Nossa Identidade Reformada

por

Hermisten Maia Pereira da Costa

 

Introdução

Confesso que nestes pouco mais de vinte anos de Ministério Pastoral, nunca ouvi falar tanto de Calvino (1509-1564), Calvinismo e Reforma Protestante como nos últimos anos; mas, também, tenho que admitir que dificilmente outra época de nossa história no Brasil cometeu tantos equívocos no que concerne ao sentido do Calvinismo e da Reforma. Particularmente fui confrontado de modo mais evidente com o pensamento de Calvino nos idos de 1982/1983, quando estudei com o Dr. Fred H. Klooster no Curso de Pós-Graduação então recém criado no Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição em São Paulo. Aquele confronto trouxe-me grande alegria e inquietação... No entanto, o momento decisivo estava por vir: Lembro-me que num determinado dia de aula, após o almoço, vi alguns colegas mais experientes no ministério pastoral e docente conversando sobre A Instituição da Religião Cristã de Calvino; então, meu antigo e respeitado professor, Rev. Oadi Salum, fez uma pergunta que soou aos meus ouvidos de forma bombástica: “Se os Seminários católicos mandam que seus alunos leiam a Suma Teológica de Tomás de Aquino, por que nós Reformados, não mandamos os nossos alunos lerem a Instituição de Calvino?!...”. Não me recordo se houve maiores comentários. No entanto, aquela pergunta jamais saiu de minha cabeça... Em 1984, seria convidado a lecionar Teologia Sistemática na Extensão do Seminário Presbiteriano do Sul em Belo Horizonte.[1] A Instituição da Religião Cristã tornou-se leitura obrigatória em meus cursos até hoje... Deixemos de lado as memórias e retornemos à nossa questão presente.

Fui convidado para falar sobre a nossa identidade Reformada e, admito que uma das impressões que ameaçam tomar conta de minha mente é a de que talvez estejamos falando de uma abstração chamada “Calvinismo” e “Reforma”, deixando a cada um caracterizar esses nomes livremente a seu bel-prazer... Aliás, não estou livre de cometer o mesmo equívoco em minha exposição, contudo, tentarei apresentar alguns princípios históricos e teológicos que se não são suficientes, espero poder de alguma forma contribuir, quem sabe, para estabelecer algumas bóias que possam delimitar a nossa área de estudo, contribuindo, por certo, de modo bastante limitado, para as futuras pesquisas de pessoas mais habilitadas para o mesmo.

Quero, portanto, partilhar com vocês algumas questões que têm me incomodado e, para as quais, confesso não ter necessariamente respostas satisfatórias. No entanto, aqui estamos com o desafio de refletirmos juntos sobre o nosso assunto. Vamos então às questões: O que significa ser calvinista? A adoção dos “cinco pontos do calvinismo” nos credenciaria a sermos considerados Reformados? Somos uma igreja Reformada? Se somos, quais as implicações dessa identidade em nossa vida enquanto homens e mulheres que atuam na igreja e na sociedade? Podemos separar a nossa teologia de nossa liturgia? Ao longo desse estudo pretendemos abordar algumas questões históricas e teológicas que, segundo acredito, poderão fornecer-nos pistas para uma melhor compreensão do que somos ou do que deveríamos ser...

Como bem sabemos, a expressão “Calvinismo” além de ambígua,[2] foi introduzida pelo polemista luterano Joacquim Westphal (c. 1510-1574), para referir-se em especial aos conceitos teológicos de Calvino.[3] Usamos o termo no sentido que permanece até os nossos dias, como designativo da teologia Reformada em contraste com a Luterana.[4] McGrath oferece-nos dados complementares sobre o uso da expressão em outro de seus valiosos livros, indicando que a palavra foi empregada pelos luteranos alemães referindo-se ao Catecismo de Heidelberg (1563),[5] que havia penetrado no até então inabalável território luterano [lembremo-nos do princípio predominante então, de que: “sua região determina sua religião]; assim a expressão queria indicar algo que era “estrangeiro”, estranho à fé luterana, era “calvinista”.[6]

 

i – considerações histórias:

1. A Reforma do Século XVI: Suas Origens:

Antes de adentrarmos à Reforma Protestante do Século XVI, enumeremos alguns pontos que caracterizavam a igreja romana no início do século XVI; ei-los:

1) O papado era uma potência religiosa e política e, grande parte da vida econômica girava em torno das igrejas paroquiais, ocasionando uma insatisfação por parte das autoridades civis, devido à ingerência do papa em seus negócios.

2) Havia uma corrupção política, econômica e moral generalizada na "igreja" e no clero, contribuindo para um sentimento anticlerical.[7]

3) Uma profunda carência espiritual: A igreja tornara-se extremamente meticulosa no confessionário e, ao mesmo tempo, induzia os fiéis à realizarem boas obras que, como não poderiam deixar de ser, eram sempre insuficientes para eliminar o sentimento de culpa latente.[8] Tillich (1886-1965), resume: “Sob tais condições jamais alguém poderia saber se seria salvo, pois jamais se pode fazer o suficiente; ninguém podia receber doses suficientes do tipo mágico da graça, nem realizar número suficiente de méritos e de obras de ascese. Como resultado desse estado de coisas havia muita ansiedade no final da Idade Média.”[9]

4) As tentativas reformistas[10] eram cruelmente eliminadas pela Inquisição e, algumas vezes, onde não se podiam achar culpados, queimavam-se os inocentes.[11]

5) O Culto há muito que se tornara apenas num ritual meramente externo, repleto de superstições, consistindo em grande parte na leitura da vida dos santos. "Os deuses, deusas e semideuses do Paganismo, as suas imagens e estátuas sagradas, transformaram os heróis do Cristianismo e as suas supostas efígies, em objetos de culto idólatra, em padroeiros, protetores e medianeiros. O politeísmo e a idolatria inundaram a Igreja."[12]

2. A Reforma como Movimento Religioso:

“Nos fins da Idade Média pesava na alma do povo uma tenebrosa melancolia”, constata o holandês Huizinga (1872-1945).[13] Os séculos anteriores à Reforma são descritos como período de grande ansiedade.[14]

Lutero (1483-1546) e as suas famosas angústias espirituais, espelhava “a epítome dos medos e das esperanças de sua época.”[15] Calvino, ainda que não sendo dominado por esse sentimento, refletia uma constatação natural: a fragilidade humana. Sobre os perigos próprios da vida, relaciona:

“Incontáveis são os males que cercam a vida humana, males que outras tantas mortes ameaçam. Para que não saiamos fora de nós mesmos: como seja o corpo receptáculo de mil enfermidades e dentro de si, na verdade, contenha inclusas e fomente as causas das doenças, o homem não pode a si próprio mover sem que leve consigo muitas formas de sua própria destruição e, de certo modo, a vida arraste entrelaçada com a morte.

“Que outra cousa, pois hajas de dizer, quando nem se esfria, nem sua, sem perigo? Agora, para onde quer que te voltes, as cousas todas que a teu derredor estão não somente não se mostram dignas de confiança, mas até se afiguram abertamente ameaçadoras e parecem intentar morte pronta. Embarca em um navio: um passo distas da morte. Monta um cavalo: no tropeçar de uma pata a tua vida periclita. Anda pelas ruas de uma cidade: quantas são as telhas nos telhados, a tantos perigos estás exposto. Se um instrumento cortante está em tua mão ou de um amigo, manifesto é o detrimento. A quantos animais ferozes vês, armados estão-te à destruição. Ou que te procures encerrar em bem cercado jardim, onde nada senão amenidade se mostre, aí não raro se esconderá uma serpente. Tua casa, a incêndio constantemente sujeita, ameaça-te pobreza durante o dia, durante a noite até mesmo sufocação. A tua terra de plantio, como esteja exposta ao granizo, à geada, à seca e a outros flagelos, esterilidade te anuncia e, dela a resultar, a fome. Deixo de referir envenenamentos, emboscadas, assaltos, a violência manifesta, dos quais parte nos assedia em casa, parte nos acompanha ao largo.

“Em meio a estas dificuldades, não se deve o homem, porventura, sentir assaz miserável, como quem na vida apenas semivivo, sustenha debilmente o sôfrego e lânguido alento, não menos que se tivesse uma espada perpetuamente a impender-lhe sobre o pescoço?”.[16]

“Não há parte de nossa vida que não se apresse velozmente para a morte”.[17] “E o que mais somos nós senão um espelho da morte?”[18]

Pascal, mais tarde constataria que “Só o homem é miserável”[19] e, ao mesmo tempo grande, porque “ele se conhece miserável”.[20]

No entanto, Calvino não termina o seu argumento numa descrição “existencialista” da vida, mas, na certeza própria de um coração dominado pela Palavra de Deus. Assim, ele conclui falando da “incalculável felicidade da mente piedosa.”[21] “Quando, porém, essa luz da Divina Providência uma vez dealbou ao homem piedoso, já não só está aliviado e libertado da extrema ansiedade e do temor de que era antes oprimido, mas ainda de toda preocupação. Pois assim como, com razão, se arrepia de pavor da Sorte, também assim ousa entregar-se a Deus com plena segurança.”[22]

Calvino admite que para qualquer lado que olharmos encontraremos sempre desespero, até que tornemos para Deus, em Quem encontramos estabilidade no meio de um mundo que se corrompe.[23]

A Reforma Protestante do século XVI, foi um movimento eminentemente religioso[24] e teológico[25] (pelo menos em sua origem);[26] estando ligada à insatisfação espiritual de dezenas de pessoas – que certamente expressavam o sentimento de milhares de outras anônimas –, que através dos tempos não encontravam na igreja romana espaço para a manifestação de sua fé nem alimento para as suas necessidades espirituais. As insatisfações não visam criar uma nova igreja mas sim, tornar a existente mais bíblica. Portanto, a Reforma deve ser vista não como um movimento externo mas sim, como um movimento interno por parte de “católicos” piedosos[27] – que diga-se de passagem, ao longo dos séculos tinham manifestado a sua insatisfação, quer através do misticismo,[28] quer através de uma proposta mais ousada –, que desejavam reformar a sua Igreja, revitalizando-a, transformando-a na Igreja dos fiéis.

Todavia, não podemos nos esquecer que as mudanças causadas pelo Renascimento e Humanismo contribuíram para ela; afinal, a Reforma ocorreu na história, dentro das categorias tempo e espaço, onde o homem está inserido. Isto não diminui as causas e muito menos o valor intrínseco da Reforma; pelo contrário, vem apenas demonstrar o que a Palavra de Deus ensina e no que creram os reformadores: Deus é o Senhor da história. De fato, o que é a história, senão o palco onde Deus efetiva o Seu Reino?! "A chave da história do mundo é o Reino de Deus."[29] Toda a relação “natural-histórico” não é casual nem cegamente determinada: É dirigida por Deus, o Senhor da História.[30] O propósito de Deus na história como realidade presente, faz parte da essência de nossa fé.[31]

A concepção da Reforma como um movimento originariamente religioso não implica na compreensão de que ela esteve restrita a apenas esta esfera da realidade; pelo contrário, entendemos que a Reforma foi um movimento de grande alcance cultural, institucional, social e político na história da Europa[32] e, posteriormente em todo o Ocidente. A amplitude da influência da Reforma em diversos setores da vida estava implícita em sua própria constituição: Era impossível alguém abraçar a Reforma apenas no campo da religião e continuar em tudo o mais a ser um homem de uma ética medieval, com a sua perspectiva da realidade e prática intocáveis. A Reforma em sua própria constituição era extremamente revolucionária: “A Reforma ocupou, e deve continuar a ocupar, um legítimo e significativo lugar na história das idéias.”[33] Não deixa de ser significativo o testemunho de dois estudiosos católicos, Abbagnano e Visalberghi, quando afirmam que, “contribuição fundamental à formação da mentalidade moderna foi a reforma religiosa de Lutero e Calvino.”[34]

3. A Reforma e o Humanismo-Renascentista:

“A despeito da importância do humanismo como uma preparação para a Reforma, a maioria dos humanistas, e principalmente Erasmo entre eles, nunca alcançou nem a gravidade da condição humana, nem o triunfo da graça divina, o que marcou os reformadores. O humanismo, assim como o misticismo, foi parte da estrutura que possibilitou aos reformadores questionar certas suposições da tradição recebida, mas que em si mesma não era suficiente para fornecer uma resposta duradoura às obsessivas perguntas da época.” – Timothy George.[35]

"A Reforma foi revolucionária porquanto se apartou tanto do humanismo católico-romano como do secular." – Francis A. Schaeffer.[36]

A Reforma surgiu num contexto Humanista e Renascentista, tendo inclusive alguns pontos em comum;[37] como exemplo disto citamos o fato de que a ênfase humanista no retorno às fontes primárias fez com que os humanistas cristãos se despertassem para o estudo dos Originais da Bíblia, o que ocasionou a verificação de uma evidência cada vez mais forte: as diferenças existentes entre os princípios do Novo Testamento e a religião romana.[38] Contudo, as diferenças são mais profundas do que as semelhanças;[39] e a Reforma também não foi sintética em termos dos valores cristãos e pagãos: Lutero (1483-1546), e mais tarde todos os reformadores, não se deixaram limitar por uma visão puramente humanista, antes, pelo contrário; Lutero (1483-1546), Zuínglio (1484-1531)[40] e Calvino (1509-1564), apesar das divergências de compreensão,[41] de ênfase e de estilo,[42] estavam acordes quanto à centralidade da Palavra de Deus; na Escritura como sendo a fonte, para se pensar acerca de Deus.[43] Os reformadores vão enfatizar o estudo da Palavra, visto que este fora ofuscado pela preocupação filosófica: A Razão havia tomado o lugar da Revelação. Na Reforma, o ponto de partida não é o homem; ele não é considerado "a medida de todas as coisas"; antes, a sua dignidade consiste em ter sido criado à imagem de Deus.[44] Portanto, a dissociação entre a Renascença e a Reforma teria de ser como foi: inevitável.[45]

4. A Reforma e a Propagação das Escrituras:

A Reforma teve como objetivo precípuo uma volta às Sagradas Escrituras, a fim de reformar a Igreja que havia caído ao longo dos séculos, numa decadência teológica, moral e espiritual. A preocupação dos reformadores era principalmente "a reforma da vida, da adoração e da doutrina à luz da Palavra de Deus".[46] Desta forma, a partir da Palavra, passaram a pensar acerca de Deus, do homem e do mundo! "A reforma foi acima de tudo uma proclamação positiva do evangelho Cristão."[47]

O princípio protestante do "livre exame" caminhava na mesma direção do espírito humanista de rejeição a qualquer autoridade externa:[48] as coisas são o que são porque são, não porque outros dizem que elas sejam. Isto é válido para as verdades científicas, como para as verdades teológicas: Não é a Igreja que autentica a Palavra por sua interpretação "oficial", mas, sim, é a Bíblia que se autentica a Si mesma como Palavra autoritativa de Deus[49] e, é Ele mesmo Quem nos ilumina para que possamos interpretá-la corretamente. Na Reforma, "a Palavra de Deus era a única autoridade, e a salvação tinha como base única a obra definitiva do Senhor Jesus Cristo, consumada na cruz."[50]

Partindo desses princípios, a Reforma onde quer que chegasse, se preocupava em colocar a Bíblia na língua do povo – e neste particular a tipografia foi fundamental para a Reforma[51] –, a fim de que todos tivessem acesso à Sua leitura – sendo o "reavivamento" da pregação da Palavra um dos marcos fundamentais da Reforma. Os Reformadores criam que se as Escrituras estivessem numa língua acessível aos povos, todos os que quisessem poderiam ouvir a voz de Deus e, todos os crentes teriam acesso à presença de Deus. Portanto, “para eles, as Escrituras eram mais uma revelação pessoal que dogmática.”[52] Calvino, por exemplo, entendia que as Escrituras eram tão superiores aos outros escritos que, “Logo, se lhes volvemos olhos puros e sentidos íntegros, de pronto se nos antolhará a majestade de Deus, que, subjugada nossa ousadia de contraditá-la, nos compele a obedecer-lhe.”[53] Contudo, os reformadores esbarraram num problema estrutural: o analfabetismo generalizado entre as massas.

É digno de nota, que antes mesmo do humanista Erasmo de Roterdã (c. 1469-1536) editar o Novo Testamento Grego (1516)[54] e de Lutero afixar as suas 95 teses às portas da catedral de Wittenberg (31/10/1517), já se tornara visível o esforço por colocar a Bíblia no idioma nativo de cada povo.[55] John Wycliffe (c. 1320-1384), Nicholas de Hereford († c. 1420) e John Purvey (c. 1353-1428) traduziram a Bíblia para o inglês em 1382-1384.[56] Coube a Nicholas a tradução da maior parte do Antigo Testamento.[57] Esta tradução que incluía os apócrifos, foi feita diretamente da Vulgata, sem consultar os Originais Hebraicos e Gregos.

Outro ponto que deve ser realçado a esse respeito, é que quanto mais os tempos se avizinhavam do século XVI, verifica-se um desejo mais intenso de ler as Escrituras. Como reflexo disto, "de 1457 a 1517 são publicadas mais de quatrocentas edições da Bíblia."[58]

Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, concluindo o seu trabalho em outubro de 1534.[59] A sua tradução é uma obra primorosa, sendo considerada o marco inicial da literatura alemã.[60] Febvre diz de forma poética, que o trabalho de Lutero consistiu “numa assombrosa ressurreição da Palavra. Estando o mais distante possível de uma fria exposição, de um labor didático de um filólogo. Também, é mais do que um ‘trabalho de artista’ em busca de um estilo pessoal. É o esforço, sem dúvida dramático, feliz, de um pregador que quer convencer; ou melhor, de um médico que quer curar, trazer aos seus irmãos, os homens, todos os homens, o remédio milagroso que acaba de curá-lo....”.[61]

II – considerações éticas e culturais:

1. A Reforma e a Educação:[H1]

1.1. Lutero:

Analisando uma outra vertente da questão, devemos frisar que foi Lutero quem lançou as bases da moderna escola pública e do ensino obrigatório; e para isso a sua tradução das Escrituras foi fundamental, como escreveu Giles: "... pode-se afirmar que a Bíblia de Setembro de 1522, é um fato de repercussões incalculáveis na história religiosa dos Estados germânicos, e também serve de base para todo um processo de alfabetização."[62]

Luzuriaga, observa que,

"A Reforma (...) organiza a educação pública não apenas no grau médio, ampliando a ação dos colégios humanistas da Renascença, mas também, e pela primeira vez, com a escola primária pública."[63]

Lutero insistiu com as autoridades públicas no sentido de se criarem escolas com vistas a educação secular e eclesiástica. Neste particular, pode-se dizer que Melanchton (1479-1560), o "preceptor da Germânia",[64] foi o Ministro da Educação de Lutero.[65]

Na carta “Aos Conselhos de Todas as Cidades da Alemanha para que criem e mantenham escolas cristãs”, de 1524, Lutero, além de tratar do descaso para com as escolas, o esvaziamento das universidades,[66] a necessidade do estudo do alemão e de outros idiomas,[67] a utilização de melhores métodos na educação,[68] a criação de boas bibliotecas,[69] diz:

“Em minha opinião, nenhum pecado exterior pesa tanto sobre o mundo perante Deus e nenhum merece maior castigo do que justamente o pecado que cometemos contra as crianças, quando não as educamos (...). Para ensinar e educar bem as crianças precisa-se de gente especializada”.[70]

“Por isso vos imploro a todos, meus caros senhores e amigos, por amor de Deus e da pobre juventude, que não considereis esta causa [criação de escolas e verba para educação] de somenos importância, como o fazem muitos que não enxergam a intenção do príncipe do mundo. Pois se trata de uma causa séria e importante, da qual muito depende para Cristo e para o mundo, que ajudemos e aconselhemos a juventude (...). Anualmente é preciso levantar grandes somas para armas, estradas, pontes, diques e inúmeras outras obras semelhantes, para que uma cidade possa viver em paz e segurança temporal. Por que não levantar igual soma para a pobre juventude necessitada, sustentando um ou dois homens competentes como professores?”[71]

“O progresso de uma cidade não depende apenas do acúmulo de grandes tesouros, da construção de muros de fortificação, de casas bonitas, de muitos canhões e da fabricação de muitas armaduras (...). Muito antes, o melhor e mais rico progresso para uma cidade é quando possui muitos homens bem instruídos, muitos cidadãos ajuizados, honestos e bem educados. Estes então também podem acumular, preservar e usar corretamente riquezas e todo tipo de bens.”[72]

“Ora, não sou da opinião de que se deva criar escolas iguais às que existiram até agora, onde um menino se ocupa vinte, trinta anos com Donato e Alexandre,[73] sem nada ter aprendido.[74] O mundo hoje é diferente, e as coisas são feitas de outro modo. Minha idéia é a seguinte: Os meninos devem ser enviados a estas escolas diariamente por uma ou duas horas e, não obstante, fazer o serviço em casa, aprender um ofício ou para o que sejam encaminhados, para que as duas coisas andem juntas enquanto são jovens e podem dedicar-se a isso. Do contrário, gastam dez vezes mais tempo com jogos de bolinhas, jogar bola, corridas e lutas.”[75]

A ênfase dada por Lutero à Educação, é decorrente da sua visão teológica; isto se torna ainda mais patente, no Prefácio do Catecismo Menor (1529):

"Aqui também deves insistir particularmente com as autoridades e os pais, para que governem bem e levem os filhos à escola, mostrando-lhes por que é sua obrigação fazê-lo e que pecado maldito cometem se não o fazem. Pois com isso, derrubam e assolam tanto o reino de Deus como o reino do mundo, como os piores inimigos de Deus e dos homens. E frisa bem que horrível dano causam, se não cooperam na educação de crianças para serem pastores, pregadores, notários, etc., de sorte que por isso Deus lhes há de infligir medonho castigo. Pois é necessário pregar sobre essas coisas. Os pais e governantes pecam nisso agora de maneira indizível. O diabo também leva de mira algo de cruel com isso."[76]

Deste modo, o Evangelho tem também uma implicação fundamental com a educação de nossos filhos. A instrução é bem-vinda "tanto no reino de Deus como no reino do mundo".[77]

Em 1530, num sermão, Lutero declarou a responsabilidade do Estado em obrigar as crianças a irem à escola:[78]

“Em minha opinião, porém, também as autoridades têm o dever de obrigar os súditos a mandarem seus filhos à escola, especialmente aqueles aos quais me referi acima. Pois na verdade é dever dela preservar os ofícios e estados supramencionados, para que no futuro possamos ter pregadores, juristas, pastores, escritores, médicos, professores e outros, pois não podemos prescindir deles. Se podem obrigar os súditos capazes de carregar lanças e arcabuzes, escalar os muros e outras coisas mais que devem ser feitas em caso de guerra, quanto mais podem e devem obrigar os súditos a mandarem os filhos à escola. Porque aqui se trata de uma guerra pior, a guerra contra o enfadonho diabo, cujo propósito é sugar solapadamente cidades e principados, esvaziando-os das pessoas capacitadas, até retirar o cerne, deixando apenas uma casca vazia de pessoas inúteis, as quais pode manipular e usar a seu bel-prazer.”[79]

1.2. Calvino:

“Revolução é seguida por reconstrução e consolidação. Para esta tarefa Calvino foi providencialmente preordenado e equipado por gênio, educação, e circunstâncias.” – Philip. Schaff.[80]

“As Igrejas Reformadas de ambos os hemisférios são o monumento de Calvino, mais duradouro que o mármore”. – Philip Schaff.[81]

Podemos dizer no sentido mais pleno da palavra que Calvino (1509-1564) era um genuíno humanista, estando profundamente interessado pelo ser humano. Ainda que de passagem, examinemos alguns pontos que ilustram a nossa tese.

A primeira obra escrita por Calvino[82] foi publicada com seus próprios recursos: a edição comentada do livro de Sêneca, De Clementia (4 de abril de 1532) – “o principal monumento dos conhecimentos humanísticos do jovem Calvino”, diz McNeill;[83] “Sólido trabalho de um humanista muito jovem e já brilhante”, comenta Boisset;[84] um “erudito de primeira linha”, acrescenta Parker.[85] Nesse trabalho – do qual uma cópia foi enviada a Erasmo –, o então jovem autor (23 anos), já revelava o seu gosto literário, erudição,[86] amplo conhecimento da literatura grega e romana, uma perspectiva sóbria e um estilo próprio de análise que se tornaria uma de suas marcas em seus comentários bíblicos.[87] Já nesse trabalho pioneiro, Calvino parece desafiar o soberano, quando define o tirano como aquele que “governa contra a vontade de seu povo”,[88] revelando, ainda que embrionariamente a sua ousadia, que tão bem caracterizará a sua vida como pregador, escritor e administrador.

O "humanismo" de Calvino, é visível em sua formação, escritos e atitudes. Ele apoiou o humanista Guillaume Budé (1467-1540), que era chamado de "Prodígio da França", e, juntamente com Erasmo (c.1469-1536) e Juan Luis Vives (1492-1540), foi considerado o "triunvirato do humanismo europeu".[89]

Budé, como historiador, filósofo e helenista, contribuiu para o reavivamento do interesse pela língua e literatura Gregas e colaborou na introdução do Humanismo na França. Calvino também dedicou o seu Comentário da Primeira Epístola aos Tessalonicenses (Genebra, 17/02/1550), ao seu mestre de gramática e retórica, conhecido humanista, Maturinus Corderius (1479-1564) – que foi fundamental na formação do estilo de Calvino –, a quem Calvino chama de "homem de eminente piedade e erudição"[90] reconhecendo a sua dívida para com ele.[91] Posteriormente, Corderius, convertido ao Protestantismo, Calvino o convidou a lecionar na Academia de Genebra, o que Corderius aceitou, sendo inclusive durante algum tempo diretor daquela instituição, permanecendo ali até a sua morte em 1564, quatro meses depois de Calvino.[92] Corderius além de brilhante e laborioso professor, era conhecido por sua erudição, piedade e integridade.

Calvino dedicou o seu comentário de 2Coríntios (01/08/1546) a outro humanista de influência luterana, que lhe ministrara aula de grego (e também a Beza), Melchior Wolmar († 1561), quem, como já fizemos menção, possivelmente pode ter despertado em seus alunos o interesse pela Reforma.[93] Calvino diz que Wolmar era “o mais distinguido dos mestres [de grego]”.[94]

O humanismo de Calvino, no entanto, não deve ser confundido com o "humanismo secular", que colocava o homem como centro de todas as coisas. Calvino, rejeitava este tipo de "humanismo".[95] Na sua obra Magna, A Instituição da Religião Cristã, Calvino expressa a sua concepção "humanista", que consiste em reconhecer a grandeza do homem, como criatura de Deus, a Quem deve adorar e glorificar. Na sua carta ao Rei Francisco I (1515-1547) de França, a quem dedica a primeira edição de sua obra, escreve:

"Pois quê melhor se coaduna com a fé, e mais convenientemente, que reconhecer-nos despidos de toda virtude, para que sejamos vestidos por Deus; vazios de todo bem, para que sejamos por Ele plenificados; escravos do pecado, para que sejamos por Ele libertados; cegos, para que sejamos dEle iluminados; coxos, para que sejamos dEle restaurados; fracos, para que sejamos por Ele sustentados; despojar-nos de todo motivo de glória própria, para que só Ele glorioso avulte e nEle nos gloriemos?....

"Como, porém, nada devemos presumir de nós próprios, assim tudo se deve de Deus presumir. Nem por outra razão nos despojamos de vã glória, senão para que aprendamos a gloriar-nos no Senhor."[96]

Em outro lugar, Calvino escreve: "... É notório que jamais chega o homem ao puro conhecimento de si mesmo até que haja antes contemplado a face de Deus e da visão dEle desça a examinar-se a si próprio."[97]

Como a Bíblia é o registro inerrante da Palavra de Deus, podemos dizer, que sem as Escrituras, jamais teremos um conhecimento verdadeiro de nós mesmos, do mundo e do próprio Deus.

Calvino tinha uma visão ampla da cultura, entendendo que Deus é Senhor de todas as coisas; por isso, toda verdade é verdade de Deus. Esta perspectiva amparava-se no conceito da “Graça Comum” ou “Graça Geral” de Deus sobre todos os homens.[98] Ele diz: "... visto que toda verdade procede de Deus, se algum ímpio disser algo verdadeiro, não devemos rejeitá-lo, porquanto o mesmo procede de Deus. Além disso, visto que todas as coisas procedem de Deus, que mal haveria em empregar, para sua glória, tudo quanto pode ser corretamente usado dessa forma?”[99] Em outro lugar: "Se reputamos ser o Espírito de Deus a fonte única da verdade mesma, onde quer que ela haja de aparecer, nem a rejeitaremos, nem a desprezaremos, a menos que queiramos ser insultuosos para com o Espírito de Deus.”[100]

Essa imparcialidade era comum em Calvino; analisando a divergência entre os Zuinglianos e os Luteranos concernente à Ceia do Senhor, comentou: “Uns e outros erraram em não ter paciência para escutar-se a fim de seguir a verdade sem parcialidade, onde quer que se encontrasse.”[101]

Essa compreensão tinha implicações em outras áreas; por exemplo: Calvino entende que a divergência em questões secundárias não deve servir de pretexto para a divisão da Igreja; afinal, todos, sem exceção, estão envoltos de “alguma nuvenzinha de ignorância”...

“.... São palavras do Apóstolo: ‘Todos quantos somos perfeitos sintamos o mesmo; se algo entendeis de maneira diferente, também isto vos haverá de revelar o Senhor’ [Fp 3.15]. Não está ele, porventura, a suficientemente indicar que o dissentimento acerca destas cousas não assim necessárias não deve ser matéria de separação entre cristãos? Por certo que estará em primeira plana que em todas as cousas estejamos em acordo; mas, uma vez que ninguém há que não esteja envolto de alguma nuvenzinha de ignorância, impõe-se que ou nenhuma igreja deixemos, ou perdoemos o engano nessas cousas que possam ser ignoradas não somente inviolada a suma da religião, mas também aquém da perda da salvação.

“Mas, aqui, não quereria eu patrocinar a erros, sequer os mais diminutos, de sorte que julgue devam ser fomentados, com agir com complacência e ser-lhes conivente. Digo, porém, que não devemos por causa de quaisquer dissentimentozinhos abandonar irrefletidamente a Igreja, em que somente se retenha salva e ilibada essa doutrina, mercê da qual se mantém firme a incolumidade da piedade e conservado é o uso dos sacramentos instituído pelo Senhor.”[102]

“Não vejo, porém, nenhuma razão por que uma igreja, por mais universalmente corrompida, desde que contenha uns poucos membros santos, não deva ser denominada, em honra desse remanescente, de santo povo de Deus.”[103]

“Todavia, ainda quando a Igreja seja remissa em seu dever, não por isso será direito de cada um em particular a si pessoalmente assumir a decisão de separar-se.”[104]

“Há tanta rabugice em quase todos esses indivíduos que, estando em seu poder, de bom grado fariam para si suas próprias igrejas, porquanto se torna difícil acomodarem-se aos modos das demais pessoas.”[105]

“É indubitável que a nós compete cultivar a unidade da forma a mais séria, porque Satanás está bem alerta, seja para arrebatar-nos da Igreja, ou para desacostumar-nos dela de maneira furtiva.”[106]

Calvino entende que Satanás muitas vezes se vale de nossos bons sentimentos para fazer com que quebremos a unidade da Igreja, supostamente, em busca de uma Igreja ideal. Para este mister, somos capazes até de reunir textos que falam da santidade da Igreja como pretexto para a nossa atitude.[107]

Após argumentar contra aqueles que chamavam os reformados de hereges, ressalta que a unidade cristã deve ser na Palavra:

“Com efeito, também isto é de notar-se: que esta conjunção de amor assim depende da unidade de fé que lhe deva ser esta o início, o fim, a regra única, afinal. Lembremo-nos, portanto, quantas vezes se nos recomenda a unidade eclesiástica, isto ser requerido: que, enquanto nossas mentes têm o mesmo sentir em Cristo, também entre si conjungidas nos hajam sido as vontades em mútua benevolência em Cristo. E, assim, Paulo, quando para com ela nos exorta, por fundamento assume haver um só Deus, uma só fé e um só batismo [Ef 4.5]. De fato, onde quer que nos ensina o Apóstolo a sentir o mesmo e a querer o mesmo, acrescenta imediatamente: em Cristo [Fp 2.1,5] ou: segundo Cristo [Rm 15.5], significando ser conluio de ímpios, não acordo de fiéis a unidade que se processa à parte da Palavra do Senhor.”[108]

Em outro lugar, instrui: “A melhor forma de promover a unidade é congregar [o povo] para o ensino comunitário....”[109]

Para os irmãos refugiados em Wezel (Alemanha), que sofriam diversas pressões de luteranos e sobreviviam numa pequena Igreja Reformada, Calvino, em 1554, os consola mostrando que apesar dos grandes problemas pelos quais passava o mundo, Deus lhes havia concedido um lugar onde poderiam adorar a Deus em liberdade. Também os desafia a não abandonarem a Igreja por pequenas divergências nas práticas cerimoniais, sendo tolerantes a fim de preservar a unidade. Contudo, os exorta a jamais fazerem acordos em pontos doutrinários.[110]

Portanto, mesmo desejando a paz e a concórdia, Calvino entendia que essa paz nunca poderia ser em detrimento da verdade pois, se assim fosse, essa dita paz seria maldita:

“Naturalmente, há uma condição para entendermos a natureza desta paz, ou seja, a paz da qual a verdade de Deus é o vínculo. Pois se temos de lutar contra os ensinamentos da impiedade, mesmo se for necessário mover céu e terra, devemos, não obstante, perseverar na luta. Devemos, certamente, fazer que a nossa preocupação primária cuide para que a verdade de Deus seja mantida em qualquer controvérsia; porém, se os incrédulos resistirem, devemos terçar armas contra eles, e não devemos temer sermos responsabilizados pelos distúrbios. Pois a paz, da qual a rebelião contra Deus é o emblema, é algo maldito; enquanto que as lutas, indispensáveis à defesa do reino de Cristo, são benditas.”[111]

Em 20 de março de 1552, Thomas Cranmer (1489-1556)[112] escreveu a Calvino – bem como a Melanchthon (1479-1560)[113] e a Bullinger (1504-1575)[114] –, convidando-o para uma reunião no Palácio de Lambeth com o objetivo de preparar um credo que fosse consensual para as Igrejas Reformadas.[115] Cranmer tinha em vista também, a realização do Concílio de Trento[116] que estava em andamento, estando preocupado de modo especial com a questão da Ceia do Senhor.

Calvino então responde (abril de 1552), encorajando Cranmer a perseverar no seu objetivo. A certa altura diz:

“...Estando os membros da Igreja divididos, o corpo sangra. Isso me preocupa tanto que, se pudesse fazer algo, eu não me recusaria a cruzar até dez mares, se necessário fosse, por essa causa.”[117]

O próprio Cranmer compôs no Livro de Oração Comum, uma oração para o culto anual anglicano, quando se comemorava a coroação do monarca. A oração diz:

“Ó Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, nosso único Salvador, o Príncipe da Paz: Dá-nos a graça para com seriedade nos compenetrarmos dos grandes perigos em que nos encontramos por causa de nossas lamentáveis divisões, retira todo o ódio e preconceito e tudo o mais que possa impedir-nos de ter uma união e concórdia piedosas; para que, como existe somente um só corpo e um só Espírito e uma só esperança de nossa vocação, um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos nós, assim possamos de agora em diante ser todos de um só coração, de uma só alma, unidos em um único e santo vínculo de verdade e paz, de fé e caridade, e possamos de uma só mente e com uma só boca glorificar-te: por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.”[118]

Retornemos ao nosso ponto inicial: Robert D. Knudsen, tratando da visão "humanística" de Calvino, diz:

"É um erro supor que o duradouro interesse de Calvino pelos estudos humanísticos e pelo desenvolvimento cultural do homem fosse um simples remanescente do tempo que precedeu sua conversão à fé evangélica. Sua preocupação para com os estudos humanísticos e para com aquilo que diz respeito ao que é humano, está muito inseparavelmente ligado ao seu modo global de pensar, para permitir uma tal interpretação.

“De fato num sentido que precisa ser bem definido e cuidadosamente preservado de má compreensão, Calvino pode ser chamado de 'humanista'. Através de toda a sua vida, ele teve um profundo compromisso para com aquilo que é humano....

“Calvino ataca aqueles humanistas que fazem a apoteose do ser humano e pensam que a realização daquilo que é humano pode ser alcançada somente na presumida independência de Deus e de Sua revelação. Ele mesmo como um humanista, rejeitou aquilo que era o coração da idéia de personalidade do Renascimento, a idéia de que o homem é a fonte criadora de seus próprios valores e, portanto, no fundo, incapaz de pecar."[119]

“(Segundo Calvino), o homem só se conhece verdadeiramente, quando se conhece à luz de Deus e de Sua revelação, com o corolário implícito de que, se se conhece verdadeiramente, conhece verdadeiramente também a Deus. Não é muito extrair desta correlação o pensamento de que o homem, estando verdadeiramente relacionado com Deus pela piedade, estará verdadeiramente relacionado consigo mesmo, e estando relacionado consigo pela piedade, estará verdadeiramente relacionado com Deus."[120]

"Para Calvino, tornou-se possível relacionar a idéia de humanidade à antítese religiosa retratada na Escritura. O caminho foi aberto pela idéia de que o homem se torna humano em sua relação com Deus. O homem, em si mesmo, é verdadeiramente homem quando responde àquilo que constitui o modo de ser de sua natureza, àquilo para o que foi criado (...). A autonomia humana pecaminosa, longe de ser o caminho para a auto-realização humana, é, em si mesma, uma distorção daquilo que é humano."[121]

De modo semelhante, escreve André Biéler:

"A diferenciação clara das atribuições desses dois campos (teocentrismo e antropocentrismo) explica a grande liberdade com que Calvino soube combinar as valiosas conquistas do humanismo com os ensinamentos insubstituíveis da teologia, sem todavia cair nas enganosas sínteses almejadas pela escolástica romana e que importava evitar a todo preço....

"Calvino, foi portanto, um humanista. E o foi no seu mais alto grau porque, ao conhecimento natural do homem pelo próprio homem, acrescentou, sem confundir, o conhecimento do homem que Deus revela à sua criatura através de Jesus Cristo. Não se tratava, pois, de dar as costas ao humanismo e sim de suplantá-lo dando-lhe talvez as suas mais amplas dimensões. De um conhecimento puramente antropocêntrico, Calvino queria passar ao conhecimento do homem total, cujo centro se localiza no mistério de Deus.

"Por vezes, ele se opôs aos humanistas, mas sua oposição não visava tanto ao humanismo como tal, e sim ao ateísmo e ao antropocentrismo exclusivo de alguns, confinados no seu orgulho intelectual e numa confiança ilimitada no homem incompatíveis com a fé cristã.

"Resumindo, enquanto a ciência da Idade Média foi a teologia, o estudo de Deus, a da Renascença foi o humanismo, o estudo do homem. A ciência de Calvino, por sua vez, é um humanismo teológico que inclui a um tempo o estudo do homem e da sociedade através do duplo conhecimento do homem pelo homem, de um lado, e do homem por Deus, de outro."[122]

Em epítome, podemos dizer, que o "humanismo" de Calvino era um “humanismo cristocêntrico”, caracterizando-se pela compreensão de que o homem encontra a sua verdadeira essência no conhecimento de Deus.[123] Conhecer a Deus significa ter uma perspectiva clara de si mesmo; a recíproca também é verdadeira: não há conhecimento genuíno de Deus sem um conhecimento correto de si mesmo. Todavia, o conhecimento de Deus está associado à verdadeira piedade, que Calvino define como, “reverência associada com amor de Deus que o conhecimento de Seus benefícios nos faculta”.[124] Ele, então pergunta: “Quê ajuda, afinal, conhecer a um Deus com Quem nada tenhamos a ver?”[125] A sua resposta é simples: O conhecimento de Deus deve valer-nos, “primeiro, que nos induza ao temor e à reverência; em segundo lugar, tendo-o por guia e mestre, que aprendamos a dEle buscar todo bem e, em recebendo-o, a Ele creditá-lo.”[126] Isto, porque o conhecimento de Deus não tem um fim em si mesmo; “O conhecimento de Deus não está posto em fria especulação, mas Lhe traz consigo o culto”.[127] Portanto, se o conhecimento de Deus nos conduz ao culto, não podemos adorar e servir a um Deus desconhecido: “a menos que haja conhecimento, não é a Deus a quem adoramos, mas um fantasma ou ídolo. Todas as boas intenções, como são chamadas, são golpeadas por esta sentença, como por um raio; disto nós aprendemos que, os homens nada podem fazer senão errar, quando são guiados pela sua própria opinião sem a palavra ou mandamento de Deus.”[128] À frente continua: “se nós desejamos que nossa religião seja aprovada por Deus, ela tem que descansar no conhecimento obtido de Sua Palavra.”[129]

O conhecimento verdadeiro do verdadeiro Deus tem também, um sentido profilático; inibe o pecado: “Refreia-se do pecado não pelo só temor do castigo, mas porque ama e reverencia a Deus como Pai, honra-O e cultua-O como Senhor e, mesmo que infernos nenhuns houvesse, ainda assim Lhe treme à só ofensa.”[130] E, também, traz como implicação necessária, a piedade e a santificação: “.... deve observar-se que somos convidados ao conhecimento de Deus, não àquele que, contente com vã especulação, simplesmente voluteia no cérebro, mas àquele que, se é de nós retamente percebido e finca pé no coração, haverá de ser sólido e frutuoso.”[131] Em outro lugar, acrescenta: “.... Jamais o poderá alguém conhecer devidamente que não apreenda ao mesmo tempo a santificação do Espírito. (...) A fé consiste no conhecimento de Cristo. E Cristo não pode ser conhecido senão em conjunção com a santificação do Seu Espírito. Segue-se, consequentemente, que de modo nenhum a fé se deve separar do afeto piedoso”.[132] Resume: “O conhecimento de Deus é a genuína vida da alma....”.[133]

A dignidade e beleza do homem estão em ter sido criado "à imagem e semelhança de Deus",[134] podendo, portanto, relacionar-se com o Seu Criador.[135] No homem a “Sua imagem e glória peculiarmente brilham”.[136]O conhecimento de Deus, deve nos conduzir ao temor e à reverência, tendo a Deus como guia e mestre, buscando nEle todo o bem.[137]

Fiel ao seu princípio de que “...as escolas teológicas [são] berçários de pastores”,[138] Calvino (1509-1564), criou uma Academia em Genebra (5/6/1559)[139] – contando com 600 alunos, aumentando já no primeiro ano para 900 alunos[140] –, a quem coube a educação dos protestantes da língua francesa, atingindo em sua maioria, alunos estrangeiros vindos da França, Holanda, Inglaterra, da Alemanha, da Itália e de outras cidades da Suíça.[141] Além disso, Genebra se tornou um grande centro missionário, uma verdadeira “escola de missões”, porque os foragidos que lá se instalaram, puderam, posteriormente, levar para os seus países e cidades o Evangelho ali aprendido. A Academia tornou-se grandemente respeitada em toda a Europa; o grau concedido aos seus alunos era amplamente aceito e considerado em universidades de países protestantes como por exemplo, na Holanda. O historiador católico Marc Venard, comenta que a Academia “será daí em diante um viveiro de pastores para toda a Europa reformada.”[142] A Academia contribuiu em grandes proporções para fazer de Genebra “um dos faróis do Ocidente” admite Daniel-Rops.[143] A formação dada em Genebra era intelectual e espiritual; os alunos participavam dos cultos das quartas-feiras bem como em todos os três cultos prestados a Deus no domingo.[144] Um escritor referiu-se à Genebra deste modo: “Deus fez de Genebra Sua Belém, isto é, Sua casa do pão.”[145]

O conceituado historiador católico contemporâneo, Delumeau, fazendo eco a um dito comum, afirma – a bem da verdade com tons românticos e caricatos –, que Calvino fez de Genebra “a Roma do Protestantismo”.[146] Bem, essa perspectiva pode ser adotada por analogia por um católico no entanto, para nós Reformados, essa figura não existe: não temos meca, nem basílica, nem catedral, nem bispo, nem papa. Que Deus nos livre disso tudo![147] E, nos tem livrado...

Retornemos a Calvino. Ele insistiu junto aos Conselho s para melhorar as próprias condições do ensino, bem como os recursos das escolas. Visto que o Estado estava empobrecido, apelou para doações e legados.[148] Sem dúvida, entre os Reformadores, Calvino foi quem mais amplamente compreendeu a abrangência das implicações do Evangelho, nas diversas facetas da vida humana,[149] entendendo que “o Evangelho não é uma doutrina de língua, senão de vida. Não pode assimilar-se somente por meio da razão e da memória, senão que chega a compreender-se de forma total quando ele possui toda a alma, e penetra no mais íntimo recesso do coração.”[150] Por isso, ele exerceu poderosa influência sobre a Europa e Estados Unidos. Schaff chega dizer que Calvino “de certo modo, pode ser considerado o pai da Nova Inglaterra e da república Americana.”[151]

John Knox, ex-aluno de Genebra (1515-1572), "delineou um sistema nacional de educação que prometia conduzir a Escócia ao bem-estar espiritual e material",[152] tendo a Bíblia como tema principal de estudo e a gratuidade patrocinada pela Igreja.[153] Conforme as suas idéias, em 1646 o Parlamento escocês aprovou a criação de uma escola para cada região conforme indicação do presbitério, votando-se verba para salário dos professores. Aqui houve uma cooperação entre a Igreja e o Estado, estando a supervisão das escolas e professores entregue à Igreja. Este sistema, tão bem sucedido na Escócia, só viria sofrer alterações significativas no século XIX.

Outro personagem de grande destaque é Comênio. João Amós Comênio (Comenius) (1592-1670), foi batizado com este nome em homenagem ao pré-reformador João Huss (c. 1369-1415) e iniciador da Igreja Morávia (Irmãos Unidos).[154] Aquele que seria conhecido como "Pai da Didática Moderna",[155] – teve uma vida difícil: órfão aos 12 anos (1604), foi acolhido por uma tia paterna. Neste período pôde estudar na escola dos Irmãos Unidos (1604-1605). Somente aos 16 anos (1608) é que entrou para a escola latina de Prerau. Em 1611 ingressou na Universidade de Herborn e em 1613 foi admitido na Universidade de Heidelberg (Alemanha), onde estudou teologia. Em 26 de abril de 1616 é ordenado pastor. Desde 1618 exerce o pastorado na cidade de Fulnek, na Morávia. No entanto, com a invasão da Boêmia e de sua cidade, que é saqueada e queimada, Comênio é proscrito em 1621, perde sua biblioteca e manuscritos e, o pior: sua mulher, grávida, e seus dois filhos morrem vitimados pela peste. Ele passou a ter uma vida errante pela Europa. No entanto, apesar de suas tribulações Comênio pôde produzir uma obra vastíssima ligada especialmente à educação (mais de 140 tratados), sendo o seu principal trabalho – que resume bem a sua obra –, a Didática Magna (escrita em 1632 e publicada em latim em 1657). O método audiovisual encontrou a sua gênese em Comênio. De fato, ele foi o “evangelista da moderna pedagogia”.[156] Ele foi o último bispo da Igreja dos Irmãos Boêmios (1632).[157]

Comênio foi o filósofo da educação e o educador mais importante do século XVII e um dos mais importantes de toda a história, tendo a sua obra exercido grande influência durante a sua vida e especialmente nos séculos posteriores, sendo um dos incentivadores da Escola Pública. Há evidências de que ele teria sido convidado por John Winthrop Jr. (1606-1676), a presidir o Harvard College (1642), cargo que de fato nunca ocupou.[158] Na realidade, Comênio recebeu ao longo da vida diversos convites, os quais não pôde atender, como o do Cardeal Richelieu da França, da cidade de Hamburgo e de alguns nobres poloneses. Em 1641 Comênio atendeu o convite de Luís de Gerr, que em nome do rei Gustavo Adolfo da Suécia, o solicitou para que ajudasse a reformar o sistema de escola nacional sueco[159] Em 1656 ele foi, à convite, viver na Holanda, onde passou o resto de seus dias. Morreu em 15 de novembro de 1670. O filósofo luterano G.W. Leibniz (1646-1716), então com 24 anos, dedicou-lhe os seguintes versos: “Tempo virá em que a multidão dos homens de bem te honrará e honrará não somente tuas obras, mas também tuas esperanças e teus votos.”

Vejamos alguns de seus princípios educacionais:

Um de seus desejos era que toda a humanidade fosse uma só família, tendo em comum uma mesma língua, mesma educação e governo. A educação seria o grande veículo para atingir este objetivo, proporcionando uma melhor compreensão dos povos.

1) “Ensinar tudo a todos”:

Um de seus princípios educacionais era: "ensinar tudo a todos",[160] começando desde bem cedo, já que é mais difícil reeducar o homem na vida adulta: “....Não há coisa mais difícil que voltar a educar bem um homem que foi mal educado. Na verdade, uma árvore, tal como cresce, alta ou baixa, com os ramos bem direitos ou tortos, assim permanece depois de adulta e não se deixa transformar. (...) Se se devem aplicar remédios às corruptelas do gênero humano, importa fazê-lo de modo especial por meio de uma educação sensata e prudente na juventude.”[161] Entende que "as escolas são oficinas da humanidade."[162]

Deste modo, discordando de outros teóricos, entendia que todos os seres humanos deveriam receber “uma instrução geral capaz de educar todas as faculdades humanas.”[163] Portanto, “devem ser enviados às escolas não apenas os filhos dos ricos ou dos cidadãos principais, mas todos por igual, nobres e plebeus, ricos e pobres, rapazes e moças, em todas as cidades, aldeias e locais isolados....”.[164]

2) Sólido conhecimento aliado à piedade:

"Prometemos uma organização das escolas, através da qual (...) todos se formem com uma instrução não aparente, mas verdadeira, não superficial mas sólida; ou seja, que o homem, enquanto animal racional, se habitue a deixar-se guiar, não pela razão dos outros, mas pela sua, e não apenas a ler livros e a entender, ou ainda a reter e a recitar de cor as opiniões dos outros, mas a penetrar por si mesmo até ao âmago das próprias coisas e a tirar delas conhecimentos genuínos e utilidade. Quanto à solidez da moral e da piedade, deve dizer-se o mesmo." [165]

3) Metodologia voltada para o aluno:

"A proa e a popa da nossa Didáctica será investigar e descobrir o método segundo o qual os professores ensinem menos e os estudantes aprendam mais; nas escolas, haja menos barulho, menos enfado, menos trabalho inútil e mais sólido progresso; na Cristandade, haja menos trevas, menos confusão, menos dissídios, e mais luz, mais ordem, mais paz e mais tranqüilidade." [166]

No entanto, todo os métodos legítimos, devem ser usados acompanhados de oração para que, pela misericórdia divina os homens sejam salvos e Deus seja glorificado.[167]

4) Educação para o tempo e para a eternidade:

Somos criados para a eternidade: “somos destinados à eternidade. Porque, portanto, pertencemos à eternidade, é necessário que esta vida seja apenas uma passagem”.[168] O seu objetivo é que nesta vida, sejamos moldados conforme à imagem de Cristo (Rm 8.29). Considerando que temos três espécies de morada – o útero materno, a terra e o céu –,[169] sustenta que a educação não visa apenas a nossa atuação nesta vida (terra) mas, nos preparar para o nosso fim último, a vida eterna com Deus (céu), a “Academia Eterna”:[170] “Feliz aquele que sai do útero materno com os membros bem formados! Mil vezes mais feliz aquele que sair desta vida com a alma bem limpa!”[171] Toda a sua metodologia destina-se a isso: “Cremos, portanto, que é nosso dever pensar nos meios pelos quais toda a juventude cristã seja mais fervidamente impelida para o vigor da mente e para o amor das coisas celestes.”[172] Este é o fim último do homem: “a beatitude eterna com Deus”.[173]

Considerando o homem como “imagem de Deus”, devendo ser, portanto, santo (Lv 19.2), sustenta que os autênticos requisitos do homem são: “1º Que tenha conhecimento de todas as coisas [instrução]; 2º que seja capaz de dominar as coisas e a si mesmo [honestidade de costumes]; 3º que se dirija a si e todas as coisas para Deus, fonte de tudo [piedade].”[174]

Comênio entendia por instrução o pleno conhecimento das artes e das línguas; por honestidade de costumes, a formação interior do homem que se revelasse no seu comportamento; e por piedade ou religião, “a veneração interior, pela qual a alma humana se liga e se prende ao Ser supremo.”[175]

Ele apresenta os 21 cânones para conduzir o jovem à piedade. Aqui não temos espaço para transcrevê-los, no entanto, quero destacar alguns que julgo resumir os seus princípios: 1.º) “O cuidado para incutir a piedade comece nos primeiros anos da infância” ;[176]2º “Aprendam, pois, desde o princípio da vida, a ocuparem-se, o mais que possam nas coisas que conduzem imediatamente a Deus: na leitura das Sagradas Escrituras, nos exercícios do culto divino e nas boas obras corporais”;[177] 3º) “Que a Sagrada Escritura seja, nas escolas cristãs, o Alfa e o Omega”.[178]

2. A Reforma e o Trabalho

“[Albert von] Wallenstein, o maior de todos os condottieri,[179] descobriu o segredo de manter um exército pagando-lhe com as contribuições cobradas nas províncias e cidades conquistadas e alimentando, vestindo e armando os seus homens nas suas próprias oficinas, fábricas e minas. Mas por detrás de Wallenstein estava, sabemô-lo hoje, um outro homem, cuja presença, por muito tempo oculta, só recentemente foi revelada: Hans de Witte, um calvinista de Antuérpia....

“Hans de Witte, apesar de professar o calvinismo até ao fim, era um péssimo calvinista....”. – H.R. Trevor-Roper.[180]

Trabalho pode ser definido como o esforço físico ou intelectual, com vistas a um determinado fim. O verbo "trabalhar" é proveniente do latim vulgar tripaliar: torturar com o tripalium. Este é derivado de tripalis, cujo nome é proveniente da sua própria constituição gramatical: tres & palus (pau, madeira, lenho), que significava o instrumento de tortura de três paus. A idéia de tortura evoluiu, tomando o sentido de "esforçar-se", "laborar", "obrar"[181]

Etimologia à parte, devemos observar, que o trabalho, apresenta as seguintes características:

a) Envolve o uso de energia destinado a vencer a resistência oferecida pelo objeto que se quer transformar – intencionalidade.

b) O trabalho se propõe sempre a uma transformação.

c) Todo o trabalho está ligado a uma necessidade, externa ou interna.

d) Todo trabalho traz como pressuposto fundamental, o conceito de que o objeto, sobre o qual trabalha, é de algum modo aperfeiçoável, mediante o emprego de determinada energia – esforço e perseverança.

Na Idade Média, há de certa forma, um retorno à idéia grega, considerando o trabalho – no sentido manual, (banausi/a), "arte mecânica", como sendo algo degradante para o ser humano,[182] e inferior à (sxolh/), ao ócio, descanso, repouso, à vida contemplativa e ociosa (sxola/zw), por um lado, e à atividade militar pelo outro. Na visão de São Tomás de Aquino (1225-1274), o trabalho era no máximo, considerado "eticamente neutro".[183] Conforme já nos referimos, segundo a Igreja romana, "a finalidade do trabalho não é enriquecer, mas conservar-se na condição em que cada um nasceu, até que desta vida mortal, passe à vida eterna. A renúncia do monge é o ideal a que toda a sociedade deve aspirar. Procurar riqueza é cair no pecado da avareza. A pobreza é de origem divina e de ordem providencial," interpreta Pirenne.[184]

Ainda na Idade Média, a posição ocupada pelo trabalho era regida pela divisão gradativa de importância social: Oradores (eclesiásticos), Defensores (guerreiros) e Lavradores (agricultores). Desta forma, os eclesiásticos, no seu ócio e abstrações "teológicas" é que tinham a prioridade, ocupando um lugar proeminente. Biéler comenta: “O trabalho, especialmente o trabalho criador de bens e riqueza, o trabalho manual, se não decaíra mais até o nível do trabalho servil da Antigüidade, foi, todavia, considerado como uma necessidade temporal desprezível com relação aos exercícios da piedade. E aqueles que se dedicavam às atividades econômicas e financeiras, os negociantes e banqueiros, eram particularmente desconsiderados.”[185]

Não nos cabe aqui analisar a história da filosofia do trabalho, contudo, devemos mencionar, que a Reforma resgatou o conceito cristão de trabalho.

Na ética do trabalho, Lutero (1483-1546) e Calvino (1509-1564) estavam acordes quanto à responsabilidade do homem de cumprir a sua vocação através do trabalho. Não há lugar para ociosidade. Com isto, não se quer dizer que o homem deva ser um ativista, mas sim, que o trabalho é uma "bênção de Deus". Lutero teve uma influência decisiva, quando traduziu para o alemão o Novo Testamento (1522), empregando a palavra "beruf" para trabalho, em lugar de "arbeit". "Beruf", acentua mais o aspecto da vocação do que o do trabalho propriamente dito. As traduções posteriores, inglesas e francesas, tenderam a seguir o exemplo de Lutero. A idéia que se fortaleceu, é a de que o trabalho é uma vocação divina.[186] Calvino, diz: “Se seguirmos fielmente nosso chamamento divino, receberemos o consolo de saber que não há trabalho insignificante ou nojento que não seja verdadeiramente respeitado e importante ante os olhos de Deus.”[187]

Calvino defendeu três princípios éticos fundamentais: Trabalho, Poupança e Frugalidade.[188] Note-se que a poupança deveria ter sempre o sentido social.[189] Comentando 2Co 8.15, diz: “Moisés admoesta o povo que por algum tempo fora alimentado com o maná, para que soubesse que o ser humano não é alimentado por meio de sua própria indústria e labor, senão pela bênção de Deus. Assim, no maná vemos claramente como se ele fosse, num espelho, a imagem do pão ordinário que comemos. (...) O Senhor não nos prescreveu um ômer ou qualquer outra medida para o alimento que temos cada dia, mas ele nos recomendou a frugalidade e a temperança, e proibiu que o homem exceda por causa da sua abundância.[190] Por isso, aqueles que têm riquezas, seja por herança ou por conquista de sua própria indústria e labor, devem lembrar que o excedente não deve ser usado para intemperança ou luxúria, mas para aliviar as necessidades dos irmãos. (...) Assim como o maná, que era acumulado como excesso de ganância ou falta de fé, ficava imediatamente putrificado, assim também não devemos alimentar dúvidas de que as riquezas que são acumuladas à expensa de nossos irmãos são malditas, e logo perecerão, e seu possuidor será arruinado juntamente com elas, de modo que não conseguimos imaginar que a forma de um rico crescer é fazendo provisões para um futuro distante e defraudando os nossos irmãos pobres daquela ajuda que a eles é devida.”[191]

Comportamento Cristão na Riqueza e na Pobreza:

Seguem alguns princípios apresentados e vivenciados por Calvino, concernentes ao uso dos bens concedidos por Deus. Pode-se perceber em suas orientações a fundamentação teológica de sua prática.

Sobre a vida exemplar de Calvino, escreve André Biéler:

“.... a pregação do reformador é o prolongamento de sua ação. A modéstia em que vive com seus colegas é proverbial e toca as raias da pobreza. Suas providências em favor dos deserdados são constantes. Importuna persistentemente os conselheiros da cidade para que tomem medidas de atendimento aos pobres. Depois da chacina dos protestantes em Provence, em 1545, organiza pessoalmente uma coleta geral, subindo as escadarias dos edifícios repletos de refugiados para recolher a esmola de todos.”[192]

Vejamos, agora, alguns dos princípios estabelecidos nas Institutas.

1) Em tudo devemos contemplar o Criador, e dar-Lhe Graças:

Esta ação é resultado do reconhecimento de que tudo que temos, foi criado por Deus a fim de que reconhecêssemos o seu autor, rendendo-Lhe, assim, graças. “Às vezes pensamos que podemos alcançar facilmente as riquezas e as honras com nossos próprios esforços, ou por meio do favor dos demais; porém, tenhamos sempre presente que estas coisas não são nada em si mesmas, e que não poderemos abrir caminho por nossos próprios meios, a menos que o Senhor queira nos prosperar.”[193]

Os recursos de que dispomos devem ser um estímulo a sermos agradecidos a Deus por sua generosa bondade:

“À luz desse fato aprendemos, também, que os que são responsáveis pelo presunçoso uso da bondade divina, se aproveitam dela para orgulhar-se da excelência que possuem, como se a possuíssem por sua própria habilidade, ou como se a possuíssem por seu próprio mérito; enquanto que sua origem deveria, antes, lembrá-los de que ela tem sido gratuitamente conferida aos que são, ao contrário, criaturas vis e desprezíveis e totalmente indignas de receber algum bem da parte de Deus. Qualquer qualidade estimável, pois, que porventura virmos em nós mesmos, que ela nos estimule a celebramos a soberana e imerecida bondade que a Deus aprouve conceder-nos.”[194]

2) Usemos deste mundo como se não usássemos dele:

Devemos viver neste mundo com moderação, sem colocar o coração nos bens materiais pois, tais preocupações nos fazem esquecer da vida celestial e de “adornar nossa alma com seus verdadeiros atavios”.[195] Comentando o Salmo 30.6 – quando Davi reflete a sua momentânea confiança no sucesso adquirido –, diz: “.... Davi reconhece que havia sido justa e merecidamente punido por sua estulta e precipitada confiança, ao esquecer-se de sua mortal e mutável condição de ser humano, e ao pôr demasiadamente seu coração na prosperidade.”[196] Em outro lugar, fazendo menção da mesma passagem, escreve: “Davi afirma que a prosperidade havia obnubilado de tal forma seus sentidos, que deixou de pôr seus olhos na graça de Deus, da qual deveria depender continuamente. Em vez disso, creu que poderia andar por suas próprias forças e imaginou que não cairia jamais.”[197]

Portanto, devemos usar nossos bens com moderação:

“.... ainda que a liberdade dos fiéis com respeito às coisas externas não deva ser limitada por regras ou preceitos, sem dúvida deve regular-se pelo princípio de que deve regalar-se o mínimo possível; e, ao contrário, que temos que estar mui atentos para cortar toda superfluidade, toda vã ostentação de abundância – devem estar longe da intemperança! –, e guardar-se diligentemente de converter em impedimentos as coisas que se lhes há dado para que lhes sirvam de ajuda.”[198] (Jo 15.19; 17.14; Fp 3.20; Cl 3.1-4; Hb 11.16; 1Jo 2.15).

3) Suportemos a Pobreza; usemos moderadamente da abundância

Seguindo o que Paulo disse aos Filipenses: “Tanto sei estar humilhado, como também ser honrado....” (Fp 4.12), comenta:

“Quem sofre a pobreza com impaciência, mostra o vício contrário na abundância. Quero dizer com isso que quem se envergonha de andar pobremente vestido, se vangloriará de ver-se ricamente ataviado; que quem não se contenta com a mesa frugal, se atormentará como o desejo de outra mais rica e abundante.”[199]

“O pobre deveria aprender a ser paciente sob as privações, para não se encontrar atormentado com uma excessiva paixão pelas riquezas.”[200]

“Devemos aprender a superar a pobreza quieta e pacientemente, e desfrutar da abundância com moderação”[201]

“Para assegurarmos que a suficiência [divina] nos satisfaça, aprendamos a controlar nossos desejos de modo a não querermos mais do que é necessário para a manutenção de nossa vida.”[202]

A tendência é de nos envaidecermos com a abundância e nos deprimir com a carência. Para muitos de nós, não se ensoberbecer com a riqueza pode ser mais difícil do que não se desesperar com a pobreza.[203] “Aquele que é impaciente sob a privação manifestará vício oposto quando estiver no meio do luxo.”[204] Paulo sabia, por experiência própria, agir de modo santo em ambas as circunstâncias. Em tudo Paulo era agradecido a Deus (1Ts 5.18), sabendo que em Cristo poderia suportar e vencer qualquer situação. Calvino observa que temos que usar moderadamente dos recursos que Deus nos deu, para que não caiamos na torpeza do excesso, da vanglória e da arrogância (Rm 13.14).[205] “Os bens terrenos à luz de nossa natural perversidade, tendem a ofuscar nossos olhos e a levar-nos ao esquecimento de Deus, e portanto devemos ponderar, atentando-nos especialmente para esta doutrina: tudo quanto possuímos, por mais que pareça digno da maior estima, não devemos permitir que obscureça o conhecimento do poder e da graça de Deus.”[206]

Calvino insiste no ponto de que aqueles não aprenderem a viver na pobreza, quando ricos, revelarão a sua arrogância e orgulho. O apóstolo Paulo constitui-se num exemplo de simplicidade em qualquer situação (Fp 4.12).

Ele também entende que na pobreza é que tendemos a nos tornar mais humildes e fraternos:

“Todas as pessoas desejam possuir o bastante que as poupe de depender do auxílio de seus irmãos. Mas quando ninguém possui o suficiente para suas necessidades pessoais, então surge um vínculo de comunhão e solidariedade, pois que cada um se vê forçado a buscar empréstimo dos outros. Admito, pois, que a comunhão dos santos só é possível quando cada um se vê contente com sua própria medida, e ainda reparte com seus irmãos as dádivas recebidas, e em contrapartida admite ser também assistido pelas dádivas alheias.”[207]

4) Somos Administradores dos Bens de Deus:

A Bíblia nos ensina que todas as coisas nos são dadas pela benignidade de Deus e são destinadas ao nosso bem e proveito. Deste modo, tudo que temos constitui-se em um depósito do que um dia teremos de dar conta. “Temos, pois, de administrá-las como se de contínuo, ressoasse em nossos ouvidos aquela sentença. ‘Dá conta de tua mordomia’ (Lc. 16.2).”[208]

Para Calvino a riqueza residia em não desejar mais do que se tem e a pobreza, o oposto.[209] Por sua vez, também entendia que a prosperidade poderia ser uma armadilha para a nossa vida espiritual: “Nossa prosperidade é semelhante à embriaguez que adormece as almas.”[210] “Aqueles que se aferram à aquisição de dinheiro e que usam a piedade para granjearem lucros, tornam-se culpados de sacrilégio.”[211] Daí que, para o nosso bem, o Senhor nos ensina através de várias lições a vaidade dessa existência.[212] Comentando o Salmo 62.10, diz: “Pôr o coração nas riquezas significa mais que simplesmente cobiçar a posse delas. Implica ser arrebatado por elas a nutrir uma falsa confiança. (...) É invariavelmente observado que a prosperidade e a abundância engendram um espírito altivo, levando prontamente os homens a nutrirem presunção em seu procedimento diante de Deus, e a se precipitarem em lançar injúria contra seus semelhantes. Mas, na verdade o pior efeito a ser temido de um espírito cego e desgovernado desse gênero é que, na intoxicação da grandeza externa, somos levados a ignorar quão frágeis somos, e quão soberba e insolentemente nos exaltamos contra Deus.”[213] Em outro lugar: “Quanto mais liberalmente Deus trate alguém, mais prudentemente deve ele vigiar para não ser preso em tais malhas.”[214] “Quando depositamos nossa confiança nas riquezas, na verdade estamos transferindo para elas as prerrogativas que pertencem exclusivamente a Deus.”[215] A nossa riqueza está em Deus, Aquele que soberanamente nos abençoa.[216] Portanto, “.... é uma tentação muito grave, ou seja, avaliar alguém o amor e o favor divinos segundo a medida da prosperidade terrena que ele alcança.”[217] Quanto ao dinheiro, como tudo que temos provém de Deus, “o dinheiro em minha mão é tido como meu credor, sendo eu, como de fato sou, seu devedor.”[218] Somos sempre e integralmente dependentes de Deus: “Um verdadeiro cristão não deverá atribuir nenhuma prosperidade à sua própria diligência, trabalho ou boa sorte, mas antes ter sempre presente que Deus é quem prospera e abençoa.”[219]

Jesus Cristo é quem nos pedirá conta. O mesmo Jesus, que em sua vida terrena viveu de forma sóbria e modesta, combatendo todo excesso, soberba, ostentação e vaidade.

“Portanto, ao fazer o bem a nossos irmãos e mostrar-nos humanitários, tenhamos em mente esta regra. que de tudo quanto o Senhor nos tem dado, com o que podemos ajudar a nossos irmãos, somos despenseiros; que estamos obrigados a dar conta de como o temos realizado; que não há outra maneira de despensar devidamente o que Deus pôs em nossas mãos, que ater-se à regra da caridade. Daí resultará que não somente juntaremos ao cuidado de nossa própria utilidade a diligência em fazer bem ao nosso próximo, senão que incluso, subordinaremos nosso proveito aos demais.”[220]

No entanto, esta ajuda não poderá ser com arrogância; antes deve ser praticada com amor, prontidão, humildade, cortesia e simpatia. Ele constata com tristeza:

“Quase ninguém é capaz de dar uma miserável esmola sem uma atitude de arrogância ou desdém. (...) Ao praticar uma caridade, os cristãos deveriam ter mais do que um rosto sorridente, uma expressão amável, uma linguagem educada.

“Em primeiro lugar, deveriam se colocar no lugar daquela pessoa que necessita de ajuda, e simpatizarem-se com ela como se fossem eles mesmos que estivessem sofrendo. Seu dever é mostrar uma verdadeira humanidade e misericórdia, oferecendo sua ajuda com espontaneidade e rapidez como se fosse para si mesmos.

“A piedade que surge do coração fará com que se desvaneça a arrogância e o orgulho, e nos prevenirá de termos uma atitude de reprovação ou desdém para com o pobre e o necessitado.”[221]

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Max Weber (1864-1920) ao analisar o progresso econômico protestante, não conseguiu captar este aspecto fundamental no protestantismo, que enfatiza o trabalho, não simplesmente pelo dever ou vocação, conforme Weber entendeu, mas sim, para a glória de Deus; este é o fator preponderante, que escapou à sua compreensão.[222]

As Escrituras nos ensinam que Deus nos criou para o trabalho (Gn 2.8,15). O trabalho, portanto, faz parte do propósito de Deus para o ser humano, sendo objeto de satisfação humana: “Em vindo o sol, (...) sai o homem para o seu trabalho, e para o seu encargo até à tarde” (Sl 104.22-23). Na concepção cristã, o trabalho dignifica o homem, devendo o cristão estar motivado a despeito do seu baixo salário ou do reconhecimento humano; embora as Escrituras também observem que o trabalhador é digno do seu salário (Lc 10.7). Seu trabalho deve ser entendido como uma prenda feita a Deus, independentemente dos senhores terrenos; deste modo, o que de fato importa, não é o trabalho em si, mas sim o espírito com o qual ele é feito; a dignidade deve permear todas as nossas obras, visto que as realizamos para o Senhor. A prestação de contas de nosso trabalho deverá ser feita a Deus; é Ele com o seu escrutínio perfeito e eterno Quem julgará as obras de nossas mãos, daí a recomendação do Apóstolo Paulo:

"E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus (...). Servos, obedecei em tudo aos vossos senhores segundo a carne, não servindo apenas sob vigilância, visando tão-só agradar homens, mas em singeleza de coração, temendo ao Senhor. Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor, e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo; pois aquele que faz injustiça receberá em troco a injustiça feita; e nisto não há acepção de pessoas. Senhores, tratai aos servos com justiça e com eqüidade, certos de que também vós tendes Senhor no céu." (Cl 3.17,22-4.1)(Vd. Ef 6.5-9).

Portanto, não há desculpas para a fuga do trabalho, mesmo em nome de um motivo supostamente religioso (1Ts 4.9-12/Ef 4.28; 1Tm 5.11-13).

Um comentarista bíblico, resume bem o espírito cristão do trabalho, afirmando: “O trabalhador deve fazê-lo como se fosse para Cristo. Nós não trabalhamos pelo pagamento, nem por ambição, nem para satisfazer a um amo terreno. Trabalhamos de tal maneira que possamos tomar cada trabalho e oferecê-lo a Cristo.”[223] (Vd. 1Tm 6.1-2).

Lamentavelmente, o conceito Protestante do trabalho, no pensamento moderno, foi secularizado, abandonando aos poucos a concepção religiosa que lhe dera suporte, tornando-se agora apenas uma questão de racionalidade, não necessariamente de "vocação" ou de "glorificação a Deus". Perdeu-se a “infra-estrutura”, ficou-se apenas com a “superestrutura.”[224]

O homem é um ser que trabalha. A sua mão é uma arma "politécnica", instrumento exclusivo, incomparável de construção, reconstrução e transformação.[225] Faz parte da essência do homem trabalhar. O homem é um artífice que constrói, transforma, modifica; a sua vida é um eterno devir, que se realiza no fazer como expressão do seu ser... O ser como não pode se limitar ao simples fazer, está sempre à procura de novas criações, que envolvem trabalho. Acontece, que se o homem é o que é, o seu trabalho revela parte da sua essência. A "originalidade" do seu trabalho será uma decorrência natural da sua autenticidade.[226] O homem autentica-se no seu ato construtivo, ainda que este seja resultado de suas tensões.[227] Por isso, nunca poderemos ter como meta da sociedade, a ausência do trabalho. Deixar de trabalhar, significa deixar de utilizar parte da sua potência,[228] eqüivale a deixar parcialmente de ser homem; em outras palavras, seria uma desumanidade...

Ainda que de passagem, quero citar a questão do Brasil no século XIX. O trabalho escravo teve uma atuação fundamental na construção de nosso país.[229] Apesar de não sabermos precisar quando chegou a primeira leva de negros em nosso território, é provável que tenha sido já em 1531.[230] Enquanto que era comum o trabalho branco na América (os escravos só seriam introduzidos em 1619 por traficantes holandeses), no Brasil jamais se cogitou em "ensaiar o trabalho branco", seguindo assim, a tradição portuguesa que tinha escravos desde o início do século XV.[231]

O trabalho escravo além de duro, prolongava-se por todo o dia e, às vezes adentrava à noite. Mesmo assim, Koster observa que os escravos europeus apesar de disporem de melhores condições de tratamento, tinham um trabalho mais pesado.[232] O que aliviava um pouco o trabalho escravo, era o fato do brasileiro ter bastante dias santos (35 dias durante o ano) nos quais, juntamente com os domingos, os escravos não trabalhavam para os seus senhores.[233] Aliado a tudo isso, o nosso país era uma festa contínua, sempre procurando motivos para comemorações, havendo também as festas populares – que eram inúmeras, variando de região para região – , [234] as quais de certa forma contribuíam, ainda que de forma tênue para amenizar a estafante rotina escrava.

O que causava espanto aos europeus que por aqui passavam, era a ociosidade de nosso povo, sempre dependente do escravo, negando-se a executar tarefas corriqueiras e, ao mesmo tempo, sendo ávido por um emprego público. Para concluir esta pequena nota, cito alguns testemunhos da época.

A educadora Ina von Binzer (1856-c.1916), escreve à sua amiga, Grete, em 14/08/1881:

"Neste país [Brasil], os pretos representam o papel principal; acho que no fundo, são mais senhores do que escravos dos brasileiros.

"Todo trabalho é realizado pelos pretos, toda a riqueza é adquirida por mãos negras, porque o brasileiro não trabalha, e quando é pobre prefere viver como parasita em casa dos parentes e de amigos ricos, em vez de procurar uma ocupação honesta.

"Todo o serviço doméstico é feito por pretos: é um cocheiro preto quem nos conduz, uma preta quem nos serve, junto ao fogão, o cozinheiro é preto e a escrava amamenta a criança branca; gostaria de saber o que fará essa gente, quando for decretada a completa emancipação dos escravos."[235]

O casal Agassiz, que viajou pelo Brasil nos anos de 1865-1866, observou:

"A importância exagerada que em toda parte se dá aos empregos públicos é uma desgraça; relega para a sombra todas as demais ocupações e sobrecarrega o Estado com uma massa de empregados pagos que, sem utilidade, atravancam os serviços públicos e esgotam o Tesouro. Todo homem que aqui tenha recebido alguma instrução aspira a uma carreira política, como meio aristocrático e fácil de ganhar a vida. Somente há pouco tempo é que os moços de boa família começaram a entrar no comércio."[236]

Retornando, vemos que o Protestantismo, com os seus princípios econômicos, com a sua ênfase no livre exame das Escrituras, na salvação pessoal e na responsabilidade de cada homem diante de Deus, contribuiu na esteira Renascentista para a maturidade do homem moderno, enfatizando a responsabilidade individual perante Deus, sem excluir contudo, o aspecto comunitário da vida cristã e a relevância da sociabilidade entre os fiéis. Onde quer que o Protestantismo fincasse suas raízes, a sua influência se tornaria notória como uma força modeladora da cultura, não apenas da vida religiosa. Lembremo-nos de que a Revolução Industrial ocorreu na Inglaterra Protestante e, de que F.W. Taylor (1856-1915), "o fundador da administração científica", era protestante e norte-americano.[237]

III – considerações teológicas:

a) A IGREJA DE DEUS: ORIGEM, CARACTERÍSTICA E MISSÃO:

INTRODUÇÃO:

“Não existe uma Eclesiologia desligada da Cristologia, no sentido de uma mística de Cristo ou da Igreja, pois em Cristo o Deus da Antiga Aliança, o qual fundou a Nova Aliança, fala, e a assembléia neotestamentária de Deus em Cristo nada mais é do que o cumprimento perfeito da assembléia vétero-testamentária de Deus. O mesmo Deus falou e fala a Israel com a palavra da promessa e aos cristãos com a palavra do cumprimento desta promessa.” – Karl L. Schmidt, Igreja: In: Gerhard Kittel, ed. A Igreja no Novo Testamento, São Paulo, ASTE, 1965, p. 30.

