. 51.

[44] Gerard Van Groningen, A Família da Aliança, p. 53.

[45] O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos, p. 72.

[46] Robert S. Reyburn, The Presbyterian Doctrines Of Covenant Children, Covenant Nurture And Covenant Succession, p. 12-19.

[47] Gerard Van Groningen, Criação e Consumação, p. 91-92.

[48] Gerard Van Groningen, O “Sábado” no Antigo Testamento: Tempo para o Senhor, Tempo de Alegria Nele, in: Fides Reformata, V.II, (Julho-Dezembro 1998), p. 163.

[49] Idem, p. 163.

[50] Idem, p. 164.

[51] Idem, p. 164.

[52] Idem, p. 164.

[53] Idem, p. 166.

[54] Cf. Gerard Van Groningen, Covenant(s), manuscrito não publicado, p. 1.

[55] Gerard Van Groningen, A Família da Aliança, São Paulo, Cultura Cristã, p. 28.

[56] Sebastião M. Arruda, Walking With God As A Covenant Man, Tese não publicada, apresentada no curso de mestrado do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, São Paulo, 1997, p. 75.

[57] Cf. Peter T. O’Brien, The Letter to the Ephesians, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans Publishing Company, 1999, p. 387 (Grifos do autor).

[58] Cf. Idem, p. 387-388.

[59] Cf. Peter T. O’Brien, The Letter to the Ephesians, p. 387, n. 107.

[60] Cf. Idem, p. 387, n. 108.

[61] Peter T. O’Brien, The Letter to the Ephesians, p. 394.

[62] Idem, p. 394.

[63] Idem, p. 394-395.

[64] Idem, p. 395.

[65] Idem, p. 395.

[66] Peter T. O’Brien, The Letter to the Ephesians, p. 395.

[67] Idem, p. 396.

[68] Idem, p. 396.

[69] Idem, p. 396.

[70] Idem, p. 396.

[71] Idem, p. 396.

[72] Peter T. O’Brien, The Letter to the Ephesians, p. 397.

[73] Idem, p. 397.

[74] Idem, p. 397.

[75] Idem, p. 398.

[76] Idem, p. 398.

[77] Peter T. O’Brien, The Letter to the Ephesians, p. 399.

[78] Idem, p. 399.

[79] Idem, p. 399.

[80] Idem, p. 399.

[81] Idem, p. 399.

[82] Idem, p. 400.

[83] Peter T. O’Brien, The Letter to the Ephesians, Grand Rapids, Michigan, p. 401.

[84] Idem, p. 401.

[85] Idem, p. 403.

[86] Idem, p. 403.

[87] Idem, p. 403.

[88] Peter T. O’Brien, The Letter to the Ephesians, p. 411.

[89] Idem, p. 411.

[90] Idem, p. 441.

[91] Idem, p. 441.

[92] Idem, p. 441.

[93] Cf. John R.W. Stott, The Message of Ephesians, in: J.A. Motyer and John R.W. Stott, org., The Bible Speaks Today, Leicester, Inter-Varsity Press, 1986, p. 246. cf. também: Peter T. O’Brien, The Letter to the Ephesians, p. 446; Andrew T. Lincoln, Ephesians, in: David A. Hubbard, John D.W. Watts and Ralph P. Martin, org., Word Biblical Commentary, Texas, Word Books, 1990, V.42, p. 406.

[94] Leon Morris, Expository Reflections on the Letter to the Ephesians, Grand Rapids, Baker Books, 1994, p. 192.

[95] Cf. Peter T. O’Brien, The Letter to the Ephesians, Grand p. 446; Andrew T. Lincoln, Ephesians, p. 407-408.

[96] Cf. Peter T. O’Brien, The Letter to the Ephesians, p. 446; cf. também: Andrew T. Lincoln, Ephesians, p. 407-408.

[97] Cf. Peter T. O’Brien, The Letter to the Ephesians, p. 447; Andrew T. Lincoln, Ephesians, p. 407-408.

[98] Cf. Peter T. O’Brien, The Letter to the Ephesians, p. 450.

[99] Cf. Peter T. O’Brien, The Letter to the Ephesians, p. 451.

[100] Cf. Peter T. O’Brien, The Letter to the Ephesians, p. 448.

[101] Cf. Peter T. O’Brien, The Letter to the Ephesians, p. 452.

[102] Cf. Peter T. O’Brien, The Letter to the Ephesians, p. 454.

[103] Cf. a tese de mestrado de Sebastião M. Arruda, Walking With God As A Covenant Man, Tese não publicada, apresentada no curso de mestrado do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, São Paulo, 1997.


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