Uma Visão Breve e Geral da Teologia do Pacto
no Cristianismo Primitivo

por

Ligon Duncan*




A idéia do pacto foi mais significante nos escritos de teólogos particulares primitivos ante-Nicenos do que tem sido geralmente admitido na pesquisa patrística ou em análise gerais da história da idéia do pacto na tradição cristã. Realmente, até mesmo uma breve análise do vocabulário pacto nos escritos teológicos primitivos do período ante-Niceno demonstra um uso, desenvolvimento e modificação significantes do conceito pacto como ele é encontrado nos escritos do Antigo e do Novo Testamento e no Judaísmo primitivo. Investigação revela que a idéia do pacto está presente em diversas áreas do pensamento cristão primitivo. Ele era empregado (1) para enfatizar as obrigações morais que cabiam aos cristãos; (2) para mostra a graça de Deus em incluir os gênios nas bênçãos Abraâmicas; (3) para negar a recepção destas promessas ao Israel da carne, isto é, Israel considerado meramente com uma entidade étnica; (4) para demonstrar a continuidade na economia divina; e (5) para explicar a descontinuidade na economia divina.

Ao examinar o papel do pensamento cristão primitivo do pacto nestas áreas, alguém descobrirá que (1) os teólogos pré-Nicenos usualmente tomavam as passagens do pacto do Antigo Testamento (não as passagens do NT) como um ponto de partida em suas aplicações do conceito de pacto para a vida do cristão; (2) o uso cristão primitivo da idéia de pacto evidencia que eles entendiam o pacto como sendo tanto unilateral como bilateral, tanto promissório como obrigatório, para trazer as benções divinas e exigir a obediência humana; (3) estes escritos também mostram que, desde os tempos mais primitivos, os autores cristãos (seguindo os exemplo do AT e do NT) empregavam o conceito de pacto como uma idéia chave estrutural em suas apresentações da história da redenção; (4) contrário às sugestões dos estudos anteriores, não há evidência de uma lacuna no uso da idéia do pacto depois da era dos escritos do Novo Testamento; (5) a idéia do pacto está intimamente ligada ao próprio entendimento cristão primitivo como sendo o povo de Deus; (6) a idéia do pacto não era monolítica no pensamento dos autores examinados. Ela é empregada com diferentes ênfases e empregada com significados variados nos seus escritos respectivos; (7) as conexões hereditárias nos usos específicos da idéia do pacto podem ser encontradas em diferentes autores pré-Nicenos (por exemplo, a idéia de uma lei Adâmica moral universal, de Justino para Irineu e deste para Tertuliano).

Se alguém analisar o papel da idéia do pacto nos escritos do Novo Testamento, dos Pais Apostólicos e de Justino o Mártir, bem como em Josefo e Filo, a fim de prover um pano de fundo para a comparação e contraste com a reflexão teológica subseqüente sobre os pactos na teologia cristã (ajudando assim a assegurar que as categorias e idéias posteriores não estão sendo intrometidas ou impostas sobre o material patrístico), e então considerar, logo após, a idéia de pacto de Melito, Irineu, Tertuliano, Cipriano, Orígenes, Clemente de Alexandria, Hippolytus e Novatian, inventariando em cada um os empregos específicos da idéia do pacto, terá uma visão de cima da idéia do pacto na teologia ante-Nicena. Tal visão também revela a significância deste foco teológico para seus sistemas como um todo.

O estudo deste assunto é significante para pelos menos estas seguintes razões: (1) Confirma a atual pesquisa sobre a matriz Judaica do Cristianismo primitivo, de um ponto de vista ainda não explorado. (2) Provê maiores detalhes do pensamento cristão primitivo do pacto, o qual está agora sendo reconhecido como tendo influenciado os reformadores do século XVI (tais como Bullinger e Calvino). (3) Preenche uma lacuna significante na história das idéias. (4) Desafia a viabilidade do esquema interpretativo do que está sendo chamado “a nova perspectiva” sobre Paulo, dando uma descrição mais completa do pensamento pré-Niceno e pós-NT do pacto em relação a sotereologia.

*Ligon Duncan é Ministro da Primeira Igreja Presbiteriana (Jackson, MS) e Professor Adjunto da Seminário Teológico Reformado (Jackson, MS).

Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 14 de Junho de 2004.