1) Cristologia & Eclesiologia:

A Cristologia consiste na compreensão da Igreja a respeito da Pessoa e Obra de Cristo. Na Eclesiologia, deparamo-nos com o estudo concernente ao Corpo de Cristo, do qual somos parte integrante. Na Teologia Reformada, esta compreensão – Cristológica e Eclesiológica – é buscada na Palavra de Deus, em submissão ao Espírito, considerando também, as contribuições formuladas pela igreja através da história. Nesta consideração histórica, devemos ter em mente que: a) somente as Escrituras são infalíveis, não as interpretações das Escrituras, quer pretéritas, quer presentes;[238] b) o Espírito age na igreja e através dela, na interpretação da Verdade revelada, conduzindo-a à verdade (Jo 14.26; 16.13-15/2Pe 1.3-15). Por isso, de nenhum modo podemos desconsiderar gratuitamente as contribuições históricas, sem corrermos o risco de anular o que o Espírito tem feito através dos Seus servos.[239] Portanto, c) A fé nunca pode estar dissociada desta pesquisa.[240]

Em outro lugar[241] tratamos da questão da evangelização, abordando uma definição comumente usada, que consiste em dizer que “Evangelizar é pregar a Cristo”. Dissemos então, que acreditamos que nenhum evangélico discordaria desta proposição. A questão, que ainda nos parece fundamental, é saber, de que Cristo estamos falando: do Cristo revelado nas Escrituras, Divino, Eterno, Senhor, Soberano, igual em poder, honra e glória, ao Pai e ao Espírito Santo?, ou um Cristo, criado pela “fantasia” dos cristãos primitivos, destituído de Sua Glória, sendo o “produto da fé” dos discípulos? Se queremos pregar a Cristo, devemos “definir” quem é o Cristo que anunciamos ou, em nossa perspectiva, aceitar a definição bíblica de Cristo. A questão de quem é o Cristo que cremos e pregamos permanece; esta tem sido ao longo da História uma das indagações mais relevantes para a nossa fé.

A concepção Reformada não consiste num esforço para atribuir a Cristo valores que julgamos serem próprios Dele; antes ela se ampara no reconhecimento e na aceitação incondicional de Suas reivindicações. Assim, aquilo que dizemos de Cristo, permanecerá ou não, conforme seja fiel à proclamação do Verbo de Deus. Por isso, a vivacidade da Cristologia Reformada e, por que não, da sua proclamação, estará sempre em sua fidelidade à Cristologia do Cristo.

Cristo por Ele mesmo; este é o anelo de toda Cristologia Reformada, e portanto, o fundamento de toda a nossa proclamação. Deste modo, devemos indagar sempre a respeito de nossas convicções e testemunho, avaliando-os através dAquele que verdadeira e compreensivelmente diz Quem é.

Neste afã, devemos estar atentos ao fato de que Cristo por Ele mesmo, envolve o limite do que foi revelado e o desafio do que nos foi concedido. Não podemos ultrapassar o revelado, contudo, não podemos nos contentar com menos do que nos foi dado.[242] Procurar a Cristologia do Cristo eqüivale a buscar compreender em submissão ao Espírito tudo o que foi revelado para nós (Dt 29.29b/Rm 15.4). Por certo, este conhecimento não estará restrito ao Cristo Salvador, mas além disto nos fala do Cristo Deus-Homem; do Cristo Eterno e Glorioso. Aliás só podemos falar do Cristo Salvador, se Ele de fato for – como é –, o Deus encarnado, visto que a nossa redenção não foi levada a efeito pelo Logos divino, nem pelo “Jesus humano”, mas por Jesus Cristo: Deus-Homem.[243]

A Cristologia se constitui no cerne de toda Teologia Cristã.[244] Ela é o eixo da Teologia Bíblica: uma visão defeituosa da Pessoa e Obra de Cristo, determina a existência de uma "teologia" divorciada da plenitude da Revelação bíblica. A consciência deste fato deve nortear o nosso labor Cristológico e também servir como referência e ponto de partida teológico... Não podemos falar do corpo em detrimento ou à revelia de Sua cabeça.[245] Fazer esta separação significa dilacerar o Corpo de Cristo e, consequentemente a Cabeça. A visão correta a respeito da Igreja passa, necessariamente, pela correta compreensão de Quem é o Cristo, o Filho de Deus.

2) Qual Igreja?:

Quando tratamos da Igreja, é natural que alguém pergunte: de qual Igreja estamos falando? De fato, com a variedade de denominações e seitas supostamente cristãs, que amiúde se dizem detentoras da verdade, torna-se difícil identificar a “verdadeira Igreja de Deus”, distinguir o joio do trigo. Quando isto acontece, há a tendência de se generalizar, repudiando-se todas as igrejas ou, passar a olhá-las com ceticismo e ironia.

Nessas breves anotações, pretendemos apresentar algumas evidências bíblicas, teológicas e históricas que revelam a identidade da Igreja Cristã.

1. A IGREJA DE DEUS:

1.1. Considerações Gramaticais:

A nossa palavra "Igreja", é uma tradução do grego e)kklhsi/a, que no grego antigo, significava uma assembléia de cidadãos convocados pelo pregoeiro; a assembléia legislativa. (At 19.32,39,40). A palavra e)kklhsi/a, é formada por duas outras: e)k ("fora de") & kale/w ("chamar", "convocar"), significando: "Chamar para fora". e)kklhsi/a ocorre cerca de 114 vezes no Novo Testamento.

Tomando o sentido etimológico de e)kklhsi/a, podemos dizer que "Deus em Cristo chama os homens 'para fora' do mundo".[246] A Igreja é constituída por aqueles que estavam mortos, mas que receberam vida – regeneração –, pelo Espírito.[247] Portanto, o ponto em comum entre todos os cristãos, é o fato de termos sido chamados por Deus: a Igreja se reúne porque Deus a convocou; e ela também o faz, para ouvir a voz do Seu Senhor.[248](Vd. At 10.33).

De modo geral, e)kklhsi/a apresenta diversas significações subordinadas no Novo Testamento:

a) O círculo dos crentes reunidos num lugar específico para cultuar a Deus: uma comunidade local: (At 5.11; 8.1; 11.22,26;12.1,5; 1Co 11.18; 14.19.28,35; Rm 16.4; Gl 1.2; Cl 4.16 1Ts 2.14). Denotando em alguns casos uma “Igreja doméstica”, que se reunia na casa de algum irmão (Rm 16.5, 23; 1Co 16.19; Cl 4.15; Fm 2).

b) Um conjunto de Igrejas locais: (At 9.31/At 14.23; 15.41; 16.4-5; 1Co 16.1/Gl 1.2; Ap 1.4,11). Algumas vezes mesmo a palavra Igreja não sendo empregada no plural, subentende-se que faz alusão a diversas pequenas comunidades, já que havia centenas ou mesmo milhares de membros, como o caso da Igreja de Jerusalém (At 8.1; 11.22).

c) O corpo daqueles que através do mundo professam sua fé em Cristo e que constituem a Sua Igreja: 1Co 10.32; 11.22; 12.28; Ef 1.22; 3.10,21; 5.23-25,27, 32; Cl 1.18,24; Hb 12.23).

1.2. Definição de Igreja:

Podemos definir a Igreja como sendo a comunidade de pecadores regenerados, que pelo dom da fé, concedido pelo Espírito Santo, foram justificados, respondendo positivamente ao chamado divino, o qual fora decretado na eternidade e efetuado no tempo, e agora vivem em santificação, proclamando, quer com sua vida, quer com suas palavras, o Evangelho da Graça de Deus, até que Cristo venha.

2. O ESPÍRITO E A IGREJA:

“A comunidade de Jesus vive sob a inspiração do Espírito Santo; este é o segredo de sua vida, de sua comunhão e de seu poder” – Emil Brunner.[249]

O Espírito está tão essencialmente ligado à igreja que, na linguagem de Pedro, mentir à igreja é o mesmo que mentir ao Espírito (At 5.3,9). Dentro de outra perspectiva, declara Bavinck (1854-1921): “Assim como Cristo em Sua concepção assumiu a natureza humana e nunca colocou-a de lado, assim também o Espírito Santo no dia de Pentecostes passou a usar a Igreja como Sua morada e como Seu santuário e nunca se separará dela.”[250] Vejamos como o Espírito age na igreja.

2.1. Estabelece a Igreja:

Sem o Espírito não haveria Igreja; isto, porque não haveria crente em Cristo. A Igreja é composta por pessoas que confessam o Senhorio de Cristo e, isto só é possível pela ação poderosa do Espírito (Cf. 1Co 12.3/Rm 10.9-10).

A Igreja é uma comunidade de pecadores regenerados. A regeneração é efetuada pelo Espírito (Cf. Jo 3.3,5; Tt 3.5). Logo, sem a ação regeneradora do Espírito, não existiria cristãos nem Igreja.

O Espírito é a alma da Igreja, Quem lhe dá ânimo e vitalidade. É o Espírito Quem dirige os homens à porta de salvação que é Cristo (Jo 10.9). Através da História o Espírito tem estabelecido a Igreja, chamando através da Palavra os homens para constituírem a Igreja de Deus. “Do mesmo modo que o Espírito Santo formou o corpo físico de Jesus Cristo na encarnação, assim também forma o corpo místico de Jesus Cristo, ou seja, a igreja.”[251]

Boanerges Ribeiro acentua a especificidade e especialidade da Igreja:

“A Igreja resulta de uma ação especial, não ‘rotineira’, de Deus entre os homens. O que organiza a Igreja, o que faz dos indivíduos de outra forma dispersos uma comunidade é a presença permanente de uma pessoa certa e determinada, o Santo Espírito Divino.”[252]

A Igreja é a comunidade daqueles que foram chamados do mundo para Deus pela operação do Espírito, daqueles “que tem a mesma fonte genética, o sangue de Cristo, o novo nascimento.”[253]

2.2. Unifica a Igreja:

Todos os crentes estão unidos pela fé comum em Jesus Cristo, tendo sido selados pelo mesmo Espírito que atua em nós, tornando-nos em Seu Templo (1Co 3.16; 6.19; Ef 1.13). No Antigo Testamento, “o santuário era o penhor ou emblema do pacto de Deus”;[254] era o sinal concreto e visível da presença de Deus que, obviamente, ultrapassava em muito os limites do templo.

A Igreja, por sua vez, constituída de todos os eleitos de Deus. Participar da Igreja é parti cipar da unidade e da comunhão do Espírito (2Co 13.13; Fp 2.1), no qual todos nós temos acesso ao Pai (Ef 2.18). Esta comunidade tem como lema de vida o amor, que caracteriza a Igreja de Cristo.[255]

A harmonia multifacetada da Igreja está no fato de que toda a diversidade cumpre o seu papel específico dentro do Corpo vivo de Cristo. Esta é uma das facetas da Obra do Espírito na Igreja (1Co 12.4,12,13,14,25/Ef 4.3). Na Igreja há a igualdade e a diferença convivendo conjuntamente. Todos estamos unidos pela fé comum e obediência ao cabeça, que é Cristo Jesus.

No capítulo 17 do Evangelho de João, versos 20-23, encontramos Jesus orando para que o Seu povo permanecesse unido. F.F. Bruce (1910-1990) comenta que, “a unidade pela qual Ele ora é uma unidade de amor, na verdade trata-se da participação deles na unidade de amor que existe eternamente entre o Pai e o Filho.”[256]

Analisemos agora, alguns aspectos desta unidade:

2.2.1. A Natureza da Unidade:

1) O Que a Unidade não é:

a) Unidade não é Simplesmente Companheirismo Social:

A Igreja não é um grupo social que se reúne para lazer, diversão ou preservação da vida.[257] Na realidade, na relação cristã há um elemento vital que transcende a todas as outras relações humanas comuns. (1Co 1.9).

b) Unidade não é Uniformidade de Organização:

A Igreja não precisa necessariamente manter em todos os tempos e lugares a mesma forma de organização. Sem dúvida a organização é muito importante, todavia, ela deve estar a serviço do Evangelho com vistas ao estabelecimento da comunhão cristã (Vd. At 6.1-7).

c) Unidade não é Uniformidade de Vida:

A experiência comum dos crentes, é a transformação de sua vida pelo Espírito; contudo, isto não implica que tenhamos uma vida “uniformizada”; Deus transforma a nossa personalidade,[258] todavia não nos coloca dentro de uma forma. Deus transformou Jacó em Israel, Simão em Pedro, Saulo em Paulo, mas não converteu Pedro em Paulo, nem Jacó em Pedro. Nós somos livres em Cristo para fazer a Sua vontade, dentro das características próprias que Ele mesmo nos concedeu.

d) Unidade não existe em detrimento da Verdade:

Podemos estar tão desejosos de que haja unidade – o que sem dúvida é um nobre desejo –, que nos esquecemos da verdade. Na realidade não podemos fazer concessões com aquilo que não nos pertence. Muitas vezes fechamos os nossos olhos à verdade a fim de criar uma unidade artificial, erguida sobre o frágil fundamento da mentira e do engano. A “unidade” que se “consegue” em detrimento da verdade não é produzida pelo Espírito, portanto, não é unidade – pelo menos não a do Espírito –, é apenas um ajuntamento circunstancial, formado de partes desconexas sem um elemento central que os preserve ali.[259]

Calvino (1509-1564) entende que a divergência em questões secundárias não deve servir de pretexto para a divisão da Igreja; afinal, todos, sem exceção, estão envoltos de “alguma nuvenzinha de ignorância”...

“.... São palavras do Apóstolo: ‘Todos quantos somos perfeitos sintamos o mesmo; se algo entendeis de maneira diferente, também isto vos haverá de revelar o Senhor’ [Fp 3.15]. Não está ele, porventura, a suficientemente indicar que o dissentimento acerca destas cousas não assim necessárias não deve ser matéria de separação entre cristãos? Por certo que estará em primeira plana que em todas as cousas estejamos em acordo; mas, uma vez que ninguém há que não esteja envolto de alguma nuvenzinha de ignorância, impõe-se que ou nenhuma igreja deixemos, ou perdoemos o engano nessas cousas que possam ser ignoradas não somente inviolada a suma da religião, mas também aquém da perda da salvação.

“Mas, aqui, não quereria eu patrocinar a erros, sequer os mais diminutos, de sorte que julgue devam ser fomentados, com agir com complacência e ser-lhes conivente. Digo, porém, que não devemos por causa de quaisquer dissentimentozinhos abandonar irrefletidamente a Igreja, em que somente se retenha salva e ilibada essa doutrina, mercê da qual se mantém firme a incolumidade da piedade e conservado é o uso dos sacramentos instituído pelo Senhor.”[260]

“Não vejo, porém, nenhuma razão por que uma igreja, por mais universalmente corrompida, desde que contenha uns poucos membros santos, não deva ser denominada, em honra desse remanescente, de santo povo de Deus.”[261]

“Todavia, ainda quando a Igreja seja remissa em seu dever, não por isso será direito de cada um em particular a si pessoalmente assumir a decisão de separar-se.”[262]

Calvino entende que Satanás muitas vezes se vale de nossos bons sentimentos para fazer com que quebremos a unidade da Igreja, supostamente, em busca de uma Igreja ideal. Para este mister, somos capazes até de reunir textos que falam da santidade da Igreja como pretexto para a nossa atitude.[263]

Após argumentar contra aqueles que chamavam os reformados de hereges, ressalta que a unidade cristã deve ser na Palavra:

“Com efeito, também isto é de notar-se: que esta conjunção de amor assim depende da unidade de fé que lhe deva ser esta o início, o fim, a regra única, afinal. Lembremo-nos, portanto, quantas vezes se nos recomenda a unidade eclesiástica, isto ser requerido: que, enquanto nossas mentes têm o mesmo sentir em Cristo, também entre si conjungidas nos hajam sido as vontades em mútua benevolência em Cristo. E, assim, Paulo, quando para com ela nos exorta, por fundamento assume haver um só Deus, uma só fé e um só batismo [Ef 4.5]. De fato, onde quer que nos ensina o Apóstolo a sentir o mesmo e a querer o mesmo, acrescenta imediatamente: em Cristo [Fp 2.1,5] ou: segundo Cristo [Rm 15.5], significando ser conluio de ímpios, não acordo de fiéis a unidade que se processa à parte da Palavra do Senhor.”[264]

Em outro lugar, instrui: “A melhor forma de promover a unidade é congregar [o povo] para o ensino comunitário....”.[265]

Para os irmãos refugiados em Wezel (Alemanha), que sofriam diversas pressões de luteranos e sobreviviam numa pequena Igreja Reformada, Calvino, em 1554, os consola mostrando que apesar dos grandes problemas pelos quais passava o mundo, Deus lhes havia concedido um lugar onde poderiam adorar a Deus em liberdade. Também os desafia a não abandonarem a Igreja por pequenas divergências nas práticas cerimoniais, sendo tolerantes a fim de preservar a unidade. Contudo, os exorta a jamais fazerem acordos em pontos doutrinários.[266]

Portanto, mesmo desejando a paz e a concórdia, Calvino entendia que essa paz nunca poderia ser em detrimento da verdade pois, se assim fosse, essa dita paz seria maldita:

“Naturalmente, há uma condição para entendermos a natureza desta paz, ou seja, a paz da qual a verdade de Deus é o vínculo. Pois se temos de lutar contra os ensinamentos da impiedade, mesmo se for necessário mover céu e terra, devemos, não obstante, perseverar na luta. Devemos, certamente, fazer que a nossa preocupação primária cuide para que a verdade de Deus seja mantida em qualquer controvérsia; porém, se os incrédulos resistirem, devemos terçar armas contra eles, e não devemos temer sermos responsabilizados pelos distúrbios. Pois a paz, da qual a rebelião contra Deus é o emblema, é algo maldito; enquanto que as lutas, indispensáveis à defesa do reino de Cristo, são benditas.”[267]

Em 20 de março de 1552, Thomas Cranmer (1489-1556)[268] escreveu a Calvino – bem como a Melanchthon (1479-1560)[269] e a Bullinger (1504-1575)[270] –, convidando-o para uma reunião no Palácio de Lambeth com o objetivo de preparar um credo que fosse consensual para as Igrejas Reformadas.[271] Cranmer tinha em vista também, a realização do Concílio de Trento[272] que estava em andamento, estando preocupado de modo especial com a questão da Ceia do Senhor.

Calvino então responde (abril de 1552), encorajando a Cranmer[273] no seu objetivo. A certa altura diz:

“...Estando os membros da Igreja divididos, o corpo sangra. Isso me preocupa tanto que, se pudesse fazer algo, eu não me recusaria a cruzar até dez mares, se necessário fosse, por essa causa.”[274]

Calvino, por experiência própria, sabia o quão difícil é doutrinar uma igreja e, quantos anos são necessários para fazer este serviço ainda que de modo imperfeito:

“A edificação de uma igreja não é uma tarefa tão fácil que se torne possível fazer com que tudo seja imediata e perfeitamente completado. (...) Hoje sabemos pela própria experiência que o que se requer não é o labor de um ou dois anos para levantar as igrejas caídas a uma condição mais ou menos funcional. Aqueles que têm alcançado diligente progresso por muitos anos devem ainda preocupar-se em corrigir muitas coisas.”[275]

O nosso conforto é que é o Espírito mesmo quem edifica a Sua Igreja através da Sua Palavra, cabendo a nós a responsabilidade de transmiti-la com fidelidade.

2) O Fundamento da Unidade:

A unidade da Trindade é a base e o fundamento da unidade cristã; em outras palavras, a unidade da Igreja existe porque Deus a tornou possível (Jo 17.22-24). A unidade da Igreja existe porque a Igreja é o Corpo de Cristo; portanto, ela está fundamentada em Cristo que a criou, a alimenta e dirige (Rm 12.5; Ef 1.23; Cl 1.24).[276]

Portanto, a unidade cristã passa necessariamente pela união mística: estamos unidos definitivamente a Cristo. Calvino (1509-1564) talvez tenha sido o teólogo que mais deu ênfase a este fato. Para ele, toda a vida cristã inicia-se com a nossa união com Cristo: "Em primeiro lugar devemo-nos lembrar que a obra da redenção de Cristo de nada nos aproveita enquanto não estivermos unidos a Ele, enquanto Ele não estiver em nós."[277] A meta de toda vida cristã é a nossa total união com Cristo:[278] “Nossa verdadeira plenitude e perfeição consiste em estarmos unidos no Corpo de Cristo.”[279]

Jesus disse: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; aquele que me ama, será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele. (...) Se alguém me ama guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada” (Jo 14.21,23). Observem a relação estabelecida: Quem ama o Filho é amado pelo Pai e pelo Filho e, este amor de Deus se manifestará na vinda do Pai e do Filho para habitarem em nós pelo Espírito (Cf. Jo 14.26).

3) O Que a Unidade é:

a) Produzida pelo Espírito:

A unidade só é possível em Cristo. “Assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros” (Rm 12.5). O Espírito de Cristo produz esta unidade: “Esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4.3). Por mais que tentemos produzir esta unidade, não conseguiremos; daí isto não ser requerido de nós, mas sim, a sua preservação já que ela é obra do Espírito. “Onde reina o Espírito, ali há unidade.”[280] E é em Cristo que temos o “vínculo” dessa união.[281]

b) É uma Unidade Essencial:

É uma unidade entre aqueles que nasceram de novo, que receberam a Palavra e a guardam (Jo 17.6-8).

Herman Bavinck (1854-1921), comenta:

“A unidade entre Cristo e os crentes é como a da pedra angular e o templo, entre o homem e a mulher, entre a cabeça e o corpo, entre a videira e os ramos. Os crentes estão em Cristo da mesma forma que todas as coisas, em virtude da criação e da providência, estão em Deus. Eles vivem em Cristo como os peixes vivem na água, os pássaros vivem nos ares, o homem em sua vocação, o erudito em seu estudo. Juntamente com Cristo os crentes foram crucificados, mortos e sepultados, e juntamente com Ele eles ressuscitaram e estão assentados à mão direita de Deus e glorificados.[282] Os crentes assumem a forma de Cristo e mostram em seu corpo tanto o sofrimento quanto a vida de Cristo e são aperfeiçoados (completados) nele. Em resumo, Cristo é tudo em todos.[283]”.[284]

c) É uma Unidade de Propósito:

O Espírito constitui a Igreja com o propósito de glorificar a Deus, proclamando os Seus atos heróicos e salvadores (1Pe 2.9-10). A Igreja por sua vez glorifica a Deus sendo-Lhe obediente (Jo 14.21/Jo 17.4).

Mesmo que não consigamos uma unidade organizacional devido a métodos e estilos diferentes, devemos, no entanto, estar comprometidos com a glória de Deus, que é a nossa vocação incondicional e suprema (1Co 10.31).

2.2.2. A Unidade e a nossa Responsabilidade:

“A ajuda mútua que as diferentes partes do corpo oferecem umas às outras, não é considerada pela lei da natureza como um favor, mas, sim, como algo lógico e normal, cuja negativa seria cruel.”[285] A unidade da Igreja é uma realidade em Cristo; entretanto, cabe à Igreja preserva-la mediante um comportamento fundamentado nos princípios bíblicos. Leiamos mais uma vez o que Paulo escreveu aos efésios: “Esforçando-vos diligentemente (Spouda/zw) [286] por preservar a unidade do Espírito no vínculo (Su/ndesmoj)[287] da paz” (Ef 4.3). Não devemos permitir que a “unidade do Espírito” seja abalada em nosso relacionamento. A unidade é obra do Espírito, mas cabe a nós viver a sua plenitude no vínculo da paz (Rm 12.18) e no amor de Cristo (Jo 13.34-35; 15.12,17). O próprio tempo verbal de “esforçando-vos”, (Spouda/zw) (particípio presente), apresenta o conceito de um esforço contínuo, sem esmorecimento.[288]

Comentando sobre o egoísmo humano que gera divisões na Igreja e, ao mesmo tempo, a falta de tolerância, Calvino escreve, exortando-nos à amar os nossos irmãos:

“Há tanta rabugice em quase todos esses indivíduos que, estando em seu poder, de bom grado fariam para si suas próprias igrejas, porquanto se torna difícil acomodarem-se aos modos das demais pessoas. Os ricos invejam uns aos outros, e raramente se encontra um entre cem que acredite que os pobres são também dignos de ser chamados e incluídos entre seus irmãos. A menos que haja similaridade em nossos hábitos, ou alguns atrativos pessoais, ou vantagens que nos unam, será muitíssimo difícil manter uma perene comunhão entre nós. Essa advertência, pois, se torna mais que necessária a todos nós, a fim de sermos encorajados a amar, antes que odiar, e não nos separarmos daqueles a quem Deus nos uniu. Torna-se urgente que abracemos com fraternal benevolência àqueles que nos são ligados por uma fé incomum. É indubitável que a nós compete cultivar a unidade da forma a mais séria, porque Satanás está bem alerta, seja para arrebatar-nos da Igreja, ou para desacostumar-nos dela de maneira furtiva.”[289]

A unidade da Igreja, revela ao mundo o fato de que Deus nos ama como ama ao Seu Filho unigênito e, que este amor, se revelou de forma insofismável, na vinda do Seu Filho amado para morrer pelos pecadores (Jo 3.16/Jo 17.21-23). Desta forma, a Igreja é o testemunho histórico do amor de Deus.

Francis Schaeffer (1912-1984), comentando sobre a nossa responsabilidade, diz:

“Não podemos esperar que o mundo creia que o Pai mandou o Filho, que as reivindicações de Jesus sejam verdadeiras, e que o cristianismo seja verdadeiro, a não ser que o mundo veja alguma realidade na unidade de cristãos verdadeiros”.[290]

2.2.3. A Unidade Vivenciada:
A comunhão com o Espírito é ao mesmo tempo uma comunhão com os nossos irmãos. A comunhão do Espírito não é individualista (eu e o Espírito) ou mesmo de “elites sociais”. O Espírito, pela Palavra “quer arrancar-nos da nossa solidão e colocar-nos em comunhão recíproca”.[291] A comunhão proporcionada pelo Espírito é socializante, porque revela que todos nós, sem exceção, somos inteira e absolutamente dependentes da graça de Deus. Somos todos em Cristo, conduzidos ao Pai pelo mesmo Espírito (Ef 2.18).

2.2.4. Um Estudo de Caso:

Lucas descrevendo a cotidianidade da Igreja Primitiva, diz: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos...” (At 2.42). Observemos primariamente que a Igreja estava fundamentada não em qualquer doutrina (Mt 15.9); mas, sim, na doutrina dos apóstolos, que fora recebida de Cristo (At 1.21,22; Gl 1.10-12; 1Co 11.23ss; 15.1-3; 2Pe 1.16-21; 1Jo 1.1-4). Os apóstolos estavam alicerçados no próprio Cristo: “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Ef 2.20). “A palavra dos apóstolos, primeiramente falada e posteriormente escrita, não apenas sustenta e garante a unidade da Igreja, mas também se espalhou por todo o mundo bem como em todas as épocas.”[292]

A Igreja Primitiva desfrutava de uma comunhão íntima, não artificial, gerada pelo Espírito Santo (At 2.42; 4.32/Ef 4.3). Jesus orou para que houvesse esta comunhão, a qual aponta de forma indicativa para a unidade amorosa do Pai com o Filho, e o amor divino manifesto em Cristo pelo Seu povo (Jo 17.20-23). Vejamos agora, algumas manifestações desta comunhão.

1) Na Vida Devocional:

a) No Partir do Pão:

Cremos que a expressão “partir do pão” (At 2.42) refere-se à Ceia do Senhor (Cf. At 20.7,11). A Igreja participava deste Sacramento lembrando a morte e ressurreição de Cristo, atestando publicamente a sua fé no regresso glorioso e triunfante de Cristo, “... até que Ele venha” (1Co 11.26).

b) Nas Orações:

A Igreja sentia prazer espiritual em participar do privilégio de poder falar com Deus em companhia dos irmãos; não havia reuniões seccionadas. A Igreja era um todo que perseverava unanimemente no templo e nas casas. (At 1.14; 2.42,46; 3.1; 12.5,12).

c) Louvando a Deus:

O mesmo pode ser dito com respeito à adoração pública: “E estavam sempre no templo, louvando a Deus (Lc 24.53). A Igreja expressava a sua fé e gratidão louvando a Deus (At 2.47; Ef 5.18-20; Cl 3.16).

2) Na Vida Comunitária:

a) Sensibilidade para com as Necessidades dos Irmãos:

Os irmãos mais abastados, sensibilizados com as necessidades dos mais pobres, “vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade” (At 2.45. Leia também: At 4.32,36,37). O resultado imediato disto foi que “nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes, e depositavam aos pés dos apóstolos; então se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade” (At 4.34,35). Esta ação refletia o profundo vínculo de comunhão e amor existente na comunidade primitiva.

Quando as viúvas dos helenistas (judeus de fala grega, provenientes da Dispersão), estavam sendo “... esquecidas na distribuição diária” (At 6.1), os apóstolos reconhecendo o problema e, ao mesmo tempo, não podendo absorver todas as atividades da Igreja, encaminharam à comunidade de forma direta, a eleição de “... sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço” (At 6.3). Surgiu assim, o ofício de diácono na Igreja cristã, resolvendo o problema decorrente de uma injustiça involuntária.[293]

Alguns anos mais tarde, por volta de 46-48 AD., quando houve uma fome, causando como sempre, uma grande inflação,[294] “os discípulos, cada um conforme as suas posses, resolveram enviar socorro aos irmãos que moravam na Judéia; o que eles, com efeito, fizeram enviando-o aos presbíteros, por intermédio de Barnabé e de Saulo” (At 11.29,30). Posteriormente, Paulo levantou uma coleta entre os também pobres da Macedônia (2Co 8.1-4) e de Corinto, para os cristãos da Judéia (2Co 8 e 9; Rm 15.25,26).

A Igreja de Filipos, sensibilizando-se com a pobreza de Paulo, sem que ele nada pedisse, enviou-lhe ajuda pelo menos em três ocasiões (Fp 2.25; 4.14-20).

Quando Pedro estava preso, a Igreja orava incessantemente em favor dele (At 12.2).

Estes são apenas alguns dos exemplos que refletem a comunhão espiritual da Igreja Primitiva. O curioso, é que em muitos casos, os irmãos nem sequer se conheciam; entretanto, entendiam de modo correto, que todos eles faziam parte do mesmo corpo de Cristo (1Co 12.13).

b) Tratamento Sério dos Problemas Doutrinários:

Deve um gentio, para tornar-se cristão, circuncidar-se? Esta foi a questão debatida na reunião de Jerusalém (c. 48 AD). Com o rápido crescimento da Igreja, era natural que surgissem questões novas. Alguns fariseus que foram convertidos, faziam da pergunta acima, uma afirmação: “Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos” (At 15.1); e mais: “... É necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés” (At 15.5). Entretanto, Paulo e Barnabé criam de forma diferente (At 15.2). A questão foi encaminhada aos apóstolos e presbíteros de Jerusalém, que se reuniram em Concílio para estudar o problema (At 15.6). Após o debate (At 15.7), o Concílio pronunciou-se sobre a questão de forma unânime, com autoridade e simpatia (At 15.22-25), enviando para as Igrejas de Antioquia, Síria e Cilicia, a sua resolução, sendo Barnabé, Paulo, Judas e Silas os emissários (At 15.23,25,27).

Neste episódio, vemos a preocupação dos apóstolos e presbíteros em resolver as questões doutrinárias, a fim de que o corpo de Cristo continuasse são doutrinariamente e harmonioso. O resultado disso foi que as Igrejas se alegraram no Senhor e “... eram fortalecidas na fé e aumentavam em número dia a dia” (At 16.5. Leia também: At 15.30-33; 16.4).

Herman Bavinck (1854-1921), falando sobre a unidade da Igreja, aponta de forma exultante para a unidade escatológica:

“A unidade sobre a qual Cristo tinha falado [Jo 17.21] foi realizada na igreja de Jerusalém. Quando o entusiasmo do primeiro amor deu lugar à quietude do coração e da mente, quando as igrejas foram estabelecidas em outros lugares e entre outros povos, quando, mais tarde, todos os tipos de cisma e de separação começaram a ocorrer na Igreja cristã, a unidade que une todos os crentes assumiu uma forma diferente, tornou-se menos vital e menos profunda, e algumas vezes é tão fraca que nem mesmo pode ser sentida por todos. Mas nós não podemos nos esquecer que no meio de tantas diferenças a Igreja permanece unida até os nossos dias. No futuro essa unidade se tornará ainda mais claramente manifesta do que na igreja de Jerusalém.”[295]

2.3. Dirige a Igreja:
2.3.1. Na Evangelização:[296]
1) Em Jerusalém:

O resultado da pregação eficiente e de uma vida cristã autêntica, além de outras coisas secundárias, redunda na Glória de Deus (Mt 5.14-16; 2Co 9.12-15), resultando naturalmente, conforme o exemplo bíblico, no crescimento espiritual e numérico da Igreja. O Livro de Atos registra que enquanto a Igreja testemunhava e vivia o Evangelho, “acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (At 2.47); e mais: “Crescia a palavra de Deus e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé” (At 6.7. Leia também: At 2.41; 4.4; 9.31; 12.24; 14.1).

2) “Até Aos Confins da Terra”

Após o eloqüente e desafiante sermão de Estevão e, a sua conseqüente morte por apedrejamento (At 7.1-60) – a forma judaica de executar os culpados de blasfêmia (Lv 24.16; Jo 10.33) – o grupo inquisidor estimulado por esta atitude assassina, promoveu “... grande perseguição contra a igreja de Jerusalém” (At 8.1), com a permissão do sumo sacerdote (At 8.3; 9.1,2).

O termo usado em At 8.1 para descrever a “perseguição” apresenta a idéia de uma caça violenta e sem trégua. Lucas, inspirado por Deus, pinta este quadro de forma mais forte, adjetivando “grande”, indicando assim, a severidade da perseguição. Saulo foi o grande líder desta ação contra os cristãos (At 8.2; 9.1,2; 22.4,5; 26.9-12).

Nesta primeira grande perseguição, vemos claramente a direção divina:

1) Os apóstolos não foram dispersos, permanecendo em Jerusalém (At 8.1), podendo assim, sedimentar a mensagem do Evangelho em Jerusalém.

2) Até agora a Igreja não havia cumprido a totalidade da ordem divina, que dizia: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (At 1.8). Os apóstolos, ao que parece, não haviam saído dos limites da Judéia com o objetivo de proclamar o Evangelho.

O verbo usado para descrever a “dispersão” (At 8.1,4), está ligado à sementeira e semeadura, sendo empregado unicamente por Lucas no Novo Testamento e somente para descrever este episódio (* At 8.1,4; 11.19). Assim, através da perseguição, os discípulos saíram de Jerusalém levando as Boas Novas do Evangelho (At 8.4), semeando a semente do Evangelho de Cristo (1Pe 1.23).

Filipe, um dos diáconos eleitos (At 6.5), pregou em Samaria e muitos se converteram (At 8.5-8), posteriormente ele evangelizou, mediante a direção de Deus (At 8.26), um judeu etíope, que era tesoureiro da rainha Candace – título esse semelhante ao de “Faraó”, não indicando o nome próprio de uma pessoa –, que se converteu, sendo então batizado (At 8.38). Após o batismo do etíope, “... Filipe veio a achar-se em Azôto; e, passando além, evangelizava todas as cidades até chegar a Cesaréia” (At 8.40).

Outro fato que evidencia a ação providencial de Deus na perseguição de Jerusalém, está registrado em At 11.19-21, onde lemos no verso 19: “... Os que foram dispersos, por causa da tribulação que sobreveio a Estevão, se espalharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia...”. Nos versos 20 e 21 temos ainda a proclamação expandindo-se: “Alguns deles, porém, que eram de Chipre e de Cirene, e que foram até Antioquia, falavam também aos gregos, anunciando-lhes o evangelho do Senhor Jesus. A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor”. Vemos, desta forma, que o Evangelho estava sendo disseminado, tendo como elemento gerador uma perseguição que parecia ser fatal para a Igreja de Cristo; entretanto Deus a redundou em bênçãos para o Seu povo (Gn 50.20/Rm 8.28).

A difusão do Evangelho é demonstrada mais tarde, ainda no período neotestamentário, através das Epístolas de Tiago e Pedro, sendo a de Tiago destinada “... às doze tribos que se encontram na Dispersão” (Tg 1.1) e a de Pedro, “... aos eleitos, que são forasteiros da Dispersão, no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia, e Bitínia” (1Pe 1.1. Leia também, At 17.6).

3) Através do zelo cego de Saulo, em perseguir os cristãos, Deus o chamou eficazmente (At 9.1-5), regenerando-o, porque para Deus, Saulo era “... um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel” (At 9.15). Mais tarde, Paulo, o antigo Saulo, escreveu aos gálatas: “Quando, porém ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu pregasse entre os gentios...” (Gl 1.14,15). Saulo, o grande perseguidor, agora era Paulo, o apóstolo de Cristo levando a mensagem salvadora do Evangelho a todos os povos, chegando à capital gentílica (Roma) e, desejando prosseguir em sua missão, se possível, atingir a Espanha (At 28.16ss; Rm 15.22-29).

Através do trabalho de Filipe, Pedro, Paulo, Barnabé, Silas, Timóteo, Tito e de milhares de irmãos anônimos, o Evangelho proliferou em todos os continentes. Nós hoje somos herdeiros desta proclamação. O crescimento da Igreja impulsionado pelo Espírito, era operado através de todos os irmãos; todos estavam comprometidos com a obra missionária quer em suas cidades quer em outras regiões.[297]

O mesmo Espírito que forma a Igreja, também a comanda na Evangelização. Deus escolhe, envia e dirige os Seus servos na proclamação do Evangelho (At 8.39-40; 13.1-4). Isto o Espírito faz ordinariamente através da Igreja como instituição, ainda que não exclusivamente.[298] Seja como for, o meio usado pelo Espírito para dirigir a Sua obra missionária é a Palavra de Deus; por isso que, “sem o poder do Espírito Santo a evangelização é impossível.”[299]

Quando o rei Frederico IV da Dinamarca, precisou de missionários para enviar aos seus súditos na colônia dinamarquesa de Tranquebar, não encontrando em seu reino quem se dispusesse a fazê-lo, recorreu ao pietista alemão August H. Francke (1663-1727), que lecionava na Universidade de Halle, o qual enviou Bartholomew Ziegenbalg (1683-1719) e Henry Plütschau (1677-1747), os quais partiram da Europa no fim de 1705 e chegaram em Tranquebar no dia 9 de julho de 1706, sendo os primeiros missionários não católicos a chegarem à Índia, provenientes da Europa.[300]

Apesar de não serem bem recebidos pelos colonos dinamarqueses, Ziegenbalg e Plütschau não se intimidaram, iniciando os seus estudos do idioma nativo, tendo Ziegenbalg se destacado pela facilidade em aprender outras línguas. Eles traduziram para o tamil o Catecismo de Lutero, além de orações e hinos luteranos. Em 1711, por questões de saúde, Plütschau regressou definitivamente para a Europa. Ziegenbalg continuou o seu trabalho: compilou uma gramática tamil, escreveu uma obra sobre o hinduísmo, traduziu para o tamil o Novo Testamento (1714) e o Antigo Testamento até o livro de Rute. Ele fundou uma escola industrial e outra para a preparação de catequistas e também a primeira imprensa evangélica da Ásia (esta com a ajuda financeira da Sociedade Anglicana para a Promoção do Conhecimento Cristão).[301] Quando Ziegenbalg morreu em 1719, existia em Tranquebar uma comunidade luterana de cerca de 350 pessoas.[302] De fato, o Espírito dirigiu os seus servos para aquele país.

Ashbel Green Simonton (1833-1867) sentiu-se chamado para o campo missionário quando ainda iniciava os seus estudos teológicos no Seminário de Princeton. O instrumento que o Espírito usou para este despertar missionário, foi Charles Hodge (1797-1879) – um dos maiores teólogos de todos os tempos –, através de um sermão proferido no Seminário.[303] Este despertamento foi amadurecendo em seu coração gradativamente.[304] No dia 25 de novembro de 1858, Simonton finalmente formalizou a sua proposta à Junta de Missões Estrangeira mencionando o Brasil como o campo de seu interesse. Ele conclui o registro no seu Diário, dizendo: “A Ti, Ó Deus, confio meus caminhos na certeza de que o Senhor dirigirá meus passos retamente”.[305]

A Junta respondeu afirmativamente o seu pedido na primeira quinzena de dezembro.[306] Simonton desembarcou no Brasil em 12/8/1859. Em oito anos de trabalho,[307] ajudado posteriormente por A.L. Blackford (chegou em 25/7/1860), e o Rev. José Manoel da Conceição (padre convertido do catolicismo e ordenado pastor em 17/12/1865), entre outros, Simonton deixou um jornal com tiragem quinzenal, A Imprensa Evangélica, (primeiro número publicado em 05/11/1864); um Seminário no Rio de Janeiro com quatro alunos (organizado em 14/5/1867) e um Presbitério (Presbitério do Rio de Janeiro, organizado em 16/12/1865), constituído de três igrejas: Rio de Janeiro (organizada em 12/01/1862); de São Paulo (organizada em 5/3/1865); e a de Brotas, (organizada em 13/11/1865).[308]

O Espírito dirigiu retamente os passos de Simonton, de Blackford, de Schneider, de Conceição, de Chamberlain e de tantos outros. Nós somos herdeiros desta gloriosa manifestação do Espírito.

Aplicando o que estamos dizendo, devemos entender que a igreja local deve receber o seu pastor como alguém que o Espírito enviou para pastoreá-la (At 20.28), tendo sempre como elemento norteador, a Escritura Sagrada.

Como já fizemos menção, o Espírito dirige a todos nós na proclamação do Evangelho, enviando-nos aos nossos familiares, parentes, amigos e vizinhos. O Sacerdócio Universal dos Crentes, obtido por Cristo, através de Quem temos livre acesso a Deus (Jo 14.6; 1Tm 2.5; Hb 10.19-25), torna-nos também responsáveis pelo testemunho da mensagem redentora de Cristo (1Pe 2.9). “A igreja é uma realeza de sacerdotes, um sacerdócio de reis. E cada sacerdote e rei tem o dever de proclamar as excelências do seu Salvador. (...) Cada cristão é um agente da evangelização, ordenado por Deus.”[309]

2.3.2. Constitui os Oficiais:[310]

Na Igreja de Cristo ninguém tem autonomia para se auto-nomear. Pastor, Presbíteros e Diáconos, todos, sem exceção, precisam ser vocacionados por Deus para estes ofícios (Hb 5.4).

Os pastores,[311] presbíteros e diáconos, são constituídos por Deus para a preservação do rebanho. [312] A eleição feita pela igreja, deve ser vista como um reconhecimento público de que os referidos oficiais foram escolhidos por Deus; a eleição nos fala do processo não da fonte da autoridade dos eleitos.[313] Desta forma, a autoridade deles é derivada de Deus, não do povo que os elegeu;[314] por outro lado, eles precisam ter em mente que prestarão contas dos seus atos a Deus. O Novo Testamento nos chama a atenção para o ministério universal dos crentes: todos somos responsáveis pelo desempenho do serviço de Deus em Sua Igreja (Ef 4.11-12).

A Segunda Confissão Helvética (1562-1566),[315] no capítulo XVIII, falando sobre os “ministros da Igreja”, declara:

“É verdade que Deus poderia, pelo Seu poder, sem qualquer meio, congregar para Si mesmo uma Igreja de entre os homens; mas Ele preferiu tratar com os homens pelo ministério de homens. Por isso os ministros devem ser considerados não como ministros apenas por si mesmos, mas como ministros de Deus, visto que por meio deles Deus realiza a salvação de homens.”

A Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil, (1950), capítulo VII, seção 1ª, Art 108, diz:

“Vocação para ofício na Igreja é a chamada de Deus, pelo Espírito Santo, mediante o testemunho interno de uma boa consciência e a aprovação do povo de Deus, por intermédio de um concílio.” (Vd. At 20.28).

Calvino (1509-1564) comenta:

“O que torna válido um ofício é a vocação, de modo que ninguém pode exercê-lo correta ou legitimamente sem antes ser eleito por Deus (...). Nenhuma forma de governo deve ser estabelecida na Igreja segundo o juízo humano, senão que os homens devem atender à ordenação divina; e, ainda mais, que devemos seguir um procedimento de eleição preestabelecido, para que ninguém procure satisfazer seus próprios desejos. (...) Segundo é a promessa de Deus de governar sua Igreja, assim Ele reserva para si o direito exclusivo de prescrever a ordem e forma de sua administração.”[316]

“A Deus pertence com exclusividade o governo de sua Igreja. Portanto, a vocação não pode ser legítima a menos que proceda dele.”[317]

O serviço que prestamos a Deus, deve ser visto não como uma fonte de lucro ou projeção mas como resultado de um chamado irrevogável de Deus. Paulo em seu ministério tinha esta consciência, de ser apóstolo pela vontade de Deus (Vd. Rm 1.1; 1Co 1.1; 2Co 1.1; Ef 1.1; Cl 1.1, etc.).

2.3.3. Dirige a Igreja nas Suas Decisões:
Muitas vezes somos tentados a nos esquecer de que a Igreja é também uma organização, que tem os seus oficiais e Concílios. Geralmente quando isso ocorre, somos levados a menosprezar as decisões conciliares, como sendo “obras de homens”, portanto, concluímos: nada valem. Na realidade, os Concílios devem trabalhar sob a orientação do Espírito Santo, o que não significa que eles sejam infalíveis; todavia, “os seus decretos e decisões, sendo consoantes com a Palavra de Deus, devem ser recebidos com reverência e submissão, não só pela sintonia com a Palavra, mas também pela autoridade através da qual são feitos, visto que essa autoridade é uma ordenação de Deus, designada para isso em sua Palavra.”[318]

O Espírito através do Concílio de Jerusalém, dirimiu uma dúvida existente no seio da Igreja. Os apóstolos e presbíteros que participaram deste Concílio, debateram e votaram a questão, tendo consciência da orientação do Espírito. Esta convicção se revela no fato de dizerem no parecer final: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós....” (At 15.28).

Devemos portanto ter um alto apreço pelos nosso oficiais e Concílios, orando para que o Espírito que os constituiu, Lhes dê o discernimento necessário para decidirem todas as coisas, sob a égide do Espírito através da Palavra. (At 15.1-28; 16.4).

2.3.4. Na Disciplina:
Os teólogos reformados entendem que uma das marcas características da Igreja de Cristo, é o exercício fiel da disciplina.[319]

A Igreja é uma comunidade de pecadores que foram regenerados pelo Espírito (Tt 3.5), que foram santificados em Cristo Jesus (1Co 1.2); por isso, ela deve zelar pela sua pureza. A disciplina visa preservar a santidade da Igreja;[320] portanto aqueles que a desprezam, conscientemente ou não, trabalham em prol da decadência da Igreja.[321] Calvino (1509-1564) ressaltando a importância da disciplina na preservação da vida da Igreja, faz algumas analogias: “... nenhuma casa que contenha sequer modesta família, se não pode suster em reta condição sem disciplina, muito mais necessária é ela na Igreja, cuja condição importa seja a mais ordenada possível. Portanto, assim como a doutrina salvífica de Cristo é a alma da Igreja, assim também a disciplina é-lhe como que a nervatura, mercê da qual acontece que os membros do corpo entre si se liguem, cada um em seu lugar. (...) A disciplina é, portanto, como um freio com que sejam contidos e domados aqueles que se embravecem contra a doutrina de Cristo, ou como um acicate com que sejam estugados os de pouca disposição....”.[322]

No entanto, a disciplina deve ser aplicada com moderação e amor, ainda que isto não exclua a severidade quando necessária:

“Nota-se aqui [1Co 4.21] o padrão de comportamento que um bom pastor deve seguir, pois ele deve estar espontaneamente mais disposto a ser delicado a fim de atrair pessoas para Cristo do que a sucumbi-las com demasiada energia. Ele deve manter esta docilidade até onde for possível, e não lançar mão da severidade, a não ser que a isso seja forçado. Mas quando há necessidade de tal expediente, ele não deve poupar a vara, porque, enquanto se deve usar de mansidão com os que são dóceis e maleáveis, faz-se necessário a autoridade no trato com os obstinados e insolentes.”[323]

Essa tarefa que é extremamente importante e difícil, está associada à doação do Espírito Santo. Observem a relação existente entre o sopro de Jesus sobre os apóstolos e a tarefa concedida a eles (Jo 20.22-23/Mt 16.19). “A igreja, por meio de seus oficiais, só tem direito a declarar que os pecados são perdoados ou retidos quando age em harmonia com a Palavra inspirada do Espírito.”[324](Vd. 1Co 5.1-13; 1Tm 1.20; 5.20). Essa concepção é totalmente diferente da praticada pela igreja romana. Nela, o confessor é o instrumento de ligação entre o penitente e Deus; representando em muitos aspectos o próprio Senhor Jesus Cristo, com poderes para perdoar pecados.[325] Como fica patente, esta perspectiva e prática são totalmente anti-bíblicas.

Bem ao seu estilo, Calvino apresenta alguns princípios para que possamos exercer a disciplina na Igreja de forma proveitosa:

“Os mestres precisam aprender que esse gênero de moderação deve ser sempre usado nos atos de reprovação, para que não se firam os brios dos homens no uso de excessiva austeridade. (...) Mas, acima de tudo, devem tomar cuidado para não parecer que escarnecem daqueles a quem estão a reprovar, nem sentir-se prazerosos com seu infortúnio. Não! Ao contrário, devem esforçar-se para que fique evidente que a sua intenção não é outra senão a promoção de seu bem-estar. (...) Portanto, se desejamos fazer algo de positivo, ao corrigirmos as falhas das pessoas, é saudável esclarecer-lhes que as nossas críticas são oriundas de um coração amigo.”[326]

2.3.5. À Verdade:

Se não fosse a Sua ação iluminadora, orientadora e diretora, a Igreja estaria para sempre afogada no mar de crendices, superstições e erros; todavia, o Espírito tem nos guiado à verdade através da Palavra (Jo 16.13; 2Tm 3.16-17).

A elaboração doutrinária da Igreja no decorrer dos séculos, se cristalizando nos Credos e Confissões, é uma evidência da direção do Espírito.[327] O ato de depreciar os Credos significa deixar de usufruir das contribuições dos servos de Deus no passado referentes à compreensão bíblica; “é uma negação prática da direção que no passado deu o Espírito Santo à Igreja.”[328] Por isso é que, “desrespeitar a tradição e a teologia histórica é desrespeitar o Espírito Santo que tem ativamente iluminado a Igreja em todos os séculos.”[329]

Os Credos nos oferecem de forma abreviada o resultado de um processo cumulativo da história, reunindo as melhores contribuições de diversos servos de Deus na compreensão da Verdade. Em outro lugar, referindo-nos à ciência, enfatizamos que ela não tem pátria nem idade; não sendo privilégio de um povo, menos ainda de um indivíduo; todo cientista – usando a figura de João de Salisbury (c. 1110-1180)[330] – eqüivale a um anão sobre os ombros de gigantes, se valendo das contribuições de seus predecessores, a fim de poder enxergar um pouco além deles. Podemos aplicar esta figura à teologia. Aliás, Packer já o fez, mais especificamente aplicando à tradição: “A tradição nos permite ficar sobre os ombros de muitos gigantes que pensaram sobre a Bíblia antes de nós. Podemos concluir pelo consenso do maior e mais amplo corpo de pensadores cristãos, desde os primeiros Pais até o presente, como recurso valioso para compreender a Bíblia com responsabilidade. Contudo, tais interpretações (tradições) jamais serão finais; precisam sempre ser submetidas às Escrituras para mais revisão.”[331]

A busca da verdade pela verdade é uma característica fundamental da Igreja. Já que cabe à Igreja o privilégio responsabilizador de proclamar a Palavra, ela tem de compreender as Escrituras para anunciá-la com fidelidade e vivenciá-la para proclamar com autoridade. Por isso, a Igreja é chamada de “coluna e baluarte da verdade”, porque a ela foram confiados os oráculos de Deus (Rm 3.2/1Tm 3.15). A Igreja como baluarte da verdade esta amparada no fundamento que consiste na obra de Deus realizada através de Cristo (Mt 16.18/Ef 2.20).[332]

2.3.6. No Seu Crescimento:

O Espírito alimenta a Igreja, fazendo-a crescer espiritual e numericamente. Creio que o crescimento significativo ocorre nesta ordem. Quando a Igreja conhece a Palavra e a pratica, prega com maior autoridade e, enquanto anuncia e vive o Evangelho, o Senhor por Sua misericórdia, acrescenta o número de salvos. É justamente isto que vemos em Atos: a Igreja pregava a Palavra com fidelidade, vivendo o Evangelho com sinceridade e o Espírito fazendo a Igreja crescer. A melhor estratégia é a do Espírito Santo e, o método infalível de Deus é a pregação fiel da Palavra; a pregação do Evangelho compete ordinariamente a nós; é função exclusiva da Igreja; não há outra entidade, agremiação ou organização a qual Deus tenha incumbido deste privilégio responsabilizador. "A Igreja é uma instituição especial e especialista, e a pregação é uma tarefa que somente ela pode realizar."[333] No entanto, o crescimento, é obra do Espírito. (Vd. At 2.47; 4.4; 6.7; 9.31; 12.24; 14.1; 16.4-5).

Observemos também, que muitas vezes, a responsabilidade do não crescimento da Igreja está em nós, que nos entregamos a uma letargia espiritual, não amadurecendo em nossa fé e, conseqüentemente, não apresentando um testemunho genuíno (Vd. Hb 5.11-14/1Co 3.1-9; Ef 4.11-16). Devemos aproveitar as oportunidades que Deus nos dá, aprendendo a Palavra, fortalecendo a nossa fé, sendo educados por Deus e, assim, viver de modo digno do Senhor, testemunhando o Evangelho com fidelidade e autoridade.

2.3.7. Na Interpretação dos Fatos:

Jesus Cristo mostrou ao povo que os homens, por mais simples que sejam, sabem raciocinar, e isto era evidente na interpretação das condições climáticas. Todavia, Ele os recrimina por não estarem usando desta capacidade para discernir o que era justo no que se referia ao próprio Cristo (Lc 12.54-57). Jesus dá a entender que, nesta questão, eles eram apenas conduzidos pelos seus interesses circunstanciais e egoístas.

O Espírito Santo agiu na Igreja fazendo com que fosse registrado as Epístolas e o Apocalipse; hoje, Ele continua dirigindo a Igreja na interpretação dos fatos, concedendo-nos discernimento para ver e interpretar os sinas dos tempos. Isto faz parte do Ministério do Espírito que, como Jesus mesmo disse, Ele “vos anunciará as cousas que hão de vir” (Jo 16.13).(Vd. Mt 16.1-4/1Tm 4.1; 2Tm 4.1-5).[334]

Cabe à Igreja viver o presente de tal forma que revele a sua interpretação correta dos fatos. A nossa postura no mundo não é nem pode ser estranha à nossa cosmovisão (Vd. Rm 13.11-14; Ef 5.8,14-16).

2.4. Conforta a Igreja:

A Igreja no Novo Testamento logo enfrentou uma série de perseguições, geradas num primeiro momento, pelos judeus. Para citar apenas algumas, temos a perpetrada contra Estevão, que morreu apedrejado (At 7.1-60); a de Herodes Agripa I, que prendeu a Pedro e decapitou Tiago (At 12.1-3); Paulo, o antigo perseguidor do Evangelho, foi aquele que mais sofreu perseguições (At 9.23-25,29; 14.2-7,19; 16.19-24; 17.4-9, 13-15; 21.30-32).

Escrevendo aos coríntios, Paulo faz um resumo do que havia sofrido pelo Evangelho de Cristo (2Co 11.23-33). Contudo, havia nele, uma visão constante que transpunha o sentimento de dor e angústia. Na prisão, escreveu aos filipenses: “Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as cousas que me aconteceram têm antes contribuído para o progresso do evangelho” (Fp 1.12) e, diz mais: “Alegrai-vos sempre no Senhor, outra vez digo, alegrai-vos” (Fp 4.4). O Evangelho prosseguia em sua caminhada vitoriosa a despeito dos obstáculos erguidos contra ele.

Paulo estava convencido e, demonstrava isto na prática, que Deus nos faz vencer os obstáculos que estão à nossa frente. Enumeremos alguns que podem ser inferidos do texto de Filipenses:

1) Desânimo: (1.18) Ele poderia desanimar quando viu que alguns pregavam a Cristo por inveja. Entretanto, se alegrou porque sabia que apesar desta motivação ímpia, o Evangelho estava sendo pregado e nisto ele se alegrava.

2) Apego à vida: (1.20-21) A possibilidade concreta da morte é para maioria de nós o limite da coragem. Paulo, pelo contrário, não temia a morte; ele diz que vivendo ou morrendo, Cristo seria engrandecido nele... A morte, que consistia no encontro com Cristo, seria lucro, algo incomparavelmente melhor! (1.21,23).

3) Egoísmo: (1.22-26) Paulo coloca de lado os seus desejos pessoais para preferir permanecer ali, mesmo que na prisão, a fim de poder ajudar o progresso da fé de todos os irmãos. A sua prioridade naquele momento, era contribuir para o crescimento espiritual dos seus irmãos...

4) Indignidade: (1.27) Ele poderia estar blasfemando contra Deus e ofendendo os homens por sua injusta prisão; todavia, ele está vivendo dignamente, testemunhando com sua palavra e os seus atos o Evangelho do Reino e, ensinando os irmãos a viverem como ele, de modo digno do Senhor.

5) Temor: (1.27-30) Paulo estava preso e os irmãos de Filipos sofriam perseguições. Ele corajosamente os estimula a permanecerem firmes no Senhor, assim como ele estava, sem temor.

A perseguição não encerrou-se no primeiro século; a Igreja através de toda a História tem sido alvo de ataques físicos, morais, intelectuais e espirituais; todavia, ao lado destas afrontas, ela tem podido desfrutar da presença confortadora do Espírito Santo. O Espírito que habita em nós, nos conforta em todos os momentos, nos amparando quando parece que não temos onde ou em quem nos apoiar. “Assim, o Espírito Santo é o autor imediato de toda a verdade, de toda a santidade, de toda a consolação, de toda a autoridade e de toda a eficiência nos filhos de Deus, individualmente, e na Igreja, coletivamente.”[335]

De fato, o Senhor Jesus não nos deixou órfãos; Ele, Ele mesmo está conosco aqui e agora, e para sempre (Jo 14.16-18/At 9.31).

Calvino, orienta-nos pastoralmente: “.... A Igreja será sempre libertada das calamidades que lhe sobrevêm, porque Deus, que é poderoso para salvá-la, jamais suprime dela sua graça e sua bênção.”[336] Portanto, “se algo de adverso lhe houver ocorrido, aqui também o servo do Senhor de pronto elevará a mente para com Deus, cuja mão muito vale para imprimir-nos paciência e serena moderação de ânimo.”[337] Ele comenta que, “todos os homens reconhecem que o mundo é governado pela providência divina; mas quando daí surge uma lamentável confusão de coisas a perturbar a tranqüilidade deles e os envolve em dificuldades, poucos são os que conservam em sua mente a inabalável convicção dessa verdade”.[338]

3. AS MARCAS DA VERDADEIRA IGREJA:

Foi com o surgimento das heresias que se tornou necessário estabelecer "um padrão de verdade ao qual a igreja deve corresponder",[339] sendo os Credos uma resposta da Igreja à situação de ameaça à teologia considerada bíblica.[340]

Como expressão dessa preocupação – em identificar a verdadeira igreja –, encontramos na obra Commonitorium, de Vicente de Lérins († 450 AD), escrita em 434, o seguinte:

"Eis por que dediquei, constantemente, meus maiores desvelos e minhas diligências a investigar, entre o maior número possível de homens eminentes em saber e santidade, a maneira de achar uma norma de princípios fixos e, se possível, gerais e orientadores, para distinguir a verdadeira fé católica das degradantes corruptelas da heresia....".[341]

Apenas em caráter indicativo, apresentaremos um esboço histórico da preocupação da Igreja em estabelecer os "Sinais" ou "Marcas" através dos quais, a Igreja de Cristo pudesse ser identificada e distinta das falsas igrejas.

No Credo Apostólico,[342] lemos: "Creio no Espírito Santo; na santa Igreja, católica; na comunhão dos santos....". Aqui se destacam duas marcas da Igreja: SANTIDADE E CATOLICIDADE (= Universalidade).

O Credo Niceno-Constantinopolitano, elaborado no Concílio de Nicéia (325) e revisto no Concílio de Constantinopla (381), diz: “(...) E numa só Igreja Santa, Católica, e Apostólica”. Desta afirmação, quatro marcas tornam-se evidentes: UNIDADE, SANTIDADE, CATOLICIDADE E APOSTOLICIDADE.

Na Reforma Protestante do Século XVI, a Igreja foi compreendida dentro da perspectiva de “povo de Deus”, não simplesmente como um edifício ou uma organização institucional,[343] mas sim, como povo de Deus que se reúne para adorar a Deus, sendo a Igreja caracterizada pela ministração correta da Palavra e dos Sacramentos.[344] Calvino (1509-1564) tratando desse assunto, insistiu no fato de que as marcas da Igreja são: A verdadeira pregação da Palavra de Deus e a correta administração dos Sacramentos.[345] Esta concepção pode ser resumida na afirmação de que Cristo é a marca essencial da Igreja, visto ser Ele "o centro da Palavra e o cerne dos sacramentos."[346]

Os reformadores vão enfatizar o estudo da Palavra, visto que este fora ofuscado pela preocupação filosófica: A Razão havia tomado o lugar da Revelação. Na Reforma, o ponto de partida não é o homem; ele não é considerado "a medida de todas as coisas"; antes, a sua dignidade consiste em ter sido criado à imagem de Deus.[347]

A Reforma teve como objetivo precípuo uma volta às Sagradas Escrituras, a fim de reformar a Igreja que havia caído ao longo dos séculos, numa decadência teológica, moral e espiritual. A preocupação dos reformadores era principalmente "a reforma da vida, da adoração e da doutrina à luz da Palavra de Deus".[348] Desta forma, a partir da Palavra, passaram a pensar acerca de Deus, do homem e do mundo! "A reforma foi acima de tudo uma proclamação positiva do evangelho Cristão."[349]

O Calvinismo, com sua ênfase na centralidade das Escrituras, é mais do que um sistema teológico, é sobretudo, uma maneira teocêntrica de ver, interpretar e atuar na história.[350]

Aliás, a Reforma teve como um de seus marcos fundamentais o "reavivamento" da pregação da Palavra.[351] À Igreja foi confiada a Palavra de Deus, a qual ela deve preservar em seus ensinamentos e prática (Rm 3.2; 1Tm 3.15). Calvino entendia que “a verdade, porém, só é preservada no mundo através do ministério da Igreja. Daí, que peso de responsabilidade repousa sobre os pastores, a quem se tem confiado o encargo de um tesouro tão inestimável!”.[352] Em outro lugar, comentando Gálatas 5.9, insiste: “Essa cláusula os adverte de quão danosa é a corrupção da doutrina, para que cuidassem de não negligenciá-la (como é costumeiro) como se fosse algo de pouco ou nenhum risco. Satanás entra em ação com astúcia, e obviamente não destrói o evangelho em sua totalidade, senão que macula sua pureza com opiniões falsas e corruptas. Muitos não levam em conta a gravidade do mal, e por isso fazem uma resistência menos radical. (...) Devemos ser muito cautelosos, não permitindo que algo (estranho) seja adicionado à íntegra doutrina do Evangelho.”[353]

Escrevendo a Cranmer (jul/1552?) diz: “A sã doutrina certamente jamais prevalecerá, até que as igrejas sejam melhor providas de pastores qualificados que possam desempenhar com seriedade o ofício de pastor.”[354] Calvino, fiel à sua compreensão da relevância da pregação bíblica,[355] usou de modo especial, o método de expor e aplicar[356] quase todos os livros das Escrituras à sua congregação. A sua mensagem se constitui num monumento de exegese, clareza e fidelidade à Palavra, sabendo aplicá-la com maestria aos seus ouvintes. De fato, não deixa de ser surpreendente, o conselho de Jacobus Arminius (1560-1609): “Eu exorto aos estudantes que depois das Sagradas Escrituras leiam os Comentários de Calvino, pois eu lhes digo que ele é incomparável na interpretação da Escritura.”[357]

A fecundidade exegética de Calvino tinha sempre uma preocupação primordialmente pastoral.[358] A sua preocupação não era simplesmente acadêmica. A convergência de sua interpretação era a vida da Igreja, entendendo que as Escrituras foram dadas visando à nossa obediência aos mandamentos de Deus. Ele entendia que “a pregação é um instrumento para a consecução da salvação dos crentes” e, que “embora não possa realizar nada sem o Espírito de Deus, todavia, através da operação interior do mesmo Espírito, ela revela o ação divina muito mais poderosamente.”[359] Estima-se que Calvino durante os seus trinta e cinco anos de Ministério – pregando dois sermões por domingo e uma vez por dia em semanas alternadas – tenha pregado mais de três mil sermões.[360]

Calvino, entendia que Deus, na Sua Palavra, “se acomodava à nossa capacidade”,[361] balbuciando a Sua Palavra a nós como as amas fazem com as crianças.[362] “... Deus, acomoda-se ao nosso modo ordinário de falar por causa de nossa ignorância, às vezes também, se me é permitida a expressão, gagueja”.[363] Portanto, quando lemos as Escrituras, “somos arrebatados mais pela dignidade do conteúdo que pela graça da linguagem.”[364] Esses pontos tornam o homem inescusável e realçam a relevância das Escrituras para a vida cristã. Ele diz: "Ora, primeiro, com Sua Palavra nos ensina e instrui o Senhor; então, com os sacramentos no-la confirma; finalmente, com a luz de Seu Santo Espírito a mente nos ilumina e abre acesso em nosso coração à Palavra e aos sacramentos, que, de outra sorte, apenas feririam os ouvidos e aos olhos se apresentariam, mas, longe estariam de afetar-nos o íntimo."[365] Aqui temos um paradoxo: A Palavra acomodatícia de Deus permanece, entretanto, como algo misterioso para os que não crêem ou que desejam entendê-la por sua própria sabedoria pois, os “tesouros da sabedoria celestial”, acham-se fora “do alcance da cultura humana.”[366] Todos somos incapazes de entender os “mistérios de Deus” até que Ele mesmo por Sua graça nos ilumine.[367] “A Palavra de Deus é uma espécie de sabedoria oculta, a cuja profundidade a frágil mente humana não pode alcançar. Assim, a luz brilha nas trevas, até que o Espírito abra os olhos ao cego.”[368] Portanto, quando o Espírito aplica a Palavra aos nossos coração, Ele produz a sua boa obra em nós, gerando a fé salvadora que se direciona para Cristo e para os feitos de Sua redenção.[369]

O Comentário de Romanos não foge a este princípio, o reconhecimento de que é o Espírito Quem deve nos guiar na compreensão das Escrituras. E, o conselho que o próprio Calvino emitiu no Prefácio à edição francesa das Institutas (1541), permanece para todas as suas obras, também como princípio avaliador de qualquer labor humano: “Importa em tudo quanto exponho recorrer ao testemunho da Escritura, que aduzo para ajuizar da procedência e justeza do que afirmo.”

Em 28 de abril de 1564, um mês antes de morrer, tendo os ministros de Genebra à sua volta, Calvino despede-se;[370] a certa altura diz:

“A respeito de minha doutrina, ensinei fielmente e Deus me deu a graça de escrever. Fiz isso do modo mais fiel possível e nunca corrompi uma só passagem das Escrituras, nem conscientemente as distorci. Quando fui tentado a requintes, resisti à tentação e sempre estudei a simplicidade.[371]

“Nunca escrevi nada com ódio de alguém, mas sempre coloquei fielmente diante de mim o que julguei ser a glória de Deus.”[372]

Na seqüência, acrescenta:

“.... Esquecia-me de um ponto: peço-lhes que não façam mudanças, nem inovem. As pessoas muitas vezes pedem novidade.

“Não que eu queira por minha própria causa, por ambição, a permanência do que estabeleci, e que o povo o conserve sem desejar algo melhor; mas porque as mudanças são perigosas, e às vezes nocivas....”.[373]

De forma figurada, Calvino diz que “o coração de Deus é um ‘Santo dos Santos’, inacessível a todos os homens”, sendo o Espírito Quem nos conduz a ele.[374] Ele entendia que “com a oração encontramos e desenterramos os tesouros que se mostram e descobrem à nossa fé pelo Evangelho” e,[375] que “a oração é um dever compulsório de todos os dias e de todos os momentos de nossa vida”[376]e: “Os crentes genuínos, quando confiam em Deus, não se tornam por essa conta negligentes à oração.”[377] Portanto, este tesouro não pode ser negligenciado como se “enterrado e oculto no solo!”.[378] Aqui está o segredo da Palavra de Deus, segundo a percepção de Calvino: Estudo humilde[379] e oração, atitudes que se revelam em nossa obediência a Cristo.[380] Schaff resume: “Absoluta obediência de seu intelecto à Palavra de Deus, e obediência de sua vontade à vontade de Deus: esta foi a alma de sua religião.”[381] “A oração tem primazia na adoração e no serviço a Deus.”[382] Daí o seu conselho: “A não ser que estabeleçamos horas definidas para a oração, facilmente negligenciaremos a prática.”[383] No entanto, devemos ter sempre presente o fato, que é Espírito “Quem deve prescrever a forma de nossas orações.”[384]

Ele observou que, na oração, "a língua nem sempre é necessária, mas a oração verdadeira não pode carecer de inteligência e de afeto de ânimo."[385] a saber: "O primeiro, que sintamos nossa pobreza e miséria, e que este sentimento gere dor e angústia em nossos ânimos. O segundo, que estejamos inflamados com um veemente e verdadeiro desejo de alcançar misericórdia de Deus, e que este desejo acenda em nós o ardor de orar."[386]

O seu grande consolo e estímulo, é saber que o Deus soberano, de forma misteriosa a nós, utiliza-se de nossas orações na concretização de Seus propósitos: “Deus responde aos verdadeiros crentes quando mostra através de suas operações que Ele leva em conta suas súplicas.”[387]

Retomando a nossa rota principal, constatamos que outros teólogos Reformados,[388] acrescentaram aos dois sinais indicados por Calvino, um terceiro: O Exercício Fiel da Disciplina.

A Confissão Belga (1561),[389] no Artigo XXIX, diz:

"Os sinais para conhecer a Igreja verdadeira são estes: a pregação pura do evangelho; a administração pura dos Sacramentos, tal como foram instituídos por Cristo; a aplicação da disciplina cristã, para castigar os pecados."[390]

De forma restrita, podemos falar da Verdadeira Pregação da Palavra como a marca distintiva da Igreja, decorrendo daí, as outras duas marcas indicadas.[391]

4. CARACTERÍSTICAS E MISSÃO DA IGREJA:

A Missão da Igreja é determinada por sua Origem, Fundamento e Cabeça. Não podemos falar em Missão, sem termos consciência destes elementos. A Igreja, com freqüência se perde em sua missão, justamente porque não compreende a sua identidade; a dimensão da sua existência.

4.1. Identidade Teológica:

1) A Igreja é edificada por Deus sobre a Rocha: (Mt 16.18/Ef 2.19-22; Lc 20.17; 1Co 10.4).

A Igreja é edificada pelo próprio Cristo; Deus não confiou esta tarefa a mais ninguém. É Ele mesmo Quem reúne os Seus.[392] O fundamento da Igreja não é o homem com as suas fraquezas e pecado, nem a sua vacilante confissão de fé; mas sim, o próprio Cristo, a rocha eterna e inabalável. A confissão da identidade do Filho, é fundamental para o ingresso na Igreja e, tal confissão só se torna possível pela graça reveladora de Deus (Mt 16.16,17). E, esta revelação é feita de acordo com o propósito de Deus.

Jesus declara: "Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai; e ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11.27).

A Igreja é o Corpo de Cristo e é Deus mesmo quem forma este corpo. É Deus quem elege o Seu povo e o chama eficazmente através da Palavra, para fazer parte da Sua Igreja. Deus arregimenta o Seu povo, preservando-o até concluir a Sua obra iniciada na eternidade. (Fp 1.6).

Jesus: "Todo aquele que o Pai me dá; esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora (...). Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia (...). Ninguém poderá vir a mim, se pelo Pai não lhe for concedido” (Jo 6.37,44,65).

Paulo: "...Aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8.29-30).

2) A Igreja é do Deus Triúno: A Ele cabe dirigi-la: (At 9.31; 20.28; Rm 16.16; 1Co 1.2; 10.32; 11.16,22; 2Co 1.1; Ef 5.23-24; Cl 1.18; 1Ts 2.14; 2Ts 1.4; 1Pe 2.9-10).

3) A Igreja é o Corpo de Cristo: Ele a ama, preserva, alimenta e santifica: (Ef 5.25-27,29; Cl 1.24).

4) Deus concede graça à Igreja: (1Co 12.28; 2Co 8.1). A Igreja é o monumento da graça de Deus: tudo que somos e temos é pela graça. A graça de Deus não é estéril; devemos usá-la para o serviço de Deus e em benefício do nosso próximo.(Rm 12.6-8; 1Co 15.10; 2Co 6.1; 2Co 8.1-9; 16-19; 9.8,14, Hb. 12.28; 1Pe 4.10).[393]

5) Templo de Deus no Mundo: No Antigo Testamento, “o santuário era o penhor ou emblema do pacto de Deus”;[394] era o sinal concreto e visível da presença de Deus que, obviamente, ultrapassava em muito os limites do templo.

A Igreja, por sua vez, constituída de todos os eleitos de Deus, é o testemunho da presença e da atuação de Deus entre os homens. A Igreja é o reflexo da presença de Deus.

A Igreja diz ao mundo através de sua realidade histórica e testemunho, que ainda há esperança de salvação. A Igreja como luz do mundo e sal da terra, constitui-se numa bênção inestimável para toda a humanidade.[395]

"A Igreja, portanto, é a presença de Jesus Cristo por meio de seu povo, em prol do mundo. Embora provisória, essa presença é real, humana e histórica. Cristo age por meio da Igreja realizando sua obra e confirmando sua vitória. Nesse sentido, não há salvação fora da Igreja, desde que esta se disponha a servir e glorificar Jesus Cristo."[396]

4.2. Identidade Teocêntrica:

A Igreja tem uma natureza "Teantrópica": Ela é criada por Deus em Cristo (1Ts 2.14) – não é simplesmente uma associação de voluntários –, é o Corpo de Cristo, mas também, é humana em sua constituição.

Conforme vimos, a Igreja é de origem divina; partindo desta perspectiva, podemos entender que a sua identidade divina determina a sua existência teocêntrica. A Igreja – edificada por Deus e composta por homens –, vive para a Glória de Deus (1Co 10.31).

1) A Igreja é uma Comunidade:

A Igreja não é constituída de pessoas individuais que vivem individualmente para si mesmas; ser cristão, apesar de não anular a nossa personalidade, significa ter uma dimensão da nossa identidade como Corpo de Cristo. O que caracteriza a nossa "comunidade" é primordialmente, a nossa comunhão com Cristo.[397] (1Jo 1.3). Calvino (1509-1564), no Catecismo de Genebra, comentando o Credo Apostólico, enfatiza o aspecto comunitário da Igreja, dizendo ser ela, "um corpo e companhia dos fiéis, aos quais Deus ordenou e elegeu para a vida eterna."[398] Isto significa que as bênçãos de Deus para a Sua Igreja, são derramadas sobre todo o Seu povo, visto que todos estes têm comunhão entre si.[399]

"O cristão – diz Lewis –, é chamado não ao individualismo, mas à participação no corpo de Cristo. A distinção entre a coletividade secular e o corpo de Cristo é, portanto, o primeiro passo para compreender como o cristianismo, sem ser individualista, pode neutralizar o coletivismo."[400]

Como Comunidade, a Igreja:

(1) Reúne-se:

a) Louvar a Deus: Lc 24.50-53.

b) Orar: At 1.14; 2.42.

c) Participar da Ceia: At 2.42; 20.7; 1Co 11.20.

d) Atender às necessidades da comunidade: At 6.1-2.

e) Resolver questões doutrinárias: At 15.6.

f) Ouvir a Palavra de Deus: At 20.7,11; 11.26.

(2) Manifesta Simpatia: At 2.45; 4.34-35; 2Co 8.1-6/Rm 15.25-26; Fp 1.5; 4.13-16; 1Tm 5.16; Tg 5.14.

2) Comunidade de Pecadores Regenerados:

2.1) A Santidade da Igreja:

À primeira vista parece estranho falar da santidade da Igreja, visto ela ser composta por homens pecadores. A Confissão de Westminster (1647), acertadamente diz:

"As igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas à mistura e ao erro; algumas têm degenerado ao ponto de não serem mais igrejas de Cristo, mas sinagogas de Satanás; não obstante, haverá sempre sobre a terra uma igreja para adorar a Deus segundo a vontade dele." (XXV.5).[401]

De fato, entre os doze apóstolos de Cristo, havia um traidor; a Igreja primitiva, com toda a sua vitalidade e testemunho, tinha em seu seio Ananias e Safira; a Igreja presente, não é diferente: Ela também não é perfeita!

A Igreja é santa e pecadora; este é um dos paradoxos da Igreja. Com isto não queremos dizer que a Igreja Santa seja apenas uma abstração de nossa mente e, que a Igreja Pecadora seja de fato a única realidade histórica. Não. A santidade e a pecaminosidade fazem parte da vida da Igreja, não simplesmente como ideal, mas como algo real e concreto.

A santidade da Igreja não pode ser negada pelo fato dela não estar demonstrando isto. A Igreja é santa porque foi santificada, separada para Si por Cristo Jesus. A santidade é um dom de Deus, resultante de nossa comunhão com Ele (santidade posicional). Por outro lado, o fracasso da Igreja em viver santamente, aponta para a necessidade de assim fazê-lo (Rm 1.7), sendo coerente com a sua natureza.[402]

2.2) A Santidade da Igreja e a Graça:

“À Igreja se atribui a santidade, sem que ela seja uma qualidade da Igreja.”[403] A Igreja é composta por pecadores regenerados (Jo 3.3; Tt 3.5). O pecado já não tem domínio sobre nós (Rm 6.14), todavia, ainda exerce a sua influência; por isso, o apóstolo João escreveu: "Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós” (1Jo 1.8).

Assim, a Igreja Santa, que é composta por pecadores, revela o triunfo da graça de Deus sobre o poder do pecado. A graça é que começa, aperfeiçoa e conclui a obra da salvação em nós (Fp 1.6). Como bem disse Spurgeon (1834-1892): “A graça começa, continua e termina a obra da salvação no coração de uma pessoa.”[404] Aquele que nos regenerou e justificou, também nos santifica, modelando-nos conforme a imagem de Cristo (Rm 8.29).[405]

Falar da Santidade da Igreja, significa declarar os atos salvadores de Deus em Cristo Jesus, o qual morreu pelo Seu povo, amando-o apesar dos seus pecados (Rm 5.8; 1Jo 4.10).

Deus olhou para nós, vendo a nossa nudez e miséria espirituais, vestiu-nos com as vestes da Sua justiça e santidade manifestas em Cristo. Deste modo, a nossa santidade consiste na participação da retidão de Cristo.[406]

A Santidade da Igreja realça a graça de Deus em Cristo. "Graça (...) é o amor de Deus em poder e formosura, brilhando contra o obscuro fundo do demérito humano." [407]

2.3) O Fundamento da Santidade da Igreja:

A Igreja é Santa porque o Seu cabeça é santo e santificador. A santificação do Filho é em favor da Igreja (Jo 17.19). A Obra de Cristo é o fundamento da santidade da Igreja. Cristo se entregou pelo Seu povo a fim de nos santificar: "Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem cousa semelhante, porém santa e sem defeito” (Ef 5.25-27). (destaque meu).

A santidade da Igreja repousa na Santidade de Cristo e no valor eterno dos Seus merecimentos. “A eternidade do valor do sacrifício de Cristo, é decorrente da dignidade daquele que Se ofereceu a Si mesmo por nós.”[408] (Hb 4.15; 5.6; 6.20; 7.3,17, 21-26).

D. Martyn Lloyd-Jones (1899-1981) comenta:

"Aqui está a Igreja em seus farrapos, em sua imundície e vileza! Cristo morreu por ela, salvou-a da condenação. Ele a toma de onde estava e a separa para Si (...). Ela é removida do mundo para a posição especial que, como Igreja, deve ocupar."[409]

"Enquanto a Igreja caminha neste mundo de pecado e vergonha, ela se suja de lama e lodo. Portanto, há manchas e nódoas nela. E é muito difícil livrar-se delas. Todos os medicamentos que conhecemos, todos os produtos de limpeza são incapazes de remover estas manchas e nódoas. A Igreja não é limpa aqui, não é pura; embora esteja sendo purificada, ainda há muitas manchas nela.

"Entretanto, quando ela chegar àquele estado de glória e glorificação, ficará sem uma única mancha; não haverá nódoa alguma nela. Quando Ele a apresentar a Si mesmo, com todos os principados e poderes, e com todas as compactas fileiras de potestades celestes e contemplar esta coisa maravilhosa, a sondá-la e a examiná-la, não haverá nela nenhuma mácula, nenhuma nódoa. O exame mais cuidadoso não será capaz de detectar a menor partícula de indignidade ou de pecado."[410]

A Palavra de Deus demonstra que através da única e suficiente oferta de Cristo, fomos santificados: "Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas (...). Porque com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados” (Hb 10.10,14). "... Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta” (Hb 13.12).

A Santidade de Cristo em favor da Igreja, é-nos comunicada pelo Espírito Santo. Ingressar na Igreja significa fazer parte constitutiva do Corpo de Cristo: Aquele que é Santo.

Quando olhamos para nós mesmos, vemos os nossos pecados e a nossa depravação que nos distancia de Deus; quando, porém, olhamos para a obra vitoriosa de Cristo, conseguimos, então, enxergar a Igreja Santa, através da Sua Obra redentora e santificadora.

Como vimos, segundo Calvino (1509-1564), a santidade e firmeza da Igreja repousam principalmente em “três coisas”, a saber: “doutrina, disciplina e sacramentos vindo em quarto lugar as cerimônias para exercitar o povo no dever da piedade.”[411] O exercício da santidade consiste em obedecer a Deus e usar dos meios concedidos por Ele mesmo para a nossa santificação: A Palavra e os Sacramentos. Como bem diz o Catecismo Menor de Westminster (1647), Deus exige de nós, os crentes, “o uso diligente de todos os meios exteriores pelos quais Cristo nos comunica as bênçãos da salvação.”[412]

2.4) A Santidade como Meta:

"Em que sentido chamais santa à Igreja?"

"Porque a todos os que Deus elegeu, os faz justos e os reforma para santidade e inocência de vida, para que neles resplandeça sua glória (Rm 8.30). E assim, havendo Jesus Cristo resgatado sua Igreja, a santificou, para que fosse gloriosa e limpa de toda mancha (Ef 5.25-27)."[413]

"E esta santidade que atribuis à Igreja, é já perfeita?"

"Não, entretanto ela mantém guerra neste mundo. Porque sempre têm imperfeições, e nunca será totalmente purgada dos vestígios dos pecados, até que seja completamente juntada com Cristo sua Cabeça, pelo qual ela é santificada."[414]

A Igreja é santa em santificação. A santidade é um ato realizado em e por Cristo; a santificação é decorrente deste ato, se concretizando num processo contínuo operado pelo Espírito.

A Igreja é descrita no "Credo Apostólico", como a "Comunhão dos Santos". E de fato ela o é, porque congrega os pecadores santificados em Cristo e, que estão, como evidência da tensão do seu pecado e, também da sua natureza santa, em processo de santificação, de crescimento espiritual, pelo Espírito que é Santo.

A Igreja Santa vive na realização do ideal de santidade (Vejam-se: Ex 19.6; Lv 20.26; Dt 7.6; 26.19; 28.9; Is 62.12; 1Pe 2.9). Deste modo, ela cumpre a meta proposta por Deus no ato eterno da nossa eleição (Ef 1.4; 2Ts 2.13/1Ts 4.3).[415]

Por isso, quando nos referimos à Santidade da Igreja, estamos falando de nossa responsabilidade: ser santo é estar em santificação. Não podemos nos acomodar com a graça da santidade; devemos progredir na graça em santificação. "A igreja alheia à santidade é alheia a Cristo."[416] Deus chama pecadores, todavia, não deseja que eles continuem assim, antes, infunde neles a justiça de Cristo, dando-lhes um novo coração, mudando as inclinações de sua alma, habilitando-os à toda boa obra (Ef 2.8-10). "Cristo a ninguém justifica, a quem ao mesmo tempo, não santifique."[417] A justificação nos livra da condenação do pecado e a santificação nos livra da sua contaminação.[418] “...Na justificação, Deus imputa a justiça de Cristo; e na santificação, o Seu Espírito infunde a graça e dá forças para ser praticada. Na justificação, o pecado é perdoado; na santificação, ele é subjugado”[419] (destaque meu) (Rm 3.24,25; 6.6,14).

Os crentes em Cristo são chamados à Santidade do Deus Triúno (Jo 6.69; 1Pe 1.15; Ap 15.4). "A Santa Igreja não é uma comunidade perfeita. Ao contrário, é a comunidade que confia no milagre do perdão, cresce no conhecimento de que ela é justificada e aceita a obra da santificação que é feita nela. Isso é o resultado do sentimento de sua própria indignidade, do morrer e do reviver para uma nova vida. Santidade denota a eficácia da obra de Deus, que se faz mais e mais real na medida em que a Igreja se dispõe a ela."[420]

No seu viver cotidiano, a Igreja deve revelar a essência da sua natureza divina (Mt 5.14-16; Fp 2.14-15).

A vida cristã não se caracteriza simplesmente por sustentar idéias corretas e ter uma visão mais ampla da realidade; mas, também, em proceder corretamente de acordo com a amplitude da realidade revelada. A ação cristã deve ser acompanhada de motivação e espírito cristãos. “Não é suficiente fazer. A pessoa precisa fazer todas as coisas com espírito certo. Há sempre o perigo de o homem zeloso se tornar um zelote, ou de aquele que luta pela verdade e o direito se tornar um polemista.”[421]

Escrevendo aos filipenses (Fp 2.12-18), Paulo fala da salvação efetuada por Deus, na qual, nós devemos participar em seu desenvolvimento, usado dos meios que o próprio Deus coloca à nossa disposição para o nosso crescimento espiritual. “Deus nos tem munido com mais de uma espécie de auxílio, desde que não sejamos indolentes em fazer uso do que nos é oferecido.”[422] (2Pe 1.3).

Pedro, do mesmo modo, por considerar este ponto de extrema relevância, insiste em nossa responsabilidade de assim proceder, agindo com diligência: “Por isso, irmãos, procurai, com diligência (Spouda/zw = “ser zeloso”, “fazer todo o esforço possível”)[423] cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum” (2Pe 1.10). Portanto, podemos perceber que o segredo da vida cristã, a sua segurança não está na inatividade, mas, sim – amparados na graça de Deus, vivermos em constante trabalho de desenvolvimento de nossa fé, sabendo que desta maneira jamais tropeçaremos de modo definitivo: Deus não permitirá!

Os Símbolos de Westminster declaram que Deus exige de nós, os crentes, "o uso diligente de todos os meios exteriores pelos quais Cristo nos comunica as bênçãos da salvação"[424] e que não negligenciemos os “meios de preservação”.[425]

Sabemos que a salvação é obra de Deus (Fp 1.6).Todavia, Deus opera dentro de nossa vontade: “Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.13/1Co 15.10);

Recordemos o contexto em que Paulo escreveu aos filipenses. Ele já não residia com os filipenses, estava preso em Roma (Fp 1.13), por isso eles deviam envidar todos os esforços para continuar desenvolvendo essa salvação, no processo de santificação, usando os meios de graça concedidos pelo próprio Deus, para o nosso progresso espiritual. O crescimento espiritual é a naturalidade do homem regenerado. Daí, a recomendação de Pedro: “Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação” (1Pe 2.2); “Crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno” (2Pe 3.18).

Paulo tem a preocupação com o cumprimento das suas recomendações e, também, como eles fariam isso: não bastando apenas fazer, mas, também, com que espírito fariam. Do mesmo modo, não basta apenas servir, é preciso saber como servimos. Não basta apenas contribuir; é preciso saber com que espírito contribuímos. Precisamos lembrar que a espontaneidade do amor não exclui a responsabilidade da obediência. Paulo então toma como exemplo a obediência de Jesus Cristo: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.5-8).

No verso 12, temos a ligação com o texto anterior: “assim, pois”; Ou: “de modo que”. No caso dos filipenses, Paulo tinha certeza da obediência exemplar daqueles irmãos. Ele mostra então como era identificada essa obediência: Os filipenses obedeciam as instruções do Senhor de forma íntegra: “Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença....” (Fp 2.12). A obediência não era apenas para fazer encenação diante de Paulo. Nesse aspecto, tanto fazia ele estar por perto ou não, que eles mantinham uma vida cristã exemplar. Lembremo-nos de que quando Paulo foi embora, ao que parece a Igreja ficou se reunindo na casa de Lídia (At 16.40). Os filipenses permaneceram em contato com Paulo, auxiliando-o em seu ministério, provendo recursos para as suas necessidades (2Co 11.9; Fp 1.5; 4.15-19). Paulo visitou a Igreja em pelo menos duas outras ocasiões (2Co 2.12,13; 7.5-7; At 20.1,3,6), antes de sua prisão em Jerusalém e a escrita da carta. Havia uma integridade em seu comportamento.

Deus conhece os nossos corações; Ele sabe de nossas intenções e motivações. Na unção de Davi, como futuro rei de Israel, Deus diz a Samuel: “Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração” (1Sm 16.7. Ver: Jo 2.25).

A dignidade da obediência se expressa através da integridade do coração. Daí a recomendação de Paulo aos servos: “Servos, obedecei em tudo ao vosso senhor segundo a carne, não servindo apenas sob vigilância, visando tão-somente agradar homens, mas em singeleza de coração, temendo ao Senhor” (Cl 3.22).

A obediência não significa necessariamente – como normalmente querem nos fazer crer –, sujeição servil. A obediência cristã a Deus e à Sua Palavra é um ato de amor. Comentando o Salmo 40.7, Calvino assim se expressa: “Aqui verdadeira obediência apropriadamente se distingue de uma constrangedora e escrava sujeição. Todo serviço, pois, que porventura os homens ofereçam a Deus será fútil e ofensivo a seus olhos a menos que, ao mesmo tempo, ofereçam a si próprios; e, além do mais, este oferecimento por si mesmo não é de nenhum valor a menos que seja feito espontaneamente.”[426] Em outro lugar: “....A obediência forçada ou servil não é de forma alguma aceitável diante de Deus....”.[427]

A perspectiva da questão é teológica: “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens” (Cl 3.23). “....muito mais agora, na minha ausência (?????????[428]), desenvolvei (?????????????[429])....” (Fp 2.12).

Os filipenses, agora, sem a presença de Paulo, teriam que estar mais atentos à sua salvação, no seu progresso espiritual pois, o velho pastor já não estaria fisicamente ali para apascentar o seu rebanho, embora os tivesse sempre em sua mente (Fp 1.7-8) e orações: “Dou graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós, fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós, em todas as minhas orações” (Fp 1.3-4). “A obediência dos filipenses envolvia a tradução dos princípios do Evangelho, em que haviam crido, em ação constante.”[430]

Paulo continua argumentando a respeito de como os filipenses deveriam praticar a sua obediência: “Fazei tudo sem murmurações (goggusmo/j)” (Fp 2.14). Goggusmo/j,[431] além de “murmuração” tem o sentido de descontentamento, queixa, desagrado, desprazer, reclamação, queixume, “zum-zum”. A palavra é onomatopaica; ela descreve um murmúrio surdo e ameaçante do povo, que zomba e arremeda seus líderes e está pronta para uma revolta e insurreição. Por certo Paulo tinha em mente o comportamento pecaminoso dos israelitas, que se queixavam constantemente contra Moisés e Arão “Todos os filhos de Israel murmuraram contra Moisés e contra Arão; e toda a congregação lhes disse: Tomara tivéssemos morrido na terra do Egito ou mesmo neste deserto!” (Nm 14.2). Mas, na realidade, o povo estava murmurando contra Deus pois, foi Ele quem os conduziu até ali: “Até quando sofrerei esta má congregação que murmura contra mim? Tenho ouvido as murmurações que os filhos de Israel proferem contra mim” (Nm 14.27). Paulo escreveu aos Coríntios mencionando este fato: “Nem murmureis (goggu/zw), como alguns deles murmuraram e foram destruídos pelo exterminador” (1Co 10.10). Notemos que de todos aqueles que saíram do Egito – com mais de vinte anos –, apenas Josué e Calebe entraram na terra de Canaã; todos os outros que entraram nasceram no deserto (Nm 14.28-30). O motivo é simples; apesar das dificuldades, creram em Deus: Depois de espiar a terra, deram seu relatório e testemunho de fé: “Josué, filho de Num, e Calebe, filho de Jefoné, dentre os que espiaram a terra, rasgaram as suas vestes e falaram a toda a congregação dos filhos de Israel, dizendo: A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra muitíssimo boa. Se o Senhor se agradar de nós, então, nos fará entrar nessa terra e no-la dará, terra que mana leite e mel. Tão-somente não sejais rebeldes contra o Senhor e não temais o povo dessa terra, porquanto, como pão, os podemos devorar; retirou-se deles o seu amparo; o SENHOR é conosco; não os temais” (Nm 14.6-9).

Esta foi uma prática comum dos judeus no deserto (1Co 10.10)[432] e por parte dos judeus em relação a Jesus e a Seus discípulos (Lc 5.30; Jo 6.41,43, 61).[433] Esta é uma atitude comum aos ímpios (Jd 16).[434] A obediência não deve ser queixosa. Freqüentemente tendemos a passar muito tempo nos queixando dos aparentes problemas, ao invés de olhá-los de frente com objetividade e fé. Devemos obedecer a Deus, sem queixumes. Devemos ter a consciência de que o vontade de Deus, os Seus mandamentos e preceitos são sempre o melhor para a nossa vida.

Paulo continua a sua argumentação: “Fazei tudo sem murmurações nem contendas(dialogismo/j)” (Fp 2.14). A palavra dialogismo/j, tem o sentido de disputa, discussão, especulação, questionamento interior, questionamento cético ou crítico, litígio, dissensão, argumentos. Nos papiros se refere às discussões forenses.

O emprego desta palavra no Novo Testamento é sempre negativo:

a) Maus pensamentos e desígnios: Mt 15.19; Mc 7.21; Tg 2.4;

b) Dúvida como resultado da incredulidade: Lc 24.38;

c) Discussão insensata: Lc 9.46-47; Rm 14.1;

d) Pensamentos nulos: Rm 1.21; 1Co 3.21;

e) Animosidade: 1Tm 2.8.

A palavra descreve disputas e debates inúteis e até mal intencionados, que engendram dúvidas e vacilações. Paulo diz que a obediência cristã deve ser serena, sem o desejo de lançar dúvidas sobre aquilo que é claro. Calvino entendia que “onde os homens amam a disputa, estejamos plenamente certos de que Deus não está reinando ali.”[435]

A verdade é que muitas vezes nós perdemos muito tempo com especulações e discussões estéreis que não conduzem a nada, exceto à desobediência. Stagg interpreta: “Paulo queria que os filipenses estivessem livres tanto de murmuração particular uns contra os outros como de discussões públicas. A igreja não deve ser clube de fofoca nem uma sociedade de debates. Ambas as palavras, murmurações e contendas, descrevem aspectos de um temperamento de auto-afirmação, o oposto da mente de Cristo.”[436]

Enquanto que a murmuração é uma rebelião moral, as contendas se constituem em uma rebelião espiritual contra o Senhor.[437] O início do verso 14 não deve ser esquecido: “fazei tudo”. Logo, estes princípios são válidos para todas as áreas da nossa vida. O resultado do cumprimento dos preceitos e da forma como eles seriam cumpridos, redundaria: “Para que vos torneis...” (Fp 2.15). Neste texto, para descrever a meta comportamental do cristão, que já é filho de Deus (regeneração), mas que caminha em sua filiação (santificação), Paulo faz uso de três palavras:

a) Irrepreensível (15): (a)/memptoj)[438] inculpável, inatacável. Quando a palavra se aplica a pessoas, tem em geral o sentido de “pureza moral”, inculpabilidade diante da lei. (Lc 1.6; Fp 3.6). Portanto, esta palavra descreve a postura do cristão no mundo. Ele deve estar acima de qualquer suspeita; ninguém tem de que o acusar.

Paulo orou nesse sentido em relação aos tessalonicenses: "O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo, sejam conservados íntegros e irrepreensíveis (a)me/mptwj)[439] na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (1Ts 5.23).

b) Sincero (15): (a)ke/raioj)[440] puro, simples, sem mistura, sem mescla, não adulterado, íntegro. A palavra é aplicada ao leite que não é misturado com água e, também, à pureza do metal. Descreve o que o cristão deve ser em si mesmo: puro, sincero, sem dissimulação, sem segundas intenções.

Jesus Cristo e o apóstolo Paulo recomendam que assim sejamos: “Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices (a)ke/raioj) como as pombas” (Mt 10.16). “Pois a vossa obediência é conhecida por todos; por isso me alegro a vosso respeito; e quero que sejais sábios para o bem e símplices (a)ke/raioj) para o mal” (Rm 16.19).

c) Inculpável (15): (a)/mwmoj)[441] sem mancha, imaculado, sem nódoa, inocente. Essa palavra, comum no ritual judaico, era empregada para indicar os animais usados para o sacrifício; eles não podiam ter defeito. (Ex 29.1; Lv 1.3,10; 3.1,6).[442] Esta palavra descreve uma pureza ética; a idéia predominante é a ausência de qualquer coisa que se constituiria em corrupção diante de Deus. Ela denota, portanto, o que o cristão deve ser diante de Deus. Esta palavra concebe toda a vida humana – em suas multifárias dimensões –, como uma oferenda a Deus.

Fomos eleitos na eternidade para vivermos deste modo: “Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis (a)/mwmoj) perante ele” (Ef 1.4). A nossa reconciliação teve também esse propósito: “....vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis (a)/mwmoj) e irrepreensíveis” (Cl 1.22).

As Escrituras declaram que foi assim que Jesus Cristo Se ofereceu vicariamente por nós: “Muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula (a)/mwmoj) a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!” (Hb 9.14). “Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito (a)/mwmoj) e sem mácula, o sangue de Cristo” (1Pe 1.18-19).

O nosso consolo é que Deus pelo Seu poder nos preservará assim para o encontro com o Senhor Jesus: “... Aquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados (a)/mwmoj) diante da sua glória” (Jd 24).

Se dependesse unicamente de nossos poderes, diante da glória de Deus jamais a Igreja poderia ser vista como imaculada, no entanto, é Deus mesmo Quem nos apresentará assim em Cristo. Deus nos preserva intocáveis, para que possamos ser apresentados diante do Senhor Jesus, na manifestação da Sua glória. Ninguém tem do que nos acusar; fomos justificados por Cristo (Rm 8.31,33).

Todo o viver da Igreja é “no meio de uma geração pervertida (Skolio/j) e corrupta(Diastre/fw)” (15)

a) Pervertida: (Skolio/j),[443] Sentido literal: “torto”, “encurvado”. Sentido figurado: perverso, malvado, desonesto, inescrupuloso.

b) Corrupta: (Diastre/fw),[444] Sentido literal: “entortar”. Sentido figurado: Pervertido, depravado, distorcido, dividido. Denota uma situação anormal.

Os filipenses deveriam ter uma vida singular no meio de uma sociedade dissimulante, com um ética tortuosa e, por isso mesmo, perversa. Esse contraste de comportamento evidenciaria a diferença da igreja: “na qual resplandeceis como luzeiros (fwsth/r) no mundo” (15). Fwsth/r,[445] estrela, esplendor, radiância, brilho, luminário. O tempo presente indica a ação contínua. A palavra originalmente está associada ao brilho do sol (Ap 22.5: à luz das lâmpadas (Lc 8.6; 11.33; 15.8; At 16.29), ao calor da fogueira (Mc 14.54; Lc 22.56).[446]

Paulo diz então, que o nosso comportamento deve refletir como estrelas no firmamento (Gn 1.14). O mundo jaz nas trevas; hoje nós estamos na luz, porque Cristo nos resgatou: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Cl 1.13). Somos filhos da luz: “Vós todos sois filhos da luz (??????) e filhos do dia; nós não somos da noite, nem das trevas” (1Ts 5.5)

Se somos filhos da luz, devemos andar como tais: “Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz (????)? no Senhor; andai como filhos da luz????????? porque o fruto da luz ?????????consiste em toda bondade, e justiça, e verdade” (Ef 5.8-9). É nosso dever, resultante de nossa nova natureza, brilhar no mundo apontando como um sinal luminoso o caminho de Cristo: A Igreja tem uma responsabilidade missionária para com o mundo: “Vós sois a luz ???????do mundo. (...) brilhe também a vossa luz??????? diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.14,16). “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (????)” (1Pe 2.9).

Os filipenses, portanto, deveriam continuar incansavelmente sendo as “grandes luzes” no meio daquela geração pervertida e corrompida. A Igreja como a comunidade dos filhos de Deus, é conclamada a viver de forma distinta, refletindo no meio de uma geração pervertida e alienada de Deus a glória do Seu Senhor (Mt 5.14-16; Jo 17.10; 2 Ts 1.10-12/Dt 32.5). “Como as estrelas espantam a escuridão física, assim os crentes afugentam as trevas espirituais e morais. Como as estrelas iluminam o firmamento, assim os crentes alumiam os corações e vida dos homens.”[447]

***

Spurgeon (1834-1892) faz uma relevante pergunta: "De que maneira, pois, as pessoas podem manifestar gratidão para com Aquele que se ofereceu em sacrifício a não ser pela santificação?" À qual responde: "Agora, motivados pelo sacrifício redentor, somos avivados para o zelo intenso e a devoção."[448]

3) Comunidade Católica:

A palavra “católico”, é uma transliteração do grego kaqoliko/j (katholikós), que é traduzida por “universal”, “geral”. O termo grego é constituído de duas palavras: kaqo/ (kathó), que significa “à medida em que”, “segundo” e, O(/loj (hólos), que significa, “todo”, “inteiro”, “completo”. A palavra “católico” só ocorre uma vez no Novo Testamento e, mesmo assim, na forma adverbial, acompanhada de um advérbio de negação, sendo traduzida por “absolutamente não” (At 4.18).

O termo “católico” dispunha de grande emprego na literatura secular.[449] No entanto, o primeiro homem a usar a palavra “católica” para se referir à Igreja, foi Inácio de Antioquia (30-110 AD), na sua carta à Igreja de Esmirna, escrita por volta do ano 110, quando diz: “Onde quer que se apresente o bispo, ali também esteja a comunidade, assim como a presença de Cristo Jesus também nos assegura a presença da Igreja católica.”[450] Aqui, Inácio designa de católica a Igreja universal, representada em cada uma das igrejas locais.[451] Posteriormente, por volta do ano 155 AD., encontramos a mesma expressão na Carta Circular da Igreja de Esmirna, redigida por um escritor anônimo, que conta como foi o martírio de Policarpo, bispo de Esmirna. Na introdução ele escreve: “A Igreja de Deus estabelecida em Esmirna à Igreja de Deus estabelecida em Filomélio e às Igrejas de todos os lugares em que são partes da Igreja santa e católica....”.[452] A expressão “católica”, só é encontrada no Credo a partir do ano 450 AD.[453]

Terminadas essas ligeiras observações terminológicas, analisemos alguns aspectos da catolicidade da Igreja.

3.1) Uma Só Igreja:

A Catolicidade da Igreja traz a certeza de que existe apenas uma única Igreja de Cristo. Cristo não está dividido; Ele tem somente um corpo; por isso mesmo, só há uma Igreja de Cristo.

Quando um grupo ou denominação advoga para si a catolicidade, está incorrendo num equívoco de termos e, ao mesmo tempo, está implicitamente dizendo que as outras denominações não fazem parte da Igreja de Cristo. Assim sendo, a designação “Igreja Católica Romana”, é uma impropriedade terminológica que se torna ainda mais visível em sua teologia que, em muitíssimos aspectos, está divorciada da Palavra de Deus. (Vd. Ef 1.20-23; 5.25-27).

3.2) Universalidade da Graça:

A Igreja é católica porque a oferta de salvação é para todos os homens. Todos os homens de todos os povos que responderem com fé ao anúncio das Boas Novas de salvação, serão salvos. A Igreja de Cristo congrega pessoas de todas as nações, de raças diferentes, dialetos variados e condições sociais díspares.

Com isso, não estamos pretendendo dizer que, para que a Igreja seja católica, precisa ter crentes de todas as regiões; antes, o que estamos afirmando, é que a oferta da graça salvadora anunciada pela Igreja, é para todos os homens. O alcance da graça de Cristo assinala a vitória de Cristo sobre todas as barreiras geográficas, raciais, sociais, culturais e temporais (Gl 3.28; Ef 2.18; Cl 3.11). Não há barreiras para a graça!

Shakespeare (1564-1616), na tragédia Romeu e Julieta, coloca nos lábios de Romeu, as seguintes palavras dirigidas à Julieta: “Os limites de pedra não servem de empecilho para o amor.”[454]

A Palavra de Deus nos mostra que o homem longe de Deus permanece morto espiritualmente, com um coração empedernido para as realidades espirituais. A Escritura também nos diz que “Deus é plenitude de vida e plenitude de amor”[455] e, que, com Seu gracioso poder, Ele transforma o coração de pedra do homem, dando-lhe um coração de carne: “Dar-vos-ei coração novo, e porei dentre em vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro em vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis” (Ez 36.26-27).

Deus, na plenitude do seu amor, através da História tem vencido os corações de pedra, empedernidos pela incredulidade, concedendo um novo coração ao Seu povo. Os corações de pedra não servem de obstáculo para o amor gracioso de Deus.

3.3) Unidade entre a Igreja Militante e a Triunfante:

Em Teologia, costumamos chamar de Igreja Triunfante aquela que é constituída pelos irmãos que já partiram desta vida, se encontrando na presença do Senhor. Denominamos de Igreja Militante aquela que é formada por todos aqueles que crêem em Cristo e, que continuam nesta vida ativos contra o pecado, o mundo e Satanás.

A Segunda Confissão Helvética (1566), no capítulo XVII, faz a seguinte distinção:

“Uma é chamada a Igreja Militante e a outra a Igreja Triunfante. A primeira ainda milita na terra e luta contra a carne, o mundo e o Diabo, que é o príncipe deste mundo, e contra o pecado e a morte. A outra, já deu baixa e triunfa no céu depois de ter vencido esses inimigos, e exulta diante do Senhor. Entretanto, essas duas igrejas têm comunhão e união uma com a outra”. (Destaque meu).

Os heróis da fé que já partiram desta vida, são espectadores, enquanto que nós, que continuamos nesta peregrinação terrena, estamos vivendo numa antítese ativa contra os valores e práticas deste mundo. “Para a Igreja que agora vive e luta, tais testemunhas são herança preciosa e elemento de ajuda e encorajamento”.[456] (Vd. 2Tm 4.7-8; Fp 1.21-26; Hb 12.1-3/Hb 11.1-40).

Há uma ligação entre nós e os nossos irmãos que já morreram. Todos pertencemos à mesma Igreja, fomos alcançados pela mesma graça, tendo o mesmo dom da fé. Desta forma, a Igreja é católica porque é composta por todos aqueles que creram; os fiéis ao Senhor de todas as eras, quer já tenham morrido, quer estejam entre nós, ainda vivos. Um dia, todos nós nos encontraremos, nos constituindo no evidente testemunho da catolicidade da Igreja de Cristo, que é o Seu Corpo, o qual na era presente, atinge o céu e a terra. Agora, então, como Igreja Militante, “....visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus....” (Hb 12.1-2). Que Deus nos ajude, amém!

4) Comunidade Confessional:

A Igreja é a comunidade dos crentes em Cristo; daqueles que responderam com fé ao chamado de Deus, confessando, pelo Espírito, a Jesus Cristo como seu Senhor (Rm 10.9-10/1Co 12.3). Não existe Igreja sem esta confissão.

A Igreja tem um sistema de doutrina no qual crê. À Igreja foi confiada a Palavra de Deus, a qual ela deve preservar em seus ensinamentos e prática (Rm 3.2; 1Tm 3.15). Cabe à Igreja a responsabilidade de ensinar a sã doutrina, sustentando-a em todas as circunstâncias. A fidelidade à Palavra é de importância capital em nossa confissão. (At 2.42; 1Co 15.1-4; 1Tm 4.16; 2Tm 4.2). Esta confissão tem implicações indissolúveis com a sua ética. A fé cristã não é algo apenas de assentimento intelectual descompromissado, antes é um envolvimento do homem todo, passando pelo intelecto, pelas emoções e pela vontade. Por isso, a doutrina bíblica tem implicação direta com a nossa comunhão com Deus e com o nosso relacionamento com os homens. "Toda a doutrina cristã visa levar, e foi destinada a levar a um bom resultado prático. (...) A doutrina visa levar-nos a Deus, e a isso foi destinada. Seu propósito é ser prática. (...) A nossa vida cristã nunca será rica, se não conhecermos e não aprendermos a doutrina."[457]

Uma doutrina para a qual a Igreja deve estar sempre atenta, é a da Inspiração e Inerrância das Escrituras. Satanás ataca de modo contundente e efetivo a confiança na Palavra de Deus.

Entendemos a inspiração, como sendo a influência sobrenatural do Espírito de Deus sobre os homens separados por Ele mesmo, a fim de registrarem de forma inerrante e suficiente toda a vontade revelada de Deus, constituindo este registro na única fonte e norma de todo o conhecimento cristão (2Tm 3.16; 2Pe 1.20,21).[458]

É justamente devido ao fato de muitos cristãos terem negado de modo confessional e/ou vivencial a inspiração e a inerrância das Escrituras, que tem havido tantas heresias em toda a história do Cristianismo. Este desvio teológico, acerca destas doutrinas, tem contribuído de forma acentuada, para que os homens não mais discirnam a Palavra de Deus e, por isso, não possam usufruir da Sua operação eficaz levada a efeito pelo Espírito (Cf. 1Ts 2.13/Jo 17.17).

No ato evangelizador da Igreja, ela prega a Palavra de Deus, conforme a ordem divina expressa nas Escrituras; fala da salvação eterna oferecida por Cristo, conforme as Escrituras; proclama as perfeições de Deus, conforme as Escrituras... Ora, se a Igreja não tem certeza da fidedignidade do que ensina, como então, poderá testemunhar de forma honesta?

Uma Igreja que não aceite a inspiração e a inerrância bíblica, não poderá ser uma igreja missionária.[459] Como poderemos pregar a Palavra se não estivermos confiantes do sentido exato do que está sendo dito? Como evangelizar se nós mesmos não temos certeza, se o que falamos procede da Palavra de Deus ou, está embasado numa falácia?

Billy Graham, em 1974, no Congresso de Lausanne, na Suíça, afirmou corretamente: “Se há uma coisa que a história da Igreja nos deveria ensinar, é a importância de um evangelismo teológico derivado das Escrituras.”[460]

Neste sentido, encontramos a convicção de Paulo, o grande missionário, de que a Palavra de Deus é fiel; por isso, ele a ensinava com autoridade (1Tm 1.15; 4.9/2Tm 4.6-8).

A grandiosidade da pregação consiste basicamente, não nos recursos de retórica (os quais certamente devem ser buscados), mas em sua pureza, em sua fidelidade à Palavra.[461] Como bem disse Charles H. Spurgeon (1834-1892), “Se o que pregarem não for a verdade, Deus não estará aí.”[462] Assim sendo, a pregação grandiosa é bíblica. Pois bem, se eu não creio na inspiração e inerrância da Bíblia, certamente, poderei ter consciência da biblicidade da minha pregação (basta que pregue o que está escrito), contudo, como poderei ter certeza da veracidade daquilo que prego, visto que neste caso, ser bíblico não é a mesma coisa que ser inerrante e por isso verdadeiro? Se destruo os fundamentos, cai todo o edifício.

Creio que Satanás objetivando esmorecer o ímpeto evangelístico da Igreja, tem usado deste artifício: minar a doutrina da inspiração e inerrância das Escrituras, a fim de que a Igreja perca a compreensão de sua própria natureza e, assim, substitua a pregação evangélica por discursos éticos, políticos e filosóficos.[463] Aliás, a Escritura sempre foi um dos alvos prediletos de Satanás (Vd. Gn 3.1-5; Mt 4.3,6,8,9; 2Co 4.3,4). Entretanto, a Igreja é chamada a proclamar com firmeza o Evangelho, conforme registrado na Bíblia e preservado pelo Espírito através dos séculos (2Tm 4.2).

A Igreja prega o Evangelho, consciente de que Ele é o poder de Deus para a salvação do pecador (Rm 1.16); por isso, recusar o Evangelho significa rejeitar o próprio Deus que nos fala (1Ts 4.8). Calvino, comentando Rm 1.16, diz que aqueles que “se retraem de ouvir a Palavra proclamada estão premeditadamente rejeitando o poder de Deus e repelindo de si a mão divina que pode libertá-los.”.[464] A Igreja proclama a Palavra, não as suas opiniões a respeito da Palavra, consciente que Deus age através das Escrituras, produzindo frutos de vida eterna (Rm 10.8-17; 1Co 1.21; 1Co 15.11; Cl 1.3-6; 1Ts 2.13-14). A Igreja por si só não produz vida, todavia ela recebeu a vida em Cristo (Jo 10.10), através da Sua Palavra vivificadora; deste modo, ela ensina a Palavra, para que pelo Espírito de Cristo, que atua mediante as Escrituras, os homens creiam e recebam vida abundante e eterna.

5) Comunidade Carismática:

“Os cristãos não só professam crer no Espírito Santo, mas são também os receptores de Seus dons.” – Charles Hodge.[465]

A Igreja é uma comunidade carismática porque todos os seus membros receberam dons (xa/risma) para o serviço de Deus na Igreja. Os dons concedidos pelo Espírito, longe de servirem para confusão ou vanglória, devem ser utilizados com humildade (1Co 4.7),[466]. para a edificação e aperfeiçoamento dos santos (1Co 12.1-31/Ef 4.11-14/Rm 12.3-8).[467] Calvino acertadamente diz que “se a igreja é edificada por Cristo, prescrever o modo como ela deve ser edificada é também prerrogativa dEle.”[468] Do mesmo modo acentua Kuyper (1837-1920): “Os carismata ou dons espirituais são os meios e o poder divinamente ordenados pelos quais o Rei habilita a Sua Igreja a realizar sua tarefa na terra.”[469] O Carisma tem sempre um fim social: a Igreja; a comunhão dos santos.[470] E também, como elemento de ajuda na proclamação do Evangelho (Hb 2.3-4).[471]

Calvino trabalha insistentemente com este princípio:

“As Escrituras exigem de nós e nos advertem a considerarmos que qualquer favor que obtenhamos do Senhor, o temos recebido com a condição de que o apliquemos em benefício comum da Igreja.

“Temos de compartilhar liberalmente e agradavelmente todos e cada um dos favores do Senhor com os demais, pois isto é a única coisa que os legitima.

“Todas as bênçãos de que gozamos são depósitos divinos que temos recebido com a condição de distribuí-los aos demais.”[472]

O Espírito é soberano na distribuição dos dons; eles não podem ser reivindicados (1Co 12.11,18), antes, devem ser recebidos como manifestação da graça de Deus e utilizados para a glória de Deus.

A Igreja é a comunidade formada pelo próprio Deus, sendo constituída por pessoas que tiveram e têm, pela graça de Deus, a fé salvadora depositada unicamente em Jesus Cristo.

“No Novo Testamento, ninguém vinha à Igreja simplesmente para ser salvo e feliz, mas para ter o privilégio de servir ao Senhor. E nós deveríamos ter diante de nós, o benefício que recebemos de servir e trabalhar na Igreja”, acentua Karl Barth (1886-1968).[473] Todos nós cristãos, recebemos do Senhor, talentos para servir nessa igreja; e os dons recebidos têm muito a ver com as habilidades com as quais nascemos, mas que na realidade, foram dadas também por Deus. “.... sejam quais forem os dons que possuamos, não devemos ensoberbecer-nos por causa deles, visto que eles nos põem sob as mais profundas obrigações para com Deus.”[474]

O que quero enfatizar, é que a raiz da palavra graça, é a mesma da palavra dom, no grego xa/rij, daí podermos falar da Igreja, como uma comunidade carismática, visto ser ela constituída daqueles que receberam a graça da fé e o dom para servir.

Mas, o que significa graça? Bem, podemos defini-la, operacionalmente, como um favor imerecido, manifestado livre e continuamente por Deus aos pecadores que se encontravam num estado de depravação e miséria espirituais, merecendo justo castigo pelos seus pecados (Rm 4.4/Rm 11.6; Ef 2.8,9).[475]

No capítulo 4 da Epístola aos Efésios, Paulo está tratando de modo especial da unidade da Igreja dentro da variedade de funções. Assim, está implícita a figura tão cara a Paulo, a da Igreja como Corpo de Cristo, mostrando que o segredo do bom funcionamento do corpo é a utilização de todas as suas partes. Organicamente, cada membro, por mais insignificante que nos possa parecer, tem um papel importante a desempenhar dentro do equilíbrio do todo. Certamente, existem diferenças de beleza e elegância entre nossos órgãos, todavia, todos são essenciais. Do mesmo modo, na Igreja de Cristo, ainda que haja diferenças entre nós, e não sejamos considerados pelos homens como dignos de algum valor, o fato é que todos somos essenciais no serviço do Reino: Devemos frisar no entanto, que não somos ontologicamente essenciais; antes, Deus, por graça nos tornou essenciais no Seu Reino e, por isso, agora o somos.

Assim, é Deus mesmo e não outro, Quem nos concede talentos para servi-Lo (Ef 4.7,11/1Co 12.11,18), portanto a nossa atitude de consciente e real humildade (1Co 4.7; 1Co 15.10), visto que Deus nos concedeu os talentos para o serviço do Reino: “A manifestação do Espírito é concedida a cada um, visando a um fim proveitoso” (1Co 12.7). Paulo continua: “Para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado (merimna/w = “preocupação”),[476] em favor uns dos outros” (1Co 12.25). “O Senhor nos colocou juntos na Igreja, e destinou cada um ao seu posto, de tal maneira que, sob a única Cabeça, venhamos a nos auxiliar uns aos outros. Lembremo-nos também de que tão diferentes dons nos têm sido concedidos para podermos servir ao Senhor humilde e despretensiosamente, e aplicar-nos ao avanço da glória daquele que nos tem dado tudo quanto temos.”[477] Deste modo, os talentos recebidos, foram-nos concedidos para que os usássemos para a edificação da Igreja, não para a disseminação de discórdias, ou para usar de nossa influência para dividir, denegrir, solapar ou mesmo para a nossa projeção pessoal: Deus não desperdiça os dons “por nada e nem os destina para que sirvam de espetáculo.”[478] Mas, para a edificação. O objetivo é claro: “Com vistas ao aperfeiçoamento (katartismo/j[479] = “preparar”, “equipar para o serviço”) dos santos” (Ef 4.12). Ainda que de passagem, deve ser acentuado que, “sempre que os homens são chamados por Deus, os dons são necessariamente conectados com os ofícios. Pois Deus não veste homens com máscara ao designá-los apóstolos ou pastores, e, sim, os supre com dons, sem os quais não têm eles como desincumbir-se adequadamente de seu ofício.”[480]

Observemos que estes ofícios (Ef 4.11), foram instituídos para o aperfeiçoamento dos santos a fim de que estes cumpram o seu serviço na Igreja; ou seja: o trabalho não é apenas pastoral ou dos Presbíteros Regentes e Diáconos, é também e fundamentalmente comunitário. Toda a Igreja é responsável: Lutero falou do Sacerdócio Universal dos Crentes; pois bem, este texto nos fala do ministério universal dos crentes. O carisma traz implicações de responsabilidade com a edificação de nossos irmãos. Na Igreja de Cristo não pode haver a divisão entre aqueles que trabalham e os que apenas ouvem comodamente... Todos somos chamados e capacitados ao trabalho cristão.[481]

Notemos também, que Paulo está dizendo que todos os membros da Igreja são santos. Isso aponta para o nosso privilégio (somos santificados em Cristo Jesus) e nossa responsabilidade (devemos progredir em santidade). Neste ponto, a Igreja sofre tremendamente, porque ela abandonou a sua realidade e a sua meta de santidade (separação) e cada vez mais intensamente se parece com o mundo: na sua forma de pensar, de falar, de sentir, de vestir e de fazer... Ao invés desse comportamento aprendido por osmose sugerir maturidade, é, na verdade, um sintoma de infantilidade crônica: temos com demasiada freqüência, falado, sentido e pensado como meninos; enquanto que o propósito de Deus para o Seu povo é o inverso: que pensemos, sintamos e falemos como pessoas maduras na fé (1Co 13.11/1Co 3.1-2; Hb 5.11-14; 2Pe 3.18). Paulo contrasta aqui os “meninos” (nh/pioj = “bebê”, “imaturo”, “criança pequena”) (Ef 4.14) com à “perfeição” (te/leioj “maduro”) (Ef 4.13). Calvino, comenta: “Crianças são aqueles que ainda não deram um passo no caminho do Senhor, senão que hesitam, que não determinaram ainda que rumo devem tomar, mas que se movem às vezes numa direção e às vezes noutra, sempre duvidosos, sempre ziguezagueando.”[482]

As crianças devido a sua ingenuidade, são mais influenciáveis, dadas à instabilidade. Os pagãos apresentam este comportamento, sendo conduzidos por qualquer nova doutrina. Em Listra, conduzidos por suas lendas,[483] pensaram que Paulo e Barnabé fossem Júpiter e Mercúrio, querendo a todo custo oferecer-lhes sacrifícios. Pouco depois, influenciados pelos judaizantes, apedrejaram a Paulo, deixando-o quase morto (At 14.8-20).

Paulo para descrever esta inconstância infantil, usa um termo náutico que se refere a uma pequena embarcação que, em mar aberto não consegue manter o curso certo (Kludwni/zomai = “ser arrastado, levado pelas ondas”)(Ef 4.14). Metaforicamente tem o sentido de “ser agitado mentalmente”. A idéia é a de andar em círculos, diante da variedade de ensinamentos. “Ele os compara com as palhas ou outros elementos leves, os quais são rodopiados pela força do vento a soprar em círculo ou em direções opostas.” [484]

Tomando as figuras usadas por Paulo, podemos observar que a criança gosta de entretenimento, novidade e indisciplina; se não tivermos firmeza doutrinária, se não estivermos ancorados na Palavra, seremos conduzidos de forma constante e sem direção. Este exemplo negativo, temos nos gálatas, aos quais, Paulo escreve: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho” (Gl 1.6). “Vós corríeis bem; quem vos impediu de continuardes a obedecer à verdade?” (Gl 5.7).

Em nossa imaturidade espiritual, já não separamos as coisas; antes dizíamos que tudo era sagrado, agora vivemos como se tudo fosse profano... e o pior é que estamos perfeitamente acomodados a isso, estamos bem à vontade, estamos em casa. A acomodação no pecado não indica a paz de Deus, antes, a morte de uma consciência supostamente cristã! A maturidade cristã impede-nos de cometer “macaquices espirituais”, de ficar pulando de um lado para o outro.

Retornando ao nosso objetivo, devemos enfatizar que a Igreja é uma comunidade carismática porque é constituída pelo povo redimido pela graça de Deus e, também, porque atua comunitariamente com os carismas concedidos por Deus para a edificação do Corpo de Cristo. (Vd. Ef. 4.13-16).

6) Comunidade Litúrgica:[485]

A nossa palavra “liturgia”, provém do grego, passando pelo latim. No grego, temos lh/i+ton[486] (“concernente ao povo ou à comunidade nacional”) & e)/rgon (“serviço”), tendo portanto, o sentido primário de “serviço público”. No grego antigo era empregado de várias formas, sendo porém o sentido cultual pouco freqüente.[487]

No Novo Testamento, leitourgi/a e seus cognatos que ali aparecem, leitourgo/j (“Ministro”, “Auxiliar”), leitourge/w (“Serviço Sagrado”) e leitourgiko/j (“Ministrador”) ocorrem cerca de 15 vezes, tendo uma relação direta ou indireta com o serviço religioso.

Resumindo, podemos dizer que este conjunto de palavras têm três significados especiais no NT., a saber:

a) Serviço de um ser humano aos outros: Rm 15.27; 2Co 9.12; Fp 2.17,30.

b) Serviço especificamente religioso: Lc 1.23; At 13.2; Hb 8.2,6.

c) Aquele que está a serviço do seu Senhor: Rm 13.6; 15.16.

Liturgia significa serviço prestado a Deus.[488] A Igreja como povo de Deus encontra a sua realização no ato de Culto, no qual revela publicamente o significado de Deus para a sua vida, tornando patente o que Deus é, fez e faz. O culto é um testemunho solene e público das "Virtudes de Deus" (1Pe 2.9-10; Hb 13.15).

O culto cristão é a expressão da alma que conhece a Deus e, que deseja dialogar com o seu Criador; mesmo que este diálogo, por alguns instantes, consista num monólogo edificante no qual Deus nos fale através da Palavra. A seguinte definição, expressa bem esta realidade: "Em essência o culto é um encontro de Deus com Seu povo no qual se estabelece um diálogo: Deus fala à Sua Igreja através de Sua Palavra e a Congregação expressa sua adoração ao Senhor mediante as orações, oferendas e hinos."[489]

A Igreja em sua peregrinação terrena, apresenta-se ao Seu Senhor como oferta voluntária e total, na qual está expressa uma atitude de adoração, gratidão e consagração: Adoração pelo que o Senhor é; Gratidão pelo que Deus fez e continua fazendo; Consagração, como testemunho de que o Deus adorado é o seu Deus. Assim, a Igreja vivencia a sua natureza litúrgica (Rm 12.1). "O culto é a essência e o coroamento da atividade cristã".[490] Por isso, é que podemos fazer coro à declaração de que, "Adorar a Deus é a nossa mais alta atividade pois coloca o espírito humano em comunicação com Deus eterno. Atividade tão essencial que é o próprio Deus quem busca adoradores".[491]

O culto cristão não é uma ação humana, mas sim, uma resposta; uma atitude responsiva à ação de Deus que primeiro veio ao homem, revelando-Se e capacitando-o a responder-Lhe. É Deus Quem procura seus adoradores (Jo 4.23).[492] Deus não procura líderes, “facilitadores”, mestres ou discípulos, mas sim, adoradores. “A finalidade ou o propósito do evangelismo e de missões é criar um povo para adorar a Deus.”[493] A adorar é a nossa mais importante e permanente atividade, tanto aqui como na eternidade. A adoração correta ao verdadeiro Deus, é uma atitude de fé e obediência na qual, o adorador se prostra diante do Deus que o atraiu com a Sua graça irresistível.[494] Neste ato de culto, o homem confessa sua dependência de Deus, professando a sua fé em resposta à Palavra criadora de Deus (Jo 1.1; Rm 10.17; Tg 1.18; 1Pe 1.23). A Palavra de Deus é criadora porque gera a fé e, todas as vezes que Deus fala ao homem, algo de novo acontece, o homem não pode ser mais o mesmo, ele não pode mais ignorar este acontecimento (At 4.20). E isto, se expressa em culto. Deus fala e o homem adora; Deus Se mostra, o homem contempla; Deus abençoa, o homem louva... "De longe se me deixou ver o Senhor, dizendo: Com amor eterno eu te amei, por isso com benignidade te atraí" (Jr 31.3).

Quando nos reunimos para cultuar a Deus, exercitamos o Sacerdócio Universal dos Crentes, que só se torna possível através do sacrifício expiatório de Jesus Cristo (Vejam-se: Hb 7.22-28; 9.12; 10.19-25/6.19-20). Ele foi o nosso precursor à presença de Deus (Jo 14.2-3/Hb 6.19-20; Rm 5.2; Hb 4.16).

No culto público nós exercitamos o Sacerdócio Universal dos Crentes da seguinte forma:

1) Falamos com Deus expressando a nossa fé através dos cânticos, das orações e dos Credos.

2) Ouvimos e somos alimentados pela Palavra de Deus a qual é lida e exposta.

3) Compartilhamos a nossa fé através do testemunho uníssono daquilo que cremos e que Deus tem feito.

Por isso, já no Novo Testamento, a aqueles que eram tentados a se ausentarem do culto por motivos irrelevantes, o escritor da Epístola aos Hebreus, recomendava: “Não deixemos de congregar-nos como é costume de alguns; antes, façamos admoestações, e tanto mais quanto vedes que o dia se aproxima” (Hb 10.25).

A nossa freqüência aos cultos deve pressupor um desejo de adorar, aprender e servir a Deus. Um bom resumo do sentimento que deve nortear a nossa participação no culto, encontramos em Hb 10.22-25. Por outro lado, como bem observou Warfield (1851-1921): “Nenhum homem pode excluir-se dos cultos regulares da comunidade à qual pertence, sem sérios prejuízos para sua vida espiritual pessoal.”[495] E: “.... nem o indivíduo mais santo pode se dar ao luxo de dispensar as formas regulares de devoção, e que o culto público regular da igreja, apesar de todas as suas imperfeições e problemas localizados, é a provisão divina para o sustento da alma.”[496]

7) Comunidade Proclamadora do Evangelho:

A Missão da Igreja inspira-se e fundamenta-se no exemplo Trinitário. O Pai envia o Seu Filho (Jo 3.16), ambos enviam o Espírito à Igreja (Jo 14.26; 15.26; Gl 4.6), habitando em nossos corações (Rm 8.9-11,14-16); e nós, somos enviados pelo Filho, sendo guiados pelo Espírito de Cristo (Jo 17.18; 20.21).

Calvino, comentando Gálatas 4.26, diz: “.... A Igreja enche o mundo todo e é peregrina sobre a terra. (...) Ela tem sua origem na graça celestial. Pois os filhos de Deus nascem, não da carne e do sangue, mas pelo poder do Espírito.” Continua: “Eis a razão por que a Igreja é chamada a mãe dos crentes.[497] E, indubitavelmente, aquele que se recusa a ser filho da Igreja debalde deseja ter a Deus como seu Pai. Pois é somente através do ministério da Igreja que Deus gera filhos para si e os educa até que atravessem a adolescência e alcancem a maturidade.”[498] A peregrinação da Igreja tem um sentido missionário (“Até os confins da terra”) e escatológico (“Até a consumação do século”): Enquanto ela caminha, confronta os homens com a mensagem do Evangelho, conclamando a todos ao arrependimento e fé em Cristo Jesus até que Ele volte.

Nós somos o meio ordinário estabelecido por Deus para que o mundo ouça a mensagem do Evangelho. Jesus Cristo confiou à Igreja – como já mencionamos: prioritariamente como organização, ainda que não exclusivamente[499] –, a tarefa evangelística. A Igreja é “o agente por excelência para a evangelização.”[500] Nenhum homem será salvo fora de Cristo, mas para que isto aconteça ele tem que conhecer o Evangelho da Graça. Como crerão se não houver quem pregue? (Rm 10.13-15). “O evangelismo pelo qual Deus leva os seus eleitos à fé é um elo essencial na corrente dos propósitos divinos.”[501]

A Igreja de Deus é identificada e caracterizada pela genuína pregação da Palavra.[502] A Igreja na sua proclamação revela quem é: nós somos identificados não simplesmente pelo que dizemos a nosso respeito, mas, principal e fundamentalmente pelo que revelamos em nossos atos. A Igreja revela-se como povo de Deus no seu testemunho a respeito de Deus e da Sua Glória manifestada em Cristo, bem como na declaração do pecado humano e da necessidade de reconciliação com Deus. A Igreja não é a mensagem; antes é o meio de proclamação; todavia, neste ato de proclamação das virtudes de Deus, ela torna patente a Sua identidade divina, demonstrando o poder daquilo que ela testemunha, visto ser a Igreja o monumento da Graça e Misericórdia de Deus, constituído a partir da Palavra criadora de Deus. É justamente por isso, que “a pregação é uma tarefa que somente ela pode realizar”.[503]

“Somente quando a Palavra de Deus é pregada, de acordo com as Escrituras, ali é ouvida a voz do Bom Pastor, chamando Suas ovelhas pelo nome. (...) Quando a Palavra não é pregada, ali Cristo não fala Sua Palavra de salvação, e ali não está reunida a Igreja.”[504]

O Espírito capacita a Igreja a cumprir o que Jesus lhe ordenou. Isto Ele faz concedendo-lhe poder (At 1.8/4.8-13, 31). Somente o Espírito pode capacitar a Igreja a desempenhar de forma eficaz o Seu Ministério. O texto de At 1.8, resume bem o conte

údo do Livro de Atos:[505] A Igreja testemunha no poder do Espírito de Jesus (At 16.7). “O poder do Espírito Santo é Sua capacidade de ligar os homens ao Cristo ressurreto de tal maneira que sejam capacitados a representá-Lo. Não há nenhuma bênção mais sublime.”[506] Com bem observa Stott, do mesmo modo que o Espírito veio sobre Jesus equipando-O para o Seu Ministério público, o Espírito deveria vir sobre o Seu povo capacitando-o para o seu serviço.[507] Por isso que, “sem o poder do Espírito Santo a evangelização é impossível.”[508] No Pentecoste se concretiza historicamente a capacitação da Igreja para a sua missão no mundo; o Pentecoste revela o caráter missionário da Igreja, tornando cada crente uma testemunha de Cristo. “Pentecoste significa evangelismo”.[509] E isto, no poder do Espírito, derramado de forma sobrenatural. “O dia de Pentecostes foi sem dúvida um momento extraordinário de transição em toda a história da redenção registrada nas Escrituras. Foi um dia singular na história do mundo, porque naquele dia o Espírito Santo começou a atuar entre o povo de Deus com o poder da nova aliança.”[510]

A Igreja é uma testemunha comissionada pelo próprio Deus, para narrar os Seus atos Gloriosos e Salvadores. A igreja é o meio ordinário de Deus para esta tarefa. Assim, a sua mensagem não foi recebida de terceiros, mas sim, diretamente de Deus, através da Palavra do Espírito, registrada nas Sagradas Escrituras. A Igreja declara ao mundo, o “Evangelho do Reino”, visto e experimentado por ela em sua cotidianidade. “A Igreja e o evangelho são inseparáveis. (...) A Igreja é tanto o fruto como o agente do evangelho, visto que por meio do evangelho a igreja se desenvolve e por meio desta se propaga aquele.”[511] O testemunho da Igreja é resultado de uma experiência pessoal: O Espírito dá testemunho do Filho, porque procede do Pai e do Filho (Jo 14.26; 15.26; Gl 4.6); nós damos testemunho do Pai, do Filho e do Espírito, porque Os conhecemos e temos o Espírito em nós (Jo 15.26,27; 14.23/Rm 8.9). Notemos, contudo, que a experiência da Igreja não se torna a base da sua proclamação; ela anuncia não as suas experiências mas, a Palavra de Deus. A nossa tarefa é ensinar o Evangelho tal qual registrado nas Escrituras, em submissão ao Espírito que nos dá compreensão na e através da Palavra (Sl 119.18).

Encontramos exemplos deste testemunho em Estevão, que falava cheio do Espírito Santo (At 6.10; 7.55); em Paulo, que após receber o Espírito no ato da sua conversão, passou a pregar que Jesus era o Filho de Deus (At 9.17-20; 13.9-12) e, também, em Barnabé, no seu breve, porém profícuo ministério em Antioquia (At 11.21-25).

O poder do Espírito não significa simplesmente uma vitória sobre as dificuldades, antes, ele nos fala do triunfo, mesmo quando a derrota nos parece evidente. Assim, Estevão testemunhou no poder do Espírito e foi apedrejado; Paulo cumpriu seu ministério sob a direção do Espírito e foi preso e martirizado. Estes exemplos que não são isolados, nos falam de uma aparente derrota e frustração, todavia, é apenas uma falsa percepção dos fatos. O poder do Espírito é a capacitação para levar adiante a mensagem de Cristo, mesmo que isto nos custe o mais alto preço do testemunho, que é o martírio. A Igreja no poder do Espírito declara solene e corajosamente: “Nós não podemos deixar de falar das cousas que vimos e ouvimos” (At 4.20). “Antes importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29). “Estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém, pelo nome do Senhor Jesus” (At 21.13).

A Igreja tem, com muita freqüência, se distanciado daquilo que a caracteriza: a pregação da Palavra:[512] O ensino da verdade[513] e o genuíno culto ao Deus verdadeiro. Ela tem feito discursos políticos, sociais, ecológicos, etc.; todavia, tem se esquecido de sua prioridade essencial: pregar a Palavra a fim de que os homens se arrependam e sejam batizados, ingressando assim, na Igreja. Com isto, não estamos defendendo um total distanciamento da Igreja do que ocorre na História, pelo contrário, a Igreja deve agir de forma evidente e efetiva na História; acontece, que ela age de forma eficaz não com discursos rotineiros a respeito da pobreza, da violência, e do desmatamento, mas sim, na proclamação do Evangelho de Cristo, que é o poder de Deus para a transformação de todos os homens que crêem (Rm 1.16-17).[514] A recomendação bíblica é: "Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina (didaskali/a); pelo contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em todas as cousas, suporta as aflições, faze o trabalho de evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério" (2Tm 4.2-5).

O Rev. Boanerges Ribeiro, com a sua costumeira acuidade, assevera:

“A Igreja declara que a relação se restabeleceu entre Deus e o homem, pela Palavra criadora de Deus. Eis uma declaração que inquieta o mundo; eis uma declaração que provoca a fúria homicida do mundo em agonia, contra a Igreja imortal, o que tantas vezes faz da testemunha, mártir; e da Revelação a João, a tela de horrores apocalípticos, onde a besta desesperada tenta em vão destruir a Igreja. Mas a Igreja há de dar testemunho: não pode fugir à vocação de seu ser.

“A Igreja é a comunidade de seres humanos organizada pela presença permanente do Espírito Santo (...) conservada no mundo para ser testemunha de Cristo por meio da Palavra de Deus.”[515]

Por isso, a Igreja como testemunha, não tem o direito, nem realmente deseja, optar se deve ou não dar o seu testemunho nem, a quem deve testemunhar: Ela de fato, não pode se calar, do mesmo modo que não podemos deixar de respirar... A Igreja não pode deixar de dar testemunho, visto que ela “não pode fugir à vocação do seu próprio ser”.[516] (At 1.8; 4.8-13; 6.10/7.55; 9.17-20; 11.21.25; 13.9-12).

Como Igreja, somos levados sob a direção do Espírito, de forma irreversível, a testemunhar sobre a realidade de Cristo e do poder da Sua graça. “Viver segundo a direção do Espírito é viver na força do Espírito (...). A única maneira pela qual podemos viver pela força do Espírito é mantendo comunhão com Ele.”[517]

A Igreja de Deus, no seu ato essencial de proclamar as virtudes de Deus (1Pe 2.9-10), tem como objetivo final a Glória de Deus. (Rm 11.36; 1Co 10.31). A Evangelização visa glorificar a Deus, através do anúncio da natureza de Deus e de Sua obra eficaz, efetivada em Cristo Jesus. Ousamos dizer, que a Evangelização tem fundamentalmente como alvo final, glorificar a Deus; e Deus é glorificado através da salvação de Seu povo (Is 43.7; Jo 17.6-26; Ef 1.7/2Ts 1.10-12) e a conseqüente confissão de Sua soberania (Fp 2.5-11). Quando evangelizamos estamos revelando o nosso amor a Deus e ao nosso próximo, glorificando a Deus, sendo-Lhe obedientes na vivência de nossa natureza de proclamação e serviço. “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama” (Jo 14.21). Nós glorificamos a Deus sendo-Lhe obediente (Jo 17.4).

Cito aqui as contundentes palavras de R.B. Kuiper:

“A fé calvinista propõe o mais elevado objetivo da evangelização. E não é a salvação de almas. Nem o crescimento da Igreja de Cristo. Tampouco é a vinda do reino de Cristo. Todos estes objetivos da evangelização são importantes, inestimavelmente importantes. Mas são apenas meios para a consecução do fim para o qual todas as coisas foram trazidas à existência e continuam existindo, para o qual Deus faz tudo o que faz, no qual a história toda culminará um dia, e no qual estão focalizadas todas as eras da eternidade sem fim – a glória de Deus. Em resumo, de todos os cristãos, o calvinista tem de ser o mais zeloso pela evangelização. É o que ele será, se for verdadeiramente calvinista – e não só de nome.”[518]

b) A Relevância das Escrituras no Sistema Reformado:

“O uso de modas, na área do pensamento, tem por objetivo distrair a atenção dos homens para que não percebam o real perigo no qual se encontram.” – John F. MacArthur, Jr.[519]

“A aqueles que pensam que os filósofos têm um sistema melhor de conduta, lhes pediria que nos mostrem um plano mais excelente que obedecer e seguir a Cristo.” – John Calvin.[520]

Introdução:

Durante toda a história a Palavra de Deus foi alvo dos mais diversos ataques: entre eles, o mais comum é a suposição de sua falibilidade. No entanto, um ataque mais sutil que também permeou boa parte da História da Igreja, é a concepção ainda que muitas vezes velada, de que as Escrituras não são suficientes para nos dirigir e orientar.

Melanchton (1497-1560) e Lutero (1483-1546) depararam-se explicitamente com esse problema bem no início da Reforma Protestante. Por volta de 1520, na pequena, porém, próspera e culta cidade alemã de Zwickau, surgiu um grupo de homens “iluminados” – chamados por Lutero de “profetas de Zwickau”[521] –, que alegava ter revelações especiais vindas diretamente de Deus, entendendo ter sido chamado por Deus para “completar a Reforma”. A sua religião partia sempre de uma suposta revelação interior do Espírito. Acreditavam que o fim dos tempos estava próximo – os ímpios seriam exterminados –, e que por isso, não era necessário estudar teologia visto que o Espírito estaria inspirando os pobres e ignorantes. Combatiam também o batismo infantil. Assim pensando, esses homens diziam: “De que vale aderir assim tão estritamente à Bíblia? A Bíblia! Sempre a Bíblia! Poderá a Bíblia nos fazer sermão? Será suficiente para a nossa instrução? Se Deus tivesse tencionado ensinar-nos, por meio de um livro, não nos teria mandado do céu, uma Bíblia? Somente pelo Espírito é que poderemos ser iluminados. O próprio Deus fala dentro de nós. Deus em pessoa nos revela aquilo que devemos fazer e aquilo que devemos pregar.”[522]

Um certo alfaiate, Nícolas Storck, escolheu doze apóstolos e setenta e dois discípulos, declarando que finalmente tinham sido devolvidos à Igreja os profetas e apóstolos.[523] Ele, acompanhado de Marcos Stübner e Marcos Tomás foi à Wittenberg (27/12/1521) – que já enfrentava tumultos liderados por Andreas B. von Carlstadt (c. 1477-1541) e Gabriel Zwilling (c. 1487-1558) –, pregar o que considerava ser a verdadeira religião cristã, contribuindo grandemente para a agitação daquela cidade. Stübner, antigo aluno de Wittenberg, justamente por ter melhor preparo, foi comissionado a representá-los. Melanchton que conversou com Stübner, interveio na questão, ainda que timidamente. Storck, mais inquieto, logo partiu de Wittenberg; Stübner, no entanto, permaneceu, realizando ali um intenso e eficaz trabalho proselitista; “era um momento crítico na história do cristianismo.”[524] Comentando os problemas suscitados pelos “espiritualistas”, o historiador D’aubigné (1794-1872) conclui: “A Reforma tinha visto surgir do seu próprio seio um inimigo mais tremendo do que papas e imperadores. Ela estava à beira do abismo.”[525] Daí ouvir-se em Wittenberg o clamor pelo auxílio de Lutero. E Lutero, consciente da necessidade de sua volta, abandonou a segurança de Warteburgo retornando à Wittenberg[526] a fim de colocar a cidade em ordem (1522), o que fez, com firmeza e espírito pastoral.[527] Mais tarde, Lutero escreveria: “Onde, porém, não se anuncia a Palavra, ali a espiritualidade será deteriorada.”[528]

Não nos iludamos, essa forma de misticismo ainda está presente na Igreja e, tem sido extremamente perniciosa para o povo de Deus, acarretando um desvio espiritual e teológico, deslocando o “eixo hermenêutico” da Palavra para a experiência mística, nos afastando assim, da Palavra e, consequentemente, do Deus da Palavra. O trágico é que justamente aqueles que supõem desfrutarem de maior “intimidade” com Deus, são os que patrocinam o distanciamento da Palavra revelada de Deus. Davi enfatiza: “A intimidade do Senhor é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança” (Sl 25.14). Portanto, a nossa intimidade com Deus revela-se em nosso apego à Sua Palavra, à Sua aliança. Nesse texto, Calvino faz uma aplicação bastante contextualizada: “... É uma ímpia e danosa invenção tentar privar o povo comum das Santas Escrituras, sob o pretexto de serem elas um mistério oculto, como se todos os que o temem de coração, seja qual for seu estado e condição em outros aspectos, não fossem expressamente chamados ao conhecimento da aliança de Deus.”[529]

Nós somos herdeiros dos princípios bíblicos da Reforma; para nós, como para os Reformadores, a Palavra de Deus é a fonte autoritativa de Deus para o nosso pensar, crer, sentir e agir: A Palavra de Deus nos é suficiente. Sob esta ótica, estudemos o assunto.

A Confissão de Westminster (1647)[530] – que juntamente com os Catecismos Maior e Breve, normalmente constituem os Símbolos de Fé das Igrejas Presbiterianas –, segundo nos parece, tem como pressuposto fundamental:

a) Que as Escrituras são inspiradas por Deus (CW., I.2,8) – Ele é o seu Autor (CW., I.4);

b) Tendo Deus as concedido "para serem a regra de fé e de prática" (CW., I.1-2); portanto,

c) Ela é "indispensável" para a vida cristã (CW., I.1), devendo ser lida e estudada "no temor de Deus" (CW., I.8). Por isso, a Igreja deve promover a sua tradução para todos os idiomas, a fim de que o homem possa, pela Palavra, conhecer a Deus, adorando-O de forma aceitável, bem como usufruir das bênçãos espirituais decorrentes da compreensão das Escrituras (CW., I.8). O objetivo do correto conhecimento de Deus não é a nossa satisfação pessoal e, também, não tem valor em si mesmo, a menos que nos conduza a honrá-Lhe.[531]

1. Autoridade Interna:

"A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu Autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de Deus." (CW. I.4).[532]

A autoridade da Bíblia é derivada do fato de ser Ela a Palavra de Deus; portanto o seu testemunho é interno e evidente, mesmo que os homens assim não creiam. Ela não depende do nosso testemunho para ter autoridade; ela é o que é! (1Ts 2.13; 2Tm 3.16; 2Pe 1.20,21/1Jo 5.9).

Não é a Igreja que autentica a Palavra por sua interpretação,[533] como a igreja romana sustentou em diversas ocasiões;[534] "um testemunho humano falível (como o da igreja) não pode moldar o fundamento da divina fé."[535] É a Bíblia que se autentica a si mesma como Palavra autoritativa de Deus e, é Ele mesmo Quem nos ilumina para que possamos interpretá-la corretamente (Sl 119.18). Por isso, o Espírito não pode ser separado da Palavra.[536] Somente pela operação divina poderemos reconhecer a Sua origem divina bem como compreendê-La salvadoramente. "A suprema prova da Escritura se estabelece reiteradamente da pessoa de Deus nela a falar."[537] Na Confissão Gaulesa (1559), redigida, primariamente por Calvino (1509-1564), no Capítulo IV diz:

"Nós cremos que os livros das Escrituras são canônicos, e a regra segura de nossa fé (Sl 19.9; 12.6), não tanto pelo comum acordo e consenso da Igreja, que pelo testemunho e persuasão interna do Santo Espírito...."

"... A nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela palavra e com a palavra testifica em nossos corações." (I.5).

"... Reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das cousas reveladas na palavra...." (I.6).[538]

Anglada resume bem este ponto, do seguinte modo: “O testemunho do Espírito não é uma nova luz no coração, mas a sua ação através da qual Ele abre os olhos de um pecador, permitindo-lhe reconhecer a verdade que lá estava, mas não podia ser vista por causa da sua cegueira espiritual.”[539]

Cabe a nós submeter o nosso juízo e entendimento à verdade de Deus conforme testemunhada pelo Espírito.[540]

A Palavra de Deus direcionada ao homem, revela a seriedade com que Deus nos trata: “Sempre que o Senhor se nos acerca com sua Palavra, Ele está tratando conosco da forma mais séria, com o fim de mover todos os nossos sentidos mais profundos. Portanto, não há parte de nossa alma que não receba sua influência.”[541]

2. Autoridade Hermenêutica:

A Bíblia apresenta a melhor interpretação a respeito dos seus ensinamentos!

"A regra infalível de interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros textos que falem mais claramente." (CW., I.9).

Nós não podemos criar uma suposta categoria científica a qual se torne a varinha de condão para a interpretação da Palavra. Os princípios hermenêuticos devem estar subordinados à esta verdade e, devem ser derivados, portanto, da própria Palavra: A harmonia do seu todo e das suas partes estabelecem uma unidade harmoniosa, através da qual, formulamos os princípios de interpretação, tendo como mestres, os profetas – que interpretaram os acontecimentos passados e a história dos seus dias –, Jesus Cristo e os apóstolos, os quais deram lições práticas de hermenêutica, interpretando o Antigo e o Novo Testamentos.[542]

Recentemente, li a advertência do Dr. David M. Lloyd-Jones (1899-1981): "Quão importante é dar-nos conta do perigo de começar com uma teoria e impô-la às Escrituras! (...). Temos que ser cuidadosos quando estudamos as Escrituras para não suceder que elaboremos um sistema de doutrina baseado num texto ou numa compreensão errônea de um texto."[543]

F.F. Bruce (1910-1990), está correto, ao afirmar que:

“Os crentes possuem um padrão permanente e um modelo no uso que nosso Senhor fez do Antigo Testamento, e uma parte do atual trabalho do Espírito Santo no tocante aos crentes é abrir-lhes as Escrituras, conforme o Cristo ressurreto as abriu para os dois discípulos no caminho para Emaús (Lc 24.25ss)".[544]

Quando nos aproximamos da Bíblia partimos do pressuposto de que ela é o registro fiel e inerrante da Revelação de Deus (Jo 10.35; 1Tm 1.15; 3.1; 4.9; 2Tm 3.16; 2Pe 1.20-21); por isso, podemos dizer como Paulo: “Fiel é a Palavra” (1Tm 3.1; 4.9). É através das Escrituras que aprendemos que o melhor intérprete da Palavra é “o Espírito falando na Escritura”[545] (Mt 22.29,31; At 4.24-26; 28.25; 1Co 2.10-16); como nos instruiu o Senhor Jesus Cristo: “Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará as cousas que hão de vir” (Jo 16.13). “Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as cousas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26/Jo 5.30; 14.6; 17.17).

A oração do exegeta cristão, que usa os meios científicos disponíveis, deve ser como a do salmista: “Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei.” (Sl 119.18/Lc 24.44-45; Ef 1.16-19).

3. Autoridade Norteadora:

"Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamentos, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e de prática...." (CW., I.2).

A Teologia é uma reflexão[546] interpretativa e sistematizada da Palavra de Deus. A sua fidedignidade estará sempre no mesmo nível da sua fidelidade à Escritura. A relevância de nossa formulação não dependerá de sua "beleza", "popularidade" ou "significado para o homem moderno", mas sim na sua conformação às Escrituras. O mérito de toda teologia está no seu apego incondicional e irrestrito à Revelação; a melhor interpretação é a que expressa o sentido do texto à luz de toda a Escritura, [547] ou seja, em conexão com toda a verdade revelada. Não há nada mais edificante e prático do que a Verdade de Deus![548]

A Teologia Reformada é uma reflexão baseada na Palavra em submissão ao Espírito, buscando sempre uma compreensão exata do que Deus revelou e inspirou pelo Espírito e, que agora, nos ilumina pelo mesmo Espírito (Ef 1.15-21/Sl 119.18).

É a partir desta compreensão que a Teologia Reformada passa a avaliar tudo o mais, como bem expressou J.I. Packer: "O calvinismo é uma maneira teocêntrica de pensar acerca da vida, sob a direção e controle da própria Palavra de Deus."[549] O Calvinismo[550] envolve uma nova cosmovisão, que afeta obviamente todas as áreas de nossa existência, não havendo escaninhos do ser e do saber aonde a perspectiva teocêntrica não se faça presente de forma determinante em nossa epistemologia doutrinária e existencial.

Como já dissemos, a preocupação dos Reformadores era principalmente "a reforma da vida, da adoração e da doutrina à luz da Palavra de Deus".[551] Desta forma, a partir da Palavra, passaram a pensar acerca de Deus, do homem e do mundo!

Aqui parece-nos relevante destacar a observação de A. Kuyper (1837-1920),[552] de que não devemos considerar a Revelação Especial ou a Escritura como fonte da Teologia ("fons theologiae"), tendo em vista que o termo "fonte" no estudo científico tem um significado mui definido. Em geral denota uma área de estudo sobre a qual, o homem como agente ativo, faz uma triagem para a sua pesquisa, como na Botânica, Zoologia e História; neste caso, o objeto de estudo é passivo; o homem é quem é ativo, debruçando-se sobre o fenômeno para extrair do objeto o conhecimento desejado. Assim sendo, usando o termo neste sentido, tem-se a impressão, de que o homem como agente ativo, pode se colocar sobre as Escrituras, para descobrir ou tirar dela o conhecimento de Deus, que ali está passivamente esperando o seu descobridor... Sabemos que isto não é verdade! Deus Se revela ao homem e mais uma vez, ativamente fornece os meios para a compreensão desta revelação: O Espírito Santo. A Teologia sempre será o efeito da ação reveladora, inspiradora e iluminadora de Deus através do Espírito. Daí que, falar de Teologia Americana, Européia ou da América Latina, se constitui, no mínimo, numa ignorância bíblica: Ou a Teologia é Bíblica ou não é Teologia; surja em que continente for, em que movimento for, em que regime político for[553]...

A Teologia nunca é a causa primeira; sempre é o efeito da ação primeira de Deus em revelar-se. "No princípio Deus...", isto deve ser sempre considerado em todo e qualquer enfoque que dermos à realidade.[554] Deus Se revela e Se interpreta; "O Espírito Santo é a chave para todo verdadeiro conhecimento".[555] “Só quando Deus irradia em nós a luz de seu Espírito é que a Palavra logra produzir algum efeito. Daí a vocação interna, que só é eficaz no eleito e apropriada para ele, distingue-se da voz externa dos homens.”[556]

A teologia sempre é relativa: "relativa à revelação de Deus. Deus precede e o homem acompanha. Este ato seguinte, este serviço, são pensamentos humanos concernentes ao conhecimento de Deus."[557]

Deus não se deixa invadir pela razão humana ou mesmo pela fé; Ele se dá a conhecer livre, fidedigna e explicitamente; Deus Se revela a Si mesmo como Senhor e, "Senhorio significa liberdade".[558]

Sem a revelação, o homem passaria toda a sua vida e estaria na eternidade sem o menor conhecimento de Deus ou de sua negação (não existiria “teísmo” nem “ateísmo”); por mais engenhosos que fossem os seus métodos, por mais sistemáticos que fossem as suas pesquisas; por mais que evoluísse a ciência... O homem nunca conseguiria chegar a Deus ou mesmo à sua idéia: Ignoraria eternamente a própria ignorância!.[559] Entretanto, Deus continuaria sendo o que sempre foi: O Senhor! Todavia, graças a Deus porque Ele soberanamente Se Revelou a Si mesmo, para que pudéssemos conhecer-Lhe e render-Lhe toda a glória que somente a Ele é devida[560]. Em Cristo nós somos confrontados com o clímax e plenitude da revelação de Deus (Jo 14.9-11; 10.30; Cl 1.19; 2.9; Hb 1.1-4); "No Filho temos a revelação final de Deus. Assim como é certo que quem viu o Filho viu o Pai, também é certo que aquele que não viu o Filho não viu o Pai".[561] Jesus Cristo é a medida da revelação!

Lembremo-nos mais uma vez da palavras de A. Kuyper, de que o homem não pode se colocar sobre a Bíblia para fazer uma investigação de Deus; Deus é Quem se comunica, Quem se dá; Ele é sempre o Sujeito, nunca o objeto na relação do conhecimento. Somos o que se chamaria de "positivistas teológicos",[562] isto porque, partimos sempre da revelação contida nas Escrituras, nunca da especulação filosófica ou metafísica; e, é justamente isto que nos distingue de forma marcante de outros sistemas teológicos.[563]

A Teologia Reformada reconhece a centralidade real de Deus em todas as coisas, tendo como alvo principal, não o tão decantado bem-estar humano – que por certo tem a sua relevância[564] –, mas a Glória de Deus, sabendo que as demais coisas serão acrescentadas (Mt 6.33; Ef 1.11-12).[565]

Para nós Reformados, é a Palavra de Deus que deve dirigir toda a nossa abordagem e interpretação teológica, bem como de toda a nossa compreensão do real; a epistemologia cristã é determinada pelas “lentes“ da Palavra. O Espírito através da Palavra é Quem deve nos guiar à correta interpretação da Revelação.

4. Autoridade para nos Conduzir a Deus:

"Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e daprovidência manifestam de tal modo a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, todavia não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e de sua vontade, necessário à salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade (...) foi igualmente servido fazê-la escrever toda." (CW., I.1).

"A própria luz da natureza no homem, e as obras de Deus, claramente testificam que existe um Deus; porém, só a sua Palavra e o seu Espírito o revelam de um modo suficiente e eficaz, aos homens, para a sua salvação." (Catecismo Maior, Pergunta 2).

Nós Reformados entendemos que sem as Escrituras, não podemos ter um conhecimento correto e salvador de Jesus Cristo (Jo 5.39/Rm 10.17), como bem observou Calvino (1509-1564): "Ora, já que, em razão de sua obtusidade, de modo nenhum pode a mente humana chegar até Deus, salvo se assistida e sustentada por Sua Sagrada Palavra."[566]

Todavia, também sabemos que este conhecimento não deve ter um fim em si mesmo; a revelação foi-nos dada a fim de que fossemos conduzidos ao Deus da revelação (Jo 5.39-40), adorando-O na liberdade do Espírito e nos parâmetros da Palavra.[567] Sem as Escrituras, Cristo não pode ser conhecido salvadoramente. O conhecimento de Cristo deve implicar sempre na Sua adoração. "O culto é a essência e o coroamento da atividade cristã."[568]

5. Autoridade para Julgar a Nossa Teologia:

"O Velho Testamento em Hebraico (...) e o Novo Testamento em Grego (...) sendo inspirados imediatamente por Deus, e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são, por isso, autênticos, e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal...." (CW., I.8).

"... O Juiz Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar, não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura" (CW., I.10).

Para nós Reformados o valor da teologia estará sempre subordinado à sua fidelidade bíblica. Por isso é que reafirmamos que, a Teologia ou é Bíblica ou não é Teologia.[569] Não julgamos a Bíblia; antes, é Ela que deve julgar a veracidade do nosso sistema: O Espírito falando através da Palavra, é o fogo depurador da genuína Teologia.[570] A nossa doutrina estará de pé ou cairá à medida em que for ou não bíblica. A vivacidade da Teologia Reformada está em sua preocupação em ser fiel às Escrituras.

6. Autoridade Completa:

"Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela." (CW., I.6).

A Escritura é a revelação completa de Deus; tudo o que Deus quer que saibamos a respeito da nossa salvação está registrado de forma explícita (CW. 1.7). As demais verdades reveladas, “que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a salvação” podem ser compreendidas através de uma interpretação lógica, amparada no conjunto dos ensinamentos bíblicos. (CW., I.6).

7. Autoridade Escrita Final:

"... À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens...." (CW., I.6).

Entendemos que nos 66 Livros canônicos encontra-se a Revelação Escrita de Deus, registrada de forma inerrante. À Bíblia, não se fará nenhum acréscimo, correção ou eliminação (Dt 4.2;12.32; Mt 5.18; Ap 22.18,19). Ela é a palavra final de Deus, no que se refere à Sua vontade para nós: A Revelação é completa – atingindo tudo o que Deus deseja –, e final: permanece para sempre.

O que afirmamos, exclui obviamente, a aceitação dos apócrifos (CW. I.3), as supostas revelações complementares,[571] as interpretações "oficiais" (CW., I.4) e a tradição verbal ou escrita (como no caso da igreja romana).[572]

Daqui concluímos que o nosso sistema doutrinário deve permanecer sempre aberto a uma volta, a um reestudo das Escrituras. O nosso sistema doutrinário, por melhor que seja – e eu estou convencido de que é –, não pode ser mais rico do que a Palavra de Deus, como bem observou Berkouwer: "Porventura a Escritura não é mais rica do que qualquer pronunciamento eclesiástico, por mais excelente e atento ao Verbo divino que este possa ser?".[573] Por isso, o critério último de análise, será sempre "O Espírito Santo falando na Escritura" (CW. 1.10).[574]

C) A Adoração Conforme Calvino: Uma Perspectiva Teocêntrica:[575]

Calvino foi influenciado de certa maneira pela adoração dirigida por Martin Bucer (1491-1551) em Estrasburgo, durante o período em que lá permaneceu (1538-1541),[576] pastoreando os franceses banidos que desejavam cultivar a sua fé em liberdade. Algo que chamava a atenção de Calvino era o entusiasmo com que os franceses ali exilados cantavam salmos quando se dirigiam ao culto.[577] É verdade que na sua primeira estada em Genebra já propusera o cântico de Salmos, formando um coro de crianças que depois de bem ensaiado, ensinaria ao resto da congregação.[578] Quando Calvino retornou a Genebra, adaptou muitos elementos da liturgia de Bucer, tornando-se o rito de Genebra (1542) a base para a adoração das Igrejas calvinistas em toda a Europa – Suíça, França, Alemanha, Holanda e Escócia.[579]

Calvino no estabelecimento da Ordem do Culto, não foi dogmático,[580] entendendo que muitos detalhes poderiam ser modificados à critério da congregação, sem que com isso propiciasse abusos.[581] A Palavra de Deus será sempre o elemento aferidor de toda a nossa alegada liberdade: “O Senhor nos permite liberdade em relação aos ritos externos, para não concluirmos que o seu culto se acha limitado por essas coisas. Ao mesmo tempo, entretanto, Ele não nos concedeu liberdade ilimitada e descontrolada, mas construiu, por assim dizer, cerca em torno dela; ou, de algum modo, restringiu a liberdade que nos deu, de tal maneira, que somente à luz de sua Palavra é que podemos orientar nossas mentes sobre o que é correto.”[582]

Calvino comentando o texto de João 4.24, nos admoesta para a distinção entre o Deus que é “Espírito” e nós que somos “carne”, mostrando que não podemos simplesmente querer agradar a Deus com aquilo que nos agrada, visto que “as coisas que agradam a maioria são objetos da Sua repugnância e aversão”; portanto, devemos ser modestos em nossos juízos e atos, considerando “com suspeita tudo o que nos está satisfazendo de acordo com a carne. Além disso, como nós não podemos ascender à altura de Deus, devemos lembrar que nós deveríamos buscar na palavra dele a regra pela qual somos governados.”[583] Na Dedicatória do seu comentário das Epístolas Pastorais, escreve (1556) ao Príncipe Eduardo, Duque de Somerset: “Não há outro caminho pelo qual podeis estabelecer o reino da Inglaterra, da forma a mais sólida possível, senão banindo os ídolos e assentando ali o genuíno culto que Deus prescreveu para que lho tributemos.”[584] (grifos meus).

Mas, Deus seria mais espiritual no Novo Testamento do que no Antigo, quando Ele mesmo prescreveu diversos rituais para o Seu culto? Obviamente que não. Devemos observar primariamente que, no aspecto litúrgico, a diferença entre o Antigo e o Novo Testamento estava mesmo no aspecto ritual, externo. A integridade exigida por Deus permanece a mesma: Deus sempre desejou um culto responsável, sincero e comprometido com os Seus preceitos. Em outro lugar Calvino explica: “Em todo aspecto essencial, o culto era o mesmo. A distinção era de forma inteiramente externa: Deus acomoda-se às apreensões mais fracas e imaturas deles mediante os rudimentos da cerimônia, enquanto nos estendia uma forma simples de culto que atingiu uma época de mais maturidade desde a vinda de Cristo. Não há nenhuma alteração propriamente dita.”[585]

Ele estabelece então, como elementos essenciais ao culto, a Palavra, a oferta, a Ceia e a oração.[586]

Calvino propôs um Culto simples; no que concerne à celebração da Ceia por exemplo, pouco se lhe importava se alguns aspectos externos, tais como se o participante devolvia o cálice ao diácono ou passava a outro participante, se o pão – que chama de “pão místico” [587] – deveria ser ou não fermentado, se o vinho deveria ser tinto ou branco. Tudo isso deveria se decidido pela congregação.[588] Assim ele sugere um modo despretensioso, sem as cerimônias pomposas da Idade Média, que pareciam feitas para “ofuscar os olhos de Deus”:[589]

“E o início far-se-ia por preces públicas; ter-se-ia, a seguir, o sermão, então, posto na mesa pão e vinho, repetiria o ministro as palavras da instituição da Ceia; depois, reiteraria as promessas que nos foram nela deixadas; ao mesmo tempo, vedaria à comunhão todos aqueles que são dela barrados pelo interdicto do Senhor; após isto, orar-se-ia para que o Senhor, pela benignidade com que nos prodigalizou este alimento sagrado, também a isto receber em fé e gratidão de alma nos instruísse e preparasse, e, uma vez que de nós mesmos não o somos, por Sua misericórdia, dignos nos fizesse de tal repasto. Aqui, porém, ou cantar-se-iam salmos ou ler-se-ia algo da Escritura, e, na ordem que convém, participariam os fiéis do sacrossanto banquete, os ministros partindo o pão e oferecendo-o ao povo. Terminada a Ceia, ter-se-ia uma exortação a fé sincera e a sincera confissão dessa fé, ao amor cristão e a comportamento digno de cristãos. Por fim, ação de graças se daria e louvores se cantariam a Deus, findos os quais, a congregação seria despedida em paz.”[590]

No seu “Manual do Culto”, na terceira edição (1545), temos outra descrição, sempre atenta à simplicidade da Igreja antiga:

“Começamos com a confissão de nossos pecados, escreve, ‘acrescentando versículos da Lei e o Evangelho (ou seja, palavras de absolvição... e logo que nos assegura que, assim como Jesus Cristo possui em si mesmo justiça e vida, e assim como Ele vive por amor do Pai, nós somos justificados nEle e vivemos a nova vida mediante o mesmo Jesus Cristo..., continuamos com salmos, hinos e louvor, a leitura do Evangelho, a confissão de nossa fé (ou seja, o Credo Apostólico), e as santas oblações e oferendas... E..., estimulados e animados pela leitura e pregação do Evangelho e a confissão de nossa fé..., se segue que devemos orar pela salvação de todos os homens, para que a vida de Cristo se acenda grandemente dentro de nós. Agora bem, a vida de Cristo consiste nisto, em buscar e salvar o que está perdido; bem fazemos então em orar por todos os homens. E, porque verdadeiramente recebemos a Jesus Cristo neste sacramento..., lhe adoramos em espírito e verdade; e recebemos a eucaristia com grande reverência, concluindo todo o mistério com louvor e ação de graças. Portanto, esta é toda a ordem e razão para sua administração desta forma; e concorda também com a administração da antiga Igreja dos apóstolos, mártires e santos Padres.”[591]

SACRAMENTO: A SANTA CEIA[HMPC2] :

“... mistério que, na verdade, não vejo possa eu suficientemente compreender com a mente, e de bom grado por isso o confesso, para que não lhe meça alguém a sublimidade pela medidazinha de minha pobreza de expressão. (...) Portanto, nada resta, afinal, senão que prorrompa eu em admiração desse mistério ao qual nem pode estar em condições de pensá-lo claramente o intelecto, nem de explicá-lo a língua.” – João Calvino.[592]

“...Na Ceia [temos] uma veemente exortação a viver santamente, e sobretudo a manter a caridade e amor fraternal entre nós. Pois se na Ceia somos feitos membros de Jesus Cristo, sendo incorporados a Ele e a Ele unidos, que é a nossa cabeça, há razão mais que suficiente para que nos conformemos à sua pureza e inocência e mui especialmente que tenhamos entre nós a caridade e concórdia que deve reinar entre os membros de um mesmo corpo.” – J. Calvino.[593]

A palavra “Sacramento” não ocorre nas Escrituras; ela vem do latim “Sacramentum”, que, na Vulgata, traduziu o grego musth/rion (“mistério”).(Vd. Ef 1.9; 3.3,9; 5.32; Cl 1.27; 1Tm 3.16; Ap 1.20; 17.7).[594] A palavra “Sacramentum”, em si, significava primariamente um depósito financeiro feito em juízo entre as partes litigiantes; posteriormente, passou a significar aquilo que era separado como santo, ou o juramento que os soldados prestavam ao seu comandante, envolvendo as obrigações decorrentes deste compromisso.[595] Tornou-se clássica a definição de Agostinho (354-430) de Sacramento como sendo a “palavra visível”[596] e um sinal visível de uma graça invisível.[597] Na Escolástica predominou o conceito de sacramento como a “Palavra visível de Deus”, distinguindo-a, mas não separando-a da Palavra audível de Deus.[598]

A compreensão bíblica de Calvino a respeito da Ceia, envolve uma síntese do pensamento de Lutero e de Zuínglio, conseguindo combinar de forma adequada o “espiritualismo”[599] de Zuínglio com o “realismo”[600] de Lutero sem contudo, limitar-se à perspectiva de ambos.[601]

Calvino define “Sacramento” como “um sinal externo mediante o qual o Senhor nos sela à consciência as promessas de Sua benevolência para conosco, a fim de suster-nos a fraqueza da fé, e nós, de nossa parte, atestamos nossa piedade para com Ele, tanto diante dEle e dos anjos, quanto junto aos homens."[602]

Os sacramentos são sinais visíveis que representam uma realidade espiritual, sendo-nos concedidos para ajudar a nossa fé – como pedagogos –, em sua limitação,[603] propiciando um recurso material para exemplificar uma realidade mais ampla e profunda, selando uma promessa que sempre lhes precede;[604] sendo como que colunas de nossa fé;[605] todavia eles nada acrescentam à Palavra,[606] mas nos conduzem sempre de volta à Palavra, atestando a sua fidedignidade.[607] Eles não têm nenhum poder mágico;[608] antes, a sua efetividade está na atuação do Espírito, nosso "Mestre interior", pois se Este nos faltar, "nada nos podem mais à mente oferecer os sacramentos que se ou a olhos cegos refulja o esplendor do sol, ou a ouvidos moucos ressoe uma voz".[609] Tudo isso porém deve ser acompanhado de fé, que é então confirmada por Aquele que antes a produziu,[610] já que a fé é a principal obra do Espírito.[611] O Espírito dispõe os nossos corações à Palavra e aos Sacramentos.[612] Os Sacramentos compreendidos corretamente como sinais, podem, no entanto, nos sugerir dois caminhos, os quais devemos evitar por serem equivocados: nos deter nos sinais, exaltando desproporcionalmente o seu valor, ou desvalorizá-los excessivamente.[613]

Calvino observa que “Sempre que Deus deu algum sinal aos patriarcas, o uniu indissoluvelmente com a doutrina, sem a qual nossos sentidos ficariam atônitos com visão única do signo. Portanto, quando ouvimos menção da palavra sacramental, entendamos por ela a promessa, que deve ser pregada em voz alta pelo ministro para levar ao povo aonde tem o sinal.”[614]

Creio que Calvino resume bem o seu pensamento a este respeito quando diz:

"Pelo que, fixo permaneça que não são outras as funções dos sacramentos que da Palavra de Deus, as quais são oferecer-nos e apresentar-nos Cristo, e nEle os tesouros da graça celeste. Nada, entretanto, conferem ou aproveitam, a menos que recebidos em fé, não diferentemente do vinho, ou óleo, ou outro líquido, não importa o quão copiosamente o derrames, efluirá, no entanto, e se perderá, a menos que aberto o bocal do vaso, mas, o vaso mesmo, regado de todos os lados, permanecerá, não obstante, inane e vazio. (...) Aqui também é de notar-se que Deus realiza interiormente o que o ministro representa e atesta pela ação externa, para que não seja atribuído ao homem mortal o que Deus para Si Só reivindica."[615]

Calvino (1509-1564) faz uma analogia entre o alimento físico e o espiritual, mostrando que aquele que é fundamental para a manutenção de nosso corpo, Deus, como Pai providente, nos tem dado como “testemunho de Sua bondade paternal”; “Porém – continua –, assim como é espiritual a vida em que nos há regenerado, é preciso que também o seja o alimento que deve nutrir-nos e confirmar-nos nela.”[616]

Calvino combatendo o costume da Alta Idade Média de se celebrar a Ceia uma vez por ano,[617] mostra que no início da Igreja não era assim.[618] Portanto, sustenta que a Ceia deveria ser celebrada semanalmente e,[619] que todos os membros deveriam participar do pão e do vinho.[620] Na realidade, para tristeza de Calvino, a sistematicidade da Ceia por ele proposta jamais foi praticada em Genebra. Os magistrados compreendiam que a Ceia deveria ser ministrada apenas quatro vezes por ano.[621] No entanto, “Calvino procurou atenuar a severidade destes decretos fazendo arranjos para que as datas da comunhão variassem em cada igreja da cidade, provendo assim oportunidade para a comunhão mais freqüente do povo, que podia comungar em uma igreja vizinha.”[622] Costume este que se tornou comum na Escócia.[623] No entanto, em Genebra Calvino não teve esta oportunidade, já que os magistrados determinaram que a Ceia fosse celebrada no Natal, na Páscoa, no Pentecostes e na Festa das Colheitas.[624]

Se por um lado Calvino conviveu com a separação entre a Palavra e a Ceia, não admitia o Sacramento sem a Palavra já que a “correta ministração do sacramento não subsiste à parte da Palavra. Pois, qualquer benefício que seja, que da Ceia nos provém , requer a Palavra....”.[625]

Entre o final de 1539 e início de 1540, Calvino publicou seu primeiro manual de culto completo em língua francesa, contendo diversos salmos e versos acompanhados de suas respectivas melodias para o canto congregacional.[626] Aliás, como diz Baird, Calvino “introduziu também a prática regular do cântico da congregação.”[627]

Essa primeira edição, infelizmente não sobreviveu; só existem exemplares da segunda edição em diante, a de Genebra (1542) e a de Estrasburgo (1542).[628] Este “Manual” continuou sendo adotado em Estrasburgo mesmo pelo seu sucessor à frente daquele rebanho, Valérand Pullain.[629] Comparando-se entretanto, a liturgia de Estrasburgo com a de Genebra, observa-se que esta foi ainda mais simplificada, ao que parece por influência dos magistrados genebrinos.[630] Calvino esforçou-se por recuperar o sentido singelo da Santa Ceia conforme o descrito nos Evangelhos e praticado na Igreja Primitiva;[631] no seu “Manual do Culto”, intitulou: “As formas das orações e maneira de administrar os sacramentos de acordo com o uso da Igreja antiga.”[632]

Do que foi exposto subentende-se que o sacramento é composto de três partes, a saber: 1) O Sinal visível; 2) A graça interna que o acompanha; 3) A unidade entre o sinal e a coisa significada; neste ponto temos a essência do sacramento. “O sinal externo torna-se um meio empregado pelo Espírito Santo na comunicação da graça divina.”[633]

CÂNTICOS:

Mark Noll, inicia o capítulo de um de seus livros, assim:

“A enxurrada de hinos protestantes que inundou a Europa juntamente com as primeiras crises da Reforma criou dificuldades incomuns para a Igreja Católica Romana. O canto congregacional estava associado ao protestantismo de maneira tão profunda e os protestantes foram tão eficazes na utilização dos hinos que alguns personagens importantes da Igreja Católica por breve tempo consideraram a proibição da música nas missas.”[634]

Para os Reformadores os cânticos tinham um grande apelo didático, objetivando inclusive, a fixação das Escrituras. Como a Escritura é a Palavra de Deus, cantá-la, significa relembrar e fixar os seus ensinamentos.[635] Calvino não ignorava o poder da música: “.... Todos sabemos pela própria experiência, quão tremendo é o poder da música para agitar as emoções do ser humano; como corretamente ensina Platão,[636] dizendo que, de uma forma ou outra, a música é da maior importância para moldar o caráter moral do Estado.”[637] O canto tinha também uma relação direta com a nossa experiência religiosa, não estando relacionado simplesmente a momentos de lazer e entretenimento; o cantar além de refletir a nossa fé – por se amparar o seu conteúdo na Palavra –, tem também uma conotação de lembrete e estímulo espiritual para aquele mesmo que canta; é como o “falar entre vós com salmos”, recomendado por Paulo (Ef 5.19). Comentando o salmo 13, quando Davi em grande aflição, conclui o salmo dizendo: “Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem”, Calvino diz: ”.... Davi, ao apressar-se com prontidão de alma a cantar os benefícios divinos, mesmo antes que os houvesse recebido, coloca o livramento, que aparentemente estava então distante, imediatamente diante de seus olhos.”[638] Do mesmo modo, comentando o salmo 40, diz que à medida em que Deus nos socorre, devemos nos exercitar em louvar agradecidamente a Ele: “devemos exercitar-nos a um fervoroso zelo nesse santo exercício, de sorte que nossos cânticos correspondam à grandeza do favor que porventura nos tenha sido conferido.”[639] Uma fé que se expressa em cântico se fortalece do seu próprio conteúdo proveniente da Palavra de Deus.

Ele também optou pelo cântico de Salmos, entendendo que somente a Palavra de Deus era digna de ser cantada.[640] No Prefácio do Saltério Genebrino, Calvino explica-nos os motivos dessa prática: “Os salmos nos incitam a louvar a Deus, orar a Ele, meditar nas Suas obras a fim de que O amemos, temamos, honremos e O glorifiquemos. O que Santo Agostinho diz é totalmente verdade; a pessoa não pode cantar nada mais digno de Deus do que aquilo que recebemos dele ".[641] Aqui, obviamente, está implícito o princípio da inspiração bíblica: Os Salmos provêm do Espírito Santo.

O cântico congregacional – que como tudo o mais deve ser acompanhado do verdadeiro afeto do coração –, tornou-se uma parte importante na liturgia de Calvino.[642] O cântico a quatro vozes era utilizado no culto,[643] todavia, enfatizou o cântico congregacional.[644]

Ainda que Calvino fosse apreciador da harpa,[645] os cânticos eram como na sinagoga, sem acompanhamento instrumental;[646] as orações eram sugeridas mas não deveriam ser lidas; eram espontâneas;[647] o Pai Nosso e o Credo Apostólico eram recitados pela congregação.[648] Colocou, como já vimos, a Eucaristia como elemento integrante do culto público e, deu ênfase especial à Palavra de Deus como elemento central do culto.[649] “As Igrejas Reformadas simbolizaram isto nos edifícios que ergueram durante a Reforma, ao colocar o púlpito à frente e no centro do templo.”[650]

Calvino entendia que “os salmos constituem uma expressão muito apropriada da fé reformada”,[651] e que “Tudo quanto nos serve de encorajamento, ao nos pormos a buscar a Deus em oração, nos é ensinado neste livro [Salmos].”[652] Portanto, no Livro de Salmos temos um guia seguro para a edificação da Igreja que pode cantá-lo sem correr o risco de proferir heresias melodiosas. “Não existe outro livro onde mais se expressem e magnifiquem as celebrações divinas, seja da liberalidade de Deus sem paralelo em favor de sua Igreja, seja de todas as suas obras. (...) Não há outro livro em que somos mais perfeitamente instruídos na correta maneira de louvar a Deus, ou em que somos mais poderosamente estimulados à realização desse sacro exercício.”[653] Calvino considerava os Salmos como “Uma Anatomia de Todas as Partes da Alma”.[654] No Prefácio do seu comentário ao Livro de Salmos, diz: “Se a leitura destes meus comentários confere algum benefício à Igreja de Deus como eu obtive vantagem da composição deles, eu não terei nenhuma razão para lamentar por ter empreendido este trabalho.”[655]

Quanto à questão da música na Igreja, Calvino seguiu de perto o pensamento de Agostinho (354-430) que, nas Confissões, havia dito:

“Quando ouço cantar essas vossas santas palavras com mais piedade e ardor, sinto que o meu espírito também vibra com devoção mais religiosa e ardente do que se fossem cantadas doutro modo. Sinto que todos os afetos da minha alma encontram, na voz e no canto, segundo a diversidade de cada um, as suas próprias modulações, vibrando em razão dum parentesco oculto, para mim desconhecido, que entre eles existe. Mas o deleite da minha carne, ao qual se não deve dar licença de enervar a alma, engana-me muitas vezes. Os sentidos, não querendo colocar-me humildemente atrás da razão, negam-se a acompanhá-la. Só porque, graças à razão, mereceram ser admitidos, já se esforçam por precedê-la e arrastá-la! Deste modo peco sem consentimento, mas advirto depois.

“Outras vezes, preocupando-me imoderadamente com este embuste, peco por demasiada severidade. Uso às vezes de tanto rigor que desejaria desterrar meus ouvidos e da própria igreja todas as melodias dos suaves cânticos que ordinariamente costuma acompanhar o saltério de Davi. Nessas ocasiões parece-me que o mais seguro é seguir o costume de Atanásio, bispo de Alexandria. Recordo-me de muitas vezes me terem dito que aquele prelado obrigava o leitor a recitar os salmos com tão diminuta inflexão de voz que mais parecia um leitor que um cantor.

“Porém, quando me lembro das lágrimas derramadas ao ouvir os cânticos da vossa Igreja nos primórdios da minha conversão à fé, e ao sentir-me agora atraído, não pela música, mas pelas letras dessas melodias, cantadas em voz límpida e modulação apropriada, reconheço, de novo, a grande utilidade deste costume.”[656]

A seguir, Agostinho relata o seu impasse:

“Assim flutuo entre o perigo do prazer e os salutares efeitos que a experiência nos mostra. Portanto, sem proferir uma sentença irrevogável, inclino-me a aprovar o costume de cantar na Igreja, para que, pelos deleites do ouvido, o espírito, demasiado fraco, se eleve até aos afetos da piedade. Quando, às vezes, a música me sensibiliza mais do que as letras que se cantam, confesso com dor que pequei. Neste caso, por castigo, preferiria não ouvir cantar. Eis em que estado me encontro.”[657]

Assim, Calvino escreveu:

“Nem, contudo, aqui condenamos a voz ou o canto, senão que antes, muito os recomendamos, desde que acompanhem o afeto da alma. Ora, assim exercitam a mente na cogitação de Deus e a retêm atenta, a qual, como é escorregadia e versátil, facilmente se afrouxa e a variadas direções se distrai, a menos que seja de variados adminículos sustentada. Ademais, como em cada parte de nosso corpo, uma a uma, deva luzir, de certo modo, a glória de Deus, convém especialmente seja a língua, que foi criada peculiarmente para declarar e proclamar o louvor de Deus, adjudicada e devotada a este ministério, quer cantando, quer falando....”[658]

“E, certamente, se a essa gravidade que convém à vista de Deus e dos anjos haja sido temperado o canto, por um lado, concilia dignidade e graça aos atos sacros, por outro, muito vale para incitar os ânimos ao verdadeiro zelo e ardor de orar. Contudo, impõe-se diligentemente guardar que não estejam os ouvidos mais atentos à melodia que a mente ao sentido espiritual das palavras. [...] Aplicada, portanto, esta moderação, dúvida nenhuma há de que seja uma prática muito santa e sadia, da mesma forma que, por outro lado, todos e quaisquer cantos que hão sido compostos apenas para o encanto e o deleite dos ouvidos nem são compatíveis com a majestade da Igreja, nem podem a Deus não desagradarem sobremaneira.”[659]

Em outro lugar:

“E. na verdade, conhecemos por experiência que o canto possui grande força e poder de comover e inflamar o coração dos homens para invocar e louvar a Deus com zelo mais veemente e ardoroso. Há sempre a considerar-se que o canto não seja frívolo e leviano; pelo contrário, tenha peso e majestade, como diz Santo Agostinho. E, assim, haja grande diferença entre música feita para alegrar os homens à mesa ou em casa e os salmos que se cantam na Igreja, na presença de Deus e de Seus anjos... se bem que o uso do cântico vai bem mais longe. Mesmo nas casas e nos campos é-nos ele um incitamento e dir-se-á um órgão para louvar a Deus e elevar-Lhe o coração para que nos console enquanto meditamos em Seu poder, bondade, sabedoria e justiça. Mais necessário é isso do que se poderia dizer. Acima de tudo, não é sem causa que o Santo Espírito exorta-nos tão cuidadosamente pelas Sagradas Escrituras a regozijar-nos em Deus e que toda nossa alegria a isso se reporte, como a seu verdadeiro fim. Sabe Ele quanto somos inclinados a regozijar-nos em frivolidades. Tanto quanto, pois, nos inclina e induz nossa própria natureza a procurar todos os meios de alegria leviana e viciosa, apresenta-nos o Senhor nosso, para detrair-nos e demover-nos das seduções da carne e do mundo, todos os meios possíveis, a fim de ocupar-nos nessa alegria espiritual que Ele tanto no recomenda. Ora, entre outras coisas própria para recrear o homem e proporcionar-lhe prazer, a música é ela dom de Deus delegado a este uso. Eis porque tanto mais devemos tomar tanto a dela não abusarmos, temendo conspucá-la e contaminá-la, convertendo-a à condenação nossa onde foi dedicada a nosso proveito e benefício. Outra consideração não houvesse senão esta, deve-nos ela bem mover a moderar o uso da música, de sorte a fazê-la servir a tudo que é decente e não nos seja ocasião de soltar-nos a rédea à dissolução, ou de efeminar-nos em deleites desregrados, e que seja instrumento de devassidão nem de qualquer impudicícia.”[660]

Continua:

“Eis porque devemos ser tanto mais diligentes em regulá-la, de tal sorte que nos seja ela útil e de maneira alguma perniciosa. Por esta razão, queixaram-se freqüentemente os antigos doutores da Igreja de que o povo de seu tempo era dado a canções indecorosas e impudicas, que não sem causa consideram e chamam veneno mortal e satânico para corromper o mundo. Ora, falando particularmente da música, admito-lhe duas partes: a letra, ou conteúdo e matéria; em segundo lugar, o canto, ou melodia. Verdade é que toda palavra má (como diz São Paulo) perverte os bons costumes; quando, porém, se lhe associa a melodia, muito mais profundamente penetra ela o coração e de tal modo se instila dentro de nós que, assim como por um funil é o vinho entornado na vasilha, assim também, através da melodia, são lançados ao fundo do coração o veneno e a corrupção. Quê se há, pois, de fazer? É de ter canções não apenas decorosas, mas também santas, que nos sejam como aguilhões a instigar-nos a orar e louvar a Deus, a meditar em Suas obras, a fim de amá-lo, temê-lo, honrá-lo e glorificá-lo... Eis porque exorta Crisóstomo tanto a homens como a mulheres e crianças a acostumarem-se a cantá-las, para que lhes seja isso como pia meditação e associá-los à companhia dos Anjos. Quanto ao mais, importa lembrar-nos do que São Paulo diz: que as canções espirituais se não podem cantar bem senão de coração. O coração, porém, requer o entendimento. E nisto (diz Santo Agostinho) está a diferença entre o canto dos homens e o cantar das aves, Um pintarroxo, um rouxinol, um papagaio, cantarão bem. mas sem entenderem o que cantam. Ora, o próprio dom do homem é cantar, sabendo o que está a dizer; ao entendimento deve seguir-se o coração e a afeição, o que se não pode dar a menos que tenhamos o cântico impresso em nossa memória para jamais cessar de cantar.”[661]

Calvino na elaboração do que seria conhecido como Saltério Genebrino, traduziu alguns salmos [Sl 25,36,43,46,91, 113, 120, 138 e 142],[662] valendo-se efetivamente do talento do poeta francês Clément Marot (c. 1496-1544) – que conhecera na Corte da Duquesa de Ferrara em 1536[663] –, e Théodore de Bezz (1519-1605) e, posteriormente recorreu ao precioso trabalho do compositor francês Loys Bourgeois (c.1510-c. 1560) – que adaptou as canções populares e antigos hinos latinos e, também, compôs outras músicas para a métrica dos salmos de Marot[664]– e Claude Goudimel (1510-1572), que aderindo à Igreja Reformada em 1562, viria morrer em Lyon no massacre da noite de São Bartolomeu. As lindas melodias de Goudimel tornaram-se um ingrediente enriquecedor do Saltério e, também, contribuiu em muito para a sua divulgação. O Saltério iniciado por Calvino em 1539, dispunha de 19 salmos. Mais tarde, seriam impressas várias edições em Genebra, contendo 50 salmos (1543) e uma outra em Estrasburgo (1545). As edições foram sendo aumentadas, até a definitiva, concluida por por Beza (c. 1561-1562).[665] Ele tornou-se “um dos livros mais importantes da reforma”,[666] tendo um verdadeiro “dom de línguas”, sendo traduzido para o alemão, holandês, italiano, espanhol, boêmio, polonês, latim, hebraico, malaio, tamis, inglês, etc., sendo usado por católicos, luteranos e outras denominações.[667]

No Prefácio à edição de 1542 do Saltério Genebrino, Calvino escreveu:

“.... Nós sabemos por experiência que o canto tem grande força e vigor para mover e inflamar os corações dos homens, a fim de invocar e louvar a Deus com um mais veemente e ardente zelo.”[668]

Comentando o Livro de Gênesis, diz:

“Embora a invenção da harpa e de similares instrumentos de música, possa servir antes ao deleite e ao prazer que à necessidade, ainda assim não se pode tê-los por de todo supérfluos e ainda menos merece ser condenados. É verdade que se impõe condenar a voluptuosidade que não se afina com o temor de Deus e o benefício comum da comunidade humana; a música. Entretanto, é de tal sorte que pode ser aplicada aos exercícios de piedade e pode beneficiar aos homens, encoimada dos viciosos engodos e, também, da vã deleitação que detrai os homens de melhores exercícios para oculpá-los com a vaidade.”[669]

Um estudante francês refugiado, que visitou a Igreja de Calvino em Estrasburgo (1545), descreveu emocionado o que viu:

“Todos cantam, homens e mulheres, e é um belo espetáculo. Cada um tem um livro de cânticos nas mãos. (...) Olhando para esse pequeno grupo de exilados, chorei, não de tristeza, mas de alegria, por ouvi-los todos cantando tão sinceramente, enquanto cantavam agradecendo a Deus por tê-los levado a um lugar onde seu nome é glorificado.”[670]

Os salmos tiveram um papel extremamente marcante na formação espiritual dos Reformados, constituindo-se também, em uma de suas grandes demonstrações de fé. Schaff resume: “A introdução do Saltério na língua vernácula foi um dos mais importantes feitos, e o começo de um longo e heróico capítulo na história do culto e da vida cristã. O Saltério ocupa um lugar tão importante na Igreja Reformada como os hinos entre os Luteranos.[671] Ele foi a fonte de conforto e força para a Igreja dos Huguenotes do Deserto, e para os Covenanters[672] presbiterianos da Escócia, nos dias de amargo sofrimento e perseguição.”[673]

Do mesmo modo,Leith comenta que,

“O cântico dos salmos contribuiu para moldar o caráter e a piedade reformada e sua influência dificilmente poderia ser superestimada. Os salmos eram as orações do povo na liturgia de Calvino. Por meio deles, os adoradores respondiam à Palavra de Deus e afirmavam sua confiança, gratidão e lealdade a Deus.”[674]

“O cântico de salmos tornou-se essencial para a piedade calvinista. Os protestantes franceses, ao serem levados para a prisão ou para a fogueira, cantavam salmos com tanta veemência que foi proibido por lei cantar salmos e aqueles que persistiam tinham sua língua cortada. O salmo 68 era a Marselhesa huguenote.”[675]

Devemos observar contudo, que os hinos da Igreja não precisam estar limitados ao Livro de Salmos, mesmo reconhecendo o seu indiscutível valor como Palavra inspirada de Deus; além disso, deve ser observado, que muitos dos salmos refletem a expressão de fé dos servos de Deus na Antiga Aliança, que ainda não se plenificara em Cristo, Aquele que selou a Nova Aliança com o Seu próprio sangue.

CULTO COMO PROFISSÃO DE FÉ:

Todas as partes do culto devem ser a expressão daquilo que cremos, conforme é- nos ensinado nas Escrituras; portanto, é necessário que tenhamos consciência daquilo que falamos, cantamos e ouvimos. O nosso "Amém" não pode se transformar em “vãs repetições”[676] desconexas, antes, deve ser fruto da fé e da compreensão do que foi falado e cantado. Deste modo, o culto deve ser compreensível aos participantes a fim de que todos possam fazer ressoar em seus lábios a oração de seus corações: Amém! O apóstolo Paulo enfatiza que o culto deve ser prestado no idioma dos participantes, ou seja; deve ser inteligível (1Co 14.9-11); dirigir o culto de forma não compreensível aos participantes é um ato de desrespeito para com os adoradores; é uma atitude de barbárie.[677]

Calvino (1509-1564), resumiu e aplicou isto, dizendo: “Disto também fica claro que as orações públicas devem ser formuladas não em grego entre os latinos, nem em latim entre os franceses ou ingleses, como até aqui a cada passo se tem feito, mas na fala popular, que possa ser generalizadamente entendida por toda a assembléia, uma vez que, na verdade, importa isso se faça para edificação de toda a Igreja, à qual de um som não compreendido nenhum fruto absolutamente advém.”[678]

Leith comenta:

“Calvino abandonou muitos recursos litúrgicos que não atendiam suficientemente a adoradores disciplinados e comprometidos. O culto calvinista exigia uma congregação disciplinada que sustentasse o diálogo da fé com o mínimo de apoio exterior.”[679]

A visão de Calvino é bastante clara a respeito do culto agradável a Deus. Interpretando o pensamento de Davi, diz:

“Deus não requer meras cerimônias daqueles que o servem, mas que se satisfaz unicamente com a sinceridade do coração, com a fé e santidade da vida. E Deus não tem prazer algum meramente no santuário visível, no altar, na queima de incenso, na morte de animais, na iluminação, nos aparelhos caros e nas abluções externas. À luz disto ele conclui que precisava ser guiado por outro princípio, e observar outra regra no culto divino, além de uma mera atenção a essas coisas, para que pudesse dedicar-se totalmente a Deus.”[680]

Desse modo, conforme a perspectiva de Calvino, a pompa artificial de uma cerimônia religiosa serve apenas para nos enganar; Deus não se fascina com nada disso; o que Ele deseja de nós, é obediência aos Seus preceitos, inclusive na forma de adorá-Lo.

O culto cristão é oferecido por santos em santificação. Fomos separados por Deus para prestar-Lhe culto e, através do culto a nossa santidade se aperfeiçoa. No culto somos aperfeiçoados, sendo transformados cada vez mais na imagem de Cristo, que é o nosso modelo e meta (Rm 8.29-30).

Portanto, para nós Calvinistas, soa no mínimo estranho que, enfatizando corretamente como fazemos a centralidade das Escrituras em todas as coisas, sendo a Palavra de Deus a norma de nosso pensar, sentir e atuar, estejamos com demasiada freqüência avaliando o nosso culto pelo grau de entretenimento e prazer concedidos ao “adorador”.[681] John MacArthur com a sua costumeira veemência, acentua: “.... Não ousemos menosprezar o principal instrumento de evangelismo: a proclamação direta e cristocêntrica da genuína Palavra de Deus. Aqueles que trocam a Palavra por entretenimento ou artifícios descobrirão que não possuem um meio eficaz de alcançar as pessoas com a verdade de Cristo.”[682] Mais à frente continua: “Os que desejam colocar a dramatização, a música e outros meios mais sutis no lugar da pregação deveriam levar em conta o seguinte: Deus, intencionalmente, escolheu uma mensagem e uma metodologia que a sabedoria deste mundo considera como loucura. O termo grego traduzido por ‘loucura’ [1Co 1.21] é mõria, de onde o idioma inglês tira a sua palavra moronic (imbecil). O instrumento que Deus utiliza para realizar a salvação é, literalmente, imbecil aos olhos da sabedoria humana. Mas é a única estratégia de Deus para proclamar a mensagem.”[683]

Segundo nos parece, é preciso que estejamos vigilantes para que não caminhemos em direção oposta à satisfação de Deus, ao Seu agrado. A Confissão de Westminster (1647) capta bem isso ao dizer: “... O modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por Ele mesmo e tão limitado pela sua vontade revelada, que não deve ser adorado segundo imaginações e invenções dos homens ou sugestões de Satanás nem sob qualquer outra maneira não prescrita na Santa Escritura.” (XXI.1).[684] Adorar a Deus de modo não prescrito em Sua Palavra é um ato idólatra, pois deste modo, adoramos na realidade a nossa própria vontade e gosto;[685] aqui há uma inversão total de valores: em nome de Deus buscamos satisfazer os nossos caprichos e desejos; Deus se tornou um mero instrumento para a expressão de nossa vontade; a lógica dessa atitude é a seguinte: desde que estejamos satisfeitos, descontraídos e leves, é isso o que importa. Quem assim procede, já recebeu a sua recompensa: a satisfação momentânea do seu desejo pecaminoso.

Calvino, comentando a expressão, “Culto racional” (Rm 12.1), diz:

“... Se Deus só é corretamente adorado à medida que regulamos nossas ações pelo prisma de seus mandamentos, então de nada nos valerão todas as demais formas de culto que porventura engendrarmos, as quais ele com toda razão abomina, visto que põe a obediência acima de qualquer sacrifício. [686] O ser humano deleita-se com suas próprias invenções e (como diz o apóstolo alhures) com suas vãs exibições de sabedoria; mas aprendemos o que o Juiz celestial declara em oposição a tudo isso, quando nos fala por boca do apóstolo. Ao denominar o culto que Deus ordena de racional, ele repudia tudo quanto contrarie as normas de sua Palavra, como sendo mero esforço insensato, insípido e inconseqüente.” [687]

Em outro lugar:

“São falsas e espúrias todas as formas de culto que os homens permitem a si mesmos inventar movidos por sua ingenuidade, mas que são contrárias ao mandamento de Deus. Quando Deus estabelece que tudo deve ser feito em consonância com sua norma, não nos é permitido fazer qualquer coisa diferente: Olha que faças tudo segundo o modelo; e: Vê que não faças nada além do modelo [Ex 25.40]. E assim, ao enfatizar a norma que estabelecer, Deus nos proíbe afastar-nos dela, mesmo que seja um mínimo. Por essa razão, todas as formas de culto produzidas pelos homens caem por terra, bem como aquelas coisas a que chamam sacramentos, e contudo não têm sua origem em Deus.” não podem agradar a Deus.”[688]

O culto a Deus é caracterizado pela submissão às Escrituras: “É dever de todo crente apresentar seu corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, como indica as Escrituras. Nisto consiste a verdadeira adoração.”[689]

Calvino (1509-1564), nos adverte quanto à tentativa de adorar a Deus conforme o “senso comum”:

“Pelo que, nada de surpreendente, se o Espírito Santo repudie como degenerescências a todos os cultos inventados pelo arbítrio dos homens, pois que em se tratando dos mistérios celestes, a opinião humanamente concebida, ainda que nem sempre engendre farto amontoado de erros, é, não obstante, a mãe do erro.”[690] “O culto que não tem uma distinta referência à Palavra outra coisa não é senão uma corrupção das coisas sacras.”[691] “Deus só aceita a aproximação daqueles que o buscam com sincero coração e de maneira correta.”[692]

Comentando o segundo Mandamento, diz:

“Portanto, o fim deste mandamento é que Deus não quer que Seu legítimo culto seja profanado mediante ritos supersticiosos. Pelo que, em síntese, Ele nos recambia e afasta totalmente das insignificantes observâncias materiais que nossa mente bronca, em razão de sua crassitude, costuma inventar quando concebe a Deus. E, daí, nos instrui a Seu legítimo culto, isto é, ao culto espiritual e estabelecido por Si Próprio. Assinala, ademais, o que é mais grosseiro defeito nesta transgressão: a idolatria exterior.”[693]

Segundo Calvino, o problema está no padrão que o homem estabelece para Deus: ele O analisa partindo de si mesmo, do seu gosto e preferências, não percebendo o salto qualitativo entre nós, pecadores que somos, e o soberano Deus, o Senhor da Glória. “Os homens se dispõem naturalmente a exibição exterior da religião, e, medindo Deus segundo a própria medida deles, imaginam que alguma atenção para as cerimônias constitui a suma de seu dever.”[694]

Antes do povo de Israel entrar na Terra Prometida, Deus o adverte para que não imitem o modelo pagão. Então, Deus o exorta estabelecendo um princípio positivo que deveria seguir: “Tudo o que eu te ordeno, observarás; nada lhe acrescentarás nem diminuirás” (Dt 12.32). Este é o princípio que deve governar todo o nosso relacionamento com Deus: a obediência. O conhecimento de Deus é uma experiência de amor, que se revela em nossa obediência aos Seus mandamentos. Calvino comentando o texto de Deuteronômio diz: “Nesta pequena cláusula Ele ensina que não há outro serviço considerado lícito por Deus a não ser aquele que Ele deu Sua aprovação na Sua Palavra, e que a obediência é a mãe da piedade; é como se Ele tivesse dito que todos os modos de devoção são absurdos e infetados com superstição, quando não são dirigidos por esta regra.”[695] Em outro lugar insiste na necessidade de sermos obedientes a Deus se quisermos apresentar-Lhe um culto agradável: “Deus só é corretamente servido quando sua lei for obedecida. Não se deixa a cada um a liberdade de codificar um sistema de religião ao sabor de sua própria inclinação, senão que o padrão de piedade deve ser tomado da Palavra de Deus.”[696] “Portanto, em nosso curso de ação, deve-se-nos ter em mira esta vontade de Deus que Ele declara em Sua Palavra. Deus requer de nós unicamente isto: o que Ele preceitua. Se intentamos algo contra o Seu preceito, obediência não é; pelo contrário, contumácia e transgressão.”[697]

Em síntese: “Todas as formas de culto são defectivas e profanas, a menos que Cristo as purifique pela aspersão de seu sangue.”[698]

O culto reflete a nossa maneira de perceber a Palavra de Deus, visto que no culto respondemos com fé em adoração e gratidão a Deus;[699] o nosso responder revela a nossa teologia;[700] é impossível uma genuína teologia bíblica divorciada de uma adoração bíblica; a chamada “flexibilidade litúrgica” nada mais é do que uma “flexibilidade teológica” que envolverá sempre uma “teologia” de remendos, distante da plenitude da revelação Bíblica, em acordo, quem sabe, com a cultura que nos circunda.

Num documento recente publicado pela Igreja Presbiteriana Ortodoxa, lemos:

“O culto, então, não é algo feito superficialmente ou sem séria consideração. No culto os crentes professam e honram o caráter de Deus, em cuja presença eles entram, e quem os tirou de um estado de pecado e miséria. O culto sempre reflete a concepção que as pessoas têm de Deus. A verdadeira teologia produz um culto verdadeiro e aceitável. A teologia imprópria ou errônea produz falsa adoração. O culto não é uma questão de gosto: é uma declaração de convicção teológica.”[701]

IV – calvinismo no brasil: nossa primeira herança permanente:

1. princeton: uma síntese restauradora:

1.1. A Ortodoxia Protestante:

O período entre a Reforma e o Iluminismo ou, mais precisamente, o século XVII, é conhecido na História da teologia protestante, como “Escolasticismo[702] Protestante”, “Ortodoxia Protestante” ou “Confessionalista”, que se caracterizou por uma preocupação profunda e sistemática pelo rigor doutrinário, elaborando com riqueza de detalhes os posicionamentos teológicos da igreja, conforme a compreensão da amplitude da revelação bíblica. Podemos dizer que este período consistiu na sistematização das doutrinas da Reforma.

Um dos maiores teólogos reformados desse período foi o suíço François Turretini (1623-1687), teólogo suíço, filho do pastor calvinista, Benedito Turretini (1588-1631), natural de Zurique, seguidor da Teologia de Dort (1618-1619),[703] e professor de teologia em Genebra (1618),[704] tornando-se um polemista de renome. Benedito, mesmo não tendo sido delegado em Dort, redigiu juntamente com outros três pastores de Genebra uma carta, enviando-a ao Sínodo de Dort (06/10/1618), demonstrando a sua posição anti-arminiana.[705] Ele foi representante da Igreja de Genebra no Vigésimo Terceiro Sínodo Nacional da Igreja Reformada na França, realizado em Alès (01/10/1620), contribuindo para o triunfo do decreto de Dort entre os calvinistas na França, quando os Cânones de Dort (1619) e a Confissão Francesa (1559)[706] foram adotados – por serem considerados em total harmonia com a Palavra de Deus – e todos os ministros e presbíteros juraram solenemente defendê-los.[707]

François seguiu as pegadas de seu pai. Foi pastor da congregação Italiana em Genebra (1647/1648).[708] Ele pregava com igual facilidade em Latim, Francês e Italiano. Depois de um breve pastorado em Lyons, retornou a Genebra como professor de Teologia, permanecendo nesta função até sua morte (1653-1687). Sob vários aspectos, Turretini filho teológico da Academia de Genebra e do Sínodo de Dort.[709]

A principal obra de Turretini foi o “lúcido e competente manual de Teologia Sistemática”,[710] Institutio Theologiae Elencticae (Genebra, 1679-1685[711]. 2ª ed. 1688 em 3 volumes; republicada em latim, em 1847/1848, em Edinburgh[712] e New York), que visava “consolidar e preservar a teologia Reformada”.[713] Nesse tratado teológico Turretini expõe a Teologia Reformada de forma sistemática, lógica, precisa e científica; o seu método revela conhecimento de Aristóteles (384-322 a.C.) e de Tomás de Aquino (1254-1275).[714] A Institutio, “é a mais importante obra de teologia sistemática escrita em Genebra durante o século XVII”.[715] O trabalho de Turretini, sem perigo de cometermos algum exagero, é uma das obras mais completas e precisas do pensamento reformado.

1.2. Cânones de Dort: (1618-1619)

O Sínodo de Dort reuniu-se por autoridade dos Estados Gerais dos Países Baixos, em Dordrecht, Holanda, no período de 13/11/1618 a 9/5/1619, tendo 154 sessões. O Sínodo foi constituído de 35 pastores, um grupo de presbíteros das igrejas holandesas, cinco catedráticos de teologia dos Países Baixos, dezoito deputados dos Estados Gerais e 27 estrangeiros, de diversos países da Europa, tais como: Inglaterra, Alemanha, França e Suíça.

Dort rejeitou os cinco pontos apresentados pelos arminianos,[716] conhecidos como os “Cinco Pontos do Arminianismo”. Seguindo J.I. Packer[717] podemos resumir o sistema arminiano e calvinista, da seguinte forma:

CINCO PONTOS DO ARMINIANISMO

1) O homem nunca é de tal modo corrompido pelo pecado que não possa crer salvaticiamente no evangelho, uma vez que este lhe seja apresentado.

2) O homem nunca é de tal modo controlado por Deus que não possa rejeitá-lo.

3) A eleição divina daqueles que serão salvos alicerçar-se sobre o fato da provisão divina de que eles haverão de crer, por sua própria deliberação.

4) A morte de Cristo não garantiu a salvação para ninguém, pois não garantiu o dom da fé para ninguém (e nem mesmo existe tal dom); o que ela fez foi criar a possibilidade de salvação para todo aquele que crê.

5) Depende inteiramente dos crentes manterem-se em um estado de graça, conservando a sua fé; aqueles que falham nesse ponto, desviam-se e se perdem.


CINCO PONTOS DO CALVINISMO

1) O homem decaído, em seu estado natural, não tem capacidade alguma para crer no evangelho, tal como lhe falta toda a capacidade para dar crédito à lei, a despeito de toda indução externa que sobre ele possa ser exercida.

2) A eleição de Deus é uma escolha gratuita, soberana e incondicional de pecadores, como pecadores, para que venham a ser redimidos por Cristo, para que venham a receber fé e para que sejam conduzidos à glória.

3) A obra remidora de Cristo teve como sua finalidade e alvo a salvação dos eleitos.

4) A Obra do Espírito Santo, ao conduzir os homens à fé, nunca deixa de atingir o seu objetivo.

5) Os crentes são guardados na fé na graça pelo poder inconquistável de Deus, até que eles cheguem à glória.


Os Cânones de Dort foram aceitos por todas as Igrejas Reformadas como expressão correta do sistema calvinista.[718]

1.3. Confissão e Catecismos de Westminster (1647-1648):

A Confissão de Westminster bem como os Catecismos Maior (1648) e Menor (1647), foram redigidos na Inglaterra, na Abadia de Westminster, conforme convocação do Parlamento Britânico. A Assembléia foi aberta no sábado, 01/07/1643, pregando o Dr. William Twisse (1575-1646) – que iria ser o moderador da Assembléia até a sua morte em julho de 1646 –, baseando o seu sermão no texto de Jo 14.18, "Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós". A Assembléia funcionou de 01/07/1643 até 22/02/1649, realizando 1163 sessões regulares, sem contar as inúmeras reuniões de comissões e subcomissões.[719] O objetivo primário desta Assembléia, era a revisão dos Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra.[720] Trabalharam na elaboração da Confissão, 121 teólogos e trinta leigos nomeados pelo Parlamento, a saber: 20 da Casa dos Comuns e 10 da Casa dos Lordes (nomeação feita em 12/06/1643); e, também 8 representantes escoceses, quatro pastores e quatro presbíteros, “os melhores e mais preclaros homens que possuía”[721] – sendo que dois deles nunca tomaram assento[722]–, que, mesmo sem direito a voto, exerceram grande influência. Os principais debates desta Assembléia não foram de ordem teológica, já que praticamente todos eram Calvinistas, mas sim no que se refere ao governo da Igreja. "Embora houvesse diversidade quanto à Eclesiologia, havia unidade quanto à Soteriologia".[723]

Neste particular havia quatro partidos representados; os Episcopais: James Ussher (1581-1656), Brownrigg, Westfield, Prideaux; Presbiterianos: T. Cartwright (1535-1603), Walter Travers (c. 1548-1635), etc.; Independentes: (Congregacionais), “Os cinco Irmãos Dissidentes”, conforme eram chamados,[724] eram: Thomas Goodwin (1594-1665); Philip Nye (1596-1672); Jeremiah Burroughs (1599-1646), William Bridge (1600-1670), Sidrach Simpson; Erastianos: Assim chamados por seguirem o pensamento do T. Erasto (1524-1583) – que defendia a supremacia do Estado sobre a Igreja –, Thomas Coleman, John Selden (1584-1654), Whitelocke, J. Lightfoot (1602-1675). Estes entendiam que o trabalho do pastor era basicamente o de ensino; o pastor é o mestre. Prevaleceu no entanto, o sistema Presbiteriano de Governo.

O Breve Catecismo foi elaborado para instruir as crianças; O Catecismo Maior, especialmente para a exposição no púlpito, ainda que não exclusivamente. Eles substituíram em grande parte os Catecismos e Confissões mais antigos adotados pelas igrejas Reformadas de fala inglesa. Apesar da teologia dos Catecismos e da Confissão de Westminster ser a mesma, sendo por isso sempre adotados os três, parece que os mais usados são o Catecismo Menor e a Confissão.

Estes Credos foram logo aprovados pela Assembléia Geral da Igreja da Escócia [Confissão (27/08/1647); Catecismos Maior e Menor (28/07/1648)], sendo este ato homologado pelo Parlamento Escocês em 07/02/1749.[725] Eles tiveram e têm uma grande influência no mundo de fala inglesa, máxime entre os Presbiterianos – embora também tenham sido adotados por diversas igrejas batistas e congregacionais.[726] No Brasil, estes Credos são adotados pela Igreja Presbiteriana do Brasil, Presbiteriana Independente e Presbiteriana Conservadora.

1.4. O Pietismo:

O primeiro grande líder do Pietismo, foi o alemão Philipp Jakob Spener (1635-1705), que estudou em Estrasburgo, Basiléia, Genebra, Stuttgart e Tübingen. Na Suíça (1659), tomou contato com a Teologia Reformada, todavia continuou na Confissão Luterana.[727]

O Pietismo alemão denota um movimento surgido na Igreja Luterana, na segunda metade do século XVII, o qual teve como uma de suas características mais evidentes, a reação contra um cristianismo que sob muitos aspectos se tornara vazio, tendo uma prática dissociada da genuína doutrina bíblica.[728] O alvo do Pietismo é um retorno à teologia viva dos apóstolos e da Reforma, com forte ênfase na pregação do Evangelho, acompanhada de um testemunho cristão condizente. “Eu me pergunto – escreveu Spener em 1675 –, se o nosso estimado Lutero, caso ressurgisse nos dias de hoje, não teria também para nossas universidades palavras de repreensão quanto a essas e outras coisas, à semelhança de como agiu com zelo, em seu tempo.” Em outro lugar, diz: “Se o mais brilhante dos apóstolos [Paulo] voltasse ao nosso convívio hoje, ele próprio não compreenderia muitas coisas que as nossas engenhosas mentes proclamam dos púlpitos e das cátedras.”[729]

Analisando a Pia Desideria de Spener – obra que marca “o nascimento do pietismo”[730] –, podemos destacar quatro características principais do Pietismo, a saber:

1) A Experiência Religiosa: A experiência religiosa assume um caráter preponderante na vida do crente;

2) Biblicismo: Seus padrões doutrinários emanam da Bíblia. Ainda que o Catecismo [Catecismo Menor de Lutero, 1529) deve ser ensinado às crianças e aos adultos.[731]

3) Perfeccionismo: Preocupação com o seu desenvolvimento espiritual, bem como na proclamação do Evangelho e na prática social de socorro aos necessitados.

4) Reforma na Igreja: Desejo de reformar a Igreja, combatendo a sua letargia espiritual, bem como as suas práticas consideradas mundanas.

Esse programa pode ser assim dividido:[732] a) Maior uso das Escrituras; b) Diligente exercício do sacerdócio espiritual; c) Ensinar que o saber não é suficiente; ele deve se manifestar em obediência a Deus; d) Espírito de amor cordial na controvérsia; e) Alimento devocional e preparação pastoral dos estudantes de teologia.

1.5. O Log College e o Seminário de Princeton:

Entre 1716 e 1718,[733] chega na América, procedente da Irlanda, o "puritano", Rev. William Tennent (1673-1745)[Nicanor3] – que havia rejeitado anteriormente o sistema anglicano[734] –, ingressando na Igreja Presbiteriana, através do Sínodo de Filadélfia (17/9/1718).[735] Mais tarde, o Rev. Tennent preocupado com a preparação de pastores que atendessem a demanda na região de fronteira, fundou o "Log College" (1726), tendo como alunos, entre outros, três dos seus quatro filhos: Gilbert (1703-1764), William (1705-1777) e John (1707-1732) bem como, o também irlandês, Samuel Finley (1715-1766), que viria ser presidente do College de New Jersey (1761). Este "Seminário", que já funcionava antes da sua construção, foi elaborado fisicamente (1736-1737), de forma rústica, com troncos de árvores, em frente à sua casa em Neshaminy, Pensilvânia, vindo daí o nome jocoso de "Log College".[736] Apesar da oposição de muitos pastores que temiam o rebaixamento acadêmico na formação dos ministros presbiterianos – preocupação que não deixava de ter alguma pertinência –, o "Log College" cumpriu o seu papel, sendo os seus antigos alunos capazes de levar o Evangelho às regiões mais longínquas da Pensilvânia às Carolinas do Norte e do Sul.[737] Os jovens que se formaram nesta escola, construíram outras iguais, que produziram cristãos devotos e pregadores fervorosos.

Gilbert Tennent, aluno do primitivo "Log College", foi licenciado em maio de 1726,[738] pelo Presbitério de Filadélfia, trabalhando por um breve tempo como assistente de seu pai no Log College. Posteriormente, foi ordenado e instalado pastor da igreja de New Brunswick, no Vale Raritan, New Jersey, no outono de 1727.

Gilbert Tennent, influenciado pelo Rev. Theodore J. Frelinghuysen (pietista),[739]começou a pregar a necessidade de um avivamento (1733). Em 1743, foi pastorear a Segunda Igreja Presbiteriana de Filadélfia, que surgira como resultado da pregação de G. Whitefield (1714-1770) – que começara a pregar na América em 1739.[740] Em 1747, ele seria um dos fundadores do College of New Jersey (Princeton College).[741] Em (1753-1755), Tennent, juntamente com o Rev. Samuel Davies (1724-1761) – também antigo aluno do Log College, considerado um dos maiores pregadores americanos do século XVIII e notável compositor –, conseguiu levantar na Inglaterra, através de doações, mais de quatro mil libras para o Colégio de New Jersey (quantia que ultrapassou em muito às suas expectativas).[742]

Tennent, que era um grande admirador de Whitefield e amigo de Jonathan Edwards (1703-1758),[743] foi um dos responsáveis pelo reavivamento na América, sendo o principal personagem presbiteriano na propagação do avivamento em seu país. A sua pregação era constituída de profundidade teológica e verdadeira piedade cristã.[744]

Resumindo: “Em certa medida, através destes homens, o puritanismo da Nova Inglaterra entrou na corrente do presbiterianismo americano, mas a tendência principal desta corrente que se ampliava, era composta de irlandeses-escoceses, que lhe acrescentaram seu próprio fervor e entusiasmo.”[745] Não nos esqueçamos também, que o Pietismo contribui como um forte ingrediente nesta gama de influência, que zelava pela piedade individual e também, pela pureza doutrinária.

Em maio de 1808, na abertura dos trabalhos da Assembléia Geral, o Rev. Archibald Alexander (1772-1851) – convertido no "Grande Reavivamento" de 1789 –,[746] pastor desde 1807 da Terceira Igreja Presbiteriana de Filadélfia, pregou um sermão baseado em 1Coríntios 14.12, falando da necessidade da Igreja Presbiteriana ter um Seminário em Princeton. Ao que parece este sermão foi decisivo para o projeto e criação do referido Seminário.[747] Na Assembléia Geral de 1811, aprovava-se a criação do Seminário, tendo como propósito:

“... formar homens como ministros do Evangelho, que tenham fé sincera, e amem cordialmente, e portanto, esforcem-se por propagar e defender, em sua pureza, simplicidade, e plenitude, aquele sistema de fé e prática da religião o qual está estabelecido explicitamente na Confissão de Fé, Catecismos [de Westminster], e Sistema de Governo e Disciplina da Igreja Presbiteriana; e assim perpetuar e estender a influência da verdadeira piedade evangélica, e norma do Evangelho....”[748]

Em maio de 1812, a Assembléia Geral escolhe o primeiro professor do Seminário de Princeton, sendo eleito o Rev. Archibald Alexander,[749] que iniciou o curso no mês de agosto daquele ano, contando com três alunos,[750] continuaria trabalhando neste Seminário até a sua morte em 1851. A experiêncira religiosa, como era vista por Alexander, norteou o pensamento de Princeton:

“Na avaliação da experiência religiosa é de todo importante manter continuamente à vista o sistema de verdade divina contido nas Sagradas Escrituras; caso contrário, nossa experiência, como ocorre muito freqüentemente, se degenerará em entusiasmo. (...) Em nossos dias não há nada mais necessário que estabelecer na religião, uma cuidadosa distinção entre as experiências verdadeiras e as falsas; para ‘provar os espíritos se procedem de Deus.’ E ao fazer esta discriminação, não há outro padrão de prova senão a infalível Palavra de Deus. Tragamos cada pensamento, motivo, impulso e emoção, ante esta pedra de toque. ‘À lei e ao testemunho, se não falam de acordo com estes, é porque não há luz neles’”.[751]

Alexander mais do que o primeiro professor de Teologia do Seminário de Princeton, foi o modelador do pensamento teológico daquela instituição. Noll, observa que,

"Archibald Alexander, condensou grande parte da tradição de Princeton em sua própria vida. Era uma pessoa de piedade e calor cristão, mas suas ênfases principais na teologia eram a fidedignidade das Escrituras e a capacidade da razão humana para compreender a verdade cristã. Suas fontes intelectuais eram Calvino, a Confissão de Fé de Westminster e o seus Catecismos, o teólogo suíço François Turretin e a filosofia escocesa do senso comum."[752]

Herman Bavinck (1854-1921), resume bem a Teologia de Princeton:

“A chamada Teologia de Princeton é principalmente uma reprodução do Calvinismo do século XVII, como foi formulado na Confissão de Westminster e no Concensus Helviticus, e especialmente explicado por F. Turritine na sua Theologia Elenctica.”[753]

Desta forma, o “Log College” tornou-se o precursor do Princeton College (1747) e do Theological Seminary (1812), bem como de todas as outras instituições similares dentro da Igreja Presbiteriana na América.

A Institutio exerceria mais tarde, uma forte influência na Teologia de Princeton, através do seu primeiro professor Archibald Alexander (1772-1851) – apreciador de John Locke (1632-1704) e da filosofia do senso-comum[754] –, que a adotaria como livro-texto no Seminário de Princeton, desde a sua fundação em 1812. Charles Hodge (1797-1878), que fora aluno e sucessor de Alexander, lecionando Teologia Exegética e Didática na mesma instituição (1840-1878),[755] adotou também o livro de Turretini,[756] tendo profundo respeito por este. Em 1845, Hodge escrevera a respeito de Turretini: “....No todo, o melhor escritor de teologia sistemática que conhecemos. Não obstante a tintura de escolasticismo que está presente em sua obra, ela se adapta, de modo admirável, à situação atual da teologia em nosso país.”[757] Na sua Teologia Sistemática, publicada posteriormente, Turretini é citado com alguma freqüência como um dos fundamentos de suas conclusões.[758] É sempre bom lembrar que A.G. Simonton (1833-1867), aluno de Hodge,[759] estudou teologia nesta obra, já que a Teologia Sistemática de Hodge[760] – ainda em fase de elaboração –, só substituiria o livro de Turretini a partir de 1872-1873.[761]

No mês de setembro de 1855, A.G. Simonton começa seus estudos no Seminário de Princeton.[762] Em 12 de agosto de 1859, Simonton desembarcou no Brasil como Missionário...

É sempre bom lembrar que A.G. Simonton (1833-1867), aluno de Hodge,[763] estudou teologia nesta obra, já que a Teologia Sistemática de Hodge[764] – ainda em fase de elaboração –, só substituiria o livro de Turretini a partir de 1872-1873.[765]

2. O presbiterianismo no brasil:

“A reforma veio, mas veio de Deus, donde só podia vir. Os instrumentos porém, de que Deus se quis servir, foram os seus servos eleitos, que conhecem, professam e ensinam as puras doutrinas de Sua santa Palavra.” – José Manoel da Conceição, Sentença de Excomunhão e Sua Resposta, Rio de Janeiro, Typographia Perseverança, 1867, p. 28.

Introdução:

Quando pensamos no presbiterianismo no Brasil, invade-nos a lembrança sempre estimulante do Rev. A.G. Simonton, que iniciou a então chamada Igreja Presbiteriana no Brasil. Esta lembrança é tão evidente, que a Igreja Presbiteriana do Brasil comemora o seu aniversário, não com a data da organização da sua Primeira Igreja em solo pátrio (12/01/1862) mas, sim, com a chegada de Simonton (12/08/1859).

Todavia, por uma questão de seqüência histórica – bem como a relevância dos eventos para a história que estamos esboçando –, devemos mencionar um outro personagem, um pastor presbiteriano que aqui chegou 8 anos antes de Simonton e, que realizou um importante trabalho, como precursor do Presbiterianismo no Brasil. Contudo, o seu trabalho nem sempre foi reconhecido. Refiro-me ao Rev. James Cooley Fletcher (1823-1901), que fora ordenado Ministro do evangelho em 13/02/1851, pelo Presbitério de Muncie, Indiana.[766]

2.1. Ashbel Green Simonton (1833-1867):

2.1.1. Profissão de Fé e Ingresso no Seminário:

No dia 1/5/1855, Terça-feira, à noite, "o Conselho da igreja se reuniu com os que querem filiar-se e, depois do exame foram admitidos vinte e um candidatos. A reunião foi muito solene, de resultados sérios para melhor ou pior. Cada um foi examinado em separado por alguns minutos; depois o Conselho se reuniu na sala do Sr. Robinson."[767]

6/5/1855, Domingo, Simonton registra: "Hoje, com mais vinte e duas pessoas, fiz pública aliança com Deus, para ser Seu no tempo e na Eternidade; essa aliança jamais será quebrada."[768]

Esta decisão foi tomada em meio às dúvidas vencidas e outras reinantes, conforme ele mesmo confessa: "Cheguei a este ponto através de muitas dúvidas e desalentos mas agora a maioria desapareceu."[769] Oito meses depois, quando completava 23 anos, avalia o passo dado: "Hoje é meu aniversário, o primeiro desde que fiz a profissão. Minha fé era fraca e minhas impressões tão inadequadas que não podia deixar às vezes de me sentir indeciso quanto à minha verdadeira condição."[770]

À época do seu exame para a Profissão de Fé, Simonton, já demonstra estar praticamente convencido de que Deus lhe chamara para o Ministério da Palavra:

"Quando fui examinado o Sr. Weir perguntou se eu tinha decidido quanto à minha profissão, e se estaria disposto a ser pregador, caso me convencesse de ser esse o meu dever. Meus sentimentos a esse respeito são intensos. No batismo fui consagrado a esse ministério;[771] em toda a vida tive convicção de ser responsável pelo cumprimento dos votos de meus pais e secretamente, (pois nunca confessaria este sentimento a outros) tenho desejado que chegue o dia em que possa cumprir essa promessa. E, mais estranho e inexplicável, tenho sentido forte desejo de possuir os dons necessários à pregação do Evangelho (...). Pois se agora concluir ser meu dever e privilégio cumprir tantas expectativas, aceitarei alegremente e louvarei a Deus, por me dar tal honra. Não terei dúvidas em sacrificar seja o que for (do ponto de vista mundano), para optar pelo ministério – contanto que veja a vocação com clareza."[772]

Três dias depois, quando professou sua fé:

"Assumi os votos feitos por meus pais em minha infância, para ser do Senhor, e fazer de Seu serviço o supremo objetivo da vida. Para que todo caminho que eu tomar seja marcado por Sua Palavra e Sua Providência, jamais me deixarei afastar do caminho que Ele indicou; especialmente se Sua Vontade clara me indicar o Ministério, para lá irei com alegria e zelo. E para descobrir Sua Vontade orarei e esperarei por Ele com coração sincero."[773]

Duas semanas depois, Simonton já tem certeza da sua vocação e, agora, seus olhos se voltam para o Seminário de Princeton. 20/05/1855, escreve no seu Diário: "Tomei minha primeira lição de Hebraico hoje. Pretendo dedicar uma hora ou duas ao Hebraico enquanto James está em casa. Os professores do Seminário, em Princeton, consideram importante que se saiba um pouco dessa língua antes de entrar no Seminário, portanto é meu dever aprender."

A sua preparação não se limitava ao aspecto acadêmico; Simonton procura definir com "clareza" o que pretende fazer no Seminário no que se refere à sua vida espiritual, dizendo:

"E agora, às vésperas de ir para o Seminário estudar Teologia, seria bom olhar as tentações que irão seguir-me, e me esforçar para escapar de seu poder. Existem deveres que deverão receber especial atenção; e para nunca deixar de lembrá-los, e examinar minhas atitudes em relação a eles daqui em diante, vou escrevê-los. Além disso, é bom definir com clareza o que quer fazer, e fazê-lo deliberadamente. Ei-los:

"Freqüência constante aos exercícios devocionais do Seminário e uso de todos os meios de graça que edifiquem minha piedade (...) orações particulares (...) vigilância sobre meu coração contra os pecados que o rodeiam (...) Estudo devocional da Bíblia, e leitura dos trabalhos de experiências religiosas e memórias de cristãos que se distinguiram pela piedade sincera de seus corações.

"Comunhão constante e íntima com Deus para crescer na vida divina (...) O cultivo da 'graça da oração' (...)"[774]

No mês de setembro de 1855, Simonton começa seus estudos no Seminário de Princeton[775]...

No seu curso teológico, destacou-se no estudo das línguas orientais.[776] É perceptível pelos registros que fez em seu Diário, o gosto que tinha pelo estudo de línguas estrangeiras; assim, encontramo-lo com, ao que parece, um bom conhecimento de latim,[777] grego,[778] alemão,[779] hebraico,[780] árabe[781] e, posteriormente o português, língua que Simonton aprendeu a falar fluentemente e escrever com estilo e elegância.

2.1.2. A Sua Vocação Missionária:

A vocação missionária de Simonton foi estimulada logo no segundo mês de aula; o instrumento para tal mister foi o Dr. Charles Hodge[HMPC4] (1797-1878), um dos maiores teólogos presbiterianos de todos os tempos. Vejamos como isto se deu. Simonton registra no seu Diário, 14/10/1855:

"Ouvi hoje um sermão muito interessante do Dr. Hodge sobre os deveres da igreja na educação. Falou da necessidade absoluta de instruir os pagãos antes de poder esperar qualquer sucesso na propagação do Evangelho .(...) Esse sermão teve o efeito de levar-me a pensar seriamente no trabalho missionário no estrangeiro. (...) Eu nunca havia considerado seriamente a alternativa de trabalhar no estrangeiro; sempre parti do princípio de que minha esfera de trabalho seria em nosso país, tão vasto, e que cresce tanto. Pois estou agora convencido de que devo considerar a possibilidade seriamente; e se há tantos que preferem ficar, não será meu dever partir?"

Esta centelha vai arder em seu coração gradativamente...

Diário, 20/01/1856:

"Estou pronto para desistir do mundo com suas riquezas e honras, e ir a qualquer lugar aonde Ele me envie a Seu serviço."

Diário, 04/02/1856:

“Sinto-me atraído para o trabalho missionário (...) No momento o trabalho missionário apresenta, parece-me, maior demanda, não apenas por causa da grande falta dos meios da graça, mas porque poucos estão dispostos a ir (...)

Diário, 10/10/1857:

"Por mais de um ano tenho resolvido na mente a possibilidade de vir a ser missionário. Quando a idéia primeiro surgiu, resolvi pensar seriamente, orar, e adiar a decisão até perto do fim do curso. Como está chegando esse fim, a questão pesa cada vez mais sobre mim, e se fosse possível, gostaria de vê-la decidida. O Dr. Wilson (das Missões Estrangeiras) esteve em meu quarto hoje, e falamos sobre as Missões; dei-lhe fortes razões para crer que eu formalmente me ofereceria para trabalhar com a Junta. Meus sentimentos a respeito desse trabalho já são menos inquietos agora do que quando a decisão estava longe. No que depende de mim, estou pronto para partir; e sinto, mais que nunca, ser esse o caminho de meu dever."

Pouco mais de um ano depois, já não há mais dúvidas. A incerteza foi vencida pela certeza do chamado de Deus para o campo Missionário:

Diário, 27/11/1858:

"Finalmente o passo decisivo foi dado. No dia 25 mandei minha proposta formal à Junta de Missões Estrangeiras. Mencionei o Brasil como o campo no qual estaria mais interessado, mas deixei à Junta a decisão final. Irei só. Assim, a incerteza que vem me oprimindo há um ano finalmente terminou. A mão da Providência pode ser evidentemente vista nisto. A Ti, ó Deus, confio meus caminhos na certeza de que o Senhor dirigirá meus passos retamente."

A resposta não tardou, na primeira quinzena de dezembro de 1858, Simonton registra do seu Diário, 13/12/1858:

"Tendo na última quarta-feira recebido resposta da Junta, dizendo que tinha sido nomeado missionário, ponho em prática um plano feito meses atrás (...) enquanto preparo a partida para o campo estrangeiro.".[782]

Enquanto Simonton vai tomando consciência da sua vocação para servir a Deus como missionário no Brasil, a vida continua através do desenrolar dos fatos. Assim, a 14 de abril de 1858, poucas semanas depois da sua formatura, Simonton foi licenciado pregador do Evangelho, pelo Presbitério de Carlisle.[783] Estagiou com Rev. W.H. Foot, em Romney, Virgínia; o seu trabalho foi tão bem sucedido que "as igrejas da região pedem-lhe formalmente que reconsidere a decisão de partir. Queriam-no como pastor."[784] Todavia, ele está decidido – consciente da sua vocação –, a vir para o Brasil. Dentro desta perspectiva, Simonton vai para New York, onde começa a estudar o português.[785]

Em 14 de abril de 1859.[786] precisamente um ano após a sua Licenciatura, Simonton é ordenado ao Sagrado Ministério em Harrisburg pelo Presbitério de Carlisle, onde pregou um sermão intitulado "Passa à Macedônia", o qual foi publicado posteriormente no "Presbyterian Magazine". A parênese de ordenação, foi feita pelo seu tio materno, Rev. William D. Snodgrass D.D.[787]

O Dr. John Leighton Wilson (1809-1886), secretário da "Board Foreing Missions" (Junta de Missões Estrangeiras)[788], que conversara com Simonton em 10/10/1857,[789] aconselha-o a visitar o Western Seminary,[790] em Alleghany, Pensilvânia, para conhecer o Sr. Alexander L. Blackford (1829-1890), que havia se formado e ordenado naquele ano (1859) e, que também fora aceito como missionário para o Brasil[791].A amizade entre ambos, surgiu e consolidou-se em poucos dias de convívio; como veremos posteriormente.

2.1.3. Simonton no Brasil:

A Igreja Presbiteriana do Brasil, completou em agosto passado (1998), 139 anos. A data comemorativa refere-se à chegada de Ashbel Green Simonton (1833-1867) ao Brasil, proveniente dos Estados Unidos, em 12/08/1859. Simonton veio como Missionário da Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana da América do Norte.

Simonton que já havia estudado português em New York, dedicou-se aqui, com afinco ao estudo da nossa língua,[792] iniciando uma Escola Bíblica Dominical em 22/4/1860.[793]

Em 25/7/1860, chega outro missionário enviado pela mesma Missão; Rev. Alexander Lattimer Blackford (1829-1890), acompanhado de sua esposa, Elizabeth, irmã de Simonton. O terceiro missionário, o Rev. F.J.C. Schneider (1832-1910), chegou em 7/12/1861.

A data de organização da Primeira Igreja Presbiteriana no Brasil, é de 12/1/1862, à rua Nova do Ouvidor, nº 31, Rio de Janeiro, então capital do Império. Na ocasião duas pessoas fizeram a sua pública profissão de fé: Henry E. Milford, natural de New York e Camilo Cardoso de Jesus, português. O primeiro por ser de origem Episcopal – já tendo sido batizado –, não foi rebatizado; o segundo, Sr. Camilo, foi rebatizado (ele era de origem católica).[794] A segunda Igreja, foi organizada em São Paulo, por Blackford, em 5/3/1865, à rua São José, nº 1 (hoje Líbero Badaró). À ocasião, seis pessoas professaram a fé e foram batizadas. A terceira Igreja, foi organizada também por Blackford, em Brotas, interior de São Paulo, em 13/11/1865. Onze pessoas foram recebidas por Profissão de Fé e Batismo.[795]

2.2. A Igreja Presbiteriana no Brasil e os Símbolos de fé:

No sábado, 16/12/1865,[796] organizou-se o Presbitério do Rio de Janeiro, em reunião na casa de Blackford, à rua São José, nº 1, São Paulo.[797] O Presbitério era composto por três pastores: A.G. Simonton, do Presbitério de Carlisle; A. L. Blackford, do Presbitério de Washington e F.J.C. Schneider, do Presbitério de Ohio. Mediante proposta de Simonton, Blackford foi escolhido moderador, ficando Schneider como secretário temporário e Simonton como Secretário Permanente. O Presbitério do Rio de Janeiro (organizado em São Paulo), ficou sob a jurisdição do Sínodo de Baltimore.[798] Segundo Landes, na ocasião os missionários apresentaram cartas de transferência dos seus respectivos presbitérios para o Presbitério do Rio.[799]

Nesse mesmo dia o ex-padre José Manoel da Conceição (1822-1873) foi examinado quanto ao seu desejo de ser Ministro do Evangelho: “principiando pelo exame de costume sobre os motivos que influíram nele para que desejasse ser incumbido do Ministério do Evangelho”,[800] feitos outros de praxe e depois Conceição declarou aceitar a Confissão de Fé [de Westminster] e da Forma de Governo da Igreja Presbiteriana. Mediante proposta de Simonton, o Presbitério votou favorável, dispensando-o inclusive dos “demais exames e formalidades exigidos”, não porém de um sermão pregado como de praxe. Foi marcado o dia seguinte às 10h30m. sendo inclusive indicado o texto do sermão: Evangelho de Lucas, capítulo 4, versos 18 e 19.[801]

No dia seguinte à hora marcada, após a abertura da Sessão, pregou Conceição com uma audiência de cerca de 25 pessoas. O sermão foi aprovado. Às 17 horas, com a parênese de Simonton, baseada em 2 Coríntios 5, verso 20, o Presbitério procedeu a ordenação do Rev. José Manoel da Conceição;[802] o primeiro pastor brasileiro. O Presbitério passou a contar agora com quatro pastores.[803]

Ainda não havia presbíteros na Igreja Presbiteriana no Brasil.[804] O Presbitério era formado por três igrejas: a do Rio de Janeiro, São Paulo e Brotas.

Com a organização de um Presbitério nacional, ligado ao Sínodo de Baltimore, significa que o sistema de liturgia, disciplina e doutrina daquele Sínodo é também adotado aqui. Pois bem, em 1716 os três Presbitérios americanos de Filadelphia, Newcastle e Long Island[805] constituíram o Sínodo de Filadélfia que, em 1729, adotou como Símbolo de Fé, a Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Menor de Westminster, com exceção dos capítulos que se referiam aos magistrados civis.[806] Esta decisão ficou conhecida como “Ato de Adoção”.[807] Refletindo a teologia calvinista no presbiterianismo americano, os símbolos de Westminster foram revisados e emendados em 1787 e, confirmados em maio de 1789 na organização da Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos.[808] Desta forma, podemos concluir que os Símbolos de Westminster foram adotados no Presbiterianismo brasileiro desde a sua implantação.

O ensino de Catecismo era parte integrante do pastorado de Simonton. Como vimos o seu primeiro trabalho em português foi um Escola Dominical em 22/04/1860. Os textos usados com as cinco crianças presentes (três americanas da família Eubank e duas alemãs da família Knaack), foram: A Bíblia, O Catecismo de História Sagrada[809] e o Progresso do Peregrino, de Bunyan.[810] Duas das crianças, Amália e Mariquinhas (Knaack), confessaram ou demonstraram na segunda aula (29/04/1860), terem dificuldade em entender John Bunyan.[811]

Aqui nós vemos delineados os princípios que caracterizariam a nossa Escola Dominical: O estudo das Escrituras, o estudo da história Bíblica através do Catecismo de História Sagrada[812] e com uma aplicação ética e mística, através do Progresso do Peregrino.

Na edição de 04/02/1865 da Imprensa Evangélica, deu-se início à publicação de um “Breve catecismo para meninos”, com uma nota de agradecimento: “Sumamente gratos à digna senhora que nos ofereceu esta tradução do inglês, nós chamamos a atenção dos senhores pais de família para estas doutrinas tão puras e salutares; e o fazemos com a melhor boa vontade, porquanto também nos lisonjeia a colaboração de tão eminente tradutora.”[813]

No seu relatório ao Presbitério de 1867, Simonton diz que havia dois cultos na Igreja e um às quartas-feiras, fazendo uma modificação no culto matinal, realizando “um exercício mais familiar, os membros da igreja tomando parte mais ativa nas orações e meditação que são o fim dessa reunião.”[814] Entendendo que a Igreja deve ser uma escola para o crente, adotou a prática de uma vez por mês substituir o sermão “pelo estudo e a explicação do breve catecismo [de Westminster?]”, crendo que “a excelência desta exposição das doutrinas da salvação é reconhecida por todos.”. Seu objetivo era preparar os crentes para defender-se dos ataques incrédulos; portanto, “estou fazendo o que está em mim para gravar este catecismo na memória de todos.”[815]

Em 1870, após a Licenciatura de Carvalhosa,[816] Torres[817] e Trajano,[818] o Presbitério do Rio de Janeiro decide que os referidos Licenciados se preparem para a próxima reunião do Presbitério (1871) com vistas à sua Ordenação ao Sagrado Ministério, estudando os capítulos 1 a 14 da Confissão de Fé [Westminster], a fim de serem “examinados minuciosamente”. Recomendou-se também, que os candidatos “estudassem particularmente sobre estes assuntos Hodge’s Commentary on the Confession of Faith e Hodge’s Outhines of Theology.”[819]

Em 1876, a Igreja Presbiteriana publicou em português a Confissão de Fé de Westminster,[820] constando também da “Epitome da Fórma de Governo e Disciplina da Igreja Presbyteriana”, que em seu prefácio, à pagina 78, dizia:

“O seguinte Epítome de Forma de Governo e Disciplina da Igreja Presbiteriana, foi preparado por uma comissão do Presbitério do Rio de Janeiro, para de alguma maneira suprir a falta de uma edição autorizada em sua Forma de Governo e Disciplina, que até agora não tem sido possível oferecer ao público; o que porém se espera seja realizado sem muita demora.”

Durante o ano de 1881 saiu publicado em vários fascículos, na Imprensa Evangélica,[821] o “Livro de Ordem da Igreja Presbyteriana no Brazil”. No capítulo VII, da Primeira Parte, dizia:

“A Constituição da Igreja Presbiteriana no Brasil consiste de seus Símbolos Doutrinais compreendidos na Confissão de Fé, nos Catecismos Maior e Breve, juntamente com o Livro de Ordem Eclesiástica, que abrange a Forma de Governo, as Regras de Disciplina, e o Diretório do Culto.”

Para os pastores, presbíteros e diáconos serem ordenados, tinham que responder afirmativamente à seguinte pergunta: “Recebeis e adotais sinceramente a Confissão de Fé e Catecismos desta Igreja, como fiel exposição do sistema doutrinário ensinado nas Santas Escrituras?”[822]

Como exemplo, cito que o Rev. Eduardo Carlos Pereira e o Rev. José Zacharias de Miranda, foram ordenados após cumprirem os exames previstos pelo “Livro de Ordem”.[823]

Em 1888, a Igreja Presbiteriana no Brasil constava de três Presbitérios,[824] a saber: do Rio de Janeiro (organizado em 16/12/1865); de Campinas-Oeste de Minas (organizado em 14/4/1887) e o de Pernambuco (organizado em 17/8/1888).[825] Assim, autorizados pelas Assembléias Gerais das Igrejas Presbiterianas dos Estados Unidos (Norte e Sul), estes Presbitérios se reuniram no dia 6 de setembro de 1888, no templo da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, sob a direção do Rev. G.W. Chamberlain, para constituir o primeiro Sínodo nacional. Na ocasião, pregou o Rev. Eduardo Lane. Em seguida, procedeu-se à chamada dos respectivos representantes dos Presbitérios. A convite do presidente, o Rev. A.L. Blackford leu o ato constitutivo do Sínodo, que aprovado previamente pelos presbitérios, foi aprovado unanimemente pelo Sínodo, o qual recebeu o seguinte nome: “Synodo da Egreja Presbyteriana no Brazil”. O Rev. Blackford foi eleito Moderador do Sínodo, no primeiro escrutínio.[826]

Aqui, os Padrões de Westminster são confirmados como símbolos de Fé da Igreja Nacional. No Ato Constitutivo, Art 1º, § 2º, lemos:

“Os símbolos da igreja assim constituída serão a Confissão de Fé e os Catecismos da assembléia de Westminster, recebidos atualmente pelas igrejas presbiterianas nos Estados Unidos, e o Livro de Ordem publicado na Imprensa Evangélica de 1881, com as emendas já adotadas pelos presbitérios.”

A nossa Igreja fiel à sua compreensão bíblica e ao seu compromisso histórico, continua adotando os mesmos Símbolos de Fé. A Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil, promulgada em 20 de julho de 1950 e, ainda hoje em vigor, diz no Capítulo I, Art 1º:

“A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma federação de igrejas locais, que adota como única regra de fé e prática as Escrituras Sagradas do Velho e Novo Testamento e como sistema expositivo de doutrina e prática a sua Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve....”.

Os Padrões de Westminster, são os Símbolos de Fé de todas as Igrejas Presbiterianas do mundo que tiveram a sua origem inglesa ou escocesa.[827]

anotações finais: o que significa ser reformado?

“.... É evidente que o calvinismo é um sistema perfeito, com ensino sobre todos os aspectos da verdade.” – D.M. Lloyd-Jones em carta à sua esposa, datada de 16/09/1939, In: D. Martyn Lloyd-Jones: Cartas 1919-1981, São Paulo, PES., 1996, p. 73.

A Teologia Reformada pode ser honesta e conscienciosamente resumida como a “Teologia dos Cinco Pontos”?![828] Bem, esses pontos são fundamentais para a correta ênfase da Soberania de Deus e sua aplicação na salvação de Seu povo. Contudo, esses marcos são apenas o princípio, não todo o Calvinismo.[829] Portanto, nem cinco nem cinqüenta!

Em Mileto, Paulo quando se despede dos presbíteros de Éfeso, diz que durante o seu ministério de três anos entre eles, jamais deixou de “anunciar todo o desígnio de Deus” (At 20.27). O Evangelho não consiste no anúncio de “algumas partes” da Bíblia, mas sim de todo o “Conselho” de Deus revelado nas Escrituras. (Vd. Gl 1.8,9,11). O conteúdo da mensagem cristã deve ser nada mais, nada menos do que toda a vontade revelada de Deus (Vd. Dt 29.29).

Conforme já mencionamos, "o calvinismo é uma maneira teocêntrica de pensar acerca da vida, sob a direção e controle da própria Palavra de Deus."[830] O Calvinismo envolve uma nova cosmovisão, que, partindo da Palavra, afeta obviamente todas as áreas de nossa existência, não havendo compartimentos estanques do ser e do saber onde a perspectiva teocêntrica não se faça presente de forma determinante em nossa epistemologia doutrinária e existencial.

O Calvinismo, com sua ênfase na centralidade das Escrituras, é mais do que um sistema teológico, é sobretudo, uma maneira teocêntrica de ver, interpretar e atuar na história.[831]

O Cristianismo – conforme entende o Calvinista[832] –, não é uma forma de acomodação na cultura, antes de formação e de transformação através de uma mudança de perspectiva da realidade, que redundará necessariamente numa mudança nos cânones de comportamento, alterando sensivelmente as suas agendas e praxes. Todavia, neste estado de existência, nenhuma cultura é ou será perfeita; haverá sempre, em maior ou menor grau o estigma do pecado. O calvinismo consiste numa busca constante de fidelidade a Deus; a transformação cultural é apenas um resultado daqueles que têm os olhos firmados na Palavra, um coração prazerosamente submisso a Deus e um comprometimento existencial no mundo, no qual vive e atua para a glória de Deus. Com estes princípios o Calvinismo influenciou as artes,[833] a política,[834] a economia,[835] a literatura[836] e outros diversos setores da cultura.[837] Schaff comenta que “O senso da soberania de Deus fortaleceu os seus seguidores contra a tirania de senhores temporais, e os fez os campeões e promotores de liberdade civil e política na França, Holanda, Inglaterra, e Escócia.”[838]

Calvino, com sua vida e ensinamentos, contribuiu para forjar um tipo novo de homem: “O reformado”,[839] que vive no tempo, a plenitude do seu tempo para a glória de Deus! Portanto, “O verdadeiro discípulo de Calvino só tem um caminho a seguir: não obedecer ao próprio Calvino, mas Àquele que era o mestre de Calvino.”[840]

Portanto, podemos dizer que o Calvinismo prima não simplesmente pela preocupação teológica – o que sem dúvida é fundamental – mas, sim, pela obediência incondicional ao Deus da Palavra. Assim, dentro desse princípio fundamental – que recebe os Símbolos de Westminster como exposição fiel das Sagradas Escrituras –, podemos dizer que a nossa identidade Reformada enfatiza, entre tantas outras coisas:

1) A salvação por Graça[841] unicamente em Jesus Cristo; o Deus encarnado: Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem.[842]

2) A Palavra de Deus, e somente Ela é a autoridade final de todo o nosso pensar, crer, agir e sentir.[843]

3) A Inerrância e infalibilidade das Escrituras como princípios teóricos e práticos que norteiam a nossa perspectiva da realidade em todas as suas dimensões: religiosa, social, política, econômica, ética, profissional, familiar, etc. Portanto, uma ética comprometida com as Escrituras.[844]

4) O Culto a Deus como meta e razão de ser da Igreja, que se manifeste em consonância com a Palavra, em santo temor e sincera gratidão para com Deus.[845]

5) Um compromisso com o real a partir da fé em Cristo, gerada em nós pelo Espírito.[846]

6) A aceitação incondicional da Majestade de Deus e do Senhorio de Cristo em todas as coisas a começar de nossa salvação definitiva.[847]

7) A compreensão de que a Igreja de Deus não é um conjunto de pessoas individuais mas, é o corpo de Cristo, o povo constituído por Deus através do Seu Espírito, para cultuá-Lo, viver a Sua Palavra e proclamar a Sua salvação em Cristo.[848]

8) O zelo pela pregação fiel da Palavra, administração correta dos Sacramentos e o exercício fiel da disciplina.[849]

9) Oração sincera e submissa. Calvino entendia que “com a oração encontramos e desenterramos os tesouros que se mostram e descobrem à nossa fé pelo Evangelho” e,[850] que “a oração é um dever compulsório de todos os dias e de todos os momentos de nossa vida”[851] e: “Os crentes genuínos, quando confiam em Deus, não se tornam por essa conta negligentes à oração.”[852] Portanto, este tesouro não pode ser negligenciado como se “enterrado e oculto no solo!”.[853] Aqui está o segredo da Palavra de Deus, segundo a percepção de Calvino: Estudo humilde[854] e oração, atitudes que se revelam em nossa obediência a Cristo.[855] Schaff resume: “Absoluta obediência de seu intelecto à Palavra de Deus, e obediência de sua vontade à vontade de Deus: esta foi a alma de sua religião.”[856] Daí o seu conselho: “A não ser que estabeleçamos horas definidas para a oração, facilmente negligenciaremos a prática.”[857] No entanto, devemos ter sempre presente o fato, que é o Espírito “Quem deve prescrever a forma de nossas orações.”[858]

10) A Glória de Deus como alvo supremo de toda as coisas. (1Co 10.31). “Não busquemos nossos próprios interesses, mas antes aquilo que compraz ao Senhor e contribui para promover sua glória.”[859]

Encerro essas anotações, com as palavras do Rev. José Manoel da Conceição (1822-1873), o primeiro grande reformador nacional:

“Não há reforma possível que não comece por reafirmar: 1º que Cristo crucificado uma só vez no Calvário é a única e suficiente expiação pelo pecado, e já não há mais oferenda pelo pecador; 2º, que os méritos de Cristo estão ao alcance de toda a alma contrita e crente; 3º que a essência de uma vida cristã está na reabilitação do homem interior, e não há força capaz de efetuar tal transformação exceto o Espírito de Deus, com quem estamos em contato imediato.”[860]

***

Mais uma coisa, deixem-me repitir algo que falei na solenidade de formatura do Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição (1998): Uma igreja pode ser verdadeiramente “implodida” teológica, espiritual e eticamente partindo de uma mudança constitucional ou do seu menosprezo, quer proposital quer não, contudo nunca impunemente. Lembremo-nos de que uma Igreja pode ser Reformada e não ser Presbiteriana, ser episcopal por exemplo e, pode ser Presbiteriana sem ser Reformada; a nossa, no entanto – Igreja Presbiteriana do Brasil –, é Reformada em Sua Teologia e Presbiteriana em seu governo; devemos zelar por isso e nos aperfeiçoar em nossa vivência eclesiástica. Que Deus nos ajude. Amém.

São Paulo, 3 de novembro de 1998.

Revisão e acréscimo de 09/04/02.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


NOTAS

[1]Já lecionara outras matérias naquela Instituição desde 1980.

[2] Cf. B.B. Warfield, Calvin and Calvinism, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House (The Work’s of Benjamin B. Warfield), 1981, Vol. V, p. 353.

[3]Cf. Alister E. McGrath, The Intellectual Origins of the European Reformation, Cambridge, Massachusetts, Blackwell Publishers, 1993, p. 6.

[4] B.B. Warfield, Calvin and Calvinism, p. 353. Vd. também: W.S. Reid, Tradição Reformada: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, São Paulo, Vida Nova, 1990, Vol. III, p. 562. (Doravante, citado como EHTIC).

[5]Esta Confissão foi escrita por dois jovens teólogos: Caspar Olevianus (1536- c. 1587) – quem recebeu influência de Melanchton (1497-1560) e de Peter Martyr Vermigli (1560-1562) –, professor de teologia na Universidade de Heidelberg e Zacharias Ursinus (1534-1583), que fora aluno de Melanchton, em Wittenberg (1550-1557), bem como amigo de Calvino (1509-1564); exercendo o professorado de teologia em Heidelberg (1562-1568). Schaff (1819-1893), diz que "Olevianus foi inferior à Ursinus na erudição, porém foi superior no púlpito e no governo da igreja" (P. Schaff, The Creeds of Christendom, 6ª ed. Revised and Enlarged, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, (1931), Vol. I, p. 534 (Doravante, citado como COC). J.T. McNeill diz a mesma coisa com outras palavras: “Ele (Olevianus) era dois anos mais jovem que Ursinus, mais eloqüente e menos erudito.” (Vd. J.T. McNeill, The History and Character of Calvinism, New York, Oxford University Press, 1954, p. 270).

O Catecismo ficou pronto em janeiro de 1563, existindo um exemplar desta primeira edição na Biblioteca Nacional de Viena, datado de 19/01/1563. Neste mesmo ano, foram publicadas mais três edições, sendo a quarta considerada a mais completa e definitiva. No prefácio da primeira edição, Frederico III, o “Piedoso” (1515-1576), estabeleceu três propósitos para este Catecismo, a saber: Instrução catequética; um guia para pregação e uma forma confessional de unidade. Frederico III, foi o primeiro príncipe alemão a adotar um Credo Reformado, como distinto do Luterano.

O Catecismo de Heidelberg foi adotado por um Sínodo de Heidelberg (19/01/1563), sendo aceito também na Escócia, servindo de modo especial para o ensino das crianças [ate à época da adoção dos Catecismos de Westminster (28/07/1648)]. O Sínodo de Dort também o aprovou. Heidelberg é o símbolo das Igrejas Reformadas da Alemanha, da Holanda e dos Estados Unidos.

Este Catecismo tem como dois de seus pontos fortes o seu aspecto não polêmico – com exceção da pergunta 80 –, e o tom pastoral com o qual ele foi escrito, usando muitas vezes a primeira pessoa do singular, sendo as suas respostas uma declaração pessoal de fé, tendo as verdades teológicas uma aplicação bem direta às necessidades cotidianas do povo de Deus.

Ele foi traduzido para todas as línguas da Europa e muitas Asiáticas, sendo amplamente usado. Devido a esta amplitude de traduções, Schaff (1819-1893) diz que Heidelberg “tem o dom pentecostal de línguas em um raro grau.” (P. Schaff, COC., I, p. 536).

[6]Vd. Alister E. McGrath, Reformation Thought: An Introduction, 2ª ed. Cambridge, Massachusetts, Blackwell Publishers, 1993, p. 9.

[7]Vd. Alister E. McGrath, The Intellectual Origins of the European Reformation, Cambridge, Massachusetts, Blackwell Publishers, 1993, p. 55-56. Os Reformadores “consideravam o papado como colossal falsificação da crença de que professava ser o expoente autorizado.” (John T. McNeill, A Reforma Era Necessária?: In: William K. Anderson, dir. Espírito e Mensagem do Protestantismo, São Paulo, Junta Geral de Educação Cristã da Igreja Metodista do Brasil, 1953, p. 13).

[8]Ainda que Erasmo (c. 1469-1536) pudesse declarar de forma ambígüa: "Por certo são numerosos e fortes os argumentos contra a instituição da confissão pelo próprio Senhor. Mas como negar a segurança em que se encontra aquele que se confessou a um padre qualificado?" (Erasmo, Opera Omnia, Leyde, 1704, v, col. 145-6. Apud Jean Delumeau, A Confissão e o Perdão: As Dificuldades da Confissão nos Séculos XIII a XVIII, São Paulo, Companhia das Letras, 1991, p. 37). Este sentimento não parece ser generalizado: “Depois de tal confissão ser feita, ainda era preciso realizar obras de reparação, antes que a absolvição pudesse ser solicitada. Daí o ativismo febril da religião no fim da Idade Média: a construção de novas igrejas, o comércio de indulgências, o esforço incessante para obter méritos.” (Timothy George, Teologia dos Reformadores, p. 30).

A experiência de Lutero durante o seu noviciado e depois como monge Agostiniano, se constitui num bom exemplo de que a confissão auricular, os jejuns e as penitências – os quais ele praticava com freqüente rigor – , não lhes proporcionava a paz esperada, daí ele se exceder cada vez mais aos da sua ordem – que a partir da reforma de 1503 feita por João von Staupitz (c. 1469-1524), era ainda mais severa –, em penitências, buscando encontrar a paz com Deus e a certeza da salvação de sua alma. (Vd. Vicente Themudo Lessa, Lutero, 3ª ed. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1956, p. 30ss.; Albert Greiner, Lutero: Ensaio Biográfico, 2ª ed. São Leopoldo, RS., 1983, p. 25ss). O mesmo pode ser dito pelo ex-padre, José Manoel da Conceição. (Vd. José Manoel da Conceição, Sentença de Excomunhão e Sua Resposta, Rio de Janeiro, Typographia Perseverança, 1867, p. 8).

[9]Paul Tillich, História do Pensamento Cristão, São Paulo, ASTE., 1988, p. 210.

[10]“A reforma do século XVI, portanto, foi uma continuação da busca pela igreja verdadeira que havia começado muito antes que Lutero, Calvino ou os padres de Trento entrassem na lista.” (Timothy George, Teologia dos Reformadores, p. 34).

[11]Veja-se: Alexandre Herculano, História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, Portugal, Publicações Europa-América, (s.d.), Livro I, p. 25ss (em especial). Ainda que por motivos diferentes, podemos ilustrar o “trabalho” efetivo da inquisição, através do testemunho de um famoso inquisidor da Sicília, Luis de Paramo, que escrevendo em 1597 (Origem e Progresso da Inquisição), calcula que nos últimos 150 anos, 30 mil pessoas foram executadas pela prática de feitiçaria. (Cf. Philip Schaff & D.S. Schaff, History of the Christian Church, Peabody, Massachusetts, Hendrickson Publishers, 1996, Vol. VI, p. 529).

[12] E. Carlos Pereira, O Problema Religioso na América Latina, São Paulo, Empresa Editora Brasileira, (1920), p. 16.

[13] Johan Huizinga, O Declínio da Idade Média, São Paulo, Verbo/EDUSP., 1978, p. 31.

[14] Vd. Johan Huizinga, O Declínio da Idade Média, passim. Tillich denomina a ansiedade predominante nos fins da Idade Média de “ansiedade moral” e “ansiedades da culpa e da condenação”. (Paul Tillich, A Coragem de Ser, p. 44 e 45). Ver também: Paul Tillich, A Coragem de Ser, 44ss.; Paul Tillich, História do Pensamento Cristão, p. 210ss.; Rollo May, O Significado de Ansiedade, Rio de Janeiro, Zahar, 1980, p. 175ss.; Timothy George, A Teologia dos Reformadores, p. 25ss.; Jean Delumeau, História do Medo no Ocidente: 1300-1800, uma cidade sitiada. 2ª reimpressão, São Paulo, Companhia das Letras, 1993, passim.

[15] Timothy George, A Teologia dos Reformadores, p. 26

[16] João Calvino, As Institutas, I.17.10. Em outro lugar:

“Se considerarmos a enorme quantidade de acidentes aos quais estamos sujeitos, veremos o quão necessários é exercitarmos nossa mente desta maneira.

“Enfermidades de todos os tipos tocam nossos débeis corpos, uma atrás da outra: ou a pestilência nos enclausura, ou os desastres da guerra nos atormentam.

“Em outra ocasião, as geadas e os granizos destroem nossas colheitas, e ainda somos ameaçados pela escassez e a pobreza.

Em vista destes acontecimentos, as pessoas maldizem suas vidas, e até o dia em que nasceram; culpam o sol e às estrelas, e ainda censuram e blasfemam a Deus, como se Ele fora cruel e injusto.” (João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo, Novo Século, 2000, p. 43).

[17] João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo, Parakletos, 2002, Vol. 3, (Sl. 102.25), p. 585.

[18] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 3, (Sl. 102.26), p. 586.

[19] Blaise Pascal, Pensamentos, São Paulo, Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. XVI), 1973, VI.399. p. 136.

[20] Blaise Pascal, Pensamentos, VI.397. p. 136. “O homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo: um vapor, uma gota de água, bastam para matá-lo. Mas, mesmo que o universo o esmagasse, o homem seria ainda mais nobre do que quem o mata, porque sabe que morre e a vantagem que o universo tem sobre ele; o universo desconhece tudo isso.” [Blaise Pascal, Pensamentos, VI.347. p. 127-128].

[21] João Calvino, As Institutas, I.17.10.

[22]João Calvino, As Institutas, I.17.11.

[23] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 3, (Sl. 102.26), p. 586.

[24] Vd. André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 43, 67; André Biéler, A Força Oculta dos Protestantes, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1999, p. 49-51; David S. Schaff, Nossa Crença e a de Nossos Pais, 2ª ed. São Paulo, Imprensa Metodista, 1964, p. 66; Felipe Fernández-Armesto & Derek Wilson, Reforma: O Cristianismo e o Mundo 1500-2000, Rio de Janeiro, Record, 1997, p. 11; Timothy George, Teologia dos Reformadores, p. 20. O filósofo católico Battista Mondin, disse: "A Reforma protestante foi um acontecimento essencialmente religioso, mas causou ao mesmo tempo profundas transformações políticas, sociais, econômicas e culturais." (B. Mondin, Curso de Filosofia, São Paulo, Paulinas, 1981, Vol. II, p. 27). Em outro lugar reafirma: "Como dissemos no início do capítulo, a Reforma protestante foi antes e acima de tudo um acontecimento religioso. Em conseqüência disso, ela deve ser estudada e julgada segundo critérios religiosos, mais precisamente, segundo os critérios da fé cristã, cujo espírito original a Reforma se propunha restabelecer." (B. Mondin, Curso de Filosofia, Vol. II, p. 41). O antigo professor de História Eclesiástica da Universidade de Yale, Roland H. Bainton (1894-?), diz que “A Reforma foi acima de tudo um reavivamento da religião.” [Roland H. Bainton, The Reformation of the Sixteenth Century, Boston, Massachusetts, Beacon Press, 1985 (Enlarged Editon), p. 3].

[25] Partilho da idéia de Tom Nettles, de que “Tentativas de Reforma através do tratamento de dimensões morais, espirituais e eclesiológicas, ignorando a teológica, sempre falharam.” (Tom Nettles, Um Caminho Melhor: Crescimento de Igreja através de reavivamento e reforma: In: Michael Horton, ed. Religião de Poder, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1998, p. 134).

[26] Vd. A. Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 47-48; André Biéler, A Força Oculta dos Protestantes, p. 50-51.

[27] Vd. Émile G. Léonard, O Protestantismo Brasileiro, 2ª ed. Rio de Janeiro/São Paulo, JUERP/ASTE., 1981, p. 27-28; Felipe Fernández-Armesto & Derek Wilson, Reforma: O Cristianismo e o Mundo 1500-2000, p. 10-11.

[28] Lutero por exemplo, foi grandemente influenciado por Agostinho (354-430), Mestre Eckhart (c. 1260- c.1327) (Vd. Paul Tillich, História do Pensamento Cristão, p. 188), Johannes Tauler (c. 1300-1361) – a quem se refere com grande apreço – (Vd. Obras Selecionadas de Martinho Lutero, São Leopodo/Porto Alegre/RS., Sinodal/Concórdia, 1987, Vol. I, p. 98; Ph. J. Spener, Mudança para o Futuro: Pia Desideria, Curitiba, PR./São Bernardo do Campo, SP., Encontrão Editora/Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião, 1996, p. 112ss.) e Johannes von Staupitz (c. 1465-1524), este, que antes da Reforma, era seu mestre, amigo e incentivador. (Vd. Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 259).

[29] D. Martyn Lloyd-Jones, Do Temor à Fé, Miami, Editora Vida, 1985, p. 23. "As nações podem levantar-se e cair, todavia o plano de Deus prossegue, firme e sem interrupção." (D. Martyn Lloyd-Jones, As Insondáveis Riquezas de Cristo, São Paulo, PES., 1992, p. 69-70).

[30]Vd. Benjamin Wirt Farley, A Providência de Deus na Perspectiva Reformada: In: Donald K. Mckim, ed. Grandes Temas da Tradição Reformada, São Paulo, Pendão Real, 1999, p. 74.

[31] Veja-se A.A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, São Paulo, CEP. 1989, p. 39ss. "O Reino de Deus é no Novo Testamento, a vida e a meta do mundo que correspondem às intenções do Criador". (Karl Barth, La Oración, Buenos Aires, La Aurora, 1968, p. 51).

[32] Aliás, este é o pressuposto fundamental do jovem brilhante estudioso, Alister McGrath. (Vd. Alister E. McGrath, The Intellectual Origins of the European Reformation, p. 4).

[33] Alister E. McGrath, The Intellectual Origins of the European Reformation, p. 4.

[34] N. Abbagnano & A. Visalberghi, Historia de la Pedagogía, Novena reimpresión, México, Fondo de Cultura Económica, 1990, p. 253.

[35] Timothy George, Teologia dos Reformadores, p. 50.

[36]Francis A. Schaeffer, La Fe de los Humanistas, 2ª ed. Madrid, Felire, 1982, p. 10.

[37] Cf. Edith Sichel, O Renascimento,; N. Abbagnano & A. Visalberghi, Historia de la Pedagogía, p. 253. "É possível que, sem os humanistas, os reformadores não tivessem conseguido abalar o poderoso edifício da ordem medieval e suscitar sentimentos de consternação humana e de busca ardente da graça (...) pode-se afirmar que os períodos de crise são mais propícios para a teologia do que os tempos de riqueza espiritual e moral." (Jacques de Senarclens, Herdeiros da Reforma, p. 103). Nunca é demais lembrar, que apesar da importância do Humanismo para a Reforma, esta seguiu um rumo diferente daquele, tendo obviamente pontos discordantes e objetivos diferentes (Vd. Alister E. McGrath, Reformation Thought: An Introduction, 2ª ed. Massachusetts, Blackwell Publishers, 1993, p. 62-65; Roland H. Bainton, The Reformation of the Sixteenth Century, p. 3; F.A. Schaeffer, La Fe de los Humanistas, p. 10; André Biéler, A Força Oculta dos Protestantes, p. 44-45).

[38]Veja-se, Earle E. Cairns, O Cristianismo Através dos séculos: Uma História da Igreja Cristã, p. 223.

[39] Cf. Ernst Cassirer, A Filosofia do Iluminismo, Campinas, SP., Editora da UNICAMP., 1992, p. 195.

[40] Zuínglio que era um admirador dos clássicos, na juventude, seguiu as idéias de Erasmo; posteriormente, 1519-1520, abandonou as suas concepções, descrendo parcialmente do programa humanista e da visão pelagiana de Erasmo; passou a sustentar a total depravação do homem e que este só teria salvação se fosse transformado por Cristo. (Cf. Bengt Hägglund, História da Teologia, Porto Alegre, RS., Casa Publicadora Concórdia, 1973, p. 219). George falando sobre o jovem Zuínglio, assim o descreve: “O desenvolvimento inicial de Zuínglio foi moldado por dois fatores que continuaram a influenciar seu pensamento por toda a sua carreira: o patriotismo suíço e o humanismo erasmiano.” (Timothy George, Teologia dos Reformadores, p. 111). Hägglund, observa que “Apesar de sua perspectiva reformada, Zuínglio nunca abandonou seu ponto de vista humanista.” (B. Hägglund, História da Teologia, p. 220).

[41] Ver: Mark A. Noll, Momentos Decisivos na História do Cristianismo, p. 198ss.

[42] Lucas, apresenta a seguinte distinção entre alguns reformadores: “O sistema teológico de Calvino foi o mais elaborado e científico corpo de dogma produzido no campo Protestante. Lutero foi um poderoso revolucionário com uma profunda intuitiva sensibilidade religiosa que, no entanto, nunca conseguiu reduzir a um sistema. Melanchthon foi um discípulo e nunca o proclamador pioneiro de uma teologia. Zuínglio foi o produto de diversas influências e atuou somente sob o impulso de eventos específicos; ele não foi um teólogo sistemático.” (Henry S. Lucas, The Renaissance and the Reformation, New York, Harper & Brothers Publishers, 1934, p. 579). Vd. também, Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 257-260; Justo L. Gonzalez, A Era dos Reformadores, São Paulo, Vida Nova, 1986, p. 107; L. Berkhof, Introduccion a la Teologia Sistematica, Grand Rapids, Michigan, The Evangelical Literature League, © 1932, p. 79-80. Sobre Zuínglio, Schaff diz que a sua importância foi mais histórica que doutrinária. (Philip Schaff, The Creeds of Christendom, 6ª ed. Revised and Enlarged, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, (1931), Vol. I, p. 360). No entanto devemos ter em mente que Zuínglio escreveu seus trabalhos em menos de dez anos e, raramente teve tempo de revisar alguns de seus sermões para serem publicados. (Vd. Timothy George, Teologia dos Reformadores, p. 119ss.). Contudo, ele, possivelmente influenciado por Erasmo, conhecia muito bem o grego, tendo copiado com suas próprias mãos, de modo destro, as Epístolas de Paulo e a Epístola aos Hebreus, baseando-se na edição do Novo Testamento Grego de Erasmo (1516). (Cf. Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 31). Bullinger diz que Zuínglio memorizou em grego todas as Epístolas de Paulo. (Cf. Timothy George, Teologia dos Reformadores, p. 113).

[43]Timothy George, observa corretamente que os reformadores, "Embora acolhessem entusiasticamente os esforços dos eruditos humanistas, tais como Erasmo, por recuperar o primeiro texto bíblico e submetê-lo a uma rigorosa análise filológica, eles não viam a Bíblia meramente como um livro entre muitos outros. Eles eram irrestritos em sua aceitação da Bíblia como a única e divinamente inspirada Palavra do Senhor." (Timothy George, Teologia dos Reformadores, p. 312). Dentro de outro prisma afirma Harrison: “A importância da Reforma para a crítica bíblica, não esteve tanto na preocupação com os processos históricos ou literários envolvidos na formulação do cânon bíblico, senão em sua insistência contínua na primazia do singelo sentido gramatical do texto por direito próprio, independente de toda interpretação feita pela autoridade eclesiástica.” (R.K. Harrison, Introduccion al Antiguo Testamento, Jenison, Michigan, 1990, Vol. I, p. 7-8). Ainda dentro de outra ótica, afirma o historiador francês Boisset: “A preocupação do humanista, em suma, é afirmar e demonstrar a grandeza do homem; a do reformador, segundo a expressão de Calvino, é dar testemunho da ‘honra de Deus’.” [Jean Boisset, História do Protestantismo, São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1971, (Coleção “Saber Atual”), p. 17].

[44]O homem deve ser respeitado, amado e ajudado porque é a imagem de Deus [Ver: João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo, Novo Século, 2000, p. 37-38]. Por mais indigno que seja, devemos considerar: “A imagem de Deus nele é digna de dispormos a nós mesmos e nossas posses a ele”. [João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 38]. “Não temos de pensar continuamente nas maldades do homem, mas, antes, darmos conta de que ele é portador da imagem de Deus.” [João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 38]. “Deus, ao criar o homem, deu uma demonstração de sua graça infinita e mais que amor paternal para com ele, o que deve oportunamente extasiar-nos com real espanto; e embora, mediante a queda do homem, essa feliz condição tenha ficado quase que totalmente em ruína, não obstante ainda há nele alguns vestígios da liberalidade divina então demonstrada para com ele, o que é suficiente para encher-nos de pasmo.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 8.7-9), p. 173-174]. “A Escritura nos ajuda com um excelente argumento, ensinando-nos a não pensar no valor real do homem, mas só em sua criação, feita conforme a imagem de Deus. A ele devemos toda honra e o amor de nosso ser.” [João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 37]. Ver também: J. Calvino, As Institutas, I.15.3-4; III.7.6; Francis A. Schaeffer, A Morte da Razão, São Paulo, ABU/FIEL, 1974, p. 20ss.; André Biéler, A Força Oculta dos Protestantes, p. 47. É digna de nota a observação do filósofo católico Émile Bréhier (1876-1952): "A Reforma opõe-se tanto à teologia escolástica, quanto ao humanismo. Nega a teologia escolástica, porque nega, com Ockham, que nossas faculdades racionais possam conduzir-nos da natureza ao seio de Deus. Renega o humanismo, menos por seus erros do que por seus perigos, posto que as forças naturais não podem comunicar qualquer sentido religioso." (É. Bréhier, História da Filosofia, São Paulo, Mestre Jou, 1977-1978, I/3, p. 209).

[45] Ernst Cassirer, A Filosofia do Iluminismo, p. 196

[46] Colin Brown, Filosofia e Fé Cristã, São Paulo, Vida Nova, 1983, p. 36. “A Reforma nada inventou propriamente falando, porquanto só fez rebuscar e reencontrar as raízes próprias da fé cristã, que mergulham tanto no patrimônio judeu integral do Antigo Testamento quanto na herança dos apóstolos e dos discípulos de Jesus Cristo, que nos é transmitida pelo Novo Testamento. A força dos reformadores consiste em nos ter ensinado um método de reinterpretação sempre nova (com referência a situações históricas cambiantes e a culturas diferentes) da eterna e imutável Palavra que Deus dirige a suas criaturas por meio das Escrituras, dinamizadas pelo Espírito Santo.” (André Biéler, A Força Oculta dos Protestantes, p. 56-57).

[47] John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, São Paulo, Pendão Real, 1997, p. 36.

[48] Lacouture, diz que no século XVI, “o livre exame avança nas consciências, em todas as consciências.” (Jean Lacouture, Os Jesuítas, Porto Alegre, L&PM, 1994, Vol. I, p. 389). As conseqüências deste espírito são incalculáveis na formação e transformação de uma cultura. "Ao proclamar, no domínio religioso, o princípio do exame livre (sic), a Reforma atiçou as aspirações à liberdade política. Não é possível limitar esse princípio. Se é proclamado num setor, acaba sempre por transbordar para outro. De fato, muitos protestantes compreenderam muito cedo as conclusões políticas do princípio da liberdade do exame." (Padre R.L. Bruckberger, A República Americana, Rio de Janeiro, Editora Fundo de Cultura, 1960, p. 30). “Por toda parte nos países protestantes, o exercício do sacerdócio universal dos crentes na Igreja preparara-os para a prática da democracia na vida política, na atividade parlamentar.” (André Biéler, A Força Oculta dos Protestantes, p. 95).

[49] Ver: João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo, Paracletos, 1997, (Hb 4.12), p. 110.

[50]F.A. Schaeffer, La Fe de los Humanistas, p. 10.

[51] Escolar escreve: “O livro teve uma influência considerável na difusão da Reforma e na fixação das idéias dos distintos grupos que se separaram da Igreja Romana.” (Hipólito Escolar, Historia del Libro, 2ª ed., corregida y ampliada, Salamanca/Madrid, Fundación Germán Sánchez Ruipérez/Pirámide, 1988, p. 387). Esta compreensão não quer indicar, por exemplo, que sem a imprensa não haveria a Reforma; a Reforma protestante não pode ser simplesmente rotulada como “filha da imprensa”... (Vd. as pertinentes observações de Lucien Febvre & Henry-Jean Martin, O Aparecimento do Livro, São Paulo, Hucitec., 1992, p. 409 e 447).

[52] T.M. Lindsay, La Reforma en su Contexto Histórico, Barcelona, CLIE., (1985), p. 475.

[53] João Calvino, As Institutas, I.7.4.

[54] Erasmo de Roterdã (c.1469-1536) demonstrou a sua preocupação em tornar a Palavra de Deus acessível ao povo. No prefácio da sua edição do Novo Testamento Grego (1516) e em outros lugares, escreveu: "Eu discordo veementemente daqueles que não permitem a particulares a leitura das Sagradas Escrituras, nem as permitem ser traduzidas em língua vulgar (...). Quero que todas as mulheres, mesmo meninas, leiam os Evangelhos e as epístolas de Paulo. Provera a Deus que a Bíblia fosse traduzida em todas as línguas de todos os povos, para que pudesse ser lida e conhecida, não só pelos escoceses e pelos irlandeses, mas também pelos turcos e pelos sarracenos. Porém o primeiro passo necessário é fazê-los inteligíveis ao leitor. Eu almejo o dia quando o lavrador recite para si mesmo porções das Escrituras enquanto vai acompanhando o arado, quando o tecelão as balbucie ao ritmo da sua lançadeira e o viajante repare o cansaço da sua viagem com as narrativas bíblicas; e que todas as conversas sejam sobre temas da Bíblia! Com efeito, nós somos aquilo que forem as nossas conversas quotidianas....”. Sobre as crianças: “Que a primeira palavra que se aprenda a balbuciar seja Cristo; e que, com os Seus Evangelhos, se forme a primeira infância: desejaria que estas coisas lhe fossem ensinadas entre as primeiras, para que fossem amadas pelas crianças. Dediquem-se, depois, as crianças aos estudos bíblicos, até que, com tácitos progressos, se transformem em homens robustos em Cristo. Feliz aquele que a morte encontra com a Bíblia na mão!” (Apud João Amós Coménio, Didáctica Magna, 3ª ed. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, (1985), XXIV.20. p. 361-362; E.J. Goodspeed, Como nos veio a Bíblia, 3ª ed. São Bernardo do Campo, SP. Imprensa Metodista, 1981, p. 116; John Mein, A Bíblia e como chegou até nós, 3ª ed. Rio de Janeiro, JUERP. (revista e ampliada), 1977, p. 64). Erasmo é chamado por Westcott (1825-1901) de “o dirigente verdadeiro das escolas literárias e críticas da Reforma”. [B.F. Westcott, El Canon de la Sagrada Escritura, Barcelona, CLIE., (s.d.), p. 293]. O teólogo liberal alemão Johann S. Semler (1725-1791), considerou Erasmo “o verdadeiro fundador da teologia protestante.” (Cf. E. Cassirer, A Filosofia do Iluminismo, p. 198). O historiador Gibbon também o designou de “pai da teologia racional”. (Edward Gibbon, “Decline and Fall of the Roman Empire,” The Master Christian Library, Volume 5 [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Sofware, 1998), p. 610. O fato é que com a publicação da edição grega do Novo Testamento, a autoridade de Erasmo cresceu em todos os grandes centros; como sintoma disso encontramos a sua correspondência pessoal passando por um aumento considerável atingindo diversos países. (Vd. Johan Huizinga, Erasmus and the Age Reformation, New York and Evanston, Harper & Row, Publishers, 1957, p. 91; H.R. Trevor-Roper, Religião, Reforma e Transformação Social, Lisboa, Editorial Presença/Martins Fontes, [1981], p. 153).

[55] Léonard (1891-1961) observa que constitui-se em “pura lenda o fato de que a Igreja [romana] tenha constantemente mantido seus fiéis afastados das Sagradas Escrituras.” (Émile G. Léonard, O Protestantismo Brasileiro, p. 28). Do mesmo modo entende Boisset. (Vd. Jean Boisset, História do Protestantismo, p. 19).

[56]J.R. Branton, Versions, English: In: Geoffrey W. Bromiley, General Editor, The International Standard Bible Enciclopaedia, 2ª ed. Grand Rapids, Michigan, WM. Eerdmans Publishing Co. 1980, Vol. IV, p. 761. A tradução do Novo Testamento ficou pronta em 1382 e a do Antigo Testamento em 1384. Posteriormente, John Purvey, provavelmente auxiliado por Nicholas de Hereford, fez uma revisão desta tradução em 1388, melhorando-a consideravelmente, procurando colocar a tradução num inglês mais acessível. Todavia, tanto a versão de Wycliffe como a revisada de Purvey só circularam em forma manuscrita, já que a imprensa com tipos móveis ainda não fora utilizada no Ocidente. A versão de Purvey só foi impressa em 1731 e a de Wycliffe, em 1848. (Vd. E.J. Goodspeed, Como nos veio a Bíblia, p. 114-115; J.G. Vos, Bible, English Versions: In: Merril C. Tenney, ed. ger. The Zondervan Pictorial Encyclopaedia of the Bible, 5ª ed. Grand Rapids, Michigan, Zondervan Publishing House, 1982, Vol. I, p. 575; J.G.G. Norman, Purvey: In: J.D. Douglas, ed. ger. The New International Dictionary of the Christian Church, 3ª ed., Grand Rapids, Michigan, Zondervan, 1979, p. 815; Ian Sellers, Nicholas of Hereford: In: J.D. Douglas, ed. ger. The New International Dictionary of the Christian Church, p. 709).

[57]Cf. P.M. Bechtel & P.M. Comfort, Wycliffe: In: J.D. Douglas & Philip W. Comfort, eds. Who's Who In Christian History, Wheaton, Illinois, Tyndale House Publishers, Inc. 1992, p. 735; E.J. Goodspeed, Como nos veio a Bíblia, p. 114; J.R. Branton, Versions, English: In: George A. Buttrick, Editor. The Interpreter's Dictionary of the Bible, New York, Abingdon Press, 1962, Vol. 4, p. 761.

[58]André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 44. Como decorrência disso, há o progressivo interesse comercial, que estimulava alguns impressores a produzirem mais impressões, ainda que com menor qualidade... No entanto, devemos reconhecer que tudo isso preparou o campo para o êxito da Reforma. (Vd. Hipólito Escolar, Historia del Libro, p. 310ss).

[59]O Novo Testamento foi traduzido primeiro, depois de um trabalho de cerca de nove meses (Cf. K.S. Latourette, Historia Del Cristianismo, 3ª ed. Buenos Aires, Casa Bautista de Publicaciones, 1977, Vol. II, p. 64 e W. Walker, História da Igreja Cristã, São Paulo, ASTE, 1967, Vol. II, p. 20) ou, onze semanas (Cf. Bible, Translations of: In: Harry S. Ashmore, Editor in Chief. Encyclopaedia Britannica, Vol. III, (1973), p. 584 e Nestor Beck, em notas à coletânea de textos de Lutero, Martinho Lutero, Pelo Evangelho de Cristo, (Seleção de textos do autor), Porto Alegre/São Leopoldo, RS. Sinodal/Concórdia, 1984, p. 172) ou em três meses (Cf. B.M. Metzger, Versions, medieval, etc.: In: Geoffrey W. Bromiley, General Editor, The International Standard Bible Enciclopaedia, IV, p. 773 e Roland H. Bainton, Here I Stand: A Life of Martin Luther, New York, Menter Books, (c. 1950), p. 255).[Este foi traduzido para o espanhol: Roland H. Bainton, Martin Lutero, 3ª ed. México, Ediciones CUPSA., 1989]. Creio que esta divergência de informação, se deve ao fato de que no tempo em que Lutero permaneceu no castelo de Wartburgo (4 de maio/1521-1 de março/1522), perto de Eisenach, além de traduzir o Novo Testamento, ele escreveu mais de dez obras (Cf. K.S. Latourette, Historia Del Cristianismo, II, p. 64 e N. Beck, In: Martinho Lutero, Pelo Evangelho de Cristo, p. 171). O Novo Testamento de Lutero foi publicado em 21/09/1522 (Cf. J.H. Merle D'aubigné, História da Reforma do Décimo-Sexto Século, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, (s.d.), Vol. III, p. 94; Gustav Just, Deus Despertou Lutero, Porto Alegre, RS., Concórdia, 1983, p. 112; W. Walker, História da Igreja Cristã, II, p. 20; W.G. Kümmel, Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 1982, p. 714; Earle E. Cairns, O Cristianismo Através dos séculos: Uma História da Igreja Cristã, p. 238; B.M. Metzger, Versions, medieval, etc.: In: Geoffrey W. Bromiley, General Editor, The International Standard Bible Enciclopaedia, IV, p. 773. A tradução de Lutero foi baseada na 2ª edição do Texto Grego de Erasmo (1469-1536), publicado em 1519, que já havia corrigido muitíssimos erros da primeira edição (A primeira edição que começou a ser impressa em 11/9/1515 foi concluída em 01/3/1516, sendo dedicada ao Papa Leão X, grande patrocinador das artes) (Vd. W.G. Kümmel, Introdução ao Novo Testamento, p. 714; B.M. Metzger, Versions, medieval, etc.: In: Geoffrey W. Bromiley, General Editor, The International Standard Bible Enciclopaedia, IV, p. 773; B.M. Metzger, Introdução ao Comentário Textual do Novo Testamento Grego: In: Russel N. Champlin, O Novo Testamento Interpretado, Guaratinguetá, SP., A Voz Bíblica, (s.d.), Vol. I, p. 128; Wilson Paroschi, Crítica Textual do Novo Testamento, São Paulo, Vida Nova, 1993, p. 108-110; B.F. Westcott, El Canon de la Sagrada Escritura, p. 231; Mark A. Noll, Momentos Decisivos na História do Cristianismo, p. 194). Os três mil exemplares da primeira edição logo se esgotaram e, em poucos anos diversas edições já tinham sido publicadas em várias cidades da Europa (Cf. M. D'aubigné, História da Reforma do Décimo-Sexto Século, Vol. III, p. 94-95; E. J. Goodspeed, Como nos veio a Bíblia, p. 117). (Escolar fala de 5.000 exemplares. Hipólito Escolar, Historia del Libro, p. 390). Entre 1522 e 1524 foram feitas 14 reimpressões do NT. em Wittenberg e 66 outras em Augsburgo, Basiléia, Estrasburgo e Leipzig; em Basiléia, Adam Petri publica 7 reimpressões. (Cf. Lucien Febvre & Henry-Jean Martin, O Aparecimento do Livro, p. 416). Calcula-se que durante a vida de Lutero, foram feitas 11 edições (Cf. B.M. Metzger, Versions, ancient: In: Geoffrey W. Bromiley, General Editor, The International Standard Bible Enciclopaedia, IV, p. 773), 84 impressões originais e 253 baseadas nelas (Cf. Jean Delumeau, O Nascimento e Afirmação da Reforma, São Paulo, Pioneira, 1989, p. 99. Vd. outros números In: Lucien Febvre & Henry-Jean Martin, O Aparecimento do Livro, p. 417). Escolar menciona 400 edições. (Hipólito Escolar, Historia del Libro, p. 390). Como é sabido, havia outras traduções do Novo Testamento na língua alemã anteriores à de Lutero, acontece que a sua linguagem era muito imperfeita, sendo inadequada para a leitura do povo; por outro lado, as Bíblias utilizadas nas igrejas eram latinas e custavam 360 florins; as mais elaboradas, chegavam a custar 500 tálares. O Novo Testamento traduzido por Lutero foi vendido por apenas 1 ½ florins [= c. 3 francos]. (Cf. G. Just, Deus Despertou Lutero, p. 111-112). [Calvino que passou inúmeros apuros financeiros em Estrasburgo (1538-1541), recebia, não sem atraso, 1 florim por semana, conforme verba votada pelo Conselho de Representantes da cidade. (Cf. Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, São Paulo, Editora Vida Evangélica, 1968, p. 101; Daniel-Rops, A Igreja da Renascença e da Reforma: I. A reforma protestante, São Paulo, Quadrante, 1996, p. 380). Obviamente ele não conseguiria viver com tão pouco; por isso se desdobrava em outras várias atividades; contudo, mesmo assim nada sobrava: o custo de vida em Estrasburgo ao que parece era muito elevado (Vd. T. George, Teologia dos Reformadores, p. 181). No seu regresso à Genebra (1541), os seus honorários tornaram-se generosos: 500 florins por ano, doze medidas de milho e duas pipas de vinho; o equivalente a duas garrafas por dia. (Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, p. 131. Vd. também, p. 155ss.; Daniel-Rops, A Igreja da Renascença e da Reforma: I. A reforma protestante, São Paulo, Quadrante, 1996, p. 396)]. Lutero, auxiliado por Melanchton (1497-1560) e outros eruditos, revisou continuamente a sua tradução, permanecendo neste labor até o dia da sua morte: “A última página impressa que passou a vista foi a prova da última revisão.” (Roland H. Bainton, Martin Lutero, p. 368), Esta última edição (1545) é considerada a mais importante. (Cf. J. Delumeau, O Nascimento e Afirmação da Reforma, p. 98). A divulgação de sua obra foi extensa. A primeira edição completa da Bíblia foi de 4.000 exemplares (Cf. Lucien Febvre & Henry-Jean Martin, O Aparecimento do Livro, p. 316-317). Johann Cocleau (Cochlaeus) (1479-1552), Doutor em Teologia (1517), violento adversário de Lutero e da Reforma, admitiu: "O Novo Testamento de Lutero foi divulgado de tal forma, que também alfaiates e sapateiros, sim, até mulheres e crianças que mal haviam aprendido a ler algumas poucas palavras nas embalagens de um bolo de mel, o liam com grande avidez dentro de suas naturais limitações. Alguns o carregavam consigo por onde andavam e, na medida do possível, o aprendiam de cor. Destarte, eles conseguiam em poucos meses, capacitar-se a discutir, sem constrangimento, com padres e monges aspectos da fé e do evangelho. Sim, houve também o caso de mulheres humildes que tiveram a ousadia de discutir temas religiosos com doutores e homens letrados. Acontecia mesmo, nessas discussões, que leigos luteranos mostravam mais facilidade para citar passagens bíblicas de improviso que muitos monges e sacerdotes." (Apud G. Just, Deus Despertou Lutero, p. 114; James Atkinson, Lutero e o Nacimiento del Protestantismo, 2ª ed. Madrid, Alianza Editorial, 1987, p. 255). Hans Lufft durante quarenta anos (1534-1574) chegou a imprimir 100.000 exemplares da Bíblia traduzida por Lutero e, entre (1546-1580) publicou 37 edições do Antigo Testamento. (Hipólito Escolar, Historia del Libro, p. 390; Lucien Febvre & Henry-Jean Martin, O Aparecimento do Livro, p. 417). Febvre e Martin dizem que juntando as obras de Lutero – ainda mais populares do que a sua tradução da Bíblia –, “constatamos que, pela primeira vez, constituiu-se então uma literatura de massa, destinada e acessível a todos.” (Lucien Febvre & Henry-Jean Martin, O Aparecimento do Livro, p. 417. Vd. também: André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 118). Estima-se que as obras de Lutero em suas respectivas primeiras edições, se esgotavam em 7 a 8 semanas (Cf. T.M. Lindsay, La Reforma en su Contexto Histórico, p. 322). Além da sua prodigalidade em números de escritos, Lutero é um sucesso de venda (muitas de suas obras são reeditadas inúmeras vezes num pequeno espaço de tempo). Mesmo amparando-se em dados “imprecisos”, estima-se que em 1518 a Alemanha publicou 71 obras, sendo 20 de Lutero; em 1519, publicou 111, sendo 50 de Lutero; 1520, 280 obras, 133 do reformador, e assim por diante. (Vd. T.M. Lindsay, La Reforma en su Contexto Histórico, p. 322; Lucien Febvre & Henry-Jean Martin, O Aparecimento do Livro, p. 413ss.). Lindsay diz que, “Quase poderia dizer-se que o movimento da Reforma criou na Alemanha o comércio de livros.” (T.M. Lindsay, La Reforma en su Contexto Histórico, p. 321).

[60]E.J. Goodspeed, Como nos veio a Bíblia, p. 118; Joseph Angus, História, Doutrina e Interpretação da Bíblia, 3ª ed. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1971, p. 124; W. Walker, História da Igreja Cristã, II, p. 20; Otto M. Carpeaux & Sebastião U. Leite, Bíblia: In: Antonio Houaiss, ed. Enciclopédia Mirador Internacional, 1976, Vol. IV, p. 1352; E.E. Cairns, O Cristianismo Através dos séculos: Uma História da Igreja Cristã, p. 238; K.S. Latourette, Historia Del Cristianismo, II, p. 64; Hipólito Escolar, Historia del Libro, p. 390; Lucien Febvre & Henry-Jean Martin, O Aparecimento do Livro, p. 451,452. Para uma visão panorâmica da história e algumas das principais traduções da Bíblia para o inglês e francês, Vd. Hermisten M.P. Costa, A Inspiração e Inerrância das Escrituras: Uma Perspectiva Reformada, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1998, p. 70-84.

[61] Lucien Febvre, Martín Lutero: um destino, 7ª reimpresión, México, Fondo de Cultura Económica, 1992, p. 187.

[62] T.R. Giles, História da Educação, São Paulo, EPU., 1987, p. 119.

[63]Lorenzo Luzuriaga, História da Educação e da Pedagogia, 17ª ed. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1987, p. 108-109. Sem que queiramos tornar este assunto uma bandeira em nossas anotações, chamamos a atenção para o fato de que Halsema reivindica o pioneirismo da escola pública primária a Genebra, em 1535. (Vd. Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, p. 69). N. Abbagnano & A. Visalberghi, observam: “Também no aspecto pedagógico teve a reforma protestante uma importância decisiva, entre outras razões porque com ela se delineia pela primeira vez, em termos concretos, o problema da instrução universal, volta necessária pela exigência de que todo cristão deve estar em condições de ler as Sagradas Escrituras.” (N. Abbagnano & A. Visalberghi, Historia de la Pedagogía, p. 253).

[64]Designativo comum dado a Melanchton. (Vd. Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 260; Herrlinger & Max Landerer, Melanchthon: In: Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Practical Theology, Chicago, Funk Wagnalls, Publishers, 1887 (Revised Edition), Vol. II, p. 1461; Paul Monroe, História da Educação, 11ª ed. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1976, p. 179 e Lorenzo Luzuriaga, História da Educação Pública, p. 8. Monroe, diz que Melanchthon, por ter redigido em 1528, os Regulamentos Escolares da Saxônia, "tornou-se o fundador do sistema escolar do Estado moderno." (P. Monroe, História da Educação, p. 180). Na presidência da Universidade de Wittenberg, ele "exigiu que os professores ensinassem de acordo com o Credo Apostólico, o Credo de Nicéia, o Credo de Atanásio e a Confissão de Augsburgo" (Hayward Armstrong, Bases da Educação Cristã, Rio de Janeiro, JUERP., 1992, p. 62). Lembremo-nos de que A Confissão de Augsburgo foi escrita pelo próprio Melanchton em 1530.

[65] Cf. Ruy A. da Costa Nunes, História da Educação no Renascimento, São Paulo, EPU/EDUSP., 1980, p. 101.

[66] M. Lutero, Aos Conselhos de Todas as Cidades da Alemanha para que criem e mantenham escolas cristãs: In: Ilson Kayser, ed. ger. Martinho Lutero: Obras Selecionadas, 1995, Vol. 5, p. 303.

[67] Ibidem., p. 310ss.

[68] Ibidem., p. 306. Lutero defende também o aspecto lúdico da educação (Vd. Ibidem., p. 319).

[69] Ibidem., p. 322ss.

[70] Ibidem., p. 307 e 308.

[71] Ibidem., p. 305.

[72] Ibidem., p. 309.

[73] Alusão às obras comumente utilizadas nas escolas: Ars Grammatica, Elio Donato (4º séc.), um lingüista romano e Doctrinale Puerorum, do franciscano Alexandre de Villedieu (séc. XIII). Não deixa de ser significativo que a primeira ou uma das primeiras obras impressas na Itália, foi a de Donato (c. 1464) – da qual não restou nenhum exemplar –, mas, pelo que parece, é a mesma referida por Lutero. Do mesmo modo a obra de Alexandre, atingiu a marca espantosa de 279 edições nos séculos XV e XVI (Vd. Hipólito Escolar, Historia del Libro, p. 300, 319, 365-366). A obra de Donato era adotada em “todas as universidades da Europa”. (Cf. António José Saraiva, História da Cultura em Portugal, Lisboa, Jornal do Fôro, 1950, Vol. II, p. 114). Como um atestado da importância de Donato na Idade Média, estima-se que a imprensa de Gutemberg fez pelo menos 16 edições da obra de Donato antes de imprimir a famosa “Bíblia de Gutemberg”. (Cf. D.C. McMurtrie, O Livro: Impressão e fabrico, 2ª ed. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, (1982), p. 168).

[74] Lindsay certamente aludindo à esta passagem de Lutero, diz que o Reformador tinha na memória um sistema que facilitava a vida comumente dissoluta dos estudantes universitários da época. (Vd. T.M. Lindsay, La Reforma en su Contexto Histórico, p. 68-69). Lutero de certa forma antecipa certas críticas que o padre Verney faria ao sistema português no século XVIII. Luís Antônio Verney (1713-1792), padre português de ascendência francesa e de formação jesuítica (Colégio de Santo Antão) e oratoriana nos Estudos Menores, formou-se Bacharel em Artes na Universidade de Évora (1730), licenciando-se em Filosofia (1736). Verney foi profundamente influenciado pelo iluminismo. Ele escreveu diversas obras que causaram grande reboliço no sistema pedagógico de Portugal, custando-lhe isso um alto preço. Entre os seus trabalhos, destaca-se o intitulado, Verdadeiro Método de Estudar, na qual se opôs à tradição escolástica. Ele desejava renovar os métodos pedagógicos em Portugal, cuja decadência atribuía ao ensino jesuítico. Uma das críticas de Verney que abalaram o sistema pedagógico português, foi a respeito do estudo do latim. Na sua perspectiva, do mesmo modo como se aprendia o inglês e o francês através do português, com o latim não deveria ser diferente; assim, a sua proposta é que se aprendesse latim com explicações em português; desta forma, ele estava criticando a Gramática Latina do jesuíta Manuel Álvares (1526-1583), que além de complexa, fora escrita totalmente em latim. Verney veio colocar mais sal na ferida dos Jesuítas, já que desde 1729, os Oratorianos – que conquistavam terreno no campo pedagógico em Portugal –, também criticaram a Gramática Latina, tendo como principal expositor o padre António Pereira de Figueiredo (1725-1797), ocasionando então uma disputa com os Jesuítas, já que a Ratio Studiorum recomendava a referida obra. No fundo, além da praticidade de sua tese, havia uma tentativa de valorizar a língua portuguesa. Segundo Ramos de Carvalho, “o ensino do latim por intermédio da língua vernácula, que se transformou num dos pontos fundamentais da reforma pombalina dos estudos menores, fora preconizado pelos pedagogos franceses que seguiram os ensinamentos de Comenius.” (Laerte Ramos de Carvalho, As Reformas Pombalinas da Instrução Pública, São Paulo, EDUSP./Saraiva, 1978, p. 64).

[75] M. Lutero, Aos Conselhos de Todas as Cidades da Alemanha para que criem e mantenham escolas cristãs: In: Martinho Lutero: Obras Selecionadas, 1995, Vol. 5, p. 320.

[76] Martinho Lutero, Catecismo Menor, Prefácio, § 19-20, In: Lutero, Os Catecismos, Porto Alegre/São Leopoldo, RS. Concórdia/Sinodal, 1983, p. 365.

[77]Martinho Lutero, Catecismo Menor, Prefácio, § 20.

[78] O Pedagogo Paul Monroe (1869-1947), escrevendo em 1907, sobre "As Escolas Elementares nos países protestantes", disse: "O primeiro Estado a adotar o princípio da educação obrigatória para crianças de todas as classes foi Weimar, em 1619. Determinava que todos os meninos e meninas freqüentassem a escola desde 6 até 12 anos. Deve-se ao Duque Ernesto o Piedoso, de Gotha, mais do que a qualquer outro governante, a fundação do sistema moderno das escolas alemãs. Em 1642 ele adotou, para as escolas do ducado, um regulamento que, substancialmente, é o mesmo dos Estados alemães da época presente. Exigia-se a freqüência, desde a idade de 5 anos, de todo menino e menina da província. O ano escolar tinha a duração de 10 meses e as crianças eram obrigadas a freqüentar a escola todos os dias úteis da semana. O horário era das 9 às 12 horas e de 1 às 4, todos os dias da semana, exceto as tardes de quarta e sábado, que eram livres. Os pais eram multados pela falta de freqüência de seus filhos." (Paul Monroe, História da Educação, p. 190. Vd. também, N. Abbagnano & A. Visalberghi, Historia de la Pedagogía, p. 261; Lorenzo Luzuriaga, História da Educação e da Pedagogia, p. 126). As disciplinas estudadas consistiam em: Leitura, escrita, religião, música sacra e latim, com adaptações do sistema de Melanchthon (1528).

Monroe, conclui: "Nenhum outro povo chegou, mesmo aproximadamente, ao aperfeiçoamento dos Estados alemães em assuntos de educação." (Paul Monroe, História da Educação, p. 190).

[79] Martinho Lutero, Uma Prédica Para que se Mandem os Filhos à Escola (1530): In: Ilson Kayser, ed. ger. Martinho Lutero: Obras Selecionadas, Vol. 5, p. 362.

[80]Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 257.

[81]Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 826.

[82]Não consideramos aqui o prefácio de Calvino ao trabalho de seu amigo Nicholas Duchemin, Antapologia, (6/3/1531).

[83]John T. McNeill, The History and Character of Calvinism, p. 104.

[84]Jean Boisset, História do Protestantismo, p. 57.

[85] T.H.L. Parker, Portrait of Calvin, London, SCM Press, 1954, p. 19.

[86]George a denomina de “Obra-prima de erudição”. (Timothy George, Teologia dos Reformadores, p. 171).

[87]Vd. B.B. Warfield, Calvin and Calvinism, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House (The Work’s of Benjamin B. Warfield), 1981, Vol. V, p. 4; Timothy George, Teologia dos Reformadores, p. 171; Alister C. McGrath, The Intellectual Origins of the European Reformation, p. 54; Wilson C. Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia, p. 141ss.; Ronald S. Wallace, Calvin, Geneva and the Reformation, Grand Rapids, Michigan/Edinburgh, UK., Baker Book House/Scottish Academic Press, 1990, p. 5; Justo L. Gonzalez, A Era dos Reformadores, p 109; P. Schaff, The Creeds of Christendom, I, p. 424-425; Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 308-309.

[88]John T. McNeill, Los Forjadores del Cristianismo, Vol. II, p. 210. “Muitas farpas que disparava tinham em vista a ordem estabelecida, a Igreja e a escolástica”. (Daniel-Rops, A Igreja da Renascença e da Reforma: I. A reforma protestante, p. 367-368). Mais tarde, comentando o Salmo 45, faz uma crítica aos reis de sua época que governam pela força e não pela persuasão dos argumentos: “Quão manifestamente isso reprova a pobreza de espírito dos reis de nossos dias, por quem é considerado como derrogatório de sua dignidade dialogar com seus súditos e empregar a censura a fim de assegurar sua submissão; mas qual? exibem um espírito de bárbara tirania, buscando antes compeli-los pela força do que persuadi-los com humanidade; e em preferir antes abusar deles, como se fossem escravos, do que governá-los por leis e com justiça como pessoas tratáveis e obedientes.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 45.2), p. 307].

[89]Cf. Guillermo Fraile, Historia de la Filosofia, Madrid, La Editorial Catolica, S.A. 1966, Vol. III, p. 62.

[90]John Calvin, Calvin's Commentaries, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House Company, 1981, Vol. XXI, (Prefácio do seu comentário de 1ª Tessalonicenses) p. 234.

[91]Na Dedicatória de 1ª Tessalonicenses, disse: “Eu me reconheço endividado para você pelo progresso que foi feito desde então. E isto eu estava desejoso de testemunhar à posteridade que, se qualquer vantagem provirá a eles de meus escritos, eles saberão que tem em algum grau originado com você.” (John Calvin, Calvin's Commentaries, Vol. XXI, p. 234).

[92]Corderius morreu em Genebra, em 8 de setembro de 1564. Vd. Timothy George, Teologia dos Reformadores, p. 170; Jorge P. Fisher, Historia de la Reforma, Barcelona, CLIE., (1984), p. 195-196; C.H. Irwin, Juan Calvino: Su Vida y Su Obra, p. 16s.; John T. McNeill, The History and Character of Calvinism, p. 98,192; Idem, Los Forjadores del Cristianismo, Vol. II, p. 207; Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 301-302.

[93]Vd. J.T. McNeill, The History and Character of Calvinism, p. 110,195; C.H. Irwin, Juan Calvino: Su Vida y Su Obra, p. 22; Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 305.

[94]J. Calvino, Exposição de 2 Coríntios, São Paulo, Paracletos, 1995, Dedicatória, p. 8.

[95] Aliás, Calvino enfatiza em diversos lugares, o quanto o homem tornou-se infeliz por ter pecado, alienando-se de Deus. “Quando de seu estado original decaiu Adão, não há a mínima dúvida de que por esta defecção se haja alienado de Deus. Pelo que, embora concedamos não haja sido nele aniquilada e apagada de todo a imagem de Deus, foi ela, todavia, corrompida a tal ponto que, o que quer que resta, é horrenda deformidade.” (As Institutas, I.15.4.). “Pelo pecado estamos alienados de Deus.” [João Calvino, Efésios, São Paulo, Paracletos, 1998, (Ef 1.9), p. 32]; “Tão logo Adão alienou-se de Deus em conseqüência de seu pecado, foi ele imediatamente despojado de todas as coisas boas que recebera.” [João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo, Paracletos, 1997, (Hb 2.5), p. 57]; Todos os homens estão “totalmente alienados de Deus”. [John Calvin, Calvin's Commentaries, Vol. XVIII, (Jo 14.22), p. 97].

Biéler comenta que a conversão de Calvino é marcada por “sua rutura com as concepções espirituais do humanismo e sua descoberta de uma nova condição do homem e da sociedade, tal como lhe foi revelada pelas Sagradas Escrituras.” Continua: “Para Calvino, ademais, não é tanto questão de virar as costas ao humanismo, quanto de ir além dele e marcar as suas verdadeiras dimensões. De um conhecimento antropocêntrico, ele passa ao conhecimento do homem total, que tem seu centro no mistério de Deus.” (André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 261).

[96]Carta ao Rei Francisco I de França, 3. In: As Institutas, Vol. I.

[97]João Calvino, As Institutas, I.1.2.

[98]Cf. As Institutas, II.2.16-17,27; II.3.4. Esta doutrina, que nada mais é do que a compreensão de que o Espírito Santo exerce influência comum sobre os homens em geral, pode ser resumida em três pontos: 1) Uma atitude favorável da parte de Deus para com a humanidade em geral – eleitos e réprobos –, concedendo-lhes os bens necessários à sua existência: chuva, sol, água, alimento, vestuário, abrigo; 2) A restrição do pecado feita pelo Espírito Santo na vida dos indivíduos e na sociedade: “A obra da graça divina se vê em tudo que Deus faz para restringir a devastadora influência e desenvolvimento do pecado no mundo....” (L. Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP. Luz para o Caminho, 1990, p. 436); 3) A possibilidade da aplicação da justiça civil por parte do não regenerado: Aquilo que é certo nas atividades civis ou naturais. No entanto, deve ser dito que esta graça: a) Não remove a culpa do pecado; b) Não suspende a sentença de condenação, portanto, o homem continua sob o juízo de Deus. Deste modo, esta ação do Espírito deve ser distinta da Sua operação efetiva no coração dos eleitos através da qual Ele os regenera. [Vd. L. Berkhof, Teologia Sistemática, p. 433ss.; Charles Hodge, Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1986, Vol. II, p. 654ss.; A.A. Hodge, Comentario de La Confesion de Fe de Westminster, Barcelona, CLIE., (1987), Cap. X, p.155-156; A.A. Hodge, Esboços de Theologia, Lisboa, Barata Sanches, 1895, Cap. XXVIII, p. 420-421; William G.T. Shedd, Systematic Theology, Nashville, Thomas Nelson Publishers, 1980, Vol. II, p. 483ss.; R.L. Dabney, Lectures in Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, 1985, Cap. XLVIII, p. 583ss.; P.E. Hughes, Graça: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, São Paulo, Vida Nova, 1990, Vol. II, p. 216-217; Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, São Paulo, Vida Nova, 1999, p. 549].

[99]João Calvino, As Pastorais, São Paulo, Paracletos, 1998, (Tt 1.12), p. 318. Vd. também: As Institutas, I.5.2; II.2.16. Fiel a esse princípio, na Academia de Genebra, estudavam-se autores gregos e latinos, tais como: Heródoto, Xenofonte, Homero, Demóstenes, Plutarco, Platão, Cícero, Virgílio, Ovídio, entre outros. (Ver: Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 805; Ronald S. Wallace, Calvin, Geneva and the Reformation, p. 99). Nas Institutas, escreveu: “Admito que a leitura de Demóstenes ou Cícero, de Platão ou Aristóteles, ou de qualquer outro da classe deles, nos atrai maravilhosamente, nos deleita e nos comovem ao ponto de nos arrebatarem” [João Calvino, As Institutas, (1541), I.24].

[100]João Calvino, As Institutas, II.2.15. Ele acrescenta: “.... Se o Senhor nos quis deste modo ajudados pela obra e ministério dos ímpios na física, na dialética, na matemática e nas demais áreas do saber, façamos uso destas, para que não soframos o justo castigo de nossa displicência, se negligenciarmos as dádivas de Deus nelas graciosamente oferecidas.” (J. Calvino, As Institutas, II.2.16). (Vd. J. Calvino, As Institutas, II.2.12-17).

[101] J. Calvino, Breve Tratado Sobre La Santa Cena: In: Tratados Breves, Buenos Aires/México, La Aurora/Casa Unida de Publicaciones, 1959, p. 46. [Vd. J.I. Packer, “Fundamentalism” and the Word of God, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1988 (Reprinted), p. 34].

[102] J. Calvino, As Institutas, IV.1.12. Em outro lugar: “Onde se professava o Cristianismo, se adorava um único Deus, se praticavam os Sacramentos e se exercia algum gênero de ministério, ali permaneciam as marcas da Igreja. Nem sempre encontramos nas igrejas tal pureza como era de se desejar. Ainda a mais pura tem suas máculas, e algumas têm não só umas poucas manchas aqui e ali, mas são quase que completamente deformadas. Não devemos ficar tão desconcertados pelo ensino e vida de alguma sociedade que, se não ficamos satisfeitos com tudo o que se procede ali, então prontamente negamos ser ela uma igreja.” [João Calvino, Gálatas, São Paulo, Paracletos, 1998, (Gl 1.2), p. 25].

[103] João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo, Paracletos, 1999, Vol. 2, (Sl 50.4), p. 401.

[104] J. Calvino, As Institutas, IV.1.15. Em outro lugar Calvino diz: “Deus só é corretamente servido quando sua lei for obedecida. Não se deixa a cada um a liberdade de codificar um sistema de religião ao sabor de sua própria inclinação, senão que o padrão de piedade deve ser tomado da Palavra de Deus.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 1.1), p. 53].

[105] João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo, Paracletos, 1997, (Hb 10.25), p. 272.

[106] João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 10.25), p. 273.

[107] Cf. John Calvin, Calvin's Commentaries, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House Company, 1996, (Reprinted), Vol. XV, (Ag 2.1-5), p. 351.

[108] J. Calvino, As Institutas, IV.2.5. Calvino entendia que “onde os homens amam a disputa, estejamos plenamente certos de que Deus não está reinando ali.” [J. Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo, Edições Paracletos, 1996, (1Co 14.33), p. 436]. T. George comenta com acerto, que “Calvino não estava disposto a comprometer pontos essenciais em favor de uma paz falsa, mas ele tentou chamar a igreja de volta à verdadeira base de sua unidade em Jesus Cristo.” (T. George, Teologia dos Reformadores, p. 182-183).

[109] João Calvino, Efésios, São Paulo, Paracletos, 1998, (Ef 4.12), p. 125.

[110]John Calvin, To the Brethren of Wezel, “Letter,” John Calvin Collection, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), nº 346, p. 32-34.

[111] J. Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 14.33), p. 437.

[112] Arcebispo de Canterbury, que em 1549 havia elaborado o Livro de Oração Comum, no qual dava ênfase ao culto em inglês, à leitura da Palavra de Deus e, ao aspecto congregacional da adoração cristã.

[113] Melanchton mesmo sendo luterano, e amigo pessoal de Lutero, desfrutou também de boa amizade com Calvino, mantendo com este ampla correspondência. Nos dizeres de Schaff, Melanchton “permaneceu como um homem de paz entre dois homens de guerra.” (Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 260). O seu principal trabalho teológico foi Loci Communes (abril de 1521). Este tratado foi a primeira obra de teologia sistemática protestante do período da Reforma, marcando época portanto, na história da teologia. Nele Melanchton segue a ordem da Epístola aos Romanos. (Ver: Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VII, 368-370).

[114]Bullinger foi amigo, discípulo e sucessor de Zuínglio (1484-1531), tendo escrito cerca de 150 obras, entre elas, A Segunda Confissão Helvética (1562-1566).

[115] Cranmer, na carta a Calvino diz: "Como nada mais tende a separar as Igrejas de Deus que as heresias e diferenças sobre as doutrinas de religião, assim nada mais eficazmente os une, e fortalece a obra de Cristo mais poderosamente, que a doutrina incorrupta do evangelho, e união em opiniões reconhecidas. Eu tenho freqüentemente desejado, e agora desejo que esses homens instruídos e piedosos que superam outros em erudição e julgamento, constituíssem uma assembléia em um lugar conveniente, onde se realizasse uma consulta mútua, e comparando as suas opiniões, eles poderiam discutir todas as principais doutrinas da igreja.... Nossos adversários estão agora organizando o seu concílio em Trento, no qual eles podem estabelecer os seus erros. E devemos nós negligenciar convocar um sínodo piedoso que nos possibilite refutar os erros deles, e purificar e propagar a verdadeira doutrina?" [Thomas Cranmer to Calvin, “Letter,” John Calvin Collection, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), 16.

[116]Cranmer era um teólogo e estadista; a sua preocupação com Trento era pertinente e a história já demonstrou amplamente esse fato.

[117] Letters of John Calvin, Selected from the Bonnet Edition, Edinburgh, The Banner of Truth Trust, 1980, p. 132-133. Comentando sobre o egoísmo humano que gera divisões na Igreja e, ao mesmo tempo a falta de tolerância, Calvino escreve, exortando-nos à amar os nossos irmãos: (Retomo aqui, parte de citação já feita) “Há tanta rabugice em quase todos esses indivíduos que, estando em seu poder, de bom grado fariam para si suas próprias igrejas, porquanto se torna difícil acomodarem-se aos modos das demais pessoas. Os ricos invejam uns aos outros, e raramente se encontra um entre cem que acredite que os pobres são também dignos de ser chamados e incluídos entre seus irmãos. A menos que haja similaridade em nossos hábitos, ou alguns atrativos pessoais, ou vantagens que nos unam, será muitíssimo difícil manter uma perene comunhão entre nós. Essa advertência, pois, se torna mais que necessária a todos nós, a fim de sermos encorajados a amar, antes que odiar, e não nos separarmos daqueles a quem Deus nos uniu. Torna-se urgente que abracemos com fraternal benevolência àqueles que nos são ligados por uma fé incomum. É indubitável que a nós compete cultivar a unidade da forma a mais séria, porque Satanás está alerta, seja para arrebatar-nos da Igreja, ou para desacostumar-nos dela de maneira furtiva.” [João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo, Paracletos, 1997, (Hb 10.25), p. 272-273]. Schaff analisa: “A Igreja de Deus era a sua casa, e aquela Igreja não conhece nenhum limite de nacionalidade e idioma. O mundo era a sua paróquia. Tendo rompido com o papado, ele ainda permaneceu um católico na melhor acepção da palavra, e orou e trabalhou para a unidade de todos os crentes.” (Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 799).

[118] Apud Mark A. Noll, Momentos Decisivos na História do Cristianismo, p. 204.

[119]Robert D. Knudsen, O Calvinismo Como uma Força Cultural: In: W. Stanford Reid, ed. Calvino e sua Influência no Mundo Ocidental, p. 13-14.

[120]Robert D. Knudsen, O Calvinismo Como uma Força Cultural: In: W. Stanford Reid, ed. Calvino e sua Influência no Mundo Ocidental, p. 19

[121]Robert D. Knudsen, O Calvinismo Como uma Força Cultural: In: W. Stanford Reid, ed. Calvino e sua Influência no Mundo Ocidental, p. 20.

[122]André Biéler, O Humanismo Social de Calvino, São Paulo, Edições Oikoumene, 1970, p. 12-13.

[123] “Esse humanismo cristocêntrico, essa nova imagem do homem, redescoberta pelo Cristianismo reformado, permitia a cada indivíduo compreender que sua natureza atual era uma natureza degradada e que devia ser restaurada. Mas essa nova concepção permitia-lhe também descobrir que ele trazia em si, como toda pessoa, os traços maravilhosos de sua identidade primeira. Cada indivíduo podia, portanto, conhecer-se a si mesmo e redescobrir que toda a criação era também convidada para sua renovação (Rm 8.20-21).” (André Biéler, A Força Oculta dos Protestantes, p. 47).

[124] J. Calvino, As Institutas, I.2.1.

[125]J. Calvino, As Institutas, I.2.2.

[126]J. Calvino, As Institutas, I.2.2.

[127]J. Calvino, As Institutas, I.12.1. Vd. também: As Institutas, I.5.9.

[128] John Calvin, Calvin's Commentaries, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House Company, 1981, Vol. XVII, (Jo 4.22), p. 159.

[129] John Calvin, Calvin's Commentaries, Vol. XVII, (Jo 4.22), p. 160-161.

[130] J. Calvino, As Institutas, I.2.2.

[131] J. Calvino, As Institutas, I.5.9. “Ela [a doutrina] só será consistente com a piedade se nos estabelecer no temor e no culto divino, se edificar nossa fé, se nos exercitar na paciência e na humildade e em todos os deveres do amor.” [João Calvino, As Pastorais, (1Tm 6.3), p. 164-165]. “Visto que todos os questionamentos supérfluos que não se inclinam para a edificação devem ser com toda razão suspeitos e mesmo detestados pelos cristãos piedosos, a única recomendação legítima da doutrina é que ela nos instrui na reverência e no temor de Deus. E assim aprendemos que o homem que mais progride na piedade é também o melhor discípulo de Cristo, e o único homem que deve ser tido na conta de genuíno teólogo é aquele que pode edificar a consciência humana no temor de Deus.” [João Calvino, As Pastorais, (Tt 1.1), p. 300].

[132] J. Calvino, As Institutas, III.2.8.

[133] João Calvino, Efésios, São Paulo, Paracletos, 1998, (Ef 4.18), p. 136-137.

[134] Vejam-se: J. Calvino, As Institutas, I.15.3 e 4; John Calvin, Commentaries on The First Book of Moses Called Genesis, Grand Rapids, Michigan, Eerdamans Publishing Co., 1996 (Reprinted), Vol. 1, (Gn 1.26-27), p. 92, (Gn 5.1), p. 227; João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo, Novo Século, 2000, p. 37-38; João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 8.7-9), p. 173-174; Juan Calvino, Breve Instruccion Cristiana, Barcelona, Fundación Editorial de Literatura Reformada, 1966, p. 25; Francis A. Schaeffer, A Morte da Razão, p. 20ss; André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 265ss.; André Biéler, A Força Oculta dos Protestantes, p. 47; H. Henry Meeter, La Iglesia e El Estado, Michigan, T.E.L.L., (s.d.), Cap. VI e VII, p. 63-91; Alister E. McGrath, The Intellectual Origins of the European Reformation, p. 55ss.; Anthony Hoekema, Criados à Imagem de Deus, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1999, p. 55-62 (especialmente); G.C. Berkouwer, Man: The Imagem of God, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1984 (Reprinted), especialmente, p. 148ss. Sobre a relação entre o Renascimento e os Puritanos, Vd. Leland Ryken, Santos no Mundo, São José dos Campos, SP., FIEL, 1992, p. 175-177 (especialmente).

[135]Vd. Millard J. Erickson, Introdução à Teologia Sistemática, São Paulo, Vida Nova, 1997, p. 207.

[136]John Calvin, Commentaries on the Epistle of James, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House Company, 1996, (Calvin's Commentaries, Vol. XXII), (Tg 3.9) p. 322.

[137] Cf. J. Calvino, As Institutas, I.2.2.

[138] J. Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.1), p. 82. Schaff usa essa expressão referindo-se à Academia de Genebra, um “berçário de pregadores evangélicos”. (Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 820).

[139] Data da sessão solene de inauguração, presidida por Calvino na Catedral de São Pedro. (A. Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 192; Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 805; Calvin, Textes Choisis par Charles Gagnebin, Egloff, Paris, © 1948, p. 302; Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, p. 195). Na ocasião estavam presentes todo Conselho e os ministros. Calvino rogou a bênção de Deus sobre a Academia, a qual estava sendo dedicada à ciência e religião. Michael Roset, o secretário de Estado, leu a Confissão de Fé o os estatutos que regeriam a instituição. Beza foi proclamado reitor, ministrando uma aula inaugural em latim. A reunião foi encerrada com uma breve palavra de Calvino e oração pelo próprio. (Cf. Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 805; Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, p. 195). John Knox (1515-1572), quem estudou na Academia, escreveria mais tarde a uma amiga (1556), dizendo ser a Igreja de Genebra “a mais perfeita escola de Cristo que jamais houve na terra desde os dias dos Apóstolos.” (John T. McNeill, The History and Character of Calvinism, p. 178; Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 263; Idem., The Creeds of Christendom, I, p. 460; Timothy George, Teologia dos Reformadores, p. 167). Schaff observa que havia uma faculdade em Genebra, desde 1428 chamada “Faculdade Versonnex”, que se destinava à preparação de clérigos; no entanto ela havia entrado em decadência, sendo reorganizada por Calvino em 1541. A instrução era gratuita. Ainda segundo Schaff, Calvino incentivou a educação fundando diversas escolas estrategicamente distribuidas na cidade. As taxas eram baixas até que foram abolidas (1571) conforme pedido de Beza. “Calvino às vezes é chamado o fundador do sistema de escola pública”. Calvino desejava criar uma grande universidade, contudo os recursos da República eram pequenos para isso, assim ele se limitou à Academia. Contudo até para criar a Academia ele teve de pedir de casa em casa donativos, conseguindo arrecadar a soma respeitável de 10,024 guilders de ouro. Também, diversos estrangeiros que ali residiam contribuíram generosamente, havendo também um genebrino, Bonivard, o velho, que doou toda a sua fortuna à instituição. (Cf. Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 804-805).

[140] Cf. Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 805; Ronald S. Wallace, Calvin, Geneva and the Reformation, p. 99. Em 1564 a Academia contaria com 1200 alunos nos cursos superiores e 300 nos inferiores. (Cf. Wilson C. Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia, p. 196; A. Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 192; Daniel-Rops, A Igreja da Renascença e da Reforma: I. A reforma protestante, p. 413).

[141]Genebra chegou a abrigar mais de 6 mil refugiados vindos da França, Itália, Inglaterra, Espanha e Holanda. (Cf. Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 802; Ricardo Cerni, Historia del Protestantismo, 2ª ed. Corregida, Edinburgh, El Estandarte de la Verdad, 1995, p. 63) aumentando este número com os estudantes que para lá se dirigiram com a fundação da Academia de Genebra (1559). Lembremo-nos que a população de Genebra era de 9 a 13 mil habitantes [9 mil segundo Reid (W.S. Reid, A Propagação do Calvinismo no Século XVI: In: W. Stanford Reid, ed. Calvino e sua Influência no Mundo Ocidental, p. 52; 12 mil conforme McNeill (J.T. McNeill, Los Forjadores del Cristianismo, Vol. II, p. 211); 13 mil de acordo com Nichols (Robert H. Nichols, História da Igreja Cristã, São Paulo, CEP., 1978, p. 164)]. Schaff, apresenta dados mais específicos relativos a cada período: Cerca de 12 mil habitantes no início do século XVI, aumentando para mais de 13 mil em 1543, tendo um surto de crescimento de 1543 a 1550, quando a população saltou para 20 mil (Philip Schaff, History of the Christian Church, VIII, p. 802. Vd. também: Tomas M. Lindsay, La Reforma y su Desarrollo Social, Barcelona, CLIE., (1986), p. 117; Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, p. 193]. Afora isso, Calvino exerceu poderosa influência através da palavra falada e escrita; a sua Instituição – contrariamente à De Clementia – tornara-se um sucesso editorial desde o seu lançamento em 1536. Wendel nos diz que a primeira edição da Instituição esgotou-se em menos de um ano [François Wendel, Calvin, New York, Harper & Row, Publishers, 1963, p. 113; Justo L. Gonzalez, A Era dos Reformadores, São Paulo, Vida Nova, 1986 (Reimpressão), p. 111]. Ou, mais precisamente em janeiro de 1537 (Cf. Daniel-Rops, A Igreja da Renascença e da Reforma: I. A reforma protestante, p. 374). (Vd. Também, Timothy George, Teologia dos Reformadores, p. 177-178). Ladurie diz que o ponto mais alto da tipografia de Platter-Lasius, foi com a obra de Calvino a qual, “projetara Thomas”. (Vd. Emmanuel Le Roy Ladurie, O Mendigo e o Professor: a saga da família Platter no século XVI, Vol. 1, p. 152, 153, 166). Warfield comenta que “no sentido literal da palavra, este livro pode ser realmente chamado de o trabalho de sua vida (‘life-work’)” [Vd. B.B. Warfield, Calvin and Calvinism, Vol. V, p. 7]. Gonzalez, acrescenta: “Sem dúvida alguma, esta foi a obra-prima de teologia sistemática protestante em todo esse século.” (Justo L. Gonzalez, A Era dos Reformadores, p. 112).

Febvre, diz que, “de 1550-1564 [ano da morte de Calvino], serão publicadas 256 edições, das quais 160 em Genebra. A Institution chrétienne é, então, sozinha, objeto de 25 reedições, nove latinas e dezesseis francesas das quais a maioria provém dos prelos genebrinos....” (Lucien Febvre & Henry Jean-Martin, O Aparecimento do Livro, p. 442-443). A Instituição, concluída em agosto de 1535, teve a sua primeira edição em março de 1536 (Basiléia), na tipografia dos “amigos-inimigos” Thomas Platter e Balthasar Lasius, vulgo “Ruch”. (Sobre a saga da família Platter e as peripécias de Thomas Platter, Vd. Emmanuel Le Roy Ladurie, O Mendigo e o Professor: a saga da família Platter no século XVI, Vol. 1, passim). O trabalho tipográfico foi primoroso: “As páginas de sua Instituição Cristã e calvinista, de 1536, não amarelaram passadas quinze gerações”, admira-se Ladurie. (Emmanuel Le Roy Ladurie, O Mendigo e o Professor: a saga da família Platter no século XVI, Vol. 1, p. 156). Esta edição original escrita em latim – dispunha de 6 capítulos em apenas 520 páginas, com formato aproximado de 15x10 – um livro de bolso que facilitava o seu transporte discreto; a última – passando por algumas ampliações, revisões e reorganizações [1536, 1539, 1543 (sem alteração, 1545), 1550 (sem alterações: 1553 e 1554)] , até atingir a forma definitiva – publicada em Genebra (1559) na tipografia de Robert Estienne. Esta foi reimpressa duas vezes em 1561. Tive acesso a uma destas, editada em Genebra por Antonius Rebulins, constando de 980 páginas e mais 67 páginas de índice remissivo (formato: 18x11, tipo 8), dividida em 80 capítulos.

Conforme o próprio Calvino nos diz; ele só se satisfez com o arranjo e ordem desta última (Prefácio à Edição de 1559). A tradução francesa foi impressa na tipografia de Jean Girard, em Genebra (1541) – esta edição tem um sabor especial pois, ao que parece, foi traduzida inteiramente por Calvino, não apenas revisada, conforme, ao que parece, aconteceu com as demais traduções francesas (Cf. Jacques Pannier, Introduction à Institution de la Religion Chrestienne, Paris, Société Les Belles Lettres, 1936, Vol. I, p. XXII) –, seguindo-se outras: 1545, 1551, (sem alterações: 1553 e 1554), 1557 e a definitiva: 1560. Objetivando facilitar a difusão da obra de Calvino na França, parte da segunda edição latina (1539) circulou subscrita sob o pseudônimo de Alcuino, um anagrama do seu próprio nome que possivelmente visava despistar seus inquisidores (Vd. Jean Cardier, In: Prefácio à edição Francesa: Jean Calvin, L’Institution Chrétienne, Genève, Labor et Fides, 1955, Vol. I, p. IX; François Wendel, Calvin, p. 113-114; Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 297). Ela exerceria poderosa influência sobre as Igrejas da França, tendo o Parlamento francês inclusive interditado a obra e destruído alguns volumes (1542) e a Faculdade de Teologia a incluiu entre os livros censurados (23/06/1545). (Vd. Jean Cardier, In: Prefácio à edição Francesa: Jean Calvin, L’Institution Chrétienne, p. IX; Jacques Pannier, In: Prefácio à edição Francesa comemorativa do 4º centenário de 1ª edição: Jean Calvin, Institution de la Religion Chrestienne, Paris, Sociéte Les Belles Lettres, 1936, Vol. I, p. XX-XXI; François Wendel, Calvin, p. 116-117; Daniel-Rops, A Igreja da Renascença e da Reforma: I. A reforma protestante, p. 383). Apesar das sucessivas edições ampliadas da Instituição, a realidade é que a sua teologia não mudou. As modificações refletem, na realidade, mais uma preocupação pedagógica do que metodológica e menos ainda teológica. (Vd. Alister E. McGrath, A Life of John Calvin: A Study in the Shaping of Western Culture, Oxford, UK & Cambridge, USA., Blackwell Publishers, 1991, p. 148). É bom lembrar, que toda a sua obra foi produzida não num clima de sossego e paz, numa “torre de marfim”, mas em meio a inúmeros problemas: administrativos, domésticos, financeiros e, principalmente, de saúde. (Vd. John Calvin, To Farel, “Letters,” John Calvin Collection, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), nº 34; Vd. John Calvin, To the Physicians of Montpellier, “Letters,” John Calvin Collection, [CD-ROM], nº 665; John Calvin, To Monsieur de Falais, “Letters,” John Calvin Collection, [CD-ROM], 161; T.H.L. Parker, Portrait of Calvin, p. 72; Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, p. 131-132).

Não é exagero dizer que devido a sua profundidade e coerência teológica, a Instituição tem para a Igreja Protestante a mesma relevância da Suma Teológica de Aquino para a Igreja Católica (Vd. Preserved Smith, The Age of The Reformation, New York, Henry Holt and Company, 1920, p. 163; J.T. McNeill, Los Forjadores del Cristianismo, Vol. II, p. 213. Vd. Outras comparações In: T.H.L. Parker, Portrait of Calvin, London, SCM Press LTD., 1954, p. 38-39; Vicente T. Lessa, Calvino 1509-1564: Sua Vida e Obra, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, [s.d.], p. 74,78).

Assim como a edição definitiva da Instituição, a primeira edição encontra-se traduzida para o espanhol diretamente do latim [Institución de la Religión Cristiana, Buenos Aires, La Aurora, (1958) (Obras Clasicas de la Reforma, Vols. XV e XVI), 2 Vols.]

A edição definitiva da Instituição (latim: 1559; francês: 1560), seguindo a ordem do Credo Apostólico, pode ser, grosso modo, assim esboçada:

I – Do Conhecimento de Deus, o Criador (Teologia)

II – Do Conhecimento de Deus, o Redentor (Cristologia)

III – O Espírito Santo e a aplicação da obra salvadora de Cristo (Pneumatologia/Soteriologia)

IV – Os meios externos de salvação: a Igreja e os Sacramentos (Eclesiologia). [Um esboço mais detalhado pode ser encontrado em Timothy George, Teologia dos Reformadores, p. 186].

[142] Marc Venard, O Concílio Lateranense V e o Tridentino. In: Giuseppe Alberigo org. História dos Concílios Ecumênicos, São Paulo, Paulus, 1995, p. 339.

[143]Daniel-Rops, A Igreja da Renascença e da Reforma: I. A reforma protestante, p. 414.

[144] Cf. Charles W. Baird, A Liturgia Reformada: Ensaio histórico, São Paulo, SOCEP., 2001, p. 29.

[145] Apud Charles W. Baird, A Liturgia Reformada: Ensaio histórico, p. 30.

[146] Jean Delumeau, A Civilização do Renascimento, Lisboa, Editorial Estampa, 1984, Vol. I, p. 128-129; Daniel-Rops, A Igreja da Renascença e da Reforma: I. A reforma protestante, p. 415. Expressão já usada por Schaff. Vd. The Creeds of Christendom, I, p. 445. É curioso que mesmo Calvino tendo uma alma francesa, ele jamais deixaria a igreja de Genebra; quando foi convidado a pastorear a Primeira Igreja Protestante de Paris, não aceitou. (Cf. P. Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 807).

[147] Barth combatendo a figura de Genebra como a Roma do Protestantismo, escreveu que era um equívoco revestir “a Instituição cristã, as ordenanças eclesiásticas e a própria pessoa de Calvino de uma autoridade profética e apostólica. (...) Primeiramente, o termo Roma protestante é uma flor de retórica sentimental. A ‘Roma protestante’ nunca existiu – senão em caricaturas, bem-intencionadas ou malévolas.” (Karl Barth, em introdução à obra, Calvin, Textes Choisis par Charles Gagnebin, p. 11).

[148]Calvino pessoalmente chegou a sair pedindo donativos de casa em casa para a escola. Vd. André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 192-193; Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 804-805. Veja-se, também, L. Luzuriaga, História da Educação e da Pedagogia, 17ª ed. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1987, p. 108-116; Ruy A.C. Nunes, História da Educação no Renascimento, p. 97-102; T.R. Giles, História da Educação, p. 119-128; Wilson C. Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia, p. 193,196.

[149] Vd. André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 28; Wilson C. Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia, p. 188-189.

[150]John Calvin, Golden Booklet of the True Christian Life, 6ª ed. Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, 1977, p. 17.

[151] P. Schaff, The Creeds of Christendom, I, p. 445.

[152] Planejamento da Educação: Um Levantamento Mundial de Problemas e Prospectivas, Conferências Promovidas pela Unesco, Rio de Janeiro, Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1975, p. 4.

[153] Vd. Wilson C. Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia, p. 198.

[154] Cito como curiosidade, que mais tarde, o Regente Feijó tentará trazer os "Irmãos Morávios", ao Brasil (1836), com o objetivo de trabalhar na catequese dos índios. Contudo, lamentavelmente eles estavam "impossibilitados de atender" o convite. (Ver: Daniel P. Kidder, Reminiscências de Viagens e Permanência no Brasil (Rio de Janeiro e Província de São Paulo), São Paulo, Martins Fontes, (1951), Vol. I, p. 41).

[155]Ele foi alcunhado de o "Bacon da Pedagogia" conforme a expressão de G. Compayré (Histoire critique des doctrines de l'éducation, Paris, 1885. Apud J.-P. Piobetta, João Amos Comenius: In: Jean Château, et. al. Os Grandes Pedagogistas, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1978, p. 131. Vd. também, M.F. Sciacca, O Problema da Educação, São Paulo, Herder/EDUSP., 1966, p. 396). Também foi chamado de "o Galileu da educação". Expressão usada por J. Michelet. (Expressão usada por J. Michelet, Nos fils, Paris, 1869, Apud J.-P. Piobetta, João Amos Comenius: In: Jean Château, et. al. Os Grandes Pedagogistas, p. 131)

[156] Título da obra de Will S. Monroe, publicada em Boston (1892): “Comenius, the evangelist of modern pedagogy”

[157] Cf. Paul Kleinert, Comenius: In: Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Practical Theology, Vol. I, p. 517 e John C. Osgood, Comenius: In: Harry S. Ashmore, Editor in Chief. Encyclopaedia Britannica, Chicago, Encyclopaedia Britannica, INC., 1962, Vol. 6, p. 100; Salomon Bluhm, Johann Amos Comenius: In: Lee C. Deighton, editor-in chief. The Encyclopedia of Education, (s. cidade), The Macmillan Company & The Free Press, 1971, Vol. II, p. 301.

[158] Vd. John C. Osgood, Comenius: In: Harry S. Ashmore, Editor in Chief. Encyclopaedia Britannica, Chicago, Encyclopaedia Britannica, INC. 1962, Vol. 6, p. 100; N. Abbagnano & A. Visalberghi, Historia de la Pedagogía, p. 303; Joaquim Ferreira Gomes, Introdução à Didactica Magna: In: João Amós Coménio, Didáctica Magna, p. 17)

[159] Cf. Salomon Bluhm, Johann Amos Comenius: In: Lee C. Deighton, editor-in chief. The Encyclopedia of Education, Vol. II, p. 302.

[160] João Amós Coménio, Didáctica Magna, 3ª ed. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, (1985), X.1. p. 145.

[161]João Amós Coménio, Didáctica Magna, Dedicatória, 18-19, p. 65.

[162] João Amós Coménio, Didáctica Magna, X.3. p. 146.

Como curiosidade, cito que em 1987, a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, fez a seguinte pergunta: "Qual será a opção do educador: reproduzir a atual sociedade ou lutar para transformá-la?" (Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Questionando a Avaliação, In: Avaliação, 1987, p. 5). Pergunta atual? Relevante? Talvez... Em 1657, Comênio já forncera a resposta: "as escolas são oficinas da humanidade.

Como é notório na História, o advento da imprensa trouxe consigo, uma maior difusão da literatura impressa, bem como acarretou gradativamente, um aumento significativo da alfabetização. "Nos países reformados e nas nações católicas, nas cidades e nos campos, no Velho e no Novo Mundo, a familiaridade com a escrita progride, dotando as populações de competências culturais que antes constituíam apanágio de uma minoria", escreve Roger Chartier (Roger Chartier, As Práticas da Escrita: In: R. Chartier, org. História da Vida Privada, São Paulo, Companhia das Letras, 1991, Vol. 3, p. 116). O autor sustenta que foi com o pietismo que a prática da leitura se difundiu amplamente na Alemanha (Ibidem., p. 121-122). Mais à frente ele reconhece, que a leitura e posse de livros, se tornaram mais evidentes nos países protestantes. "À frente da Europa que possui livros estão incontestavelmente as cidades dos países protestantes. Por exemplo, em três cidades da Alemanha renana e luterana – Tübingen, Speyer e Frankfurt –, os inventários com livros constituem em meados do século XVIII respectivamente 89%, 88% e 77% do total registrado. Assim, é grande a diferença em relação à França católica, seja na capital (na década de 1750 apenas 22% dos inventários parisienses incluem livros), seja na província (nas novas cidades do oeste francês a porcentagem é de 36% em 1757-1758; em Lyon, de 35% na segunda metade do século). Ao contrário, a diferença é pequena com relação a outros países protestantes – mesmo que majoritariamente rurais como, por exemplo, os da América.

“No final do século XVIII, 75% dos inventários no condado de Worcester, em Massachusetts, 63% em Maryland, 63% na Virgínia assinalam a presença de livros – o que traduz um belo progresso em comparação com o século anterior, no qual a porcentagem das melhores regiões não passava de 40%.

"Deste modo, a fronteira religiosa parece um fator decisivo no tocante à posse do livro. Nada o mostra melhor que a comparação das bibliotecas das duas comunidades numa mesma cidade. Em Metz, entre 1645-1672, 70% dos inventários dos protestantes incluem livros contra apenas 25% dos inventários católicos. E a distância é sempre muito acentuada, seja qual for a categoria profissional considerada: 75% dos nobres reformados têm livros, mas apenas 22% dos católicos os possuem, e as porcentagens são de 86% e 29% nos meios jurídicos, 88% e 50% na área médica, 100% e 18% entre pequenos funcionários, 85% e 33% entre comerciantes, 52% e 17% entre artesãos, 73% e 5% entre 'burgueses', 25% e 9% entre trabalhadores braçais e agrícolas. Mais numerosos como proprietários de livros, os protestantes também possuem mais livros: os reformados membros das profissões liberais têm em média, o triplo dos seus homólogos católicos; a situação é idêntica para comerciantes, artesãos ou pequenos funcionários; e entre os burgueses a diferença é ainda maior, com bibliotecas calvinistas dez vezes mais ricas que as dos católicos.

"A essa diferença na posse do livro acrescentam-se outras que opõem a própria economia das bibliotecas às práticas da leitura. Nos países luteranos, seja qual for o nível social de seu proprietário, todas são organizadas em torno do mesmo conjunto de livros religiosos." (Ibidem., p. 131-133).

O autor mostra, com alguns testemunhos históricos, que toda a cultura protestante estava vinculada à leitura da Bíblia (Veja-se, Ibidem., p. 133ss).

D.S. Schaff observou corretamente, que: "Para o protestante, a Bíblia é um livro popular, um livro tanto para o lar como para o santuário, tanto para a choupana como para o gabinete do erudito. Traduzida para a linguagem do leitor, ela será tão livre como o ar e a luz do sol. É o livro da vida, a mensagem do Evangelho. Como é franca a mensagem para todos os que a aceitem, assim o volume que contém a mensagem deve ser aberto a todos os que queiram ler." (D.S. Schaff, Nossa Crença e a de Nossos Pais, p. 172-173).

[163]J. Amós Coménio, Didáctica Magna, p. 425. É importante ler todo o capítulo.

[164]J. Amós Coménio, Didáctica Magna, IX.1. p. 139.

[165]J. Amós Coménio, Didáctica Magna, XII, p. 163-164.

[166]J. Amós Coménio, Didáctica Magna, (Introdução), p. 44. Ver: p. 73-74, 157.

[167]J. Amós Coménio, Didáctica Magna, p. 76.

[168]J. Amós Coménio, Didáctica Magna, III.5, p. 92. Ver p. 358.

[169]J. Amós Coménio, Didáctica Magna, II.10, p. 87.

[170]J. Amós Coménio, Didáctica Magna, III.3. p. 91.

[171]J. Amós Coménio, Didáctica Magna, III.6, p. 93.

[172]J. Amós Coménio, Didáctica Magna, p. 75.

[173]J. Amós Coménio, Didáctica Magna, IV.1, p. 95.

[174]J. Amós Coménio, Didáctica Magna, IV.6, p. 97.

[175]J. Amós Coménio, Didáctica Magna, IV.6, p. 97. Ver. p. 353.

[176]J. Amós Coménio, Didáctica Magna, XXIV.10. p. 356.

[177]J. Amós Coménio, Didáctica Magna, XXIV.19. p. 360.

[178]J. Amós Coménio, Didáctica Magna, XXIV.20. p. 360.

[179] Chefe de uma hoste de soldados mercenários da Europa, nos séculos XIV-XVI.

[180]H.R. Trevor-Roper, Religião, Reforma e Transformação Social, p. 20 e 22.

[181]Cf. Trabalho: In: José Pedro Machado, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Lisboa, Confluência, 1956, II, p. 2098; Trabalhar: In: Aurélio B.H. Ferreira, Novo Dicionário da Língua Portuguesa, 2ª ed. rev. aum. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986, p. 1695; Antônio Geraldo da Cunha, Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, 2ª ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1991, p. 779; Trabajar: In: J. Corominas, Diccionário Crítico Etimológico de la lengua Castellana, Madrid, Editorial Gredos, (1954), Vol. 4, p. 520-521; Trabalho: In: Antonio Houaiss, ed. Enciclopédia Mirador Internacional, São Paulo, Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1987, Vol. 19, p. 10963-10964.

[182]banausi/a, está associada à “vida e hábitos de um mecânico”; metaforicamente é aplicada à “mau gosto” e “vulgaridade”. (Vd. Liddell & Scott, Greek-English Lexicon, Oxford, Clarendon Press, 1935, p. 128b).

[183]Vd. Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, São Paulo, Pioneira, 1967, p. 52ss.

[184]H. Pirenne, História Econômica e Social da Idade Média, 6ª ed. São Paulo, Mestre Jou, 1982, p. 19.

[185] André Biéler, A Força Oculta dos Protestantes, p. 118. Vd. Jacques Le Goff, Mercadores e Banqueiros da Idade Média, São Paulo, Martins Fontes, 1991, passim.

[186] Vejam-se, Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, p. 52 (e notas correspondentes); André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 628; Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, 21ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1989, p. 114.

[187] João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 77.

[188]É interessante notar que em 1513, N. Maquiavel (1469-1527), na sua obra O Príncipe, dedicada a Lorenzo di Medicis, diz: “... um príncipe deve gastar pouco para não ser obrigado a roubar seus súditos; para poder defender-se; para não se empobrecer, tornando-se desprezível; para não ser forçado a tornar-se rapace; e pouco cuidado lhe dê a pecha de miserável; pois esse é um dos defeitos que lhe dão a possibilidade de bem reinar.” [N. Maquiavel, O Príncipe, São Paulo, Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. IX), 1973, p. 72]. (grifos meus).

[189] Vd. por exemplo, J. Calvino, As Institutas, III.7.5-6; III.10.4-5; Idem., Exposição de 2 Coríntios, (2 Co 8), p. 165ss.; André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 643. (Veja-se, também, Hermisten M.P. Costa, As Questões Sociais e a Teologia Contemporânea, São Paulo, 1986. Quando à ação prática dos conceitos de Calvino em Genebra, Vd. Alderi Souza de Matos, João Calvino e o Diaconato em Genebra: In: Fides Reformata, 2/2 (1997), p. 61-68; Ronald S. Wallace, Calvin, Geneva and the Reformation, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House/Scottish Academic Press, 1990, passim.

A Igreja Católica sempre condenou o lucro, ainda que a sua prática não se harmonizasse com a sua teoria, sendo ela mesma, extremamente rica. "O empréstimo a juros (...) sempre foi proibido ao clero; a Igreja conseguiu, a partir do século IX, que se tornasse proibida também aos leigos, e reservou o castigo desse delito à jurisdição de seus tribunais." (H. Pirenne, História Econômica e Social da Idade Média, p. 19).

Pirenne (1862-1935) continua:

"É evidente que a teoria dista muito da prática: os próprios mosteiros, amiúde, infringiram os preceitos da Igreja. Não obstante, esta impregnou tão profundamente o mundo com seu espírito, que serão necessários vários séculos para que se admitam as novas práticas que o renascimento econômico do futuro exigirá, e para que se aceitem, sem reservas mentais, a legitimidade dos lucros comerciais, da valorização do capital e dos empréstimos com juros." (Ibidem., p. 19-20).(Vd. uma anedota bastante ilustrativa do conflito da Igreja, In: Pirenne, História Econômica e Social da Idade Média, p. 32-33).

Aldo Janotti, comentando a respeito da superioridade intelectual e riqueza da Igreja romana na Idade Média, observa que:

"A preponderância econômica se manifestava tanto através da riqueza agrária quanto da monetária: possuía a Igreja inúmeros domínios, superiores em extensão aos da aristocracia laica, como também em organização, pois só ela tinha homens habilitados para estabelecer polípticos, ter registros de contas, calcular entradas e saídas e, por conseqüência, poder equilibrá-las." (Aldo Janotti, Origens da Universidade: A Singularidade do Caso Português, 2ª ed. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1992, p. 31).

[190]Referindo-se ao texto de Tt 2.11-14, Calvino comenta: “O apóstolo resume todas as ações da nova vida em três grupos: sobriedade, justiça e piedade.

“Indubitavelmente a sobriedade significa castidade e temperança, como também o uso puro e frugal das bênçãos temporais, incluindo a paciência na pobreza.” (João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo, Novo Século, 2000, p. 33). “Tudo quanto extrapola o uso natural é supérfluo. Não que algum uso mais liberal de possessões seja condenado como um mal em si mesmo, mas a ansiedade em torno delas é sempre pecaminosa.” [João Calvino, As Pastorais, (1Tm 6.8), p. 169]. Vd. também: João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 75; Idem., As Institutas, III.10.4.

[191] João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, (2Co 8.15), p. 177. Vd. também, João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, p. 45. Comentando o Salmo 68, Calvino enfatiza que o Deus da glória é também o Deus misericordioso; em seguida observa a atitude pecaminosa comum aos homens: “Geralmente distribuímos nossas atenções onde esperamos nos sejam elas retribuídas. Damos preferência a posição e esplendor, e desprezamos ou negligenciamos os pobres.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 68.4-6), p. 645]. Em outro lugar: “As Escrituras exigem de nós e nos advertem a considerarmos que qualquer favor que obtenhamos do Senhor, o temos recebido com a condição de que o apliquemos em benefício comum da Igreja.

“Temos de compartilhar liberalmente e agradavelmente todos e cada um dos favores do Senhor com os demais, pois isto é a única coisa que os legitima.

“Todas as bênçãos de que gozamos são depósitos divinos que temos recebido com a condição de distribuí-los aos demais.” (João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 36). Calvino, trata também, da forma como devemos dar esmolas. Diz ele:

“Quase ninguém é capaz de dar uma miserável esmola sem uma atitude de arrogância ou desdém. (...) Ao praticar uma caridade, os cristãos deveriam ter mais do que um rosto sorridente, uma expressão amável, uma linguagem educada.

“Em primeiro lugar, deveriam se colocar no lugar daquela pessoa que necessita de ajuda, e simpatizarem-se com ela como se fossem eles mesmos que estivessem sofrendo. Seu dever é mostrar uma verdadeira humanidade e misericórdia, oferecendo sua ajuda com espontaneidade e rapidez como se fosse para si mesmos.

“A piedade que surge do coração fará com que se desvaneça a arrogância e o orgulho, e nos prevenirá de termos uma atitude de reprovação ou desdém para com o pobre e o necessitado.” (João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 39).

[192] André Biéler, O Humanismo Social de Calvino, p. 45.

[193]João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo, Novo Século, 2000, p. 40-41.

[194] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 8.4), p. 165-166.

[195] J. Calvino, Institución, III.10.4.

[196] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 30.6), p. 631.

[197]João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 47.

[198] J. Calvino, Institución, III.10.4.

[199] J. Calvino, Institución, III.10.5. Conforme já citamos, Calvino entendia que: “Quando depositamos nossa confiança nas riquezas, na verdade estamos transferindo para elas as prerrogativas que pertencem exclusivamente a Deus.” [João Calvino, As Pastorais, (1Tm 6.17), p. 182].

[200] João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 74.

[201]João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 73.

[202]João Calvino, As Pastorais, (1Tm 6.8), p. 169.

[203] Vd. John Calvin, Commentary on the Epistle to the Philippians, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House Company, 1996, (Calvin's Commentaries, Vol. XXI), (Fp 4.12) p. 124.

[204] João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 74.

[205] J. Calvino, Institución, III.10.3.

[206]J. Calvino, O Livro de Salmos, Vol. 2, (Sl 48.3), p. 355-356.

[207] João Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo, Paracletos, 1997, (Rm 12.6), p. 430.

[208] J. Calvino, Institución, III.10.5.

[209] “Confesso, deveras, que não sou pobre; pois não desejo mais além daquilo que possuo.” (João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, p. 46). “Nossa cobiça é um abismo insaciável, a menos que seja ela restringida; e a melhor forma de mantê-la sob controle é não desejarmos nada além do necessário imposto pela presente vida; pois a razão pela qual não aceitamos esse limite está no fato de nossa ansiedade abarcar mil e uma existências, as quais debalde sonhamos só para nós.” [João Calvino, As Pastorais, (1Tm 6.7), p. 168].

[210] Juan Calvino, El Uso Adecuado de la Afliccion: In: Sermones Sobre Job, Jenison, Michigan, T.E.L.L., 1988, (Sermon nº 19), p. 227. Ver também: João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 30.6), p. 631; As Pastorais, (1Tm 6.17), p. 181.

[211]João Calvino, As Pastorais, (1Tm 6.6), p. 168. “Todos quantos têm como seu ambicioso alvo a aquisição de riquezas se entregam ao cativeiro do diabo” [João Calvino, As Pastorais, (1Tm 6.8), p. 169].

[212] Vd. João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 60.

[213] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 62.10), p. 580.

[214] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 30.6), p. 633.

[215] João Calvino, As Pastorais, (1Tm 6.17), p. 182.

[216] “.... a glória de Deus deve resplandecer sempre e nitidamente em todos os dons com os quais porventura Deus se agrade em abençoar-nos e em adornar-nos. De sorte que podemos considerar-nos ricos e felizes nele, e em nenhuma outra fonte.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 48.3), p. 356].

[217] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 17.14), p. 346.

[218] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 56.12), p. 504.

[219]João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 42.

[220]J. Calvino, Institución, III.7.5. Ver também André Biéler, O Humanismo Social de Calvino, p. 72-74.

[221]João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 39.

[222] Vd. também: Christopher Hill, O Eleito de Deus: Oliver Cromwell e a Revolução Inglesa, São Paulo, Companhia das Letras, 1988, p. 195ss.

[223]William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires, La Aurora, 1973, Vol. 11, p. 176.

[224] Biéler faz uma constatação relevante: “A íntima interpenetração da Reforma e da Renascença contribuiu amplamente para a sua promoção no Ocidente. Mas o materialismo e as ideologias substitutivas engendradas pela secularização do pensamento, no decurso dos séculos subseqüentes, acabaram por fazer crer que uma civilização arrancada de suas raízes espirituais conseguiria produzir espontaneamente todos esses valores. Essas ideologias substitutivas proliferaram. (...) Todas essas ideologias, que tomaram o lugar da fé cristã, transformaram-se em crenças que, uma vez dissipadas, deixaram no Ocidente e no mundo atual um vácuo espiritual, e muitas vezes um desespero, que se mostram propícios a toda sorte de novidades inflamadas da demagogia religiosa, filosófica ou política.” (André Biéler, A Força Oculta dos Protestantes, p. 54-55).

[225] Sobre as mãos como instrumento de trabalho, Vd. Oswald Spengler, O Homem e a Técnica, Lisboa, 1980, Guimarães e Cª Editores, III.5. p. 63ss.; Battista Mondin, O Homem, Quem é Ele?, São Paulo, Paulinas, 1980, p. 195-196.

[226] Lewis observou que, "O homem que valoriza a originalidade jamais será original. Mas tente dizer a verdade tal como você a vê, tente trabalhar com perfeição por amor ao trabalho, e aquilo que os homens chamam de originalidade surgirá espontaneamente." (C.S. Lewis, Peso de Glória, 2ª ed. São Paulo, Vida Nova, 1993, p. 47).

[227] Se o "excesso" de trabalho em determinadas ocasiões assume a característica de um "fuga", como observou Rollo May, (A Arte do Aconselhamento Psicológico, Petrópolis, RJ., Vozes, 1977, p. 24ss), não importa; de qualquer maneira, o "fazer" estará revelando o homem que faz, bem como as suas circunstâncias...

[228]Sobre a definição de "potência", Vd. Hermisten M.P. Costa, O Soberano Poder de Deus, São Paulo, 1997, p. 1.

[229] "Com grande surpresa chegamos à conclusão de que os judeus ibéricos foram os principais detentores do comércio negreiro, e mais: que um clã, ligado por interesses econômicos, quando não também por laços sangüíneos, o explorou largamente. De modo que, afora isso, o tráfico seria quase impossível, assim como a colonização do Brasil e da América Espanhola, por falta de outros mercadores habilitados, carência de embarcações, escassez de povoadores brancos e de obreiros que se sujeitassem a trabalhos servis, a exemplo dos exigidos pela indústria açucareira e pelo entabulamento das jazidas mineralógicas." (José Gonçalves Salvador, Os Magnatas do Tráfico Negreiros: Séculos XVI e XVII, São Paulo, Pioneira/EDUSP, 1981, p. XIV).

[230]Caio Prado Júnior, História Econômica do Brasil, 21ª ed. São Paulo, Brasiliense, 1978, p. 22, nota 5.

[231] Vd. Caio Prado Júnior, História Econômica do Brasil, p. 21-22.

[232] "Observei que, em geral, os europeus são menos indulgentes para seus escravos que os brasileiros. Os primeiros alimentam melhor mas exigem trabalhos mais pesados, enquanto os segundos deixam que os negócios de suas propriedades sigam o caminho a que estão habituados a seguir. Essas diferenças entre as duas classes de senhores é facilmente explicada. O europeu adquiriu a maioria de seus escravos a crédito e durante o curso de sua vida a acumulação de riquezas é o objeto principal. O brasileiro herdou sua propriedade e não há urgência em obter largos proveitos. Continua o ritmo que fora mantido pelos primeiros possuidores. Seus hábitos de tranqüilidade e de indolência o levam a ser doce mas indiferente, e não toma o cuidado com a própria manutenção de sua escravaria que um europeu teria, tendo menos tempo e fiscalizando a comida pessoalmente." [Henry Koster, Viagens ao Nordeste do Brasil, 2ª ed. Recife, PE., Secretaria de Educação e Cultura, Governo do Estado de Pernambuco, Departamento de Cultura, (Coleção Pernambucana, Vol. XVII), 1978, p. 376-377]. (O livro foi editado em inglês em 1816).

[233] Cf. Henry Koster, Viagens ao Nordeste do Brasil, p. 389

[234] Vd. Maria Beatriz Nizza da Silva, et. al., O Império Luso-Brasileiro (1750-1822), Lisboa, Editorial Estampa, (Nova História da Expansão Portuguesa, Vol. VIII, Coordenada por Joel Serrão & A. H. de Oliveira Marques), 1986, p. 532ss.

[235] Ina von Binzer, Os Meus Romanos: alegrias e tristezas de uma educadora alemã no Brasil, 5ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1991, p. 34.

[236] Luiz Agassiz & Elizabeth C. Agassiz, Viagem ao Brasil 1865-1866, Belo Horizonte/São Paulo, Itatiaia/Editora da Universidade de São Paulo, 1975, p. 293. Jean Louis Rodolphe Agassiz, era suíço de nascimento porém, naturalizou-se americano. Ele era filho de um ministro protestante e, a sua esposa, Elizabeth Cary Agassiz, que fez parte da sua expedição ao Brasil, era filha de um pastor calvinista. (Cf. Boanerges Ribeiro, A Igreja Presbiteriana no Brasil, Da Autonomia ao Cisma, São Paulo, O Semeador, 1987, p. 9; L. Agassiz & E.C. Agassiz, Viagem ao Brasil 1865-1866, p. 75). Agassiz veio chefiando a "Expedição Thayer" (patrocinada pelo milionário Nathaniel Thayer), composta de cerca de quinze pessoas. (Cf. Prefácio de Luiz Agassiz & Elizabeth Agassiz, Viagem ao Brasil 1865-1866, p. 9-10). Fletcher foi um dos que incentivaram a vinda de Agassiz ao Brasil (Veja-se, David G. Vieira, O Protestantismo, A Maçonaria e A Questão Religiosa no Brasil, Brasília, DF. Editora Universidade de Brasília, 1980, p. 73, 74, 76ss.). Antes da vinda de Agassiz, Fletcher viajou ao Brasil (1862-1863), recolhendo peixes raros do Amazonas para o naturalista. Agassiz registra em seu livro: "Acrescentarei também que, alguns anos antes da minha viagem ao Amazonas, devi à gentileza do Rev. M. Fletcher (sic) uma preciosa coleção de peixes desta localidade e de outras do Amazonas. O prévio conhecimento que assim adquirira do assunto me foi de grande utilidade quando continuei os meus estudos no próprio local." (L. Agassiz & E.C. Agassiz, Viagem ao Brasil 1865-1866, p. 124).

Na sessão do dia 19/05/1865, Agassiz foi agraciado pelo Instituto Histórico e Geográfico, com o título de membro honorário (Cf. David G. Vieira, O Protestantismo, A Maçonaria e A Questão Religiosa no Brasil, p. 79).

[237] Vd. Idalberto Chiavenato, Teoria Geral da Administração, 3ª ed. São Paulo, McGraw-Hill, 1987, Vol. 1, p. 65. Vd. também, André Biéler, A Força Oculta dos Protestantes, p. 113ss.

[238] O que Tillich (1886-1965) diz a respeito da “Teologia” também se aplica à Cristologia e à Eclesiologia: "A tarefa da teologia é mediação, mediação entre o critério eterno da verdade manifesto na figura de Jesus, o Cristo, e as experiências mutáveis dos indivíduos e dos grupos, suas variadas questões e suas categorias de percepção da realidade. Quando se rejeita a tarefa mediadora da teologia, rejeita-se a própria teologia; pois o termo 'teo-logia' pressupõe, em si, uma mediação, a saber, entre o mistério, que é theos, e a compreensão, que é logos." (Paul Tillich, A Era Protestante, São Paulo, Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião, 1992, p. 15). (Vd. Hermisten M.P. Costa, A Inspiração e Inerrância das Escrituras: Uma Perspectiva Reformada, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1998).

[239] Vd. Hermisten M.P. Costa, A Igreja Presbiteriana e os Símbolos de Fé, São Paulo, 2000.

[240] Como bem observou Carl E. Braaten, “A Cristologia não é uma disciplina científica que possa ser perseguida apropriadamente à parte do discipulado da fé. (...) Ninguém pode chamar Jesus de o Cristo puramente como resultado de pesquisa científica histórica.” (C.E. Braaten, A Pessoa de Jesus Cristo: In: Carl E. Braaten & Robert W. Jenson, eds. Dogmática Cristã, São Leopoldo, RS. Sinodal, 1990, Vol. I, p. 462).

[241] Hermisten M.P. Costa, Teologia da Evangelização, São Paulo, PES., 1996.

[242] Calvino colocou esta questão nestes termos: "As cousas que o Senhor deixou recônditas em secreto não perscrutemos, as que pôs a descoberto não negligenciemos, para que não sejamos condenados ou de excessiva curiosidade, de uma parte, ou de ingratidão, de outra". (As Institutas, III.21.4). Em outro lugar: “Tudo o mais que pesa sobre nós e que devemos buscar é nada sabermos senão o que o Senhor quis revelar à Sua igreja. Eis o limite de nosso conhecimento.” [João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, São Paulo, Edições Paracletos, 1995, (2Co 12.4), p. 242.243].

[243] Vd. J. Calvino, As Institutas, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1985, II.14.3.

[244] Vd. Wolfhart Pannenberg, Fundamentos de Cristologia, Barcelona, Ediciones Sígueme, 1973, p. 27-28; Donald M. Baillie, Deus Estava em Cristo, São Paulo, ASTE., 1964, p. 51. Após redigir estas linhas, li o conhecido teólogo luterano Braaten, que diz: “Cristologia é a doutrina da Igreja acerca da pessoa de Jesus como o Cristo. Ela sempre ocupa lugar central num sistema dogmático que reivindica ser cristão. Toda tentativa de remover a cristologia de seu lugar central ameaça o cerne da fé cristã. O princípio cristocêntrico da teologia não rivaliza com um ponto de vista teocêntrico. Quem quer que olhe para Jesus, o Cristo, a partir da perspectiva do Novo Testamento, estará inevitavelmente situado dentro de um quadro de referência teocêntrico. Quanto mais profundamente a teologia sonda o significado de Jesus como o Cristo de Deus, tanto mais diretamente é levada ao próprio Deus de Cristo....

“A dogmática cristã é cristocêntrica na medida em que nenhuma doutrina pode ser chamada de cristã se não contém uma conexão significativa com a revelação definitiva de Deus na pessoa de Jesus, o Cristo.” (Carl E. Braaten, A Pessoa de Jesus Cristo: In: Carl E. Braaten & Robert W. Jenson, eds. Dogmática Cristã, São Leopoldo, RS. Sinodal, 1990, Vol. I, p. 459). Do mesmo modo, Erickson: “Quando passamos a estudar a pessoa e a obra de Cristo, estamos bem no centro da teologia cristã.” (Millard J. Erickson, Introdução à Teologia Sistemática, São Paulo, Vida Nova, 1997, p. 275).

[245] Vd. as pertinentes observações de Jacques de Senarclens, Herdeiros da Reforma, São Paulo, ASTE. 1970, p. 330-331.

[246]Karl L. Schmidt, Igreja: In: Gerhard Kittel, ed. A Igreja no Novo Testamento, São Paulo, ASTE, 1965, p. 31.

[247]Vd. Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, São Paulo, Editora os Puritanos, 1999, p. 422.

[248] Vd. William Barclay, Palavras Chaves do Novo Testamento, São Paulo, Vida Nova, 1988 (reimpressão), p. 46.

[249]H. Emil Brunner, O Equívoco da Igreja, São Paulo, Novo Século, 2000, p. 53.

[250]Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, 4ª ed. Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, 1984, p. 386.

[251]Edwin H. Palmer, El Espiritu Santo, Edinburgh, El Estandarte de la Verdade, (s.d.), Edição Revista, p. 198.

[252] Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo, p. 36.

[253]Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo, São Paulo, O Semeador, 1989, p. 46.

[254] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 28.1), p. 601.

[255]Vd. H. Emil Brunner, O Equívoco da Igreja, p. 59.

[256] F.F. Bruce, João: Introdução e Comentário, São Paulo, Vida Nova/Mundo Cristão, 1987, p. 285.

[257] Quanto ao conceito de que a organização social visa preservar o indivíduo dele mesmo, Vejam-se: T. Hobbes, Leviatã, São Paulo, Abril Cultural (Os Pensadores, XIV), 1974, I.13; p. 79; J. Locke, Segundo Tratado Sobre o Governo, São Paulo, Abril Cultural, (Os Pensadores, XVIII), 1973, III.16ss. p. 46ss; IX. 124ss., p. 88ss. e J.J. Rousseau, O Contrato Social, 3ª ed. São Paulo, Cultrix, 1975, III.9. p. 88. Quanto a um sumário comparativo entre estes três autores, Vd. Hermisten M.P. Costa, Liberdade e Poder – Nas Idéias Filosóficas de Hobbes, Locke e Rousseau –, São Paulo, 1992, 16 p.

[258] Vd. Jay A. Adams, Conselheiro Capaz, São Paulo, Fiel, 1977, p. 37ss; 84ss. C.S. Lewis, observou que: "Só ganharemos a nossa verdadeira personalidade quando consentirmos em que Deus nos coloque no lugar que nos compete. Somos mármore esperando ser esculpido, metal esperando ser vertido no molde." (C.S. Lewis, Peso de Glória, 2ª ed. São Paulo, Vida Nova, 1993, p. 46).

[259] Vd. D.M. Lloyd-Jones, A Unidade Cristã, São Paulo, PES., 1994, p. 209-220.

[260] J. Calvino, As Institutas, IV.1.12. Em outro lugar: “Onde se professava o Cristianismo, se adorava um único Deus, se praticavam os Sacramentos e se exercia algum gênero de ministério, ali permaneciam as marcas da Igreja. Nem sempre encontramos nas igrejas tal pureza como era de se desejar. Ainda a mais pura tem suas máculas, e algumas têm não só umas poucas manchas aqui e ali, mas são quase que completamente deformadas. Não devemos ficar tão desconcertados pelo ensino e vida de alguma sociedade que, se não ficamos satisfeitos com tudo o que se procede ali, então prontamente negamos ser ela uma igreja.” [João Calvino, Gálatas, São Paulo, Paracletos, 1998, (Gl 1.2), p. 25].

[261] João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo, Paracletos, 1999, Vol. 2, (Sl 50.4), p. 401.

[262] J. Calvino, As Institutas, IV.1.15. Em outro lugar Calvino diz: “Deus só é corretamente servido quando sua lei for obedecida. Não se deixa a cada um a liberdade de codificar um sistema de religião ao sabor de sua própria inclinação, senão que o padrão de piedade deve ser tomado da Palavra de Deus.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo, Paracletos, 1999, Vol. 1, (Sl 1.1), p. 53].

[263] Cf. John Calvin, Calvin's Commentaries, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House Company, 1996, (Reprinted), Vol. XV, (Ag 2.1-5), p. 351.

[264] J. Calvino, As Institutas, IV.2.5. Calvino entendia que “onde os homens amam a disputa, estejamos plenamente certos de que Deus não está reinando ali.” [J. Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo, Edições Paracletos, 1996, (1Co 14.33), p. 436]. T. George comenta com acerto, que “Calvino não estava disposto a comprometer pontos essenciais em favor de uma paz falsa, mas ele tentou chamar a igreja de volta à verdadeira base de sua unidade em Jesus Cristo.” (T. George, Teologia dos Reformadores, p. 182-183).

[265] João Calvino, Efésios, São Paulo, Paracletos, 1998, (Ef 4.12), p. 125.

[266]John Calvin, To the Brethren of Wezel, “Letter,” John Calvin Collection, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), nº 346, p. 32-34.

[267] J. Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 14.33), p. 437.

[268] Arcebispo de Canterbury, que em 1549 havia elaborado o Livro de Oração Comum, no qual dava ênfase ao culto em inglês, à leitura da Palavra de Deus e, ao aspecto congregacional da adoração cristã.

[269]Melanchton mesmo sendo luterano, e amigo pessoal de Lutero, desfrutou também de boa amizade com Calvino, mantendo com este ampla correspondência. Nos dizeres de Schaff, Melanchton “permaneceu como um homem de paz entre dois homens de guerra.” (Philip Schaff, History of the Christian Church, Peabody, Massachusetts, Hendrickson Publishers, 1996, Vol.. VIII, p. 260). O seu principal trabalho teológico foi Loci Communes (abril de 1521). Este tratado foi a primeira obra de teologia sistemática protestante do período da Reforma, marcando época portanto, na história da teologia. Nele Melanchton segue a ordem da Epístola aos Romanos. (Ver: Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VII, 368-370).

[270]Bullinger foi amigo, discípulo e sucessor de Zuínglio (1484-1531), tendo escrito cerca de 150 obras, entre elas, A Segunda Confissão Helvética (1562-1566).

[271] Cranmer, na carta a Calvino diz: "Como nada mais tende a separar as Igrejas de Deus que as heresias e diferenças sobre as doutrinas de religião, assim nada mais eficazmente os une, e fortalece a obra de Cristo mais poderosamente, que a doutrina incorrupta do evangelho, e união em opiniões reconhecidas. Eu tenho freqüentemente desejado, e agora desejo que esses homens instruídos e piedosos que superam outros em erudição e julgamento, constituissem uma assembléia em um lugar conveniente, onde se realizasse uma consulta mútua, e comparando as suas opiniões, eles poderiam discutir todas as principais doutrinas da igreja.... Nossos adversários estão agora organizando o seu concílio em Trento, no qual eles podem estabelecer os seus erros. E devemos nós negligenciar convocar um sínodo piedoso que nos possibilite refutar os erros deles, e purificar e propagar a verdadeira doutrina?" [Thomas Cranmer to Calvin, “Letter,” John Calvin Collection, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), 16].

[272]Cranmer era um teólogo e estadista; a sua preocupação com Trento era pertinente e a história já demonstrou amplamente esse fato.

Os jesuítas foram a força motriz do Concílio de Trento, sendo de fato os teólogos do Papa. Como os bispos geralmente não dispunham de grande conhecimento teológico, mesmo titulados em Direito Canônico, eles se valiam de teólogos – em geral pertencentes às ordens religiosas –, que os assessoravam, sendo alguns teólogos enviados diretamente pelo Papa. É nessa condição, de modo especial, que destacam-se os jesuítas, entre eles, Tiago Lainez, Cláudio [Afonso?] Salmeron – estes dois sugeridos por Loyola –, Claude Le Jay, Pedro Canísio e Oto von Truchsess, que passaram, alguns deles, a desempenhar no Concílio um “papel teológico de primeira linha.” (Marc Venard, O Concílio Lateranense V e o Tridentino. In: Giuseppe Alberigo, org. História dos Concílios Ecumênicos, São Paulo, Paulus, 1995, p. 332).

Este Concílio teve vários percalços, a começar das suas convocações, visto que antes de ser realizado, ele foi convocado em 04/6/1536 para Mântua em 07/05/1537; Vicência 01/05/1538; e, em 21/05/1539 ficou adiado indefinidamente. Neste período de incertezas, houve tentativas de diálogo entre católicos e protestantes: No colóquio de Ratisbona (1541), onde participaram pelo lado protestante, Bucer e Melanchton e, pelo lado católico, Contarini e Gropper, mesmo conseguindo um consenso quanto à justificação, os “representantes” de cada lado não avançaram quando se depararam com a questão da Ceia. Além disso, essas atitudes conciliatórias não desfrutavam de apoio total das igrejas: Lutero e Roma desaprovariam em breve esse Colóquio. “Em Roma, aliás, vivia-se na expectativa do concílio, que devia ser um concílio de condenação e de refutação das teses protestantes.” (Marc Venard, O Concílio Lateranense V e o Tridentino. In: Giuseppe Alberigo, org. História dos Concílios Ecumênicos, São Paulo, Paulus, 1995, p. 331).

Em 1542, uma bula papal convoca o Concílio para Trento, cidade vertente dos Alpes italianos. Compareceram alguns poucos bispos que, depois de sete meses de espera, dispersaram-se.

Finalmente, Paulo III (1468-1549), sendo pressionado por Carlos V (1500-1558), redigiu uma nova bula (19/11/1544) convocando o concílio para o dia 15/03/1545, em Trento. Dia 13 começaram a chegar os prelados, contudo, o Concílio só teve o seu início em 13/12/1545, com a presença de 4 cardeais, 4 arcebispos, 21 bispos e cinco gerais de ordens, número este que foi aumentado para 60 e 70 posteriormente. Contudo, a média de presença nas reuniões era abaixo de 50; só no final o número de votantes elevou-se a 250, conforme Eduardo Carlos Pereira, não ultrapassando o número de 213 prelados presentes; em suma: “pouco mais de duzentos padres”, isso, em seu período áureo: 1563. Venard, diz que no cômputo geral, “participaram do concílio, sob Pio V (1562-1563), sem estarem presentes ao mesmo tempo, 9 cardeais, 39 patriarcas e arcebispos, 236 bispos e 17 abades ou gerais de ordens. Esses números devem ser postos em relação com o episcopado católico da época, que devia girar em torno de 700 membros.” (Marc Venard, O Concílio Lateranense V e o Tridentino. In: Giuseppe Alberigo, org. História dos Concílios Ecumênicos, São Paulo, Paulus, 1995, p. 331). E, além disso, aqueles que participaram de Trento, não eram de fato os mais representativos do catolicismo.

Ao longo de seus 18 anos de funcionamento, o Concílio reuniu-se por 50 meses, realizou 25 sessões, sendo algumas delas meramente formais. O Concílio de Trento pode ser dividido historicamente em três fases:

1) Sessões 1-10 (13/12/1545 a 02/06/1547, no pontificado de Paulo III (1534-1549).

2) Sessões 11-16 (01/05/1551 a 28/04/1552), no pontificado de Júlio III (1550-1555).

3) Sessões 17-25 (17-18/01/1562 a 04/12/1563), no pontificado de Pio IV (1559-1565).

O Concílio deliberou em nível de decretos de definições doutrinárias e de ordem disciplinar. Os primeiros consistiram na rejeição dos postulados protestantes, considerando o fato de que este Concílio estava grandemente preocupado com a situação de expansão do protestantismo. Os sete sacramentos são confirmados à maneira medieval. A Escritura e a tradição são igualmente fontes de verdade. A Vulgata foi elevada à condição de igualdade com os Originais Hebraicos e Gregos.

Os jesuítas que foram fomentadores do Concílio de Trento saíram por toda parte levando tais resoluções, enfatizando sempre a supremacia papal, assunto que até então era muito disputado (se o papa ou o concílio tinha a palavra final). Sobre o serviço dos jesuítas, duas palavras: de um regalista e de um tridentino: "Inspirando o concílio de Trento: em toda a parte, em todos os tempos, de todo o modo, nunca foram os jesuítas outra cousa que uma representação fiel, tenaz, inteligente do espírito romano, o ultramontanismo em atividade." [Rui Barbosa, Versão e Introdução de O Papa e o Concílio, 3ª ed. Rio de Janeiro, Elos, (s.d.), Vol. I, p. 43]. "Sem a participação da Companhia de Jesus, a Contra-Reforma não teria passado talvez de uma solenidade de resoluções religiosas." (Philip Hughes, História da Igreja Católica, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1954, p. 212).

[273] O próprio Cranmer compôs no Livro de Oração Comum, uma oração para o culto anual anglicano, quando se comemorava a coroação do monarca. A oração diz:

“Ó Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, nosso único Salvador, o Príncipe da Paz: Dá-nos a graça para com seriedade nos compenetrarmos dos grandes perigos em que nos encontramos por causa de nossas lamentáveis divisões, retira todo o ódio e preconceito e tudo o mais que possa impedir-nos de ter uma união e concórdia piedosas; para que, como existe somente um só corpo e um só Espírito e uma só esperança de nossa vocação, um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos nós, assim possamos de agora em diante ser todos de um só coração, de uma só alma, unidos em um único e santo vínculo de verdade e paz, de fé e caridade, e possamos de uma só mente e com uma só boca glorificar-te: por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.” (Apud Mark A. Noll, Momentos Decisivos na História do Cristianismo, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2000, p. 204).

[274] Letters of John Calvin, Selected from the Bonnet Edition, Edinburgh, The Banner of Truth Trust, 1980, p. 132-133. Schaff comenta: “A Igreja de Deus era a sua casa, e aquela Igreja não conhece nenhum limite de nacionalidade e idioma. O mundo era a sua paróquia. Tendo rompido com o papado, ele ainda permaneceu um católico na melhor acepção da palavra, e orou e trabalhou para a unidade de todos os crentes.” (Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 799).

[275] João Calvino, As Pastorais, São Paulo, Paracletos, 1998, (Tt 1.5), p. 306.

[276] Vd. Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, p. 397.

[277]J. Calvino, As Institutas da Religião Cristã, São Paulo, PES., 1984, III.1. p. 205. (Edição abreviada por J.P. Wiles). “Por meio da fé, Cristo nos é comunicado, através de quem chegamos a Deus, e através de quem usufruímos os benefícios da adoção.” (João Calvino, Efésios, (Ef 1.8), p. 30]. “Aos olhos de Deus só somos verdadeiramente gerados quando somos enxertados em Cristo, fora de quem nada é encontrado senão morte.” [João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 4.15), p. 143].

[278]“O genuíno descanso dos fiéis, o qual dura por toda a eternidade, é segundo o descanso de Deus. Como a mais sublime bem-aventurança humana é estar o homem unido com Deus, assim deve ser também o seu propóstio último, ao qual todos os seus planos e ações devem ser dirigidos.” [João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo, Paracletos, 1997, (Hb 4.3), p. 103].

[279]João Calvino, Efésios, (Ef 4.12), p. 124.

[280] D.M. Lloyd-Jones, A Unidade Cristã, p. 36.

[281]J. Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo, Paracletos, 1997, (Rm 12.4-5), p. 429.

[282] Rm 6.4 ss.; Gl 2.20; 6.14; Ef 2.6; Cl 2.12,20; 3.3.

[283] Rm 13.14; 2Co 4.11; Gl 4.19; Cl 1.24; 2.10; 3.11.

[284] Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, p. 398.

[285]João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo, Novo Século, 2000, p. 39.

[286] Spouda/zw, que é bem traduzido por “esforçando-vos diligentemente” (ARA), tem a sua ênfase enfraquecida em ACR, ARC e BJ, que o traduzem por “procurando”. Spouda/zw ocorre 11 vezes no NT (* Gl 2.10; Ef 4.3; 1Ts 2.17; 2Tm 2.15; 4.9,21; Tt 3.12; Hb 4.11; 2Pe 1.10,15; 3.14), tendo o sentido de “correr”, “apressar-se”, “fazer todo o esforço e empenho possível”, “urgenciar”, “ser zeloso, diligente”, “esforço”, “aplicação”. Spouda/zw denota uma diligência que se esforça por fazer todo o possível para alcançar o seu objetivo. Paulo, preso em Roma pede a Timóteo esta urgência em encontrá-lo (2Tm 4.9,21). Depois, em outro contexto, solicita o mesmo a Tito (Tt 3.12). Esta palavra tem também uma implicação ética, visto que está associada, por exemplo, ao esforço que os crentes devem despender em manter a unidade (Ef 4.3), ao zelo em socorrer a outros irmãos (Gl 2.10; 2Co 8.7,8,16) e, em corrigir uma injustiça (2Co 7.11-12). Por sua vez, é recomendado que aquele que lidera (preside), deve fazê-lo com empenho (diligência, zelo) (Rm 12.8). Pedro demonstrou esta mesma diligência em ensinar o Evangelho às Igrejas (2Pe 1.15). Judas revela o mesmo ao escrever a sua Epístola (Jd 3).

[287] Su/ndesmoj, “aquilo que une, vincula, mantém as coisas ligadas”, “ligaduras”, “elos”. (* At 8.23; Ef 4.3; Cl 2.19; 3.14).

[288] Lloyd-Jones interpretando o emprego de Spouda/zw no texto, diz: “Devemos apressar-nos a fazer alguma coisa, a mostrar grande interesse, a expressar solicitude - ‘esforçando-vos para guardar’. Acima de tudo mais, diz o apóstolo, como cristãos nesta vocação para a qual vocês foram chamados, apressem-se a fazer isto, sejam diligentes quanto a isto, nunca o esqueçam, seja esta a coisa principal da sua vida; acima de todas as outras coisas, mostrem grande interesse e solicitude com respeito a unidade que existe entre vocês.” (D.M. Lloyd-Jones, A Unidade Cristã, p. 36-37).

[289] João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 10.25), p. 272-273.

[290] F.A. Schaeffer, O Sinal do Cristão, Goiânia, GO., ABUB/APLIC., 1975, p. 24. Vd. também, A. Richardson, Introdução à Teologia do Novo Testamento, São Paulo, ASTE., 1966, p. 286-287.

[291] Emil Brunner, Nossa Fé, 2ª ed. São Leopoldo, RS., Sinodal, 1970, p. 105.

[292] Bavinck, Our Reasonable Faith, p. 535.

[293] Vd. Hermisten M. P. Costa, Presbíteros e Diáconos: Servos de Deus no Corpo de Cristo, São Paulo, 1999.

[294] Vd. Joaquim Jeremias, Jerusalém nos Tempos de Jesus, São Paulo, Paulinas, 1983, p. 184ss.

[295] Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, p. 397.

[296] Sobre este assunto, vd. Hermisten M.P. Costa, Breve Teologia da Evangelização, PES., São Paulo, 1996.

[297] Vd. Iain Murray, A Igreja: Crescimento e Sucesso: In: Fé para Hoje, São José dos Campos, SP., Fiel, nº 6, 2000, p. 19ss.

[298] Vejam-se: R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, Grand Rapids, Michigan, Subcomision Literatura Cristiana de la Iglesia Christiana Reformada, 1985, p. 220ss.; Idem., Evangelização Teocêntrica, São Paulo, PES. 1976, p. 100, 151-152.

[299] John R.W. Stott, Crer é também Pensar, São Paulo, ABU., 1984 (2ª impressão), p. 49.

[300]Cf. Stephen Neill, História das Missões, São Paulo, Vida Nova, 1989, p. 233-234.

[301]Quanto ao surgimento, objetivo e influência desta sociedade, vd. Richard P. Heitzenrater, Wesley e o povo chamado Metodista, São Bernardo do Campo, SP./Rio de Janeiro, Editeo/Pastoral Bennett, 1996, p. 21ss.

[302] Vejam-se: S. Neill, História das Missões, p. 233ss.; K.S. Latourette, A History of the Expansion of Christianity, New York, Harpers & Brothers, 1939, Vol. III, p. 278-279; Paul Pierson, O Pietismo: In: Revista Teológica, Campinas, SP. Dez/1962, nº 30, p. 96.

[303]A.G. Simonton, Diário (1852-1867), São Paulo, CEP/O Semeador, 1982, 14/10/1855.

[304] Vejam-se, Diário, 20/01/1856; 04/02/1856; 10/10/1857.

[305] Diário, 27/11/1858.

[306] Cf. Diário, 13/12/1858.

[307] Durante este período de 8 anos, Simonton passou fora do Brasil cerca de quinze meses.

[308] Para maiores detalhes sobre a implantação do Presbiterianismo no Brasil, veja-se, Hermisten M.P. Costa, Os Primórdios do Presbiterianismo no Brasil, São Paulo, 1997; Hermisten M.P. Costa, Introdução ao Protestantismo no Brasil, São Paulo, 2000 e Hermisten M.P. Costa, Simonton, um homem dirigido por Deus, Cadernos de Pós-Graduação. Programa de Educação, Arte e História da Cultura, São Paulo, Universidade Presbiteriana Mackenzie, outubro de 1999

[309] R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, p. 97-98.

[310]Vd. Hermisten M. P. Costa, Presbíteros e Diáconos: Servos de Deus no Corpo de Cristo, São Paulo, 2000.

[311] Quanto à responsabilidade dos pastores, Vd. João Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.15), p. 97-98; João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 3.5ss), p. 101ss.

[312] Calvino, falando com a autoridade e a experiência de um eficiente pastor, escreve em 1548: “Os pastores piedosos e probos terão sempre que manter esta luta de desconsiderar as ofensas daqueles que querem desfrutar de vantagem em tudo. Pois a Igreja terá sempre em seu seio pessoas hipócritas e perversas, as quais preferem suas próprias cobiças à Palavra de Deus. E mesmo as pessoas boas, quer por alguma ignorância quer por alguma fraqueza, são às vezes tentadas pelo diabo a ficar iradas com as fiéis advertências de seu pastor. É nosso dever, pois, não ficar alarmados por quaisquer gêneros de ofensas, contanto, naturalmente, que não desviemos de Cristo nossas débeis mentes.” [João Calvino, Gálatas, (Gl 1.10), p. 36-37]. “A tarefa dos mestres consiste em preservar e propagar as sãs doutrinas para que a pureza da religião permaneça na Igreja.” [João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 12.28), p. 390].

[313] “O Espírito também chama os homens para o ministério na Igreja e os dota com as qualidades necessárias para o exercício eficaz de suas funções. O ofício da Igreja, neste assunto, é simplesmente o de determinar e verificar o chamamento do Espírito. Assim, o Espírito Santo é o autor imediato de toda a verdade, de toda a santidade, de toda a consolação, de toda a autoridade e de toda a eficiência nos filhos de Deus, individualmente, e na Igreja, coletivamente.” (Charles Hodge, Teologia Sistemática, São Paulo, Editora Hagnos, 2001, p. 396).

[314] Louis Berkhof acentua que “Os oficiais da igreja recebem sua autoridade de Cristo, e não dos homens, mesmo que a congregação sirva de instrumento para instalá-los no ofício.” (L. Berkhof, Teologia Sistemática, p. 599).

[315]A Segunda Confissão Helvética, foi primariamente elaborada em latim, em 1562, pelo amigo, discípulo e sucessor de Zuínglio (1484-1531), Henry Bullinger (1504-1575). Em 1564, quando a peste voltou a atacar em Zurique, Bullinger perdeu a esposa e as três filhas. Ele mesmo ficou doente mas foi curado. Neste ínterim ele fez a revisão da Confissão de 1562 e, como uma espécie de testamento espiritual, anexou-a ao seu testamento, para ser entregue ao magistrado da cidade, caso ele viesse a falecer. Esta confissão foi publicada, com algumas alterações – aceitas por Bullinger –, em latim e alemão em 12/03/1566. Ela foi traduzida para vários idiomas (inclusive o Árabe), tendo ampla aceitação em diversos países nos anos seguintes, sendo também adotada na Escócia (1566); na Hungria (1567); na França (1571); na Polônia (1578). Esta Confissão se tornaria um fator fundamental de união das Igrejas Reformadas da Europa.

[316]J. Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 5.4), p. 127-128. “.... os pastores genuínos não se precipitam temerariamente ao sabor de sua própria vontade, e, sim, são levantados pelo Senhor. (...) Nenhum homem estará apto para tão excelente ofício, caso não seja ele formado e produzido por Cristo mesmo. O fato de termos ministros do evangelho, é um dom divino; o fato de que se desincumbem da responsabilidade que lhes foi confiada, é igualmente um dom divino.” [João Calvino, Efésios, (Ef 4.11), p. 120].

[317]João Calvino, Gálatas, (Gl 1.1), p. 22.

[318] Confissão de Westminster, XXXI.2.

[319]Teólogos tais como: Andrew G. Hyperius (1511-1564); Peter Martyr Vermigli (1500-1562); Zacharias Ursinus (1534-1583); Johann H. Heidegger (1633-1698); Marcus F. Wendelinus (1584-1652), entre outros. Devemos nos lembrar que a disciplina, não é um elemento estranho à obra de Calvino (1509-1564); ele a defende com vigor. No entanto, não a formaliza como uma das "marcas da Igreja", embora a sustente como instrumento dado por Deus para a preservação da pureza da Igreja.(Vd. por exemplo: As Institutas, IV.1.7; IV.11.5; IV.12.1ss, 8ss; Juan Calvino, Respuesta al Cardeal Sadoleto, 4ª ed. Países Bajos, Felire, 1990, p. 32).

[320]Vd. Confissão de Westminster, XXX.3.

[321] Vd. J. Calvino, As Institutas, IV.12.1.

[322]João Calvino, As Institutas, IV.12.1.

[323]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 4.21), p. 151.

[324]G. Hendriksen, El Evangelio Segun San Juan, Grand Rapids, Michigan, SLC., 1981, p. 738.

[325] O Código do Direito Canônico, (1917) Cânon 870, dizia: "No Confessionário o ministro tem o poder de perdoar todos os crimes cometidos depois do batismo". O seu equivalente no Código do Direito Canônico, (1983) Cânon 959, ainda que de forma atenuante, diz: "No sacramento da penitência, os fiéis que confessam seus pecados ao ministro legítimo, arrependidos e com o propósito de se emendarem, alcançam de Deus, mediante a absolvição dada pelo ministro, o perdão dos pecados cometidos após o batismo, e ao mesmo tempo se reconciliam com a Igreja, à qual ofenderam pelo pecado." (Vd. Código de Direito Canônico, São Paulo, Edições Loyola, 1983).

[326]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 4.14), p. 142.

[327]Vd. Hermisten M.P. Costa, A Igreja Presbiteriana e os Símbolos de Fé, São Paulo, 2000.

[328] Louis Berkhof, Introduccion a la Teologia Sistematica, Grand Rapids, Michigan, T.E.L.L., c. 1973, p. 22.

[329]John R.W. Stott, A Cruz de Cristo, Miami, Editora Vida, 1991, p. 8. Vd. o excelente aritigo de J.I. Packer. (J.I. Packer, O Conforto do Conservadorismo: In: Michael Horton, ed. Religião de Poder, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1998, p. 231-243).

[330] Cf. N. Abbagnano & A. Visalberghi, Historia de la Pedagogía, Novena reimpresión, México, Fondo de Cultura Económica, 1990, p. 203. Parece que esta figura também foi empregada por outro teólogo medieval, “que morreu quase 300 anos antes de Lutero nascer....”, Pedro de Blois. (Cf. Timothy George, Teologia dos Reformadores, São Paulo, Vida Nova, 1994, p. 23). Newton mais tarde, referindo-se a Kepler (1571-1630), Galileu (1564-1643) e Descartes (1596-1650), entre outros, também faria uso desta analogia. (Vd. N. Abbagnano & A. Visalberghi, Historia de la Pedagogía, p. 280).

[331] J.I. Packer, O Conforto do Conservadorismo: In: Michael Horton, ed. Religião de Poder, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1998, p. 235. “Na verdade a abordagem impiedosa seria tentar aprender de Deus como cavaleiro solitário que orgulhosamente ou impacientemente virasse as costas para a igreja e sua herança: isso seria receita certeira para esquisitices sem fim!”. (J.I. Packer, Ibidem., p. 236). “Quem examina a tradição encontra aberta diante de si a sabedoria de todas as épocas.” (J.I. Packer, Ibidem., p. 237). “Humildade no juízo particular quer dizer que continuamos a examinar as Escrituras até ficar claro o que Deus disse, proibindo nosso intelecto orgulhoso de tirar conclusões sobre aquilo que o Deus da Bíblia deixa em aberto ou de recusar-nos a aceitar ajuda da tradição cristã na interpretação das Escrituras sob a suposição de que um estudante da Bíblia ‘se vira’ perfeitamente bem sem essa ajuda.” (J.I. Packer, O Conforto do Conservadorismo: In: Michael Horton, ed. Religião de Poder, p. 241).

[332] Ver: J. Blunck, Firme: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo, Vida Nova, 1981-1983, Vol. II, p. 246.

[333] D. Martyn Lloyd-Jones, Pregação e Pregadores, São Paulo, Fiel, 1984, p. 23.

[334]Vd. A. A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1989, p. 175-185.

[335]Charles Hodge, Teologia Sistemática, São Paulo, Editora Hagnos, 2001, p. 396.

[336] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 3.8), p. 88. “Sempre que nossas mentes se agitam e caem em perplexidade, devemos trazer à memória a seguinte verdade: sejam quais forem os perigos e apreensões que porventura nos ameacem, a segurança da Igreja que Deus estabeleceu, por mais dolorosamente abalada ela seja, por mais poderosamente assaltada, jamais poderá ser demasiadamente enfraquecida e envolvida em ruína.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 48.8), p. 362]. Ver também: Idem, As Institutas, I.17.6.

[337] João Calvino, As Institutas, I.17.8. Vd. também: João Calvino, O Livro dos Salmos, (Sl 25.4), Vol. 1, p. 541; João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 46.3), p. 331.

[338] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 11.4), p. 240.

[339] Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 579.

[340] Entre os anos de 264 e 268, três Sínodos reuniram-se sucessivamente em Antioquia, tendo como objetivo julgar a conduta e os ensinamentos de Paulo de Samosata, bispo de Antioquia desde 260. O último dos três sínodos (268) o condenou e o excomungou por “heterodoxia” (e(terodoci/an). A sua doutrina e conduta foram classificadas como sendo uma “apostasia do cânon” (“a)posta\j tou= kano/noj”) (Vd. Eusébio de Cesarea, Historia Eclesiastica, Madrid, La Editorial Catolica, (Biblioteca de Autores Cristianos, Vols. 349-350), 1973, VII.30.6); ou seja, o abandono da fé ortodoxa.

[341] Vicente de Lérins, Commonitorium, II.4. In: Philip Schaff & Henry Wace, eds. A Select Library of Nicene And Post-Nicene Fathers of The Christian Church, (Second Series), Grand Rapids, Michigan, Wm. Eerdmans Publishing House Co.,1978, Vol. 11, p. 132.

[342] O Credo Apostólico teve a sua primeira redação no 2º século, passando ao longo da história por alguns acréscimos, chegando à forma que temos hoje, por volta do sétimo século. A sua origem está tradicionalmente atribuída aos apóstolos. Essa lenda, bastante antiga, encontrou a sua forma mais famosa em Rufino (c. 404), que supõe que cada um dos apóstolos colaborou com uma cláusula em particular. (Vd. J.N.D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos, Salamanca, España, Secretariado Trinitario, 1980, p. 15ss.; J. Ratzinger, Introdução ao Cristianismo, São Paulo, Herder, 1970, p. 17-18). Quanto às tradições referentes à composição do “Credo Apostólico”, Vd. J.N.D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos, p. 15ss. Sobre os acréscimos ao Credo, Vd. P. Schaff, The Creeds of Christendom, 6ª ed. (Revised and Enlarged), Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, 1977, Vol. I, p. 19-22; II. 45-55. (Doravante, citado como COC); Reinhold Seeberg, Manual de História de las Doctrinas, El Paso, Texas/Buenos Aires/Santiago, Casa Bautista de Publicaciones/Junta Bautista de Publicaciones/Editorial “El Lucero”, [1963], Vol. I, p. 93-94; O.G. Oliver, Jr., Credo dos Apóstolos: In: EHTIC., I, p. 362-363; K.S. Latourette, História del Cristianismo, 4ª ed. Buenos Aires, Casa Bautista de Publicaciones, 1978, Vol. I, p. 180-182; Henry Bettenson, Documentos da Igreja Cristã, São Paulo, ASTE., 1967, p. 54; Charles A. Briggs, Theological Symbolics, New York, Charles Scribners’s Sons, 1914, p. 40; Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, São Paulo, Vida Nova, 1999, p. 486ss.

[343] Lutero (1483-1546) enfatizou que, “nem trabalho em pedra, nem boa construção, nem ouro, nem prata tornam uma igreja formosa e santa, mas a Palavra de Deus e a sã pregação. Pois onde é recomendada a bondade de Deus e revelada aos homens, e almas são encorajadas para que possam depender de Deus e chamar pelo Senhor em tempos de perigo, aí está verdadeiramente uma santa igreja.” [Jaroslav Pelikan, ed. Luther’s Works, Saint Louis, Concordia Publishing House, 1960, Vol. II, (Gn 13.4), p. 332]. O eminente teólogo puritano John Owen (1616-1683), escreveu: “Quão pouco pensam os homens sobre Deus e seus caminhos, se imaginarem que um pouco de tinta e de verniz fazem uma beleza aceitável!” [Wiiliam H. Goold, ed. The Works of John Owen, 4ª ed. London, The Banner of Truth Trust, 1987, Vol. IX, p. 78). Vd. João Calvino, As Institutas, Carta ao Rei Francisco I, p. 28.

[344] Vd. John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, São Paulo, Pendão Real, 1997, p. 330ss.

[345] J. Calvino, As Institutas, (Dedicatória: Carta ao Rei Francisco, X), Livro IV. Capítulo 1, Seções 9-12; Livro IV, Capítulo 2, Seção 1. Do mesmo modo a Confissão de Augsburgo (1530), escrita por Melanchton, Art. 7.

Na Resposta ao Cardeal Sadoleto (01/09/1539), Calvino declara que a igreja é:

"...A assembléia de todos os santos, a qual espalhada por todo o mundo, está dispersa em todo tempo, unida sem dúvida por uma só doutrina de Cristo, e que por um só Espírito guarda e observa a união da fé, junto com a concórdia e caridade fraterna". (Juan Calvino, Respuesta al Cardeal Sadoleto, p. 30-31). Ele diz que os membros da Igreja são reconhecidos "por sua confissão de fé, pelo exemplo de vida e pela participação nos sacramentos", sendo estes sinais indicativos de que tais pessoas "reconhecem ao mesmo Deus e ao mesmo Cristo que nós" (As Institutas, IV.1.8). A santidade e firmeza da Igreja segundo Calvino, repousam principalmente em "três coisas", a saber: "doutrina, disciplina e sacramentos vindo em quarto lugar as cerimônias para exercitar o povo no dever da piedade." (Juan Calvino, Respuesta al Cardeal Sadoleto, p. 32). De modo mais informal, diz: “Onde se professava o Cristianismo, se adorava um único Deus, se praticavam os Sacramentos e se exercia algum gênero de ministério, ali permaneciam as marcas da Igreja.” [João Calvino, Gálatas, (Gl 1.2), p. 25].

[346] Bruce Milne, Conheça a Verdade, São Paulo, ABU., 1987, p. 227. (Veja-se, D.M. Lloyd-Jones, O Combate Cristão, São Paulo, PES., 1991, p. 128).

[347]O homem deve ser respeitado, amado e ajudado porque é a imagem de Deus [Ver: João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 37-38]. Por mais indigno que seja, devemos considerar: “A imagem de Deus nele é digna de dispormos a nós mesmos e nossas posses a ele”. [João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 38]. “Não temos de pensar continuamente nas maldades do homem, mas, antes, darmos conta de que ele é portador da imagem de Deus.” [João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 38].

“Deus, ao criar o homem, deu uma demonstração de sua graça infinita e mais que amor paternal para com ele, o que deve oportunamente extasiar-nos com real espanto; e embora, mediante a queda do homem, essa feliz condição tenha ficado quase que totalmente em ruína, não obstante ainda há nele alguns vestígios da liberalidade divina então demonstrada para com ele, o que é suficiente para encher-nos de pasmo.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 8.7-9), p. 173-174]. “A Escritura nos ajuda com um excelente argumento, ensinando-nos a não pensar no valor real do homem, mas só em sua criação, feita conforme a imagem de Deus. A ele devemos toda honra e o amor de nosso ser.” [João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 37]. Ver também: J. Calvino, As Institutas, I.15.3-4; III.7.6; Francis A. Schaeffer, A Morte da Razão, São Paulo, ABU/FIEL, 1974, p. 20ss. André Biéler, A Força Oculta dos Protestantes, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1999, p. 47. É digna de nota a observação do filósofo católico Émile Bréhier (1876-1952): "A Reforma opõe-se tanto à teologia escolástica, quanto ao humanismo. Nega a teologia escolástica, porque nega, com Ockham, que nossas faculdades racionais possam conduzir-nos da natureza ao seio de Deus. Renega o humanismo, menos por seus erros do que por seus perigos, posto que as forças naturais não podem comunicar qualquer sentido religioso." (É. Bréhier, História da Filosofia, São Paulo, Mestre Jou, 1977-1978, I/3, p. 209).

[348] Colin Brown, Filosofia e Fé Cristã, São Paulo, Vida Nova, 1983, p. 36.

[349] John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 36.

[350] Do mesmo modo, diz J.D. Douglas: “O Calvinismo era mais do que um credo; era uma filosofia compreensiva que abrangia toda a vida” (J.D. Douglas, A Contribuição do Calvinismo na Escócia: In: W. Stanford Reid, ed. Calvino e sua Influência no Mundo Ocidental, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 290. (Doravante citada como CSIMO).

[351] Vd. John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 125; Roland H. Bainton, Martin Lutero, 3ª ed. México, Ediciones CUPSA., 1989, p. 391. Podemos dizer que na Reforma houve uma revitalização da Pregação Bíblica. A Palavra de Deus passou a ser pregada com ênfase e, a pregação passou a ser estudada considerando-se a sua natureza e propósito. No período da Renascença e da Reforma houve diversas contribuições neste campo (Para uma amostragem destas, Veja-se: Vernon L. Stanfield, The History of Homiletics: In: Ralph G. Turnbull, ed. Baker's Dictionary of Practical Theology, 7ª ed. Michigan, Baker Book House, 1970, p. 52-53).

[352] João Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.15), p. 97. Calvino, comentando a expressão “coluna da verdade”, continua falando da responsabilidade dos pastores: “Deus mesmo não desce do céu para nós, nem diariamente nos envia mensageiros angelicais para que publiquem sua verdade, senão que usa as atividades dos pastores, a quem destinou para esse propósito.” (Ibidem., p. 97). “.... Em relação aos homens, a Igreja mantém a verdade porque, por meio da pregação, a Igreja a proclama, a conserva pura e íntegra, a transmite à posteridade.” (Ibidem., p. 98. Ver: J. Calvino, As Institutas, IV.1.10). Comentando sobre a necessidade do bispo ser apegado à Palavra fiel, diz: “Este é o principal dote do bispo que é eleito especificamente para o magistério sagrado, porquanto a Igreja não pode ser governada senão pela Palavra”. [J. Calvino, As Pastorais, (Tt 1.9), p. 313]. Vd. também, As Institutas, IV.1.5; João Calvino, Efésios, (Ef 4.12), p. 124-125. “A erudição unida à piedade e aos demais dotes do bom pastor, são como uma preparação para o ministério. Pois, aqueles que o Senhor escolhe para o ministério, equipa-os antes com essas armas que são requeridas para desempenhá-lo, de sorte que lhe não venham vazios e despreparados.” (João Calvino, As Institutas, IV.3.11). “Não se requer de um pastor apenas cultura, mas também inabalável fidelidade pela sã doutrina, ao ponto de jamais apartar-se dela” [J. Calvino, As Pastorais, (Tt 1.9), p. 313]. Vd. também, As Institutas, IV.1.5.

[353] João Calvino, Gálatas, (Gl 5.9), p. 158-159.

[354]Calvin to Cranmer, Letter 18. In: John Calvin Collection, The AGES Digital Library, 1998. Do mesmo modo, Letters of John Calvin, Selected from the Bonnet Edition, p. 141-142.

[355]Ele escreveu: “.... Quão necessária é a pregação da Palavra, e quão indispensável é que a mesma seja realizada continuamente.” [João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 3.6), p. 103].

[356] Vd. T.H.L. Parker, Calvin’s Preaching, Westminster/John Knox Press, Louisville, Kentucky, 1992, p. 79ss.

[357]Carta escrita a Sebastian Egbertsz, publicada em 1704. Vd. F.F. Bruce, The History of New Testament Study. In: I.H. Marshall, ed. New Testament Interpretation; Essays on Principles and Method, Exeter, The Paternoster Press, 1979, p. 33. A. Mitchell Hunter, The Teaching of Calvin: A Modern Interpretation, 2ª ed. revised, London, James Clarke & Co. Ltd. 1950, p. 20; P. Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 280.

[358] "O maior exegeta do seu tempo sempre manifestou nos seus sermões preocupação nitidamente pastoral." (Henri Strohl, O Pensamento da Reforma, São Paulo, ASTE, 1963, p. 222). Vd. também: W. Gray Crampton, What Calvin Says, Maryland, The Trintiny Foundation, 1992, p. 28.

[359]João Calvino, Romanos, 2ª ed. São Paulo, Parakletos, 2001, (Rm 11.14), p. 407.

[360] Cf. J.H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 126; Timothy George, Teologia dos Reformadores, São Paulo, Vida Nova, 1994, p. 187. Bouwsma calcula que Calvino tenha pregado cerca de 4 mil sermões depois que voltou para Genebra em 1541. (William J. Bouwsma, John Calvin: A Sixteenth-Century Portrait, New York/Oxford, Oxford University Press, 1988, p. 29). Em 11/9/1542, o Conselho decidiu que Calvino aos domingos, não pregasse mais do que um sermão. (Cf. W. Greef, The Writings of John Calvin: An Introductory Guide, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, 1993, p. 110).

[361] J. Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 2.7), p. 82.

[362]“Pois quem, mesmo que de bem parco entendimento, não percebe que Deus assim conosco fala como que a balbuciar, como as amas costumam fazer com as crianças? Por isso, formas de expressão que tais não exprimem, de maneira clara e precisa, tanto quê Deus seja, quanto Lhe acomodam o conhecimento à paucidade da compreensão nossa. Para que assim se dê, necessário Lhe é descer muito abaixo de Sua excelsitude.” (J. Calvino, As Institutas, I.13.1).

[363] John Calvin, Commentary on the Gospel Accordin to John, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House (Calvin’s Commentaries, Vol. XVIII), 1996 (Reprinted), (Jo 21.25), p. 299.

[364]J. Calvino, As Institutas, I.8.1. Calvino, continua: “Ora, e não sem a exímia providência de Deus isto se faz, que sublimes mistérios do reino celeste fossem, em larga medida transmitidos em termos de linguagem apoucada e sem realce, para que houvessem eles de ser adereçados em mais esplendorosa eloqüência, os ímpios não alegassem cavilosamente que a só força desta aqui impera.

“Agora, quando essa não burilada e quase rústica simplicidade provoca maior reverência de si que qualquer eloqüência de retóricos oradores, que é de julgar-se, senão que a pujança da verdade da Sagrada Escritura tão sobranceira se estadeia, que não necessite do artifício das palavras?” (J. Calvino, As Institutas, I.8.1).

No entanto, ele também entendia que “alguns Profetas têm um modo de dizer elegante e polido, até mesmo esplendoroso, assim que a eloqüência lhes não cede aos escritores profanos.” (J. Calvino, As Institutas, I.8.2).

[365] J. Calvino, As Institutas, IV.14.8. Vd. também J. Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 10.16), p. 373-374.

[366] J. Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 16.21), p. 522.

[367] Cf. João Calvino, As Institutas, II.2.21.

[368] João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 2.11), p. 89.

[369] Vd. G. Hendriksen, El Evangelio Segun San Juan, Grand Rapids, Michigan, SLC., 1981, (Jo 17.20), p. 636.

[370] Vd. Theodore Beza, Life of John Calvin: In: Tracts and Treatises on the Reformation of the Church, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1958, Vol. I, p. cxxxi; J.T. McNeill, The History and Character of Calvinism, p. 227. Após sua morte (27/05/1564), Beza que o acompanhou durante todo o tempo, escreveu: “Nessa dia, com o crepúsculo, a mais brilhante luz que já houve no mundo para a orientação da Igreja de Deus foi levada de volta para os céus.” (Apud J.T. McNeill, The History and Character of Calvinism, p. 227).

[371]Aliás, Calvino desde cedo aprendeu a desprestigiar o estilo pomposo sem objetividade

[372]Calvin, Textes Choisis par Charles Gagnebin, Egloff, Paris, © 1948, p. 42-43. (Há tradução em inglês, Letters of John Calvin, Selected from the Bonnet Edition, Carlisle, Pennsylvania, The Banner of Truth Trust, 1980, p. 259-260).

[373]Calvin, Textes Choisis par Charles Gagnebin, p. 43. (Na tradução em inglês, Letters of John Calvin, p. 260).

[374] João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 2.11), p. 88.

[375] J. Calvino, As Institutas, III.20.2. Em outro lugar escreve: “Se devemos receber algum fruto de nossas orações, devemos também crer que os ouvidos de Deus não se fecharam contra elas.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 6.8-10), p. 133]. “A genuína oração provém, antes de tudo, de um real senso de nossa necessidade, e, em seguida, da fé nas promessas de Deus.” (João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, p. 34). “Nossas orações só são aceitáveis quando as oferecemos em submissão aos mandamentos de Deus e somos por elas animados a uma consideração da promessa que Ele tem formulado.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 50.15), p. 412]. Comentando Rm 12.12, enfatiza que “a diligência na oração é o melhor antídoto contra o risco de soçobrarmos.” [João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 12.12), p. 438].

[376]João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 50.14-15), p. 410.

[377] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 30.6), p. 633. “Quando a segurança carnal se haja assenhorado de alguém, tal pessoa não pode entregar-se alegremente à oração até que seja feita maleável pela cruz e completamente subjugada. E esta é a vantagem primordial das aflições, ou seja, enquanto nos tornam conscientes de nossa miséria, nos estimulam novamente para suplicarmos o favor divino.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 30.8), p. 635].

[378] João Calvino, As Institutas, III.20.1.

[379]Calvino, cita Agostinho: “Se me interrogues acerca dos preceitos da religião cristã, primeiro, segundo e terceiro, aprazer-me-ia responder sempre: a humildade.” (J. Calvino, As Institutas, II.2.11). “Ao cultivarmos a bondade fraternal, é mister que comecemos com a humildade. (...) Será inútil a mansidão, a menos que tenhamos iniciado com a humildade.” [João Calvino, Efésios, (Ef 4.1), p. 108].

[380] “Sempre que a carne, ou seja, a corrupção natural, governa uma pessoa, ela toma posse de sua mente para que a sabedoria divina não logre entrada. Em razão disto, se porventura desejamos lograr algum progresso na escola do Senhor, devemos antes renunciar nosso próprio entendimento e nossa própria vontade.” [João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 3.3), p. 100]. “Os filósofos pagãos põem a razão como o único guia de vida, de sabedoria e conduta, porém a filosofia cristã demanda que rendamos nossa razão ao Espírito Santo, o que significa que já não mais vivemos para nós mesmos, senão que Cristo vive e reina em nós. Ver Rm 12.1; Ef 4.23; Gl 2.20.” (John Calvin, Golden Booklet of the True Christian Life, p. 22).

[381]Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 310. Vd. também, P. Schaff, The Creeds of Christendom, I, p. 448.

[382]João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo, Parakletos, 2000, Vol. 1, (Dn 6.10), p. 371.

[383] João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, (Dn 6.10), p. 375.

[384]J. Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo, Paracletos, 1997, (Rm 8.26), p. 291.

[385]J. Calvino, Catecismo de Genebra, Perg. 240.

[386]J. Calvino, Catecismo de Genebra, Perg. 243.

[387]João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 28.1), p. 600.

[388]Como já vimos, teólogos tais como: Andrew G. Hyperius (1511-1564); Peter Martyr Vermigli (1500-1562); John Knox (c.1514-1572); Zacharias Ursinus (1534-1583); Johann H. Heidegger (1633-1698); Marcus F. Wendelinus (1584-1652), entre outros.

[389] A Confissão Belga que se inspirou na Confissão Gaulesa (1559), foi escrita em francês em 1561 por Guido (ou Guy, Wido) de Brès (1523-1567), com a ajuda de M. Modetus, Adrien de Saravia (1513-1613) – um dos primeiros protestantes a advogar a idéia de missões estrangeiras (Cf. I. Breward, Saravia: In: J.D. Douglas, ed. ger. The New International Dictionary of the Christian Church, 3ª ed. Grand Rapids, Michigan, 1979, p. 878) e G. Wingen, sendo revisada por Francis Junius (1545-1602) e, publicada a sua tradução em holandês em 1562. "O pastor Guy de Brès escreveu uma carta de defesa aos magistrados. Lançou-a juntamente com um exemplar de sua recente 'Confession de Foy' por sobre o muro do castelo de Doornick, para assim ser levado ao governador e ao rei. Se este jamais leu a confissão de fé, não se sabe, mas ela chegou a ocupar um lugar de suma importância na Igreja Reformada holandesa." (Frans L. Schalkwijk, Igreja e Estado no Brasil Holandês, (1630- 1654), Recife, Pe. FUNDARTE (Coleção Pernambucana, 2ª Fase, Vol. 25), 1986, p. 27).

Ela juntamente com o Catecismo de Heidelberg (1563), foi aprovada no Sínodo de Antuérpia, realizado secretamente (Cf. Schalkwijk, Ibidem., p. 27), em Wessel (1568) e adotada pelo Sínodo Reformado de Emden (1571), pelo Sínodo Nacional de Dort (1574), Middelburg (1581) e, também, pelo grande Sínodo de Dort (29/4/1619), o qual a sujeitou a uma minuciosa revisão, comparando a tradução holandesa com o texto francês e latino. A Confissão Belga e o Catecismo de Heidelberg são os símbolos de fé das Igrejas Reformadas na Holanda e Bélgica, sendo também o padrão doutrinário da Igreja Reformada na América e na Igreja Evangélica Reformada Holandesa no Brasil.(Vd. Philip Schaff, COC., Vol. 1, p. 502-508; III, p. 383; J. Van Engen, Confissão Belga: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, São Paulo, Vida Nova, 1988, Vol. 1, p. 330).(Doravante citada como EHTIC).

[390] Essa posição é também encontrada na Confissão Escocesa (1560), Cap. XVIII, que acrescenta: “Onde quer que essas marcas se encontrem e continuem por algum tempo – ainda que o número de pessoas não exceda de duas ou três – ali, sem dúvida alguma, está a verdadeira Igreja de Cristo, o qual, segundo a Sua promessa, está no meio dela.”.

[391]Cf. L. Berkhof, Teologia Sistemática, p. 580; Herman Hoeksema, Reformed Dogmatics, 3ª ed. Grand Rapids, Michigan, Reformed Publishing Association, 1976, p. 620. Vd. João Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.15), p. 99.

[392] “O significado de uma assembléia profana está em razão direta com o número dos que dela participam. A assembléia do povo de Deus, ao contrário, independe deste fato. Ela existe quando Deus reúne os seus. Seu número depende daquele que chama e reúne, e somente então dos que se deixam chamar e reunir. (Mt 18.20).” (Karl L. Schmidt, Igreja: In: Gerhard Kittel, ed. A Igreja no Novo Testamento, p. 20).

[393]Vd. João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 36; João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 4.7), p. 134-135; Hermisten M.P. Costa, A Graça de Deus: Comum ou Exclusiva?, São Paulo, 2001; Karl L. Schmidt, Igreja: In: Gerhard Kittel, ed. A Igreja no Novo Testamento, p. 22.

[394] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 28.1), p. 601.

[395]Vd. R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, p. 242-247.

[396]Jacques de Senarclens, Herdeiros da Reforma, p. 357.

[397] Vd. K.L. Schmidt, Igreja: In: Gerhard Kittel, ed. A Igreja no Novo Testamento, p. 29.

[398]Juan Calvino, Catecismo de la Iglesia de Ginebra, Pergunta, 93. In: Catecismos de la Iglesia Reformada, Buenos Aires, La Aurora, (Obras Clasicas de la Reforma, XIX), 1962, p. 49. Este Catecismo escrito em francês, foi elaborado por Calvino durante o inverno de 1536-1537, não sendo constituído em forma de perguntas e respostas, redigido de modo que considerou acessível à toda Igreja. O seu objetivo era puramente didático.

Esta obra foi intitulada: Breve Instrução Cristã (*), sendo traduzida para o latim em 1538. (D.F. Wright, Catecismos: In: EHTIC., I, p. 250). Posteriormente, Calvino a reviu – tornando a sua teologia mais acessível aos seus destinatários: as crianças (T.M. Lindsay, La Reforma y Su Desarrolo Social, Barcelona, CLIE., [1986], p. 100) –, e a ampliou consideravelmente, mudando inclusive a sua forma, passando então, a ser constituída de perguntas e respostas, contendo 373 questões. Esta nova edição foi publicada entre o fim de 1541 e o início de 1542. Em 1545, Calvino o traduziu para o latim, a fim de atingir os intelectuais de outros países que não falavam o francês. A partir de 1561, este Catecismo ganhou maior importância, visto que desde então todo ministro da Igreja deveria jurar fidelidade aos ensinamentos nele expressos e comprometer-se a ensiná-los. (Cf. B. Foster Stockwell, na apresentação da obra, Catecismo de la Iglesia de Ginebra: In: Catecismos de la Iglesia Reformada, p. 7-8).

(*) Este Catecismo consistiu num resumo da primeira edição das Institutas (1536). (Cf. John H. Leith, em prefácio à tradução da obra de Calvino e Paul T. Fuhrmann em “prefácio histórico” à mesma obra, Instruction in Faith (1537), Louisville, Kentucky, Westminster/John Knox Press, [1992], p. 10 e 16; T.M. Lindsay, La Reforma y Su Desarrolo Social, p. 101; John T. McNeill, The History and Character of Calvinism, New York, Oxford University Press, 1954, p. 140. Vd. também, p. 204). Esta foi a primeira “exposição sistemática do pensamento calvinista na língua francesa.” (A.H. Freundt Jr., Catecismo de Genebra: In: EHTIC., I, p. 246).

[399] Catecismo de la Iglesia de Ginebra, Pergunta, 98.

[400]C.S. Lewis, Peso de Glória, p. 40.

[401] Vd. J. Calvino, As Institutas, IV.1.2,7.

[402] Vd. Bill J. Leonard, La Natureza de la Iglesia, Buenos Aires, Casa Bautista de Publicaciones, 1989, p. 126ss.

[403] Karl L. Schmidt, Igreja: In: Gerhard Kittel, ed. A Igreja no Novo Testamento, p. 30.

[404] C.H. Spurgeon, Sermões Sobre a Salvação, São Paulo, PES., 1992, p. 45.

[405] Vd. Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, São Paulo, Os Puritanos, 2000, p. 156.

[406] Vd. D.M. Lloyd-Jones, A Vida no Espírito: no Casamento, no Lar e no Trabalho, São Paulo, PES., 1991, p. 139.

[407]James Moffatt, Grace in The New Testament, New York, Ray Long & Richard R. Smith Inc. 1932, p. 5. (Vd. Hermisten M.P. Costa, A Igreja de Deus: Santa e Universal, 1991, 11p).

[408] Hermisten M.P. Costa, O Sacerdócio de Cristo, São Paulo, 1999.

[409] D.M. Lloyd-Jones, Vida No Espírito: No Casamento, no Lar e no Trabalho, p. 119.

[410] D.M. Lloyd-Jones, Vida No Espírito: No Casamento, no Lar e no Trabalho, p. 137-138.

[411] Juan Calvino, Respuesta al Cardeal Sadoleto, p. 32.

[412] Catecismo Menor de Westminster, Pergunta, 85 In: A Confissão de Fé, O Catecismo Maior e o Breve Catecismo, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1991, (Edição Especial), p. 431 (Vd. também, a Pergunta, 88).

[413] J. Calvino, Catecismo de Genebra, Pergunta, 96.

[414] Ibidem., Pergunta, 99.

[415] Vd. Hermisten M.P. Costa, A Eleição de Deus, São Paulo, 2001.

[416] Bruce Milne, Conheça a Verdade, São Paulo, ABU., 1987, p. 224.

[417] J. Calvino, As Institutas, III.16.1.

[418] Vd. A. Booth, Somente pela Graça, São Paulo, PES., 1986, p. 45.

[419] Catecismo Maior de Westminster, Pergunta, 77.

[420] Jacques de Senarclens, Herdeiros da Reforma, p. 344.

[421] Frank Stagg, Filipenses: In: Clifton J. Allen, ed. ger. Comentário Bíblico Broadman, Rio de Janeiro, JUERP., 1985, Vol. 11, p. 242.

[422]J. Calvino, Efésios, São Paulo, Paracletos, 1998, (Ef 6.11), p. 188.

[423] Spouda/zw (spoudazõ) ocorre nos seguintes textos do NT: * Gl 2.10; Ef 4.3; 1Ts 2.17; 2Tm 2.15; 4.9,21; Tt 3.12; Hb 4.11; 2Pe 1.10,15; 3.14.

[424] Catecismo Menor de Westminster, Perg. 85.

[425] Confissão de Westminster, XVII.3.

[426]João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 40.7), p. 227. “Não existe incompatibilidade entre amor e obediência; pois na vida verdadeiramente santificada existe a obediência em amor e o amor obediente.” (Ernest Kevan, A Lei Moral, São Paulo, Editora Os Puritanos, 2000, p. 9).

[427] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 1.2), p. 53.

[428] ??????????só ocorre neste texto.

[429] ?????????????, “executar”, “fazer”, “produzir”, “cumprir”, “realizar”

[430] F.F. Bruce, Filipenses, Florida, Editora Vida, 1992, (Fp 2.12-13), p. 90.

[431] * Jo 7.12; At 6.1; Fp 2.14; 1Pe 4.9.

[432] goggu/zw

[433] Em todos esses texto, a palavra é goggu/zw

[434] A palavra empregada no texto e, que só ocorre ali, é: goggu/sth/j

[435]J. Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo, Edições Paracletos, 1996, (1Co 14.33), p. 436.

[436] Frank Stagg, Filipenses: In: Comentário Bíblico Broadman, Vol. 11, p. 242-243.

[437] Vd. Marvin R. Vincent, Word Studies in the New Testament, Peabody, Massachusetts, Hendrickson Publishers, (s.d), Vol. III, (Fp 2.14), p. 438-439.

[438] * Lc 1.6; Fp 2.15; 3.6; 1Ts 3.13; Hb 8.7.

[439] * 1Ts 2.10; 5.23.

[440] * Mt 10.16; Rm 16.19; Fp 2.15.

[441] Ef 1.4; 5.27; [Fp 2.15. Aqui há uma variante textual, que indica um sinônimo, a)mwmhta/ (amômêta), talvez por seguir a LXX, Dt 32.5];Cl 1.22; Hb 9.14; 1Pe 1.19; Jd 24; Ap 14.5.

[442] Em todos esses textos, a LXX usa a)/mwmoj.

[443] *Lc 3.5; At 2.40; Fp 2.15; 1Pe 2.18

[444] * Mt 17.17; Lc 9.41; 23.2; At 13.8,10; 20.30; Fp 2.15.

[445] Fwsth/r (*Fp 2.15; Ap 21.11). A palavra é proveniente de Fw+j

[446] Em todos esses exemplos, as palavras empregadas são Fw+j ou Fwto/j. (Ver: H. C. Hahn e Colin Brown, Luz: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo, Vida Nova, 1981-1983, Vol. III, p. 101-107.

[447] William Hendriksen, Exposição de Filipenses, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1992, (Fp 2.14-16), p. 165.

[448]C.H. Spurgeon, Batalha Espiritual, Paracatú, MG., Sirgisberto Queiroga da Costa, editor., 1992, p. 56.

[449]Vd. Katoliko/j: In: William F. Arndt & F.W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature, 2ª ed. Chicago, University Press, 1979, p. 391; J.N.D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos, Salamanca, Secretariado Trinitario, 1980, p. 454.

[450] Inácio de Antioquia, Carta de S. Inácio aos Esmirnenses, 8.2. In: Cartas de Santo Inácio de Antioquia, 3ª ed. Petrópolis, RJ., Vozes, 1984, p. 81.

[451] Vd. J.N.D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos, p. 454ss.

[452] O Martírio de Policarpo: In: Henry Bettenson, Documentos da Igreja Cristã, São Paulo, ASTE., 1967, p. 35.

[453] Cf. Philip Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. II, p. 55.

[454] W. Shakespeare, Romeu e Julieta, São Paulo, Abril Cultural, 1978, II.2. p. 43.

[455]G. Hendriksen, El Evangelio Segun San Juan, Grand Rapids, Michigan, SLC., 1981, p. 151.

[456] Gustaf Aulén, A Fé Cristã, São Paulo, ASTE, 1965, p. 299.

[457]D. Martyn Lloyd-Jones, As Insondáveis Riquezas de Cristo, São Paulo, PES., 1992, p. 85-86. Vd. também, Idem., O Combate Cristão, p. 122-123.

[458] Vd. Hermisten M.P. Costa, A Inspiração e Inerrância das Escrituras: Uma Perspectiva Reformada, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1998.

[459]Não faço aqui nenhuma distinção entre “missão” e “evangelização” (Vd. R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, p. 1). Orlando E. Costa, que diz haver uma confusão entre os termos, assim os distingue: “Missão e evangelismo são, pois, dois lados da mesma moeda. A moeda é Deus (Sic) e Sua atividade redentora em favor de toda a humanidade. Evangelismo é o anúncio dessa obra; missão é o mandamento que nos compele a pôr em ação esse anúncio.” (Orlando E. Costas, La Iglesia e Su Mision Evangelizadora, Buenos Aires, La Aurora, 1971, p. 27). O autor acrescenta, de forma acertada, que a distinção equivocada entre “missão” e “evangelização, tem levado a Igreja a ter uma visão unilateral de missão: ou apenas no exterior, esquecendo-se do seu âmbito local, ou apenas local em detrimento daquela. (Vd. Ibidem., p. 33ss). Neste sentido, vejam-se as pertinentes observações de Francis A. Schaeffer (F. A. Schaeffer, Forma e Liberdade na Igreja: In: A Missão da Igreja no Mundo de Hoje, São Paulo/Belo Horizonte, MG. ABU/Visão Mundial, 1982, p. 222).

[460]Billy Graham, Por que Lausanne?: In: A Missão da Igreja no Mundo de Hoje, p. 20.

[461]Vd. John H. Jowett, O Pregador, Sua Vida e Obra, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1969, p. 97.

[462]C.H. Spurgeon, Firmes na Verdade, Lisboa, Edições Peregrino, 1990, p. 85. Alhures, Spurgeon, nos diz: “O verdadeiro ministro de Cristo sabe que o verdadeiro valor de um sermão está, não em seu molde ou modo, mas na verdade que ele contém. Nada pode compensar a ausência de ensino; toda retórica do mundo é apenas o que a palha é para o trigo, em contraste com o evangelho da nossa salvação. Por mais belo que seja o cesto do semeador, é uma miserável zombaria, se estiver sem sementes.” (Lições aos Meus Alunos, São Paulo, PES. 1982, Vol. II, p. 88).

[463] Vejam-se: D. Martyn Lloyd-Jones, Pregação e Pregadores, São Paulo, Fiel, 1984, p. 9-10; James M. Boice, O Pregador e a Palavra de Deus: In: J.M. Boice, ed. O Alicerce da Autoridade Bíblica, São Paulo, Vida Nova, 1982, p. 143-167; J.C. Ryle, A Inspiração das Escrituras, São Paulo, PES. (s.d.), p. 15.

[464]J. Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 1.16), p. 58.

[465] Charles Hodge, Teologia Sistemática, São Paulo, Editora Hagnos, 2001, p. 391.

[466] “Ninguém possui coisa alguma, em seus próprios recursos, que o faça superior; portanto, quem quer que se ponha num nível mais elevado não passa de imbecil e impertinente. A genuína base da humildade cristã consiste, de um lado, em não ser presumido, porque sabemos que nada possuímos de bom em nós mesmos; e, de outro, se Deus implantou algum bem em nós, que o mesmo seja, por esta razão, totalmente debitado à conta da divina graça.” [João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 4.7), p. 134-135].

[467] Obviamente, não estamos trabalhando aqui com as categorias de Max Weber, que define Carisma como “... uma qualidade pessoal considerada extracotidiana (...) e em virtude da qual se atribuem a uma pessoa poderes ou qualidades sobrenaturais, sobre-humanos ou, pelo menos, extracotidianos específicos ou então se a toma como enviada por Deus, como exemplar e, portanto, como ‘líder’.” [Max Weber, Economia e Sociedade: Fundamentos da Sociologia Compreensiva, Brasília, DF., Editora Universidade de Brasília, 1991, Vol. 1, p. 158-159]. Como o próprio Weber explica, “O conceito de ‘carisma’ (‘graça’) foi tomado da terminologia do cristianismo primitivo.” (Ibidem., p. 141). Weber tomou a palavra emprestada em Rudolph Sohm, da sua obra Direito Eclesiástico para a Antiga Comunidade Cristã. (Cf. Ibidem., p. 141). A análise das questões relativas ao domínio carismático, “estão no centro das reflexões de Weber” (Julien Freund, A Sociologia de Max Weber, Rio de Janeiro, Forense, 1980, p. 184).

[468]João Calvino, Efésios, (Ef 4.12), p. 125. “A Deus pertence com exclusividade o governo de sua Igreja.” [João Calvino, Gálatas, São Paulo, Paracletos, 1998, (Gl 1.1), p. 22].

[469] Abraham Kuyper, The Work of the Holy Spirit, Chattanooga, AMG Publishers, 1995, p. 196.

[470] Vd. Frederick D. Bruner, Teologia do Espírito Santo, São Paulo, Vida Nova, 1983, p. 229.

[471] Vd. João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 2.4), p. 56.

[472]João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 36. “Qualquer habilidade que um fiel cristão tenha, deve dedicá-la ao serviço de seus companheiros crentes, como também submeter, com toda sinceridade, seus próprios interesses ao bem-estar comum da Igreja.” (João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 36).

[473]Karl Barth, The Faith of the Church: A commentary on the Apostle’s Creed according to Calvin’s Catechism, Great Britain, Fontana Books, 1960, p. 116.

[474] João Calvino, Efésios, (Ef 4.7), p. 113.

[475] Vejam-se outras definições em: A.W. Pink, Os Atributos de Deus, São Paulo, PES., 1985, p. 69; Idem., Deus é Soberano, São Paulo, Fiel, 1977, p. 24; A. Booth, Somente pela Graça, São Paulo, PES., 1986, p. 31; J. Calvino, Exposição de Romanos, (5.15), p. 193; R.P. Shedd, Andai Nele, São Paulo, ABU., 1979, p. 15; W. Hendriksen, 1 y 2 Timoteo/Tito, Grand Rapids, Michigan, S.L.C., 1979, (Tt 2.11), p. 419; L. Berkhof, Teologia Sistemática, p. 74; W. Barclay, El Pensamiento de San Pablo, Buenos Aires, La Aurora, 1978, p. 154; L. Boettner, Predestinación, Grand Rapids, Michigan, S.L.C., [s.d.], p. 258; D.M. Lloyd-Jones, Por que Prosperam os Ímpios, São Paulo, PES., 1983, p. 103; J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, São Paulo, Mundo Cristão, 1980, p. 120; Tom Wells, Fé: Dom de Deus, São Paulo, PES., 1985, p. 101; Samuel Falcão, Predestinação, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1981, p. 100-101; James Moffatt, Grace in the New Testament, New York, Ray Long & Richard R. Smith. Ind., 1932, p. 5; Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p. 146, 147; John Gill, “A Complete Body of Doctrinal and Practical Divinity,” The Collected Writings of: John Gill, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 2000), I.13. p. 195-196.

[476] A palavra tem o sentido de solicitude, preocupação e inquietação. Ela ocorre 18 vezes no NT. O seu uso no Novo Testamento não tem um sentido apenas negativo; Paulo a emprega positivamente, como por exemplo no texto citado (1Co 12.25). Do mesmo modo, quando se refere a Timóteo: “Porque a ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide (Merimnh/sei) dos vossos interesses” (Fp 2.20) e, também quando descreve as suas lutas em favor da Igreja: “Além das cousas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação (Me/rimna) com todas as Igrejas” (2Co 11.28).

O termo também é usado negativamente: Jesus, o emprega duas vezes neste sentido: “Não andeis ansiosos (merimna=te) pela vossa vida...” (Mt 6.25). A Marta, inquieta com os seus afazeres e diante da aparente inércia de Maria, diz: “Marta! Marta! andas inquieta (Merima=j) e te preocupas com muitas coisas” (Lc 10.41).

Paulo, também trata dessa questão, dizendo aos filipenses: “Não andeis ansiosos (Merimna/w) de cousa alguma....” (Fp 4.6). No entanto, esta exortação pode parecer inócua sem a indicação de um caminho eficaz para a canalização de nossas ansiedades existentes... Paulo então, propõe a solução para o problema: “... Em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus as vossa petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça” (Fp 4.6). A oração oferece-nos um abrigo onde podemos nos ocultar das preocupações mundanas, um lugar onde ficamos a sós com Deus, um refúgio onde renovamos a esperança, onde nossos cuidados com as coisas deste século ficam amortecidas. A oração é o caminho pelo qual iniciamos a caminhada indicada por Pedro: “Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade (Me/rimnan), porque Ele tem cuidado de vós” (1Pe 5.7).

Quando assim procedemos, experimentamos o resultado indicado por Paulo no texto de Filipenses: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus” (Fp 4.7). A paz é de Deus porque dEle procede e, também, porque o modelo da paz temos em Deus, Aquele que não vive em ansiedade. (Vd. F.F. Bruce, Filipenses, Florida, Editora Vida, 1992, (Fp 4.7), p. 154).

[477] João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 4.7), p. 134.

[478] João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 12.7), p. 376.

[479] O termo grego utilizado por Paulo, no campo cirúrgico, era usado para “consertar um osso quebrado”. “Ajustar em conjunto num só corpo” (D.M. Lloyd-Jones, A Unidade Cristã, p. 172). “A idéia fundamental do termo é de pôr nas condições em que devem estar já uma coisa ou uma pessoa.” (William Barclay, Efésios, Buenos Aires, La Aurora, 1973, p.156). Calvino diz que o termo grego “significa literalmente a mútua adaptação [= coaptitionem] de coisas que devem ter simetria e proporção; assim como, no corpo humano, há uma combinação apropriada e regular dos membros; de modo que o termo é também usado para ‘perfeição’. Mas como a intenção de Paulo aqui é expressar um arranjo simétrico e metódico, prefiro o termo constituição [= constitutio]. Pois, estritamente falando, o latim indica uma comunidade, ou reino, ou província, como constituída, quando a confusão dá lugar ao estado regular e legítimo.” [J. Calvino, Efésios, (Ef 4.12), p. 124].

[480] João Calvino, Efésios, (Ef 4.11), p. 119.

[481] “Não há crescimento em igrejas que dependem de algumas poucas pessoas e os demais membros são espectadores. Sempre existe progresso e multiplicação em igrejas cujos membros são vibrantes e intentam servir a Cristo.” (Iain Murray, A Igreja: Crescimento e Sucesso: In: Fé para Hoje, São José dos Campos, SP., Fiel, nº 6, 2000, p. 20).

[482] João Calvino, Efésios, (Ef 4.14), p. 127.

[483] Vd. Hermisten M.P. Costa, A Pessoa e Obra de Cristo, São Paulo, 2001, p. 40ss.

[484] João Calvino, Efésios, (Ef 4.14), p. 128.

[485]Sobre a adoração cristã e a concepção de Culto em Calvino, Vd. Hermisten M.P. Costa, O Culto Cristão na Perspectiva de Calvino, São Paulo, 1998 e Idem., Princípios Bíblicos da Adoração Cristã, São Paulo, 2001.

[486]Esta palavra é oriunda de lao/j e lew/j que significam “povo”.

[487] Cf. I.-H. Dalmais, et. al., Liturgia: In: Angel Di Berardino, dir. Diccionario Patristico y de la Antigüedad Cristiana, Salamanca, Ediciones Sigueme, 1992, Vol. II, p. 1279a.

[488] Vd. Hermisten M.P. Costa, Teologia do Culto, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1987.

[489]Víctor M.S. Garcia, Musica y Alabanza: In: Revista Teológica, México, Vol. IX, nº 31-32, 1978, p. 47.

[490] C.F.D. Moule, As Origens do Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 1979, p. 45.

[491] Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo, p. 46-47.

[492]Vd. Confissão de Fé de Westminster, IX.3,4.

[493] Terry L. Johnson, Adoração Reformada: A adoração que é de acordo com as Escrituras, São Paulo, Puritanos, 2001, p. 23.

[494]Vd. Confissão de Fé de Westminster, X.1,2.

[495] B.B. Warfield, A Vida Religiosa dos Estudantes de Teologia, São Paulo, Editora os Puritanos, 1999, p. 19.

[496]William Robertson Nicoll. Apud B.B. Warfield, A Vida Religiosa dos Estudantes de Teologia, p. 25.

[497]“A Igreja é a mãe comum de todos os piedosos....”. [João Calvino, Efésios, (Ef 4.12), p. 125].

[498]João Calvino, Gálatas, 1998, (Gl 4.26), p. 144. Vd. As Institutas, IV.1.1.

[499] Vd. R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, p. 100, 151-152.

[500]R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, p. 220. (Veja-se, todo o capítulo, p. 220-226).

[501] J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São Paulo, FIEL, 1994, p. 146.

[502]Lutero observou que: “Onde, porém, não se anuncia a Palavra, ali a espiritualidade será deteriorada.” (Martinho Lutero, Uma Prédica Para que se Mandem os Filhos à Escola (1530): In: Martinho Lutero: Obras Selecionadas, São Leopoldo/Porto Alegre, RS., Sinodal/Concórdia, 1995, p. 334).

[503]D.M. Martyn Lloyd-Jones, Pregação e Pregadores, p. 23.

[504]Herman Hoeksema, Reformed Dogmatics, p. 621.

[505]Outros chamam At 1.8 de “índice” do Livro. (Cf. John R.W. Stott, A Mensagem de Atos: até os confins da terra, São Paulo, ABU., 1994, p. 42).

[506]Frederick D. Bruner, Teologia do Espírito Santo, p. 129.

[507] Vd. John R.W. Stott, A Mensagem de Atos: até os confins da terra, p. 38.

[508] John R.W. Stott, Crer é também Pensar, São Paulo, ABU., 1984 (2ª impressão), p. 49.

[509]R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, p. 221. Do mesmo modo, Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p. 910.

[510] Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p. 641.

[511] John R.W. Stott & Basil Meeking, editores, Dialogo Sobre La Mision, Grand Rapids, Michigan, Nueva Creación, 1988, p. 62.

[512] Podemos tomar operacionalmente a definição que Alexander Vinet (1797-1847) deu de pregação: “A pregação é a explicação da Palavra de Deus, a exposição das verdades cristãs, e a aplicação dessas verdades ao nosso rebanho.” (A.R. Vinet, Pastoral Theology: or, The Theory of the Evangelical Ministry, 2ª ed. New York, Ivison, Blakeman, Taylor & Co. 1874, p. 189).

[513]"Uma igreja com um grande número de membros, com um imponente edifício, com uma elaborada liturgia, com uma eficiente organização e com vestimentas digníssimas, porém sem a verdade, não é uma igreja. Por outro lado, uma igreja com pouquíssimos membros, com um edifício que não é mais que uma choça, com uma ordem simples de adoração, com um mínimo de organização e sem vestiduras eclesiásticas, é uma igreja de Jesus Cristo se somente é leal à verdade." (R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, p. 101).

[514]Veja-se, Hermisten M.P. Costa, As Questões Sociais e a Teologia Contemporânea, São Paulo, 1986, 15p.

[515] Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo, p. 42-43.

[516]Ibidem., p. 43.

[517] A.A. Hoekema, Salvos pela Graça, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1997, p. 59.

[518]R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, p. 149. (Vejam-se, também: Idem, Ibidem., p. 58-59; 90-91; Idem, El Cuerpo Glorioso de Cristo, p. 225-226; J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, 2ª ed. São Paulo, Vida Nova, 1990, p. 51ss.

[519] John F. MacArthur, Jr., Nossa Suficiência em Cristo, São José dos Campos, SP., Editora Fiel, 1995, p. 9.

[520] John Calvin, Golden Booklet of the True Christian Life, p. 14.

[521] Os principais líderes eram: Nícolas Storck, Marcos Tomás e Marcos Stübner. Tomás Münzer (c. 1490-1525), tornar-se-ia o mais famoso dos que foram influenciados por esse círculo, tendo mais tarde as suas idéias próprias, ainda que fiel aos mesmos princípios. (Vd. George H. Williams, La Reforma Radical, México, Fondo de Cultura Económica, 1983, p. 66ss; O Nascimento e Afirmação da Reforma, São Paulo, Pioneira, 1989, p. 101).

[522]Apud J.H. Merle D'aubigné, História da Reforma do Décimo-Sexto Século, Vol. III, p. 64. Mais tarde, Calvino escreveria, possivelmente referindo-se aos “libertinos”, também conhecidos como “espirituais”: “Ora, surgiram, em tempos recentes, certos desvairados que, arrogando-se, com extremada presunção, o magistério do Espírito, fazem pouco caso de toda leitura da Bíblia e se riem da simplicidade daqueles que ainda seguem, como eles próprios a chamam, a letra morta e que mata.

“Eu, porém, gostaria de saber deles que tal é esse Espírito de cuja inspiração se transportam a alturas tão sublimadas que ousem desprezar como pueril e rasteiro o ensino das Escrituras? Ora, se respondem que é o Espírito de Cristo, certeza dessa espécie é absurdamente ridícula, se, na realidade, concedem, segundo penso, que os Apóstolos de Cristo e os demais fiéis na Igreja Primitiva não de outro Espírito hão sido iluminados. O fato é que nenhum deles daí aprendeu o menoscabo da Palavra de Deus; ao contrário, cada um foi antes imbuído de maior reverência, como seus escritos o atestam mui luminosamente.....

“... Não é função do Espírito Que nos foi prometido configurar novas e inauditas revelações ou forjar um novo gênero de doutrina, mediante quê sejamos distraídos do ensino do Evangelho já recebido; ao contrário, Sua função é selar-nos na mente aquela própria doutrina que é recomendada através do Evangelho.” (J. Calvino, As Institutas, I.9.1). Vd. também: As Institutas, I.9.2-3.

McNeill explica que o termo “libertino” foi usado por Calvino para “designar uma seita religiosa que se espalhou na França e na Península Dinamarquesa, a qual, dando ênfase ao Espírito, rejeitava a Lei. Posteriormente, o termo veio a ser aplicado em Genebra, àqueles que se opunham à disciplina, os quais incluíam pessoas que desconsideravam a lei moral e outros, mais motivados politicamente em resistir a Calvino.” (John T. McNeill, The History and Character of Calvinism, p. 169).

[523] Cf. J.H. Merle D'aubigné, História da Reforma do Décimo-Sexto Século, Vol. III, p. 64-65; Heinrich W. Erbkam, Münzer: In: Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Practical Theology, Vol. II, p. 1596a).

[524] James Atkinson, Lutero e o Nacimiento del Protestantismo, p. 254.

[525]J.H. Merle D'aubigné, História da Reforma do Décimo-Sexto Século, III, p. 71.

[526]Justificando-se com o príncipe o motivo da sua volta, escreveu-lhe no dia de sua chegada a Wittenberg, 7 de março de 1522: “Não são acaso os Wittemberguenses as minhas ovelhas? Não mas teria confiado Deus? E não deveria eu, se necessário, expor-me à morte por causa delas?” (Apud J.H. Merle D'aubigné, História da Reforma do Décimo-Sexto Século, III, p. 83).

[527]Lutero, iniciando no dia 09/3/1522, pregou oito dias consecutivos em Wittenberg. Vd. o seu primeiro sermão In: Martinho Lutero, Pelo Evangelho de Cristo: Obras selecionadas de momentos decisivos da Reforma, Porto Alegre/São Leopoldo, RS., Concórdia Editora/Editora Sinodal, 1984, p. 153-161. Quanto aos detalhes da sua volta, Vd: J.H. Merle D'aubigné, História da Reforma do Décimo-Sexto Século, III, p. 72ss.; James Atkinson, Lutero e o Nacimiento del Protestantismo, p. 254ss.

[528] Martinho Lutero, Uma Prédica Para que se Mandem os Filhos à Escola (1530): In: Martinho Lutero: Obras Selecionadas, 1995, Vol. 5, p. 334.

[529] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 25.14), p. 558.

[530] Doravante citada como CW.

[531]J. Calvino, Catecismo de la Iglesia de Ginebra: In: Catecismos de la Iglesia Reformada, La Aurora, Buenos Aires, 1962, Pergunta 6, p. 30; Karl Barth, The Faith of the Church: A Commentary on Apostle's Creed According to Calvin's Catechism, Great Britain, Fontana Books, 1960, p. 24.

[532]Vd. Catecismo Maior de Westminster, Pergunta 4. Calvino, escrevera: “É chocante blasfêmia afirmar que a Palavra de Deus é falível até que obtenha da parte dos homens uma certeza emprestada.” [João Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.15), p. 98]. Em outro lugar: “.... a Palavra do Senhor é semente frutífera por sua própria natureza.” (João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 3.6), p. 103].

[533]Antes, é da Palavra que nasce a Igreja e é justamente pela fidelidade à Palavra que a Igreja de Cristo é reconhecida. (Vd. J. Calvino, As Institutas, I.7.1-2).

[534]Como exemplo, citamos Stanilaus Hosius (1504-1579) que considerava a Bíblia como "propriedade da Igreja Católica" (Cf. Sudhoff, Hosius: In: Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Practical Theology, Vol. II, p. 1024). Escrevendo contra Brentius [J. Brenz (1499-1570)?], Hosius disse que "As Escrituras têm tão-somente a mesma força que as fábulas do Esopo, se destituída da autoridade da igreja." (Apud Francis Turretin, Institutes of Elenctic Theology, Phillipsburg, New Jersey, P & P Publishing, 1992, Vol. I, I.6.2. p. 86). Segundo citação de Turretin, Hosius “não hesitou em blasfemar ao dizer”: “Melhor seria para os interesses da igreja se jamais houvesse existido a Bíblia”. (Apud Francis Turretin, Institutes of Elenctic Theology, Vol. I, p. 57). Johann Maier von Eck (1486-1543), amigo e depois severo oponente de Lutero, escreveu em 1525 que, "As Escrituras não são autênticas, exceto pela autoridade da igreja." (Enchirdion of Commonplaces, 1, Apud Turretin, Institutes of Elenctic Theology, I.6.2. p. 86). [Francis Turretin (1623-1687) cita diversos outros pronunciamentos feitos por católicos a respeito deste assunto. Vd. Institutes of Elenctic Theology, I.6.2. p. 86]. Notemos que aqui, nestas questões levantadas pelos católicos, não há uma negação da procedência das Escrituras, mas sim a afirmação da supremacia do subjetivo sobre o objetivo. Neste caso, a verdade não é o que é; ela é o que digo (no caso a Igreja Católica Romana) que ela seja...

[535] Francis Turretin, Institutes of Elenctic Theology, 1.6.10. p. 89.

[536]Zuínglio (1484-1531) dissera textualmente: “Entendo a Escritura somente na maneira em que ela interpreta a si mesma pelo Espírito Santo. Isso não requer nenhuma opinião humana.” (Apud Timothy George, Teologia dos Reformadores, p. 129. Vd. as p. 126-130; Calvino: “A verdade de Deus não depende da verdade do homem.” [João Calvino, Romanos, 2ª ed. São Paulo, Parakletos, 2001, (Rm 3.4), p. 111]. Paul Tillich, História do Pensamento Cristão, São Paulo, ASTE., 1988, p. 234ss). Vd. Tomás de Aquino, Súmula Contra os Gentios, São Paulo, Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. VIII), 1973, VI, p. 69; J. Calvino, As Institutas, I.9.3; D.M. Lloyd-Jones, Vida No Espírito, São Paulo, PES., 1991., p. 126ss.

[537]J. Calvino, As Institutas, I.7.4. Vd. também, As Institutas, I.9.3.

[538] Do mesmo modo diz a Confissão Belga (1561), Art 5.

[539] Paulo Anglada, A Doutrina Reformada da Autoridade Suprema das Escrituras: In: Fides Reformata, 2/2 (1997), p. 124-125.

[540] J. Calvino, As Institutas, I.7.5.

[541] João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 4.12), p. 108.

[542]Vd. Hermisten M.P. Costa, Teologia Sistemática: Prolegômena, São Paulo, 2000, passim.

[543] D. Martyn Lloyd-Jones, As Insondáveis Riquezas de Cristo, São Paulo, PES., 1992, p. 43.

[544] F.F. Bruce, Interpretação Bíblica: In: J.D. Douglas, ed. org. O Novo Dicionário da Bíblia, São Paulo, Junta Editorial Cristã, 1966, Vol. II, p. 753. Vd. também, J. Calvino, As Institutas, I.9.3.

[545] Confissão de Westminster, I.10.

[546] O conceito da “Teologia” como “reflexão”, é comum entre teólogos, mesmo de quadro de referência diferentes. O teólogo católico alemão Heinrich Fries (1911- ), define a teologia como "scientia fidei" ("ciência da fé") e "reflexão sistemática sobre a revelação." (H. Fries, Teologia: In: H. Fries, ed. Dicionário de Teologia, 2ª ed. São Paulo, Loyola, 1987, Vol. 5, p. 300,302). O presbiteriano John H. Leith, conceitua: “Teologia cristã é reflexão crítica sobre Deus, sobre a existência humana, sobre a natureza do universo e sobre a própria fé à luz da revelação de Deus registradas nas Escrituras e, especialmente, personificada em Jesus Cristo, que é, para a comunidade cristã, a revelação final, isto é, a revelação definitiva, o critério para todas as outras revelações.” (John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 140).

[547]Damião Berge, um estudioso de Heráclito, descreveu a função do intérprete, que, pode nos ser útil aqui. Diz o autor: "Interpretar é apreender o sentido depositado nas palavras do autor; é retirá-lo de sua reclusão e pô-lo, gradativamente, ao alcance do leitor, processo esse que, em geral, culmina num ensaio de tradução tão verbal como acessível." (Damião Berge, O Logos Heraclítico: Introdução ao Estudo dos Fragmentos, Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro, 1969, p. 63).

[548] Stott coloca a questão nestes termos: “... Nada coloca o coração em fogo como a verdade.” (John R.W. Stott, Cristianismo Equilibrado, Rio de Janeiro,CPAD., 1982, p. 62).

[549] J.I. Packer, O "Antigo" Evangelho, São Paulo, Fiel, 1986, p. 8.

[550]Apesar de sabermos que a expressão “Calvinismo” foi introduzida pelo polemista luterano Joacquim Westphal (c. 1510-1574), para referir-se em especial aos conceitos teológicos de Calvino (Cf. Alister E. McGrath, The Intellectual Origins of the European Reformation, p. 6), usamos o termo no sentido que permanece até os nossos dias, como designativo da teologia Reformada em contraste com a Luterana. [Vd. B.B. Warfield, Calvin and Calvinism, Vol. V, p. 353; W.S. Reid, Tradição Reformada: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Vol. III, p. 562]. McGrath oferece-nos dados complementares sobre o uso da expressão em outro de seus valiosos livros, indicando que a palavra foi empregada pelos luteranos alemães referindo-se ao Catecismo de Heidelberg (1563), que havia penetrado no até então inabalável território luterano [lembremo-nos do princípio predominante então, de que: “sua região determina sua religião”]; assim a expressão queria indicar algo que era “estrangeiro”, estranho à fé luterana, era “calvinista”. (Vd. Alister E. McGrath, Reformation Thought: An Introduction, p. 9). Barth está correto quando nos diz que “O ‘calvinismo’ é um conceito que devemos aos historiadores modernos. Quando nós o usarmos, tenhamos a certeza que as Igrejas reformadas do século XVI, do século XVII, e mesmo a do século XVIII, jamais se nomearam como sendo ‘calvinistas’ .” (Karl Barth, em introdução à obra, Calvin, Textes Choisis par Charles Gagnebin, p. 10).

[551] Colin Brown, Filosofia e Fé Cristã, São Paulo, Vida Nova, 1989, p. 36.

[552] Abraham Kuyper, Principles of Sacred Theology, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, 1980, p. 341ss.

[553]Vd. Hermisten M.P. Costa, Teologia Hoje: Bíblica ou Ideológica?: In: Brasil Presbiteriano, julho/1984 p. 3 e O Fascínio do Descompromisso: In: Brasil Presbiteriano, outubro/1985, p. 5 e novembro/1985, p. 6.

[554]Vd. Hermisten M.P. Costa, Teologia do Culto, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1987, p. 12-13.

[555]Edwin H. Palmer, El Espiritu Santo, Gran Bretaña, El Estandarte de la Verdad, (s.d.), p. 50.

[556] João Calvino, Exposição de Romanos, (10.16), p. 374. A vocação eficaz do eleito, “não consiste somente na pregação da Palavra, senão também na iluminação do Espírito Santo.” (J. Calvino, As Institutas, III.24.2).

[557] K. Barth, The Faith of the Church, p. 27.

[558] K. Barth, Church Dogmatics, 3ª ed. Edinburgh, T. & T. Clark Limited, 1975, I/1, p. 306.

[559] Vd. J. Calvino, As Institutas, I.3.2.

[560]Como temos insistido, Calvino acentuou que “O conhecimento de Deus não está posto em fria especulação, mas Lhe traz consigo o culto” (J. Calvino, As Institutas, I.12.1).

[561] G. Hendriksen, El Evangelio Segun San Juan, Grand Rapids, Michigan, Subcomision Literatura Cristiana, 1981, p. 543. Vejam-se também: G. Hendriksen, El Evangelio Segun San Juan, p. 73ss; 394; 543ss; Idem, Colosenses e Filemon, Grand Rapids, Michigan, SLC., p. 95ss; 130ss; J. Calvino, Exposição de Hebreus, p. 29ss.; John Owen, A Glória de Cristo, São Paulo, PES., 1989, p. 16ss.

[562] Foi esta acusação que D. Bonhoeffer (1906-1945) fez a Barth. Vd. a sua carta datada de 05/05/1944, In: D. Bonhoeffer, Resistência e Submissão, 2ª ed. Rio de Janeiro/Porto Alegre, RS., Paz e Terra/Sinodal, 1980, p. 134. (Quanto à expressão "Positivista Teológico", Vd. Bernard Ramm, Diccionario de Teologia Contemporanea, 2ª ed. Buenos Aires, Casa Bautista de Publicaciones, 1975. p. 109; Idem., Positivismo: In: E.F. Harrison, ed. Diccionario de Teologia, Grand Rapids, Michigan, T.E.L.L., 1985, p. 417).

[563] “A mente piedosa não sonha para si um Deus qualquer; ao contrário, contempla somente o Deus único e verdadeiro, nem lhe atribui o que quer que à imaginação haja acudido, mas se contenta com tê-Lo tal qual Ele próprio Se manifesta e, com a máxima diligência, precavém-se sempre, para que não venha, mercê de ousada temeridade, a vaguear errática, trespassados os limites de Sua vontade.” (João Calvino, As Institutas, I.2.2).

[564] Calvino comentando a respeito desta vida e da futura, diz: "... Esta vida, por mais que esteja cheia de infinitas misérias, com toda razão se conta entre as bênçãos de Deus, que não é lícito menosprezar." (Institutas, III.9.3). À frente, acrescenta: "E muito maior é essa razão, se refletirmos que nesta vida nos está Deus de certo modo a preparar para a glória do Reino Celeste." (Institutas, III.9.3). “....nossos constantes esforços para diminuir a estima por este mundo presente, não devem nos levar a odiar a vida ou a sermos mal agradecidos para com Deus. Se bem que esta vida está cheia de incontáveis misérias, não obstante, merece ser contada entre aquelas bênçãos divinas que não devem ser desprezadas.” (João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo, Novo Século, 2000, p. 62). “Porém, à vida presente não se deve odiar, com exceção de tudo o que nela nos sujeira ao pecado, este ódio não deve aplicar-se à vida mesma.” (João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 64). Do mesmo modo, ver Ibidem., p. 69 e 71.

[565]J.I. Packer, O "Antigo" Evangelho, p. 1ss., traça uma boa distinção entre o "Antigo" e o "Novo" Evangelho, mostrando que o "antigo" , buscava a Glória de Deus, enquanto que o "novo" está preocupado em "ajudar" o homem. Em 1768, Abraham Booth (1734-1806) observara que a mensagem dos cristãos primitivos gerava a perseguição "porque a verdade que pregavam ofendia o orgulho humano (...) não dava lugar ao mérito humano." (A. Booth, Somente pela Graça, São Paulo, PES., 1986, p. 9,10).

[566] J. Calvino, As Institutas, I.6.4. "A comunicação divina é a base fundamental da fé cristã." (D. Martyn Lloyd-Jones, O Combate Cristão, São Paulo, PES., 1991, p. 24).

[567] Vd. Hermisten M.P. Costa, Teologia do Culto, p. 27; J. Calvino, As Institutas, I.12.1. O filósofo Sócrates (469-399 a.C.), faz uma pergunta que permanece relevante em nossos dias: "Haverá culto mais sublime e piedoso que o que prescreve a própria divindade?" (Xenofonte, Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates, São Paulo, Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. II), 1972, IV.3.16. p. 149).

[568] C.F.D. Moule, As Origens do Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 1979, p. 45. (Vd. também, Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo, São Paulo, O Semeador, 1989, p. 47; J. Calvino, Catecismo de la Iglesia de Ginebra , Pergunta 6).

[569] O. Michel, escreveu: "Toda teologia genuína é a batalha contra o teologismo, a teorização, e contra a tentativa de substituir o motivo genuinamente bíblico e histórico por uma transformação filosófica (...). Atualmente desejamos cada vez mais ouvir a nós mesmos, enquanto a Bíblia nos convidaria a ouvir a palavra pura." (Apud Johannes Blauw, A Natureza Missionária da Igreja, São Paulo, ASTE., 1966, p. 105).

A Teologia deve ser entendida como o estudo da Revelação Pessoal de Deus conforme registrada nas Escrituras Sagradas. "O tema e o conteúdo da teologia é a Revelação de Deus" (John Mackay, Prefacio a la Teologia Cristiana, México/Buenos Aires, Casa Unida de Publicaciones/La Aurora, 1946, p. 28). Desta concepção, subentende-se, seguindo a linha de Kuyper(*) (A. Kuyper, Principles of Sacred Theology, § 60, p. 257ss.), que a Teologia nunca é "arquétipa" mas sim "éctipa";(**) ela não é gerada pelo o esforço de nossa observação de Deus, mas sim o resultado da revelação soberana e pessoal de Deus. Uma "Teologia Arquétipa" – se é que podemos falar deste modo –, pertence somente a Deus, porque somente Ele Se conhece perfeitamente. Por isso, como temos insistido em outros trabalhos, a Teologia sempre será o efeito da ação reveladora, inspiradora e iluminadora de Deus através do Espírito; a Teologia é sempre o efeito da ação primeira de Deus em revelar-se. "No princípio Deus...", isto deve ser sempre considerado em todo e qualquer enfoque que dermos à realidade. Deus se revela e se interpreta através do Espírito; e é somente através dEle que poderemos ter um genuíno conhecimento de Deus.

(*) – Esta distinção, ao que parece, originou-se no teólogo Polanus (Cf. Richard A. Muller, Post-Reformation Reformed Dogmatics, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, 1987, Vol. 1, p. 126-127).

(**) – "Éctipo" é uma palavra de derivação grega, "e)/ktupoj” (cópia de um modelo, ou reflexo de um arquétipo), passando pelo latim "ectypus" (feito em relevo, saliente).

“Éctipo” é o oposto a arquétipo (do grego, "a)rxe/tupoj" = "original", "modelo"). Na filosofia, G. Berkeley (1685-1753) estabeleceu esta distinção no campo das idéias:

"Pois acaso não admito eu um duplo estado de coisas, a saber: um etípico, ou natural, ao passo que o outro é arquetípico e eterno? Aquele primeiro foi criado no tempo; e este segundo desde todo o sempre existiu no espírito de Deus." [G. Berkeley, Três Diálogos entre Hilas e Filonous, São Paulo, Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. XXII), 1973, 3º Diálogo, p. 119].

[570]Corretamente declarou Lloyd-Jones (1899-1981): "O Espírito Santo é o poder atuante na Igreja, e o Espírito Santo jamais honrará coisa alguma senão a Sua Palavra. Foi o Espírito Santo quem nos deu esta Palavra. Ele é o seu Autor. Não é dos homens! Tampouco a Bíblia é produto da 'carne' e do 'sangue' (...). O Espírito não honrará nada, senão Sua Palavra. Portanto, se não crermos e não aceitarmos sua Palavra, ou se de algum modo nos desviarmos dela, não teremos direito de esperar a bênção do Espírito Santo. O Espírito Santo honrará a verdade, e não honrará outra coisa. Seja o que for que fizermos, se não honrarmos esta verdade, Ele não nos honrará." (D.M. Lloyd-Jones, O Combate Cristão, São Paulo, 1991, p. 103).

[571] O Mormonismo originou-se das supostas visões e revelações alegadas por Joseph Smith Jr. a partir de 1820. (Vd. A. Hoekema, Mormonismo, Grand Rapids, Michigan, Subcomision Literatura Cristiana de la Iglesia Cristiana Reformada, 1977, p. 5ss.; 15ss.; J.K. Van Baalen, O Caos das Seitas, 3ª ed. São Paulo, Imprensa Batista Regular, 1977, p. 121ss.; 128, 144).

[572]Vd. L. Boettner, Catolicismo Romano, São Paulo, Imprensa Batista Regular, 1985, p. 67-88 e L. Berkhof, Introduccion a la Teologia Sistematica, p. 186-189.

[573] G.C. Berkouwer, A Pessoa de Cristo, São Paulo, ASTE., 1964, p. 72. Dentro desta mesma linha de pensamento, escreveu Kuiper: “.... Todos juntos, os credos do cristianismo, de nenhuma maneira se aproximam de esgotar a verdade da Sagrada Escritura.” (R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, p. 99).

[574] Timothy George observa que, "Os reformadores eram grandes exegetas das Escrituras Sagradas. Suas obras teológicas mais incisivas encontram-se em seus sermões e comentários bíblicos. Eles estavam convencidos de que a proclamação da igreja cristã não poderia originar-se da filosofia ou de qualquer cosmovisão auto-elaborada. Não poderia ser nada menos que uma interpretação das Escrituras. Nenhuma outra proclamação possui direito ou esperança na igreja. Uma teologia que se baseia na doutrina reformada das Escrituras Sagradas não tem nada a temer com as descobertas precisas dos estudos bíblicos modernos." (Timothy George, Teologia dos Reformadores, p. 313).

[575] Este capítulo é uma transcrição parcial do meu trabalho, O Culto Cristão na Perspectiva de Calvino, São Paulo, 1998.

[576] Cf. Henriqueta R.F. Braga, Contribuição da Reforma ao Desenvolvimento Musical. In: Bill H. Ichter, org. A Música Sacra e Sua História, Rio de Janeiro, JUERP., 1976, p. 77; Donald P. Hustad, Jubilate! A Música na Igreja, São Paulo, Vida Nova, 1986, p. 119; Cf. Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, p. 99-100). Conforme já fizemos alusão, Calvino diz que Bucer é “o mais fiel doutor da Igreja de Deus.” (João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, p. 31). Com o passar dos anos, Calvino nutriria profundo respeito e admiração por Bucer, a quem pede que o corriga como um pai a um filho. (Vd. Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, p. 130).

[577]Cf. Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, p. 100.

[578]Vd. Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, p. 82.

[579]Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 371; D.P. Hustad, Jubilate! A Música na Igreja, p. 118; John Calvin, Tratacts and Treatises, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1958, Vol. II, p. 99a (notas de T.F. Torrance).

[580] Comentando o Salmo 50, Calvino emite o seu conceito sobre os ritos externos: “Estes ritos externos são, portanto, em si mesmos, de nenhuma importância, e deve-se mantê-los só até ao ponto em que nos são úteis na confirmação de nossa fé, de sorte que possamos invocar o nome do Senhor com um coração puro.” (João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 50.14), p. 410). Sobre a ordem do culto estabelecida por Calvino, Leith comenta: “O primeiro ato significativo com relação à liturgia de Calvino é que ela não é canônica. Calvino se ajustou às práticas litúrgicas de Genebra e Estrasburgo.” (John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 296). “Embora Calvino e outros Reformadores hesitassem em prescrever uma liturgia específica para todas as igrejas, espalhadas pela Europa Oriental desde o século XVI até meados do século XVIII, havia um notável acordo entre as comunidades Presbiterianas e Reformadas quanto à natureza e conduta do culto.” (A Igreja Presbiteriana Ortodoxa e o Culto, (Documento oficial da Orthodox Presbyterian Church), traduzido por Sonedi H. Evangelista, [s.d], trabalho mimeografado, p. 3).

[581] J. Calvino, As Institutas, IV.17.43. Compare com IV.10.31. Em 22 de outubro de 1548, Calvino escreveu a Edward Seymour, Duque de Somerset, Regente da Inglaterra durante a menoridade de Eduardo VI: "Há alguns que, sob o pretexto de moderação, estão a favorecer muitos abusos.... Nós vemos quão fértil é a semente de falsidade e que apenas um único grão é necessário para encher o mundo com ele em três tempos; e para isso há homens inclinados e devotados.... [Entretanto] Eu reconheço isso de boa vontade que nós temos que ser moderados, e que exceder não é prudente nem útil; de fato, a forma de adoração necessita ser acomodada a condição e gosto das pessoas. Mas as corrupções de Satanás e do Anticristo não devem ser admitidas sob esse pretexto....” (Calvin to Somerset, Letter 21. In: Letters of John Calvin, Selected from the Bonnet Edition, p. 98-99).

[582] João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 14.40), p. 444.

[583] John Calvin, Calvin's Commentaries, Vol. XVII, (Jo 4.24), p. 164. “Devemos ter sempre em mente que, tudo quanto não agrada a Deus, que vise a seu próprio bem, e somente até onde ele leva a algum outro fim, se porventura é posto no lugar de seu culto e serviço verdadeiros, é por ele rejeitado e desvanece.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 40.6), p. 226-227].

[584] João Calvino, As Pastorais, Dedicatória, p. 14.

[585] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 50.14), p. 409.

[586] J. Calvino, As Institutas, IV.17.44.

[587] João Calvino, As Institutas, II.8.32.

[588] J. Calvino, As Institutas, IV.17.43.

[589] Vd. João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 50.16), p. 413.

[590] J. Calvino, As Institutas, IV.17.43.

[591]Apud William D. Maxwell, El Culto Cristiano: sua evolución y sus formas, Methopress Editorial y Grafica, Buenos Aires, 1963, p. 139.

[592] J. Calvino, As Institutas, IV.17.7.

[593]J. Calvino, Breve Tratado Sobre La Santa Cena: In: Tratados Breves, p. 19. Em outro lugar: “Grande fruto, porém, de confiança e satisfação podem deste sacramento coligir as almas pias, porque têm nele o testemunho de havermo-nos unido com Cristo em um só corpo, de tal sorte que tudo quanto é dEle nosso seja lícito chamar.” (J. Calvino, As Institutas, IV.17.2).

[594] J. Calvino, As Institutas, IV.14.2; L. Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP. Luz para o Caminho, 1990, p. 622.

[595] J. Calvino, As Institutas, IV.14.13; D.S. Schaff, Nossas Crença e a de Nossos Pais, p. 290; L. Berkhof, Teologia Sistemática, p. 622.

[596]Agostinho, On The Gospel of St. John: In: NPNF1., Vol. 7, Tractate LXXX.3, p. 344b.

[597] Agostinho, As Catequesis, XXVI.50; Cartas, 105.III,12. Apud J. Calvino, As Institutas, IV.14.1.

[598] Cf. Sacramentum: In: Richard A. Muller, Dictionary of Latin and Greek Theological Terms, 4ª ed. Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, 1993, p. 267. Barth observa que “a pregação extrai seu conteúdo do sacramento que em si mesmo é uma referência em ato ao acontecimento da revelação. A pregação é comentário, interpretação do sacramento; tem o mesmo sentido que este, porém em palavras.” (Karl Barth, La Proclamacion del Evangelio, p. 32).

[599] Vd. João Calvino, As Institutas, IV.17.5. “Uma cópia desse pequeno livro (Breve Tratado Sobre a Santa Ceia) traduzido do francês para o latim foi encontrada por Martinho Lutero em 1545 numa livraria na Alemanha. Depois de lê-lo, declarou: ‘Eu poderia ter confiado este assunto controvertido a ele (Calvino) desde o princípio. Se os meus adversários tivessem feito o mesmo, teríamos nos reconciliado sem muita demora’.” (Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, p. 113).

[600] Vd. João Calvino, As Institutas, IV.17.11,30.

[601]João Calvino, As Institutas, IV.17.19. Vd. Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 590ss.

[602]J. Calvino, As Institutas, IV.1.1. Vd. também O Catecismo de Genebra, Perg. 310.

[603] Vd. J. Calvino, As Institutas, IV.14.1,3,6,8,9,12

[604] J. Calvino, As Institutas, IV.14.3.

[605] J. Calvino, As Institutas, IV.14.6.

[606] J. Calvino, As Institutas, IV.14.5.

[607] J. Calvino, As Institutas, IV.14.6.

[608] Vd. John Calvin, Commentary upon the Acts os the Apostles, (Calvin's Commentaries),1981, Vol. XVIII, (At 8.13), p. 335-336.

[609] J. Calvino, As Institutas, IV.14.9/IV.1.14/Catecismo de Genebra, Perg. 312.; John Calvin, The Consensus Tigurinus (1549, publicado em 1551), II. (Para a história deste “Consensus”, vd. P. Schaff, The Creeds of Christendom, I, p. 471-473).

[610] J. Calvino, As Institutas, IV.14.9,16/Catecismo de Genebra, Perg. 317.

[611] J. Calvino, As Institutas, III.1.4.

[612] J. Calvino, As Institutas, IV.14.10. Calvino, ao contrário de Zuínglio e Lutero, atribuiu grande importância à agência sobrenatural do Espírito Santo na celebração da Ceia (Cf. Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 592).

[613] Cf. J. Calvino, As Institutas, IV.17.5.

[614]J. Calvino, As Institutas, IV.14.4.

[615]J. Calvino, As Institutas, IV.14.17. “... Devemos precaver-nos de transferir para o sinal, ou para o ministro, o que pertence exclusivamente a Deus – ou seja, imaginar que o ministro é o autor da lavagem, ou que a água limpa as impurezas da alma, o que somente o sangue de Cristo pode efetuar. Em síntese, devemos precaver-nos de aplicar alguma porção de nossa confiança ao elemento ou ao homem; pois o propósito legítimo e próprio do sacramento é levar-nos pela mão diretamente a Cristo e firmar-nos nele.” [J. Calvino, Efésios, São Paulo, Paracletos, 1998, (Ef 5.26), p. 169]. “O poder e o uso dos sacramentos são corretamente subentendidos quando conectamos o sinal com aquilo que está implícito nele, de tal forma que o sinal não é algo vazio e ineficaz, e quando, querendo enaltecer o sinal, não despojamos o Espírito Santo do que lhe pertence. (...) Se porventura não fizermos nem quisermos fazer do santo batismo um ato nulo e vazio, devemos provar sua eficácia através da novidade de vida.” [J. Calvino, As Pastorais, (Tt 3.5), p. 350].

[616] J. Calvino, Breve Tratado Sobre La Santa Cena: In: Tratados Breves, p. 8. Cf. As Institutas, IV.17.1,3.

[617]J. Calvino, As Institutas, IV.17.46. Calvino refere-se à decisão do 4° Concílio de Latrão (1215), Cânon XXI. No Novo Testamento encontramos testemunho que indica a celebração diária da Ceia em Jerusalém (At 2.42-47) e, aos domingos em Trôade (At 20.7). Nos séculos seguintes, a Ceia era celebrada dominicalmente em algumas igrejas; em outras, diariamente e ainda, em outras, em três dias da semana, gerando uma variedade de formas de celebração e o pior, falta de discernimento (Vd. Agostinho, Letter, 54.2. In: Philip Schaff, ed. Nicene And Post-Nicene Fathers of the Christian Church, 2ª ed. (First series), Peabody, Massachusetts, Hendrickson Publishers, 1995, Vol. I, p. 321 (doravante, citado como NPNF1); Idem., On The Gospel of St. John, Tractate XXVI.2 e 7 In: NPNF1., Vol. 7, p. 168-169; 170; Crisóstomo, Homilies on the Gospel of Saint Matthew, 50.3. In: NPNF1., Vol. 10, p. 312-313; Idem., Homilies on the Epistles of St. Paul the Apostle to Timothy, V. In: NPNF1., Vol. 13, p. 423-426). Crisóstomo (347-407), recrimina aqueles que vão à celebração da Ceia mas não participam, retirando-se então ou alegando indignidade. (Crisóstomo, Homilies on Ephesians, III. In: NPNF1., Vol. 13, p. 63-64). Calvino discute algumas destas questões. J. Calvino, As Institutas, IV.17.43ss.). Maiores detalhes podem ser encontrados em Hans Lietzmann, From Constantine to Julian, (A History of the Early Church, Vol. III), London, Lutterworth Press, 1960 (Reprinted), p. 298ss. Calvino faz um resumo das deturpações romanas deste sacramento In: Exposição de 1 Coríntios, (1Co 11.30), p. 366.

[618] J. Calvino, As Institutas, IV.17.44-45.

[619] J. Calvino, As Institutas, IV.17.44,46. “Para a igreja, a ceia era tão importante como nutrição espiritual que Calvino advogava sua celebração semanal” . (T. George, Teologia dos Reformadores, p. 238).

[620]J. Calvino, As Institutas, IV.17.48.

[621] Cf. D. P. Hustad, Jubilate! A Música na Igreja, p. 119; W. Stanford Reid, El Culto Reformado: In: R. G. Turnbull, ed. ger. Diccionario de la Teología Práctica, Grand Rapids, Michigan, SLC., 1977, p. 45; William D. Maxwell, El Culto Cristiano: sua evolución y sus formas, p. 139-140. Numa tentativa de negociar com os magistrados de Genebra, Calvino propôs então, que a Ceia fosse ministrada mensalmente; contudo, nem com isso concordaram... (Vd. William D. Maxwell, El Culto Cristiano: sua evolución y sus formas, p. 140; Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, p. 81ss.; Charles W. Baird, A Liturgia Reformada: Ensaio histórico, São Paulo, SOCEP., 2001, p. 28). Em Berna a Ceia era ministrada 3 vezes ao ano; Calvino em carta aos Magistrados de Berna (1555), lamenta a prática de Berna e Genebra – que considera um erro –, dizendo: “Queira Deus, cavalheiros, que tanto vós como nós sejamos capazes de estabelecer um uso mais freqüente....”. [John Calvin, “To the Seigneurs of Berne,” John Calvin Collection, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), nº 395, p. 163]. Calvino não perdeu apenas esta questão. Ele entendia que durante o culto deveria haver uma declaração de perdão feita pelo dirigente após a confissão de pecados. No entanto como não encontrou apoio para esta prática, cedeu. (Ver: Charles W. Baird, A Liturgia Reformada: Ensaio histórico, p. 22. Ver também: p. 28).

[622]William D. Maxwell, El Culto Cristiano: sua evolución y sus formas, p. 140-141.

[623] Cf. William D. Maxwell, El Culto Cristiano: sua evolución y sus formas, p. 141.

[624]Vd. John Calvin, “To the Seigneurs of Berne,” John Calvin Collection, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), nº 395, p. 163. Vd. também: William D. Maxwell, El Culto Cristiano: sua evolución y sus formas, p. 141. As cinco festas da Igreja Reformada eram: Natal, Sexta-Feira Santa, Páscoa, Assunção e Pentecostes. (Cf. Charles W. Baird, A Liturgia Reformada: Ensaio histórico, p. 28).

[625] J. Calvino, As Institutas, IV.17.39.

[626] Cf. William D. Maxwell, El Culto Cristiano: sua evolución y sus formas, p. 136. Figueiredo comenta: “Calvino entendia que a Igreja, para ser unida, deveria submeter-se a regras parametrais doutrinárias, disciplinares, governamentais e litúrgicas. Cada comunidade prestando culto à sua maneira, a porta ficaria aberta às distorções, aos desvios, e às divisões. O culto é importante demais para ficar à mercê de idiossincrasias de lideranças, nem sempre bem formadas, ou exposto às influências externas.” [Onezio Figueiredo, Culto (Opúsculo II), São Paulo, 1997, p. 25].

[627] Charles W. Baird, A Liturgia Reformada: Ensaio histórico, p. 26.

[628] Cf. William D. Maxwell, El Culto Cristiano: sua evolución y sus formas, p. 136.

[629] Cf. William D. Maxwell, El Culto Cristiano: sua evolución y sus formas, p. 136.

[630] Cf. William D. Maxwell, El Culto Cristiano: sua evolución y sus formas, p. 137-138.

[631] Em 1541 escreveria: “... todas as Igrejas bem ordenadas devem ter o costume de celebrar com freqüência a Ceia, segundo a capacidade do povo. E cada um em particular deve preparar-se para recebê-la cada vez que é administrada na congregação, a menos que algum grande impedimento o obrigue a abster-se.” (J. Calvino, Breve Tratado Sobre La Santa Cena: In: Tratados Breves, p. 26-27)

[632] Cf. William D. Maxwell, El Culto Cristiano: sua evolución y sus formas, p. 136.

[633] L. Berkhof, Teologia Sistemática, p. 623.

[634]Mark A. Noll, Momentos Decisivos na História do Cristianismo, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2000, p. 206.

[635] Vd. Hughes Oliphant Old, Worship: That Is Reformed According to Scripture, p. 52-53.

[636] Platão, cita uma frase do famoso mestre de música ateniense do 5° séc. a.C., Dâmon: “... Nunca se abalam os gêneros musicais sem abalar as mais altas leis da cidade....” (Platão, A República, 7ª ed. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, [1993], 401d. p. 133). Platão sustenta que o ritmo e a harmonia devem se adaptar à palavra (Platão, A República, 400d. p. 131) e que “a educação pela música é capital, porque o ritmo e a harmonia penetram mais fundo na alma e afetam-na mais fortemente, trazendo consigo a perfeição, e tornando aquela perfeita....” (Platão, A República, 401d. p. 133).

[637] João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (14.7), p. 414. Vd. por exemplo: Platão, A República, 424b e ss. p. 168-170.

[638]João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (13.6), p. 269.

[639]João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (40.3), p, 217.

[640]Cf. D.P. Hustad, Jubilate! A Música na Igreja, p. 119; W. Stanford Reid, El Culto Reformado: In: R. G. Turnbull, ed. ger. Diccionario de la Teología Práctica, p. 41-42.

[641] Apud Hughes Oliphant Old, Worship: That Is Reformed According to Scripture, p. 51-52.

[642] Vd. As Institutas, III.20.31-32

[643]Cf. John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 337 seguindo aqui as conclusões de Doumergue. Contraste esta informação com o próprio conceito de Calvino, Institutas, III.20.32.

[644] John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 299.

[645]Ver: John Calvin, Calvin's Commentaries, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), Vol. I, (Gn 4.20), p. 217-218; Vicente Temudo Lessa, Calvino 1509-1564: Sua Vida e Obra, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, [s.d.], p. 118.

[646] W. Stanford Reid, El Culto Reformado: In: R. G. Turnbull, ed. ger. Diccionario de la Teología Práctica, p. 42. Lembremo-nos de que a música estava subordinada à Palavra e que o órgão era usado no século XVI com “propósitos não litúrgicos.” (John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 336).

[647]W. Stanford Reid, El Culto Reformado: In: R. G. Turnbull, ed. ger. Diccionario de la Teología Práctica, p. 42-43; D.P. Hustad, Jubilate! A Música na Igreja, p. 119; Charles W. Baird, A Liturgia Reformada: Ensaio histórico, São Paulo, SOCEP., 2001, p. 23.

[648]W. Stanford Reid, El Culto Reformado: In: R. G. Turnbull, ed. ger. Diccionario de la Teología Práctica, p. 43. Há evidências de que na Igreja Primitiva, só poderia recitar esta oração liturgicamente o membro comungante da Igreja. (Vd. J. Jeremias, Pai-Nosso: A Oração do Senhor, São Paulo, Paulinas, 1976, p. 5-6,10). O costume de utilizar o Credo Apostólico liturgicamente nas igrejas era bem antigo: a) Batismo: Os fiéis declaravam (no caso de serem adultos)[Vd. Hipólito de Roma, Tradição Apostólica, Petrópolis, RJ., Vozes, 1981, § § 21,44], responsivamente a sua fé na ocasião do batismo. [Vd. Hipólito de Roma, A Tradição Apostólica, § 46ss, p. 51-53; Didaquê, São Paulo, Imprensa Metodista, 1957, VII.1. p. 70; Agostinho, Confissões, São Paulo, Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. VI), 1973, VIII.2. p. 152-154] (Vd. At 8.37; Rm 10.9). b) Santa Ceia: Na Eucaristia a Igreja declarava a sua fé através de hinos, orações e exclamações devocionais. (Vd. 1Co 12.3; 16.22; Fp 2.5-11). c) Culto: Ao que parece, a partir do quarto século, os credos passaram a ser usados nos cultos regulares, sendo recitados após a leitura das Escrituras.

[649] Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 371.

[650]W. Stanford Reid, El Culto Reformado: In: R. G. Turnbull, ed. ger. Diccionario de la Teología Práctica, p. 43.

[651] John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 336.

[652] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, p. 34.

[653] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, p. 35-36. Bonhoeffer (1906-1945) apreciando o Livro de Salmos, diz: “Devemos ler vários Salmos diariamente e, de preferência, em conjunto, a fim de lermos este livro diversas vezes ao ano, penetrando nele com mais profundidade. (...) Ao esquecer-se do Saltério, a cristandade perde um tesouro inigualável. Ao recuperá-lo, será presenteada com forças jamais imaginadas.” (Dietrich Bonhoeffer, Orando com os Salmos, Curitiba, PR., Encontrão Editora, 1995, p. 23,24). Agostinho (354-430), também já demonstrara o quanto a leitura dos Salmos foi importante em sua vida. (Vd. Agostinho, Confissões, São Paulo, Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. VI), 1973, IX.4.8. p. 175).

[654]João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, p. 33.

[655] John Calvin, Commentary of the Book of Psalms, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House (Calvin’s Commentaries, Vol. IV), 1996 (Reprinted), Prefácio, p. XXXV. (Tradução brasileira, João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, p. 31).

[656] Agostinho, Confissões, X.33. p. 219-220.

[657] Agostinho, Confissões, X.33. p. 220.

[658] J. Calvino, As Institutas, III.20.31.

[659] Calvino, As Institutas, III.20.32.

[660] John Calvin, Opera Calvini, Volume VI, p. 167. Apud André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 577.

[661] John Calvin, Opera Calvini, Volume VI, p. 167. Apud André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 578.

[662] Cf. John T. McNeill, The History and Character of Calvinism, p. 148; Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 374.

[663]Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 374; André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 133.

[664] Cf. Frank Dobbins, Loys Bourgeois: In: Stanley Sadie, ed. The New Grove Dictionary of Music and Musicians, New York, Macmillan Publishers, 1980, Vol. III, p. 111. A tradução de Marot tornou-se extremamente popular na corte e na cidade, advogando “materialmente” a causa da Reforma na França (Cf. F.J.B. Watson, Clément Marot: In: Harry S. Ashmore, Editor in Chief. Encyclopaedia Britannica, Chicago, Encyclopaedia Britannica, INC. 1962, Vol. 14, p. 936), ainda que ele não fosse propriamente Reformado, tendo um comportamento ambíguo (Vd. Edward Dickinson, Music in The History of The Western Church, London, Smith, Elder & Co., 1902, p. 359-360).

[665]Edward Dickinson, Music in The History of The Western Church, p. 360; Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 374; Charles W. Baird, A Liturgia Reformada: Ensaio histórico, p. 26.

[666] John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 299. Também, p. 40.

[667] Cf. John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 299. Ele também se tornou um grande sucesso editorial, sendo publicadas 25 edições já no primeiro ano de sua edição. Nos quatro anos seguintes foram publicadas 62 edições. (Vd. mais detalhes In: John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 336). Curiosamente, Schaff diz que o “Saltério de Genebra” nunca se tornou popular. (Vd. Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 265-266). Talvez Schaff possa estar se referindo ao possível fato do “Saltério Genebrino”, mesmo tendo sido traduzido para vários idiomas, jamais ter usufruído maciçamente do gosto popular, o que de fato não é impossível, tendo acontecido fatos semelhantes em nossa própria igreja no Brasil.

[668] Apud John T. McNeill, The History and Character of Calvinism, p. 148.

[669]John Calvin, Calvin's Commentaries, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), Vol. I, (Gn 4.20), p. 218.

[670] Apud T. George, Teologia dos Reformadores, p. 181. Vd. também: John T. McNeill, The History and Character of Calvinism, p. 147; Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 373.

[671]Lutero foi o criador do primeiro hinário alemão (1524), e, depois, também elaborou o Hinário de Wittenberg (1529). Ele pode ser considerado o fundador da hinologia alemã e o grande difusor da música na Igreja. Lutero compôs 36 hinos e várias melodias, as quais adaptou aos hinos.

[672] Presbiterianos escoceses que lutaram contra o estabelecimento do sistema episcopal de governo na Igreja da Escócia. Sustentavam a manutenção do presbiterianismo, conforme fora acordado pelos Parlamentos da Escócia e Inglaterra, respectivamente em 1638 e 1649.

[673] Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 374.

[674] John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 301.

[675]John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 299. Foi o próprio Calvino quem adaptou a melodia de um dos corais de Mathias Greiter – organista de Estrasburgo – ao Salmo 68. (Cf. Henriqueta R.F. Braga, Contribuição da Reforma ao Desenvolvimento Musical: In: Bill H. Ichter, org. A Música Sacra e Sua História, Rio de Janeiro, JUERP., 1976, p. 77). O hino de Lutero baseado no Salmo 46, foi chamado por H. Heine (1797-1856) de “Marselhesa da Reforma”. [Cf. W.J.R.T., Hymnology: In: Rev. John McClintock & James Strong, eds. Cyclopedia of Biblical, Theological and Ecclesiastical Literature, [CD-ROM], (Rio, WI., Ages Software, 2000), Vol. 4, p. 130].

[676]A expressão usada por Cristo em Mt 6.7, Battaloge/w, que só ocorre aqui, parece ser onomatopéica, significando “falar sem sentido”, “balbuciar”, “repetir palavras ou sons inarticulados”, “falar sem pensar”, “falar futilmente”, “gaguejar”, “dizer sempre a mesma coisa”, “tagarelar”, “uma repetição supérflua e exagerada”, “repetir uma fórmula muitas vezes”, [J. Calvin, Commentary on a Harmony of the Evangelists, Mattew, Mark, and Luke, Grand Rapids, Michigan, Baker, (Calvin’s Commentaries, Vol. XVI), 1981, Vol. I, p. 313], etc. Tyndale traduz: “Tagareleis demais”; Knox: “Useis muitas frases”; Velha Versão Siríaca: “Não digais coisas ociosas”.

O verbo Battaloge/w é constituída de (Ba/ttoj = “gago” & loge/w = “falar”). Ele é de derivação incerta; Erasmo (1467-1536), por exemplo, entendia que esta expressão era proveniente de “Bato”, personagem descrito por Heródoto: “Chegando a Teras, Polineto, homem de alta posição, tomou a jovem como concubina, e o casal teve, no fim de certo tempo, um filho que gaguejava e sibilava. Essa criança, segundo os Tereus e Cireneus, recebeu o nome de Bato” (Heródoto, História, IV.155. Vd. Ba/ttoj: In: A Lexicon Abridged from Liddell and Scott’s Greek-English Lexicon, London, Clarendon Press, 1935, p. 128b). No entanto, Heródoto, que discorda desta explicação para o nome do menino, diz que “batus significa rei na língua dos Líbios.” (Heródoto, História, IV.155). Também especula-se que esta expressão viria por derivação de um poeta medíocre, Battus, que teria feito hinos extensos, cheios de repetições (Vd. A.B. Bruce, The Gospel According to Matthew: In: W. Robertson Nicoll, ed. The Expositor’s Greek Testament, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1983 (Reprinted), Vol. I, p. 118-119; John R.W. Stott, A Mensagem do Sermão da Montanha, 3ª ed. São Paulo, ABU., 1985, p. 146). O fato é que ninguém consegue precisar a origem da palavra. [Para maiores detalhes, vejam-se: G. Delling, Battaloge/w, In: G. Kittel & G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1981, (Reprinted), Vol. I, p. 597; Battologe/w: In: James Hope Moulton & George Mulligan, The Vocabulary of the Greek New Testament, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1982 (reprinted), p. 107; H. Balz, Battaloge/w, In: Horst Balz & Gerhard Schneider, eds. Exegetical Dictionary of New Testament, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1978-1980, Vol. I, p. 209; Battaloge/w: In: Walter Bauer, A Greek-English Lexicon of the New Testament, 5ª ed. Chicago, The Chicago Press, 1958, p. 137]. Para maiores detalhes, Vd. Hermisten M.P. Costa, Pai Nosso: A Oração do Senhor, São Paulo, 1999, p. 19ss.

[677]Calvino comenta: “... É fora de propósito e um absurdo que alguém fale numa assembléia da Igreja sem que os ouvintes entendam sequer uma palavra do que ele diz. (...) Não importa quão refinada uma língua venha ser, mesmo assim uma pessoa será descrita como ‘bárbara’ se ninguém a pode entender!” [J. Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 14.11), p. 415].

[678] J. Calvino, As Institutas, III.20.33. A Segunda Confissão Helvética (1562-1566), tendo em vista o ensinamento bíblico, nos capítulos XXII e XXIII, exorta:

"Calem-se, pois, todas as línguas estranhas nas reuniões de culto, e sejam, todas as coisas expressas na língua do povo, compreendida por todas as pessoas presentes.

"Certo é que se permite a quem quer que seja orar em particular em qualquer língua que entenda, mas as orações públicas nas reuniões do culto devem ser feitas em vernáculo, a língua conhecida do povo."

O Diretório de Culto de Westminster (1645), falando sobre a leitura dos livros da Bíblia no culto, prescreve: “serão lidos publicamente na língua do povo, na melhor tradução permitida, distintamente, para que todos possam ouvir e entender” (O Diretório de Culto de Westminster, p. 29).

[679] John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 303. Vd. Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 371. Lutero (1483-1546) enfatizou que, “nem trabalho em pedra, nem boa construção, nem ouro, nem prata tornam uma igreja formosa e santa, mas a Palavra de Deus e a sã pregação. Pois onde é recomendada a bondade de Deus e revelada aos homens, e almas são encorajadas para que possam depender de Deus e chamar pelo Senhor em tempos de perigo, aí está verdadeiramente uma santa igreja.” [Jaroslav Pelikan, ed. Luther’s Works, Saint Louis, Concordia Publishing House, 1960, Vol. II, (Gn 13.4), p. 332]. O eminente teólogo puritano John Owen (1616-1683) em um sermão, disse: “Quão pouco pensam os homens sobre Deus e seus caminhos, se imaginarem que um pouco de tinta e de verniz fazem uma beleza aceitável!” (John Owen, Sermon IV. In: The Works of John Owen, Carlisle, Pennsylvania, The Banner of Truth Trust, 1982, Vol. IX, p. 78). Vd. João Calvino, As Institutas, Carta ao Rei Francisco I, p. 28.

[680] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 40.6), p. 225.

[681] "O culto cristão contemporâneo é motivado e julgado por padrões diversos: seu valor de entretenimento, seu suposto apelo evangélico, sua fascinação estética, até mesmo, talvez, seu rendimento econômico. A herança litúrgica da Reforma nos recorda a convicção de que, acima de tudo, o culto deve servir para o louvor do Deus vivo." (Tymothy George, Teologia dos Reformadores, p. 317).

[682]John F. MacArthur Jr., Com Vergonha do Evangelho, São José dos Campos, SP., Fiel, 1997, p. 117-118.

[683]John F. MacArthur Jr., Com Vergonha do Evangelho, p. 130.

[684]Vd. também: Catecismo Maior de Westminster, Perg. 109 e Catecismo de Heidelberg, Perg. 96. Hodge comentando o Capítulo XXI.1 da Confissão de Westminster, diz: “Por isso, necessariamente segue-se: visto que Deus prescreveu o modo como devemos aceitavelmente adorá-lo e servi-lo, é uma ofensa e um pecado contra ele que negligenciemos seu método ou, em preferência, pratiquemos o nosso próprio. (...) Como demonstramos anteriormente à luz da Escritura, não só todo o ensino humano em termos de doutrinas e de mandamentos, mas também toda forma de culto próprio, de atos e formas de culto estabelecidos pelo homem, são abomináveis para Deus. (...) Não temos, em nenhuma circunstância, qualquer direito, com base nos gostos, na moda [fashion] ou conveniência, de ir além da clara autoridade da Escritura.” [Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Comentada por A.A. Hodge, São Paulo, Editora Os Puritanos, 1999, Cap. XXI, p. 369].

[685] Vd. J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, São Paulo, Mundo Cristão, 1980, p. 37; Paulo Anglada, O Princípio Regulador do Culto, São Paulo, PES., (1998), p. 28ss.

[686]Comentado Rm 5.19, Calvino diz: “Só quando seguimos o que Deus nos ordenou é que verdadeiramente o adoramos e rendemos obediência à sua Palavra.” [J. Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 5.19), p. 198]. Em outro lugar: “... Quando os homens se permitem cultuar a Deus conforme suas próprias fantasias, e não observam os Seus mandamentos, pervertem a verdadeira religião.” [John Calvin, Commentaries on the Prophet Jeremiah, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, (Calvin’s Commentaries, Vol. IX), 1996 (reprinted), (Jr 7.31), p. 414]. “É evidente, à luz desse fato, que os homens cultuarão a Deus inutilmente, se porventura não observarem o modo correto; e que todas as religiões que não contêm o genuíno conhecimento de Deus são não só fúteis, mas também perniciosas, visto que todas aquelas que não sabem distinguir Deus dos ídolos estão sendo impedidas de se aproximarem dele. Não pode haver religião alguma onde não reine a verdade. Se um genuíno conhecimento de Deus habita os nossos corações, seguir-se-á inevitavelmente que seremos conduzidos a reverenciá-lo e a temê-lo. Não é possível ter genuíno conhecimento de Deus exceto pelo prisma de sua majestade. É desse fator que nasce o desejo de servi-lo, e daqui sucede que toda a vida é direcionada para ele como seu supremo alvo.” [João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 11.6), p. 305-306].

[687] J. Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 12.1), p. 424-425. Para Calvino, a racionalidade legítima, consistia em submeter o nosso intelecto a Deus: “Quanto tem avançado aquele homem que tem aprendido a não pertencer-se a si mesmo, nem a ser governado por sua própria razão, senão que submete a sua mente a Deus! (...) O serviço do Senhor não só implica uma autêntica obediência, senão também a vontade de pôr aparte seus desejos pecaminosos e submeter-se completamente à direção do Espírito Santo.” (John Calvin, Golden Booklet of the True Christian Life, p. 21). A Confissão Belga (1561), após dizer o que entende por Escritura – os 66 livros Canônicos –, acrescenta: “Cremos, que esta Sagrada Escritura contém de um modo completo a vontade de Deus, e que tudo o que o homem está obrigado a crer para ser salvo se ensina suficientemente nela. Pois, já que toda forma de culto que Deus exige de nós ali está extensamente descrita, assim não é permitido aos homens, ainda que sejam Apóstolos, ensinar de outra maneira que como agora se nos ensina pela Sagrada Escritura. (...) Sua doutrina é perfeitíssima e completa em todas suas formas.” (Art. 7).

Anglada, observa com pertinência, que “A história das religiões demonstra que quando o próprio homem se arroga o direito de conceber formas de adoração a Deus, os maiores absurdos podem acontecer. Prostitutas cultuais, luxúria, sacrifícios humanos, auto-flagelação, adoração da própria natureza, culto a demônios e a espíritos imundos, são alguns exemplos.” [Paulo Anglada, O Princípio Regulador do Culto, p. 7-8].

[688]João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 8.5), p. 208.

[689] João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 29.

[690] J. Calvino, As Institutas, I.5.13. “Portanto, uma vez que, de seguir-se na adoração de Deus, nimiamente fraco e frágil vínculo da piedade seja ou a praxe da cidade, ou o consenso da antigüidade, resta que o próprio Deus dê do céu testemunho de Si.” (J. Calvino, As Institutas, I.5.13).

[691] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 50.5), p. 403.

[692] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 50.23), p. 420. Horton esá correto ao dizer: “É Deus, e não os de fora da igreja, que nos dá o modelo de culto.” (Michael S. Horton, O Cristão e a Cultura, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1998, p. 82).

[693] João Calvino, As Institutas, II.8.17. Do mesmo modo, ver também: J. Calvino, As Institutas, II.8.16; Breve Catecismo, Pergs. 49-52; Catecismo Maior, Pergs. 108-110; Confissão Belga, 7; Confissão de Westminster, 21.1.

[694] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 50.1-2), p. 398.

[695] John Calvin, Commentaries of the Four Last Books of Moses, Vol. 1, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, (Calvin’s Commentaries, Vol. II), 1996 (Reprinted), (Dt 12.32), p.453.

[696]João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 1.2), p. 53.

[697]João Calvino, As Institutas, I.17.5.

[698]João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 9.18), p. 238.

[699] Vd. J. Calvino, As Institutas, II.8.16. “Depois de Deus nos conceder gratuitamente todas as coisas, ele nada requer em troca senão uma grata lembrança de seus benefícios.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 6.5), p. 129].

[700] “O culto reflete a teologia eclesiológica e deve marcar a fronteira entre o mundano concupiscente e o sagrado espiritualizado.” [Onezio Figueiredo, Culto (Opúsculo II), p. 25].

[701] A Igreja Presbiteriana Ortodoxa e o Culto, tradução de Sonedi H. Evangelista, p. 8a.

[702] Como sabemos, a palavra “Escolasticismo” fora empregada de forma depreciativa pelos humanistas para designar a filosofia medieval. A palavra “escolástica”, provém do grego “sxolastiko/j” [desocupado, vagaroso, dedicar todo o tempo ao aprendizado] que é derivado de “sxola/zw” [estar ocioso, consagrar o seu descanso a, ser discípulo, etc.] e “sxolh/” [descanso, repouso, estudo]. Quanto à palavra, como já fizemos menção algures, podemos observar o seguinte: Na Idade Média, há de certa forma, um retorno à idéia grega, considerando o trabalho – no sentido manual, (banausi/a), "arte mecânica", como sendo algo degradante para o ser humano [banausi/a, está associada à “vida e hábitos de um mecânico”; metaforicamente é aplicada a “mau gosto” e “vulgaridade”. (Vd. Liddell & Scott, Greek-English Lexicon, Oxford, Clarendon Press, 1935, p. 128b] , e inferior à (sxolh/), ao ócio, descanso, repouso, à vida contemplativa e ociosa (sxola/zw), por um lado, e à atividade militar pelo outro. Na visão de São Tomás de Aquino (1225-1274), o trabalho era no máximo, considerado "eticamente neutro". (Vd. Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, São Paulo, Pioneira, 1967, p. 52ss.). Segundo a Igreja Católica, "a finalidade do trabalho não é enriquecer, mas conservar-se na condição em que cada um nasceu, até que desta vida mortal, passe à vida eterna. A renúncia do monge é o ideal a que toda a sociedade deve aspirar. Procurar riqueza é cair no pecado da avareza. A pobreza é de origem divina e de ordem providencial," interpreta Pirenne. (H. Pirenne, História Econômica e Social da Idade Média, 6ª ed. São Paulo, Mestre Jou, 1982, p. 19).

Ainda na Idade Média, a posição ocupada pelo trabalho era regida pela divisão gradativa de importância social: Oradores (eclesiásticos), Defensores (guerreiros) e Lavradores (agricultores). Desta forma, os eclesiásticos, no seu ócio e abstrações "teológicas" é que tinham a prioridade, ocupando um lugar proeminente.

“Escolástica” como “filosofia cristã da Idade Média” (Escolástica: In: N. Abbagnano, Dicionário de Filosofia, 2ª ed. São Paulo, Mestre Jou, 1982, p. 326a) era empregada na Idade Média para se referir à “filosofia da escola”, a qual se esmera por sua precisão. O seu maior representante é indiscutivelmente S. Tomás de Aquino (1225-1274). O pensamento escolástico, com suas variáveis, permaneceu do século IX até o XV-XVI. O termo “Escolástica” , é usado por derivação para “toda filosofia que assuma a tarefa de ilustrar e defender racionalmente uma determinada tradição ou revelação religiosa.” (N. Abbagnano, Ibidem., p. 326b). Por outro lado, a palavra as vezes é empregada de forma pejorativa. No caso da designação “Escolasticismo Protestante”, creio ser este o espírito. No entanto, devemos estar sempre atentos ao sentido real de precisão, coerência e consistência que o adjetivo envolve. (Vd. John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, São Paulo, Pendão Real, 1997, p. 172-173). Lalande comenta: “No sentido pejorativo, diz-se quer daquilo que apresenta um caráter exagerado de formalismo (excesso de divisões, de distinções, de raciocínio in verbis); quer do que manifesta um ar de espírito escolar, uma tendência para se fechar em teses ou questões tradicionais formuladas de uma vez por todas, em vez de se renovar pelo contato imediato da observação e da vida.” (Escolástica: André Lalande, Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia, São Paulo, Martins Fontes, 1993, p. 318). (Vd. Alister E. McGrath, Reformation Thought: An Introduction, 2ª ed. Cambridge, Massachusetts, Blackwell Publishers, 1993, p. 67ss).

[703]Clouse diz que Dort consistiu na principal afirmação do Escolasticismo Reformado. (Roberto G. Clouse, Escolasticismo: In: DHL., p. 401b. Sobre o Sínodo de Dort, Vd. Hermisten M.P. Costa, A Igreja Presbiteriana e os Símbolos de Fé, p. 23-24.

[704] Dr. Thomas, Turretin: In: RED., III, p. 2408; Turretini: In: CBTEL., X, p. 599a.

[705] Cf. James T. Dennison, Jr., The Life and Career of Francis Turretin: In: F. Turretin, Institutes of Elenctic Theology, Phillipsburg, New Jersey, Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1997, Vol. III, p. 641.

[706] A Confissão Francesa ou Gaulesa que não é muito conhecida e difundida em nosso meio, exerceu grande influência doutrinária sobre outras Confissões Reformadas. Ela foi escrita por Calvino (1509-1564) e seu discípulo Antoine de la Roche Chandieu (De Chandieu) (1534-1591), provavelmente com a ajuda de T. Beza (1519-1605) e Pierre Viret (1511-1571). Inicialmente tinha 35 capítulos. No Sínodo Geral de Paris (26-28/05/1559), que congregou representantes de mais de 60 igrejas, das mais de 100 que existiam na França – reunido secretamente –, tendo como moderador Fraçois de Morel, esta Confissão foi revista e ampliada em mais cinco capítulos (Cf. Philip Schaff, The Creeds of Christendom, 6ª ed. (Revised and Enlarged), Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, (1931), Vol. I, p. 494; III, p. 356. (Doravante citado como COC); K. S. Latourette, História del Cristianismo, 4ª ed. Buenos Aires Casa Bautista de Publicaciones, 1978, Vol. II, p. 117; Earle E. Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, p. 257; W. Walker, História da Igreja Cristã, Vol. II, p. 111; Pierre Courthial, A Idade de Ouro do Calvinismo na França: (1533-1633): In: CSIMO., p. 93), tendo um prefácio dedicado ao rei Francisco II (1560) e posteriormente, também foi apresentada por Beza a Carlos IX (1561) (Cf. P. Schaff, COC., I, p. 494-495; COC., III, p. 356; N.V. Hope, Confissão Gaulesa: In: EHTIC., I, p. 332.). Calcula-se que à época, a França já possuía 400 mil protestantes (Cf. W. Walker, História da Igreja Cristã, II, p. 111) ou, um sexto da população (Cf. E.E. Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, p. 257), existindo em fins de 1561, mais de 670 igrejas calvinistas erigidas em território francês (Cf. Jean Delumeau, Nascimento e Afirmação da Reforma, São Paulo, Pioneira, 1989, p. 149-150).

Em 1571, tendo como moderador T. Beza (1519-1605), realizou-se o Sétimo Sínodo Nacional de La Rochelle. À ocasião, estavam presentes: a Rainha de Navarra, seu filho Henrique IV (1553-1610) e o Almirante Coligny (1519-1572), morto durante "O massacre da São Bartolomeu", 23-24/08/1572.(Vd. W.S. Reid, Coligny: In: J.D. Douglas & Philip W. Comfort, eds. Who's Who in Christian History, Wheaton, Illinois, Tyndale House Publishers, Inc., 1992, p. 170. (Doravante citado como WW); G. Bromiley, Beza: In: WW., p. 83; P. Schaff, COC., I, p. 495; Pierre Courthial, Pierre Courthial, A Idade de Ouro do Calvinismo na França: (1533-1633): In: CSIMO., p. 97). Nesse Sínodo, a Confissão foi revisada, reafirmada e solenemente sancionada por Henrique IV, passando, desde então a ser também chamada de "Confissão de Rochelle". (Vd. N.V. Hope, Confissão Gaulesa: In: EHTIC., I, p. 332; P. Schaff, COC., III, p. 356). A Confissão Gaulesa influenciou profundamente a Confissão Belga (1561) e a Confissão dos Valdenses (1655).

[707]O Vigésimo Quarto Sínodo Nacional da França, realizado em Charenton (Set/1623), reafirmou este procedimento Vd. Jean Delumeau, Nascimento e Afirmação da Reforma, p. 226, 229; Philip Schaff, COC., Vol. I, p. 478; Turretini: In: EB., XXII, p. 630; Turretini: In: CBTEL., X, p. 599a.

[708]O seu avô, Francesco, era um protestante italiano que por questões religiosas (Inquisição) emigrou de Lucca para a Suíça em 1579. (Cf. Turretini: In: CBTEL., X, p. 599a).

[709]Turretini estudou na Academia de Genebra, tendo como principais mestres Giovanni Diodati (1576-1649), teólogo genebrino, também de ascendência italiana, que lecionara hebraico na Academia de Genebra (1597), vindo a ocupar a cadeira de Teologia (1609-1645), que fora de Calvino e Beza. Diodati foi delegado de Genebra em Dort. Outro mestre de Turretini, foi Theodore Tronchin (1582-1657), teólogo genebrino, casado com a filha adotiva de Beza, sendo professor de Hebraico na Academia de Genebra (1606) e posteriormente de Teologia (1618). Ele juntamente com Diodati, foi delegado de Genebra no Sínodo de Dort: Somente os dois foram enviados como delegados.

Após seus estudos básicos (1644), Turretini viajou pela Europa, estudando em Leyden, Utrecht, Paris – onde além de teologia, estudou física e astronomia com Pierre Gassendi (1592-1655), então professor de Matemática no Colégio Real de Paris -, Saumur, Montauban e Nîmes.

Turretini também foi influenciado pelo teólogo reformado, Friedrich Spanheim (1600-1648), que estudara em Heidelberg e Genebra, lecionando teologia em Genebra (1631) e Leyden (1648). Assim como Turretini, Spanheim, que era um profícuo escritor, escreveu obras combatendo os ensinamentos de Moisés Amyraut (1596-1664). Em janeiro de 1653, Turretini foi indicado sucessor de Spanheim na cadeira de Teologia na Academia. Seu discurso inaugural foi baseado em Hb 1.1. Mais tarde em dois períodos seria Reitor da Academia: 1654-1657 e 1668-1670. (Vd. Jack B. Rogers & Donald K. McKim, The Authority and Interpretation of the Bible: An Historical Approach, San Francisco, Harper & Row, Publishers, 1979, p. 172-173; Diodati: In: RED., I, p. 640; Spanheim: In: RED., III, 2222; Tronchin: In: RED., III, p. 2397-2398; R.J. Vandermolen, Turretin: In: EHTIC., III, p. 580-581; James T. Dennison, Jr., The Life and Career of Francis Turretin: In: F. Turretin, Institutes of Elenctic Theology, Phillipsburg, New Jersey, Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1997, Vol. III, p. 648ss.).

[710]John T. McNeill, The History and Character of Calvinism, p. 406.

[711] Vol. I (1679); Vol. II (1682); Vol. III (1685).

[712]Francisco Turrettino, Institutio Theologiae Elencticae, Edinburgh, John D. Lowe, 1847-1848. Esta edição foi patrocinada pelo eminente teólogo inglês William Cunningham (1805-1861), professor do New College de Edimburgo desde 1843 e reitor a partir de 1848. (Vd. W.G. Blaikie, Cunningham, William: In: RED., I, p. 585; James T. Dennison, Jr., The Life and Career of Francis Turretin: In: F. Turretin, Institutes of Elenctic Theology, Phillipsburg, New Jersey, Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1997, Vol. III, p. 648).

[713] John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 184.

[714] Vd. Jack B. Rogers & Donald K. McKim, The Authority and Interpretation of the Bible: An Historical Approach, p. 173ss.

[715] Donald G. Grohman, Turretin: In: Donald K. McKim, ed. Encyclopaedia of the Reformed Faith, Louisville, Kentucky, Westminster/John Knox Press, 1992, p. 378. É “uma das expressões mais plenas do escolasticismo calvinista.” (R.J. Vandermolen, Turretin: EHTIC., III, p. 580). (Vd. John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 184-185).

[716]Discípulos de James Arminius (1560-1609), antigo aluno de Theodore de Beza (1519-1605), sucessor de Calvino em Genebra.

[717] J.I. Packer, O “Antigo” Evangelho, São Paulo, Fiel, 1986, p. 6.

[718] Sobre Dort, Vd. P. Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. I, p. 508-517; M.E. Osterhaven, Dort, Sínodo de: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, I, p. 503-504. Os Cânones de Dort foram traduzidos recentemente (Os Cânones de Dort, São Paulo, CEP., 1995).

[719]Vd. P. Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. I, p. 753; Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, São Paulo, Editora os Puritanos, 1999, p. 44; Guilherme Kerr, A Assembléia de Westminster, São Paulo, E.F. Beda – Editor, 1984, p. 18.

[720] Cf. Douglas F. Kelly, The Westminster Shorter Catechism: In: John L. Carson & David W. Hall, eds. To Glory and Enjoy God: A Commemoration of the 350th Anniversary of the Westminster Assembly, Carlisle, Pennsylvania, The Banner of Truth Trust, 1994, p. 107; Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, São Paulo, Editora os Puritanos, 1999, p. 43.

[721]Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, São Paulo, Editora os Puritanos, 1999, p. 41.

[722]Cf. G. Kerr, A Assembléia de Westminster, p. 12. Os que tomaram assento, foram: Ministros: Alexander Henderson, George Gillespie, Samuel Rutherford e Robert Baillie. Presbíteros: Lord John Maitland e Sir Archibald Johnston. (Cf. Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, p. 42).

[723]R. T. Kendall, A Modificação Puritana da Teologia de Calvino: In: W. Stanford Reid, ed. Calvino e sua Influência no Mundo Ocidental, p. 264.

[724]Cf. Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, p. 42.

[725]Cf. P. Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. I, p. 759 e 784.

[726]Vd. P. Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. I, p. 727ss.; D.F. Wright, Catecismos: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, I, p. 251-252; J.M. Frame, Confissão de Fé de Westminster: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, I, p. 331-332; J.M. Frame, Catecismos de Westminster: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, I, p. 252; G. Kerr, A Assembléia de Westminster, 31p.; A.A. Hodge, Esboços de Theologia, 111-112.

[727]”... Muitos colocam todo o peso nas controvérsias, julgando que o assunto já está resolvido quando sabemos responder aos erros dos papistas, dos reformados, dos anabatistas, entre outros.” (Ph. J. Spener, Mudança para o Futuro: Pia Desideria, p. 41).

[728]“O pietismo em suas melhores expressões era uma reação de fé viva contra uma ortodoxia morta e rígida.” (Hugh R. Mackintosh, Corrientes Teológicas Contemporáneas: De Schleiermacher a Barth, Buenos Aires, Methopress Editorial, 1964, p. 22).

[729]Ph. J. Spener, Mudança para o Futuro: Pia Desideria, p. 44 e 50. Vd. Também, p. 111-112.

[730] Harvie M. Conn, Teologia Contemporanea en el Mundo, Grand Rapids. Michigan, Subcomisión Literatura Cristiana de la Iglesia Cristiana Reformada, (s.d.), p. 110.

[731]Vd. Ph. J. Spener, Mudança para o Futuro: Pia Desideria, p. 118.

[732]Vd. Ph. J. Spener, Mudança para o Futuro: Pia Desideria, p. 82ss.

[733]A data de 1716 é indicada por K.S. Latourette, Historia Del Cristianismo, II, p. 336 e C. Gregg Singer, Os Irlandeses-escoceses na América: In: W. Stanford Reid, editor. Calvino e Sua Influência no Mundo Ocidental, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 335. Por outro lado, W.P. Strickland, Tennent: In: John M’Clintock & James Strong, eds. Cyclopaedia of Biblical, Theological, and Eclesiastical Literature, Vol. X, p. 276; Tennent: In: Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Practical Theology, Vol. III, p. 2316; C. Mitchell, Gilbert Tennent: In: J.D. Douglas & Philip W. Comfort, eds., Who’s Who in Christian History, Tyndale House Publishers, Inc. Wheaton, Illinois, 1992, p. 662 presentam a data de 1718.

[734]Cf. Milton J. Coalter Jr., William Tennent: In: Donald K. McKim, ed. Encyclopedia of the Reformed Faith, Louisville, Kentucky, Westminster/John Knox Press, 1992, p. 362.

[735]O Rev. W. Tennent (1673-1745), provavelmente se formou no Trinity College, Dublin e na Universidade de Edimburgo (1695), tendo formação presbiteriana. Contudo, tornou-se, ministro da Igreja Anglicana. Foi ordenado Diácono em 01/7/1704 e Sacerdote em 22/09/1706. (Vd. Tennent: In: Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Practical Theology, Vol. III, p. 2316; Leonard J. Trinterud, Tennent, William: In: Harry S. Ashmore, Editor in Chief. Encyclopaedia Britannica, Chicago, Encyclopaedia Britannica, INC. 1962, Vol. 21, p. 931; N.V. Hope, William Tennent: In: J.D. Douglas & Philip W. Comfort, eds., Who’s Who in Christian History, p. 663).

[736] O próprio George Whitefield (1714-1770), amigo de William e de Gilbert Tennent, visitou o “Log College” em 1739. (Cf. W.P. Strickland, Tennent: In: John M’Clintock & James Strong, eds. Cyclopaedia of Biblical, Theological, and Eclesiastical Literature, Vol. X, p. 276).

[737]Cf. C. Gregg Singer, Os Irlandeses-escoceses na América: In: W. Stanford Reid, editor. Calvino e Sua Influência no Mundo Ocidental, p. 346.

[738]C. Mitchell, Gilbert Tennent: In: J.D. Douglas & Philip W. Comfort, eds., Who’s Who in Christian History, p. 663 e W.P. Strickland, Tennent: In: John M’Clintock & James Strong, eds. Cyclopaedia of Biblical, Theological, and Eclesiastical Literature, Vol. X, p. 275, apresentam a data de 1725 e, Tennent: In: Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Practical Theology, Vol. III, p. 2316, oferece a data de 1726. Ambos, contudo, concordam com o mês de maio. A data de 1725 parece-me equivocada devido ao fato do "Log College" só ter sido criado em 1726.

[739]Vd. C. Gregg Singer, Os Irlandeses-escoceses na América: In: W. Stanford Reid, editor. Calvino e Sua Influência no Mundo Ocidental, p. 335-336.

[740]“.... quando Whitefield fez uma campanha evangelística nas colônias (1739-1741), em dois anos mais de trinta mil pessoas foram ganhas, ou seja, 10% da população americana da época.” (Frans L. Schalkwijk, Aprendendo da História dos Avivamentos: In: Fides Reformata, 2/2 (1997), p. 64).

[741]Vd. A.A. Hodge, Princeton: In: Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Practical Theology, Vol. III, p. 1928.

[742]Cf. Samuel Davis: In: Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Practical Theology, Vol. I, p. 612-613; A.A. Hodge, Princeton: In: Philip Schaff, ed. Ibidem., Vol. III, p. 1928; Tennent: In: Philip Schaff, ed. Ibidem., Vol. III, p. 2316; C. Mitchell, Gilbert Tennent: In: J.D. Douglas & Philip W. Comfort, eds., Who’s Who in Christian History, p. 663. Davies viria a ser o sucessor de Jonathan Edwards (1703-1758) na presidência de Princenton (1758-1761).

[743]Vd. John T. McNeill, The History and Character of Calvinism, p. 361-362.

[744]Para uma informação mais extensa da influência pietista, consulte, K.S. Latourette, Historia Del Cristianismo, II, p. 259-260; B. Hägllund, História da Teologia, p. 286-289; Mark A. Noll, Pietismo: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Vol. III, p. 151-153; W. Walker, História da Igreja Cristã, II, p. 190-196.

[745] C. Gregg Singer, Os Irlandeses-escoceses na América: In: W. Stanford Reid, editor. Calvino e Sua Influência no Mundo Ocidental, p. 338.

[746]Cf. Alexander, Archibald: In: Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Practical Theology, Vol. I, p. 53; Morton H. Smith, Studies in Southern Presbyterian Theology, New Jersey, Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1987, p. 69.

[747] Vd. Mark A. Noll, editor and compiler, The Princeton Theology, 1812-1921, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, 1983, p. 51ss.

[748] In: Mark A. Noll, editor and compiler, The Princeton Theology, p. 56.

[749] O Rev. A. Alexander não fez Seminário, ele estudou sob a tutela do Rev. William Graham, sendo licenciado para pregar em 1791. (Cf. Morton H. Smith, Studies in Southern Presbyterian Theology, p. 69; Alexander, Archibald: In: Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Practical Theology, Vol. I, p. 53). Sobre o ministério de Graham, Vd. Morton H. Smith, Studies in Southern Presbyterian Theology, p. 65-68.

[750]Cf. Mark A. Noll, editor and compiler, The Princeton Theology, p. 61.

[751] Archibald Alexander, Thoughts on Religious Experience, Carlisle, Pennsylvania, The Banner of Truth Trust, 1989 (Reprinted), p. XVIII.

[752]Mark A. Noll, Teologia da Antiga Princeton: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Vol. III, p. 456.

[753]H. Bavinck, Gereformeerde Dogmatiek, 4ª ed. (Kampem, 1928). I, 177, Apud Morton H. Smith, Studies in Southern Presbyterian Theology, p. 69.

[754] Cf. Ernest R. Sandeen, The Roots of Fundamentalism: British and American Millenarianism, 1800-1930, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, 1978 (Reprinted), p. 115.

[755] Hodge fez sua Pública Profissão de Fé na Igreja Presbiteriana de Princeton (13/01/1815). Após estudar no Princeton College, ingressou no Seminário de Princeton (1816) graduando-se em 1819, indo, por sugestão do Dr. Archibald Alexander, estudar hebraico na Filadélfia. Foi Ordenado Ministro Presbiteriano (outubro de 1821) e, em maio de 1822 foi eleito professor do Seminário de Princeton. Neste mesmo ano Hodge casou-se com Sarah Basche (17/06/1822). No período de 1826-1828, passou estudando na Europa: Paris (1826-1827) e Alemanha, na Universidade de Halle (1827-1828). Em 1840, tornou-se sucessor imediato de Archibald Alexander, permanecendo nesse cargo até a sua morte em 1878, tendo publicado a sua monumental Teologia em 1872-1873.

[756]”Sua obra foi muito influente no desenvolvimento da teologia americana no século XIX, particularmente no Presbiterianismo americano.” (R. Hesselgrave, Turretin: In: WW., p. 683b. Sobre a influência de Turretini na Teologia de Princeton, Vd. Mark A. Noll, ed. The Princeton Theology: 1812-1921, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, 1983, p. 29-30; John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 184-185; Jack B. Rogers & Donald K. McKim, The Authority and Interpretation of the Bible: An Historical Approach, p. 268ss.; 279ss. A influência de Turretini tornar-se-ia também evidente não apenas em Princeton, mas também em outros teólogos presbiterianos do século XIX, de diferentes escolas, tais como Robert L. Dabney (1820-1898), professor de Teologia no Union Seminary de Richmond [Lectures in Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, 1985] e W.G.T. Shedd (1820-1894), professor de Teologia do Union Seminary de New York [W.G.T. Shedd, Dogmatic Theology, 2ª ed. Nashville, Thomas Nelson Publishers, 1980]. O próprio A.H. Strong (1835-1921), o grande teólogo batista do século XIX, usa e cita Turretini umas dez vezes, referindo-se a ele como um “claro e vigoroso teólogo.” [Augustus H. Strong, Systematic Theology, 35ª ed. Philadelphia, The Judson Press, 1993, p. 46].

[757] Artigo provavelmente escrito por Charles Hodge, Presbyterian Review, p. 190. Vd. Mark A. Noll, ed. The Princeton Theology: 1812-1921, p. 29 e John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 186.

[758] Basta um exame superficial para verificar este fato: Charles Hodge, Teologia Sistemática, São Paulo, Editora Hagnos, 2001, p. 352; 445-446, 449, 640, 750-751, etc.

[759]Simonton ingressou no Seminário de Princeton, em Setembro de 1855, tendo um sermão de Hodge, proferido em outubro do mesmo ano, o influenciado bastante quanto ao seu futuro trabalho missionário. Simonton registrou no seu Diário, 14/10/1855:

"Ouvi hoje um sermão muito interessante do Dr. Hodge sobre os deveres da igreja na educação. Falou da necessidade absoluta de instruir os pagãos antes de poder esperar qualquer sucesso na propagação do Evangelho (...). Esse sermão teve o efeito de levar-me a pensar seriamente no trabalho missionário no estrangeiro (...). Eu nunca havia considerado seriamente a alternativa de trabalhar no estrangeiro; sempre parti do princípio de que minha esfera de trabalho seria em nosso país, tão vasto, e que cresce tanto. Pois estou agora convencido de que devo considerar a possibilidade seriamente; e se há tantos que preferem ficar, não será meu dever partir?" (Veja-se, Hermisten M.P. Costa, Os Primórdios do Presbiterianismo no Brasil, São Paulo, 1997, p. 31ss).

[760] Tradução brasileira: Charles Hodge, Teologia Sistemática, São Paulo, Editora Hagnos, 2001.

[761] A influência de Princeton se estendeu para fora dos limites presbiterianos. Apenas como amostragem, citamos: Edgar Y. Mullins (1860-1928), teólogo batista, presidente do Seminário Batista do Sul em Louisville, foi influenciado pela teologia de Princeton, através de um antigo aluno de C. Hodge, James P. Boyce (1827-1888) [Vd. Mark A. Noll, ed. The Princeton Theology: 1812-1921, p. 20] – a quem ele dedica a sua Teologia. [Edgar Y. Mullins, La Religión Cristiana En Su Expresión Doctrinal, 4ª ed. (corregida), Buenos Aires, Casa Bautista de Publicaciones, 1980, p. v].

Walter T. Conner (1877-1952), dedica a sua Doctrina Cristiana, aos seus mestres: Calvin Goodspeed, A.H. Strong e E.Y. Mullins. [W.T. Conner, Doctrina Cristiana, 4ª ed. Buenos Aires, Casa Bautista de Publicaciones, 1978]. Conner, foi aluno do já mencionado teólogo batista Edgar Y. Mullins (1860-1928) e de A.H. Strong (1835-1921) no Seminário de Rochester (New York). Um antigo aluno de Conner, escreveu dizendo que talvez ele tenha influenciado o "pensamento teológico entre os Batistas do Sul, mais que qualquer outra pessoa do nosso século." (James W. McClendon, Teologos Destacados del Siglo XX, 2ª ed. Buenos Aires, Casa Bautista de Publicaciones, 1972, p. 53).

[762] A.G. Simonton, Diário, 1852-1867, São Paulo, CEP/O Semeador, 1982, 08/09/1855.

[763]Simonton ingressou no Seminário de Princeton, em Setembro de 1855, tendo um sermão de Hodge, proferido em outubro do mesmo ano, o influenciado bastante quanto ao seu futuro trabalho missionário. Simonton registrou no seu Diário, 14/10/1855:

"Ouvi hoje um sermão muito interessante do Dr. Hodge sobre os deveres da igreja na educação. Falou da necessidade absoluta de instruir os pagãos antes de poder esperar qualquer sucesso na propagação do Evangelho (...). Esse sermão teve o efeito de levar-me a pensar seriamente no trabalho missionário no estrangeiro (...). Eu nunca havia considerado seriamente a alternativa de trabalhar no estrangeiro; sempre parti do princípio de que minha esfera de trabalho seria em nosso país, tão vasto, e que cresce tanto. Pois estou agora convencido de que devo considerar a possibilidade seriamente; e se há tantos que preferem ficar, não será meu dever partir?" (Veja-se, Hermisten M.P. Costa, Os Primórdios do Presbiterianismo no Brasil, São Paulo, 1997, p. 31ss).

[764] Tradução brasileira: Charles Hodge, Teologia Sistemática, São Paulo, Editora editora, 2001.

[765] A influência de Princeton se estendeu para fora dos limites presbiterianos. Apenas como amostragem, citamos: Edgar Y. Mullins (1860-1928), teólogo batista, presidente do Seminário Batista do Sul em Louisville, foi influenciado pela teologia de Princeton, através de um antigo aluno de C. Hodge, James P. Boyce (1827-1888) [Vd. Mark A. Noll, ed. The Princeton Theology: 1812-1921, p. 20] – a quem ele dedica a sua Teologia. [Edgar Y. Mullins, La Religión Cristiana En Su Expresión Doctrinal, 4ª ed. (corregida), Buenos Aires, Casa Bautista de Publicaciones, 1980, p. v].

Walter T. Conner (1877-1952), dedica a sua Doctrina Cristiana, aos seus mestres: Calvin Goodspeed, A.H. Strong e E.Y. Mullins. [W.T. Conner, Doctrina Cristiana, 4ª ed. Buenos Aires, Casa Bautista de Publicaciones, 1978]. Conner, foi aluno do já mencionado teólogo batista Edgar Y. Mullins (1860-1928) e de A.H. Strong (1835-1921) no Seminário de Rochester (New York). Um antigo aluno de Conner, escreveu dizendo que talvez ele tenha influenciado o "pensamento teológico entre os Batistas do Sul, mais que qualquer outra pessoa do nosso século." (James W. McClendon, Teologos Destacados del Siglo XX, 2ª ed. Buenos Aires, Casa Bautista de Publicaciones, 1972, p. 53).

[766]Conforme bem observou Davi Gueiros Vieira, O Protestantismo, A Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil, Brasília, Editora Universidade de Brasília, 1980, p. 62,68.

[767]DS., 03/05/1855.

[768]DS., 06/05/1855.

[769]DS., 06/05/1855.

[770]DS., 20/01/1856.

[771]Vejam-se: DS., 03/06/1854; 06/05/1855.

[772]DS., 03/05/1855.

[773]DS., 06/05/1855.

[774]DS., 04/09/1855.

[775]DS., 08/09/1855.

[776]Davi Gueiros Vieira, O Protestantismo, A Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil, p. 135.

[777]DS., 14/01/1854.

[778]DS., 14/01/1854.

[779]DS., 31/12/1854.

[780]DS., 20/05/1855; 04/01/1856; 08/09/1859.

[781]DS., 08/02/1858.

[782]Já fazia algum tempo que a Junta de Missões Estrangeiras tinha os olhos voltados para o Brasil; todavia, o envio de Simonton tinha, a priori, um caráter experimental; aliás, foi esta a condição para enviá-lo: o direito de transferi-lo caso as condições não fossem adequadas no Brasil para o trabalho missionário. Segue abaixo, parte do relatório da JME, aprovado em maio de 1859, pela Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos:

"Já foi nomeado um missionário, o Rev. A.G. Simonton, membro do Presbitério de Carlisle, e há pouco diplomado pelo Seminário Teológico de Princeton. Espera embarcar para esse novo campo missionário no começo do verão. Sem dúvida a missão será um tanto experimental. Seus primeiros objetivos serão: explorar o território, verificar os meios de atingir com sucesso a mente dos naturais da terra, e testar até que ponto a legislação favorável à tolerância religiosa será mantida. Se o resultado dessas investigações for positivo – e temos plenas razões para supor que sim – a missão poderá depois ser ampliada em termos que as circunstâncias justifiquem." In: Boanerges Ribeiro, Protestantismo e Cultura Brasileira, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1981, p. 18. Vicente T. Lessa, Annaes da 1ª Egreja Presbyteriana de São Paulo, Edição da 1ª Egreja Presbyteriana Independente, 1938, p. 51. confunde esta data, dando-a como 18/6/1859.

[783]Cf. W. Simonton, In: Quadragésimo Anniversário da Egreja Presbyteriana do Rio de Janeiro 1862-1902, Rio de Janeiro, Casa Editora Presbiteriana, p. 31

[784]Júlio A. Ferreira, História da Igreja Presbiteriana do Brasil, São Paulo, CEP. 1959, 2 Vols., Vol. I, p. 14. [Obs.: A 2ª edição desta obra, 1992, teve a sua paginação alterada; por exemplo, a página citada (14), corresponde à 21],

[785]Júlio A. Ferreira, História da Igreja Presbiteriana do Brasil, I, p. 14.

[786]W. Simonton, Rev. A.G. Simonton: In: Quadragésimo Anniversário da Egreja Presbyteriana do Rio de Janeiro 1862-1902, Rio de Janeiro, Casa Editora Presbiteriana,p. 31.

[787]Cf. Júlio A. Ferreira, História da Igreja Presbiteriana do Brasil, I, p. 14; John C. Lowrie, Rev. A.G. Simonton, como apêndice I, ao Diário de Simonton, p. 202.

[788]Rev. J.L. Wilson (25/3/1809-13/07/1886), graduou-se no Seminário Teológico Columbia (fundado em 1828) em 1833. Foi Missionário na África Ocidental, 1834-1853; Secretário da Board, 1853-1861. Escreveu o livro, África Ocidental: Sua História, Condição e Perspectivas, New York, 1857. (Encyclopaedia of Living Divines and Christian Workers of All Denominations in Europe and America Being a Supplement to Schaff-Herzog, New York, Funk & Wagnalls Company, 1891, Vol. IV, p. 239). Juntamente com outro missionário americano, T.S. Savage, J.L. Wilson, foi o primeiro a tornar conhecido no mundo científico, a existência do gorila. Cf. Rev. James S. Dennis, Christian Missions And Social Progress: A Sociological Study of Foreing Missions, New York, Fleming H. Revell Company, 1906, Vol III, p. 434.

[789]DS., 10/10/1857.

[790]Western Seminary, fundado em 1827 pela Velha Escola, teve as suas portas abertas em 16/11/1827. (S.J. Wilson, Western Theological Seminary: In: RED., III, 2498).

[791]Davi Gueiros Vieira, O Protestantismo, A Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil, p. 138; Júlio A. Ferreira, História da Igreja Presbiteriana do Brasil, I. p. 14.

[792]Vejam-se, Hermisten M.P. Costa, Os Primórdios do Presbiterianismo no Brasil, p. 19 e 28.

[793]Este tipo de trabalho - até onde sabemos -, fora iniciado pelos Metodistas no Rio de Janeiro, através do Rev. Justin Spaulding, no dia 1/5/1836. Todavia, este trabalho teria curta duração, já em 1841 a Missão Metodista, por diversas razões, encerraria as suas atividades no Brasil, só reiniciando seu trabalho de forma permanente em 5/8/1867, com a chegada do Rev. Junis Eastham Newman (1819-1865). A segunda Escola Dominical em nosso território, foi organizada pelos Congregacionais, com o Dr. Robert R. Kalley (1809-1888) e a Sr.ª Sarah P. Kalley (1825-1907) em Petrópolis, no dia 19/8/1855. Esta foi primeira Escola Dominical em caráter permanente em solo brasileiro, lecionada em português. A Escola Dominical criada por Simonton, até onde pesquisamos, foi a terceira a ser organizada... (Vd. Hermisten M.P. Costa, A Origem da Escola Dominical no Brasil: Esboço Histórico, São Paulo, 1997).

[794]Hermisten M.P. Costa, Os Primórdios do Presbiterianismo no Brasil, p. 31.

[795]Hermisten M.P. Costa, Os Primórdios do Presbiterianismo no Brasil, p. 52

[796]Simonton na ata citou janeiro de 1866; todavia mais tarde verificou-se o erro e corrigiu-se na própria ata apresentando a data de 16/12/1865. Para a verificação correta, o Presbitério do Rio de Janeiro nomeou uma Comissão que deu seu relatório explicando o eqüívoco de Simonton. Veja-se relatório da mesma Reunião do Presbitério do Rio de Janeiro de 06/09/1884, “nona sessão”, p. 371-372. A comissão era composa pelos pastores: A.L. Blackford (relator), F.J.C. Schneider e Robert Lenington. Ao Rev. Modesto P.B. Carvalhosa, como Secretário Permanente do Presbitério, coube a tarefa de providenciar a retificação onde coubesse. No final da primeira ata do Presbitério a correção é feita com a assinatura de Carvalhosa. (Vd. Atas do Presbitério do Rio de Janeiro, p. 7. Original manuscrito).

[797]O livro de atas tem em sua primeira página a inscrição: “Actas do Presbyterio do Rio de Janeiro constituído em São Paulo a 16 de dezembro de 1865 – Livro Primeiro.”

[798]Atas do Presbitério do Rio de Janeiro, p. 2.

[799]Philip S. Landes, Ashbel Green Simonton, p. 67. A ata de organização não cita esse fato no entanto, é possível e até natural que tenha ocorrido.

[800] Atas do Presbitério do Rio de Janeiro, p. 2-3.

[801] Atas do Presbitério do Rio de Janeiro, p. 4-5.

[802] Atas do Presbitério do Rio de Janeiro, p. 6; Boanerges Ribeiro, O Padre Protestante, 2ª ed. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1979, p. 138-141.

[803] Um dos participantes da reunião, referindo-se à ordenação de Conceição, escreveu: “Este acontecimento representa um passo importante no progresso do protestantismo neste país papal; o caráter desse homem, e sua influência entre o povo, vão ter, fora de toda dúvida, efeito considerável sobre a mente popular.” (Mc. F. Gaston, Hunting a Home in Brazil, p. 271-272. Apud Júlio A. Ferreira, História da Igreja Presbiteriana do Brasil, Vol. I, p. 61)

[804]Os primeiros oficiais só seriam eleitos em 1866: Os Diáconos (02/04/1866) e os Presbíteros em 07/07/1866. (Vd. Relatório de Simonton apresentado ao Presbitério do Rio de Janeiro no dia 10/07/1866, p. 7-8; Vicente T. Lessa, Annaes da 1ª Egreja Presbyteriana de São Paulo, p. 41).

[805] O Rev. Francis Makemie (1658-1708) foi enviado pelas Igrejas da Escócia como missionário a Améria, pregando exaustivamente em várias cidades, estabelecendo a primeira Igreja Presbiteriana em Maryland no ano de 1684. [Morton H. Smith, Studies in Southern Presbyterian Theology, New Jersey, Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1987, p. 18-20; Mark A Noll, A History of Christianity in the United States and Canada, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1993 (Reprinted), p. 68].

[806] Cf. E.F. Hatfield, Presbyterian Churches: In: Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Practical Theology, Vol III, p. 1906-1907; Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, São Paulo, Editora os Puritanos, 1999, p. 45; Morton H. Smith, Studies in Southern Presbyterian Theology, p. 23,25; E.E. Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, p. 315; George S. Hendry, La Confesion de Fe de Westminster, para el día de hoy, Bogotá, CCPAL, 1966, p. 14.

[807] “Este Ato de Adoção convocava também os presbitérios a providenciarem para que nenhum candidato ao ministério fosse admitido sem subscrever todos os artigos essenciais e necessários da Confissão ou dos Catecismos. Providenciava também para que, caso qualquer ministro do Sínodo não pudesse aceitar algum artigo julgado necessário e essencial pelo presbitério, este presbitério o declarasse impossibilitado de continuar como membro daquele corpo.” (C. Gregg Singer, Os Irlandeses-escoceses na América: In: W. Stanford Reid, editor. Calvino e Sua Influência no Mundo Ocidental, p. 333-334).

[808] Morton H. Smith, Studies in Southern Presbyterian Theology, p. 29; Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, p. 45.

[809]Estou convencido de que este Catecismo seja o mesmo que ele publicou parcialmente na Imprensa Evangélica a partir da edição de 16/02/1867 até 16/11/1867.

[810]Diário, 28/04/1860.

[811]Diário, 01/05/1860.

[812]Em 1867, A Imprensa dá a publicação do Catecismo, iniciando com uma nota explicativa:

“A Bíblia em grande parte é história, e o plano da nossa redenção atravessa longos séculos, começando a descobrir-se a Adão e Eva e alcançando o seu perfeito desenvolvimento com a descida do Espírito Santo no dia de Pentecoste.

“Se queremos compreender a Bíblia e torná-la compreensível aos outros, é mister darmos a devida importância à sua forma histórica. É necessário acompanhar passo a passo o desenvolvimento do plano de Deus em relação à nossa raça e comentar os fatos na ordem em que se sucedem.” (Imprensa Evangélica, 16/02/1867, p. 27).

Este Catecismo seria publicado até a Imprensa de 16/11/1867, com a promessa de continuar. No entanto, Simonton morreria semanas depois, o que me leva a crer que o referido trabalho era de sua autoria.

[813] Imprensa Evangélica, 04/02/1865, p. 8. Este Catecismo foi publicado até a edição de 06/5/1865 (o jornal saiu erradamente com a data de 1864), perfazendo um total de 203 perguntas. Não consegui identificar a origem do referido Catecismo; todavia sabemos que não é o Breve Catecismo de Westminster.

[814]Relatório de Simonton apresentado ao Presbitério do Rio de Janeiro no dia 12/07/1867, p. 3

[815]Relatório de Simonton apresentado ao Presbitério do Rio de Janeiro no dia 12/07/1867, p. 5 do seu relatório individual.

[816]Modesto Perestrello Barros de Carvalhosa (1846-1917), português, professou a sua fé e foi batizado na Igreja Presbiteriana de São Paulo em 25/03/1866. Foi licenciado em 22/ 08/1870, designado para a Igreja de Lorena; Ordenado em 20/07/1871. (Atas do Presbitério do Rio de Janeiro, Sessão de 20/07/1871).

[817]Miguel Gonçalves Torres (1848-1892), português, professou a sua fé e foi batizado na mesma ocasião de Trajano, em 5/3/1865. Já durante os estudos, sofria de tuberculose; quando concluiu o Seminário, foi encaminhado pelo médico para Caldas, em Minas Gerais, onde o clima e a altitude ajudariam no tratamento de sua enfermidade. Creio que a sua licenciatura foi retardada devido à sua saúde, que era precária; isto se torna ainda mais evidente, pelo fato de Miguel Torres ter chegado em Caldas, transportado numa liteira.(Cf. Júlio A. Ferreira, História da Igreja Presbiteriana do Brasil, Vol. I, p. 133). A sua licenciatura ocorreu em 19/07/1871 (Atas do Presbitério do Rio de Janeiro, Sessão de 19/07/1871. A. B. Teixeira, numa biografia feita de Cerqueira Leite, publicada no O Estandarte de 4 e 11/01/1912, p. 31, apresenta a data da Licenciatura como sendo 22/08/1870. Creio que este pequeno equívoco deveu-se a falta de dados, conforme ele mesmo confessou ao iniciar o artigo. Engano semelhante comete Álvaro Reis, ed. Almanak Historico do O Puritano, na "Folhinha Histórica"), sendo designado para o campo de Caldas (chamada depois de Parreiras e, novamente Caldas) [Cf. Júlio Andrade Ferreira, O Apóstolo de Caldas, Franca, SP., Edição da Gráfica Renascença, (s.d.), p. 209] e outras cidades de Minas. Ordenado em 10/8/1875. [Torres e Trajano foram ordenados juntos. (Atas do Presbitério do Rio de Janeiro, Sessão de 10/08/1875). Em fontes secundárias também encontrei conflito de informações: Vejam-se: J.A. Ferreira, O Apóstolo de Caldas, p. 46; Álvaro Reis, ed. Almanak Historico do O Puritano, p. 86; Vicente T. Lessa, Annaes da 1ª Egreja Presbyteriana de São Paulo, p. 112, 137; "Folhinha Histórica": In: Álvaro Reis, ed. Almanak Historico do O Puritano, no dia 2/8/1875; A. B. Teixeira, O Estandarte de 4 e 11/01/1912, p. 31]. Ficando com as Igrejas de Caldas, Machado e Borda da Mata.

[818]Antonio Bandeira Trajano (1843-1921), português, professou a sua fé e foi batizado na organização da Igreja Presbiteriana de São Paulo (5/3/1865). Foi licenciado em 22/08/1870, designado para os campos das Igrejas de Brotas, Jacutinga e Rio Novo. Ordenado em 10/8/1875. [Atas do Presbitério do Rio de Janeiro, Sessão de 10/08/1875]. Foi empossado como Pastor da Igreja de Brotas em 03/10/1875. [Livro de Atas da Igreja Evangélica Presbiteriana de Brotas, Livro I, Ata nº 79, p. 57. (fonte manuscrita)]. Em fontes secundárias encontrei conflito de informações: Álvaro Reis, ed. Almanak Historico do O Puritano,Almanak, "Folhinha Histórica", 2/8/1875, na parte final, não paginada; Vicente T. Lessa, Annaes da 1ª Egreja Presbyteriana de São Paulo, 85-86; Júlio A. Ferreira, História da Igreja Presbiteriana do Brasil, Vol. I, p. 88; O Estandarte, de 18/01/1912, p. 9, data a Ordenação de Trajano em 10/08/1875. A 11ª Reunião do Presbitério do Rio de Janeiro, ocorreu em Rio Claro, de 4 a 10 de agosto de 1875. (Veja-se, Vicente T. Lessa, Annaes da 1ª Egreja Presbyteriana de São Paulo, p. 136)].

[819]Ata do Presbitério do Rio de Janeiro, Sessão de 29/08/1870. Esta obra só seria traduzida para o português recentemente: Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, São Paulo, Editora os Puritanos, 1999, 596p.

[820] Confissão de Fé de Westminster, Rio de Janeiro, Livraria Evangélica, 1876, 96 p.

[821] Sobre este jornal, que foi o primeiro jornal evangélico da América Latina, Vd. Hermisten M.P. Costa, Os Primórdios do Presbiterianismo no Brasil, p. 35ss.

[822] Livro de Ordem, I.6. seções 5 e 6.

[823] Vejam-se: Livro de Atas da Igreja Evangélica Presbiteriana de Brotas, Ata nº 154, p. 1 (fonte manuscrita); Imprensa Evangélica e Revista Christã, set/1881, p. 287.

[824]Perfazendo um total de 50 igrejas locais, e mais de três mil membros professos, e não menos de dez mil assistentes. (Cf. Imprensa Evangélica, 5/1/1889, p. 4).

[825] Quanto às datas das organizações dos respectivos Presbitérios, consulte, Hermisten M.P. Costa, Os Primórdios do Presbiterianismo no Brasil, p. 42.

[826]Hermisten M.P. Costa, Os Primórdios do Presbiterianismo no Brasil, p. 56.

[827] Cf. A.A. Hodge, Esboços de Theologia, p. 112.

[828] Os assim chamados “cinco pontos do Calvinismo”, são: Depravação Total, Eleição Incondicional, Expiação Limitada, Graça Irresistível e Perseverança final dos Santos.

[829] Vd. Harvie M. Conn, Teologia Contemporanea en el Mundo, Grand Rapids, Michigan, Subcomisión Literatura Cristiana de la Iglesia Cristiana Reformada, (s.d.), 149-154.

[830] J.I. Packer, O "Antigo" Evangelho, p. 8.

[831] Do mesmo modo, diz J.D. Douglas: “O Calvinismo era mais do que um credo; era uma filosofia compreensiva que abrangia toda a vida” (J.D. DOUGLAS, A Contribuição do Calvinismo na Escócia: In: W. Stanford Reid, ed. Calvino e sua Influência no Mundo Ocidental, p. 290).

[832] Vd. H. Richard Niebuhr, Cristo e Cultura, São Paulo, Paz e Terra, 1967, p. 223ss.

[833] Vd. Abraham Kuyper, Lectures on Calvinism, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1999 (Reprinted), p. 142-170; John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 322-327.

[834]J.J. Rousseau, no Contrato Social, assim se referiu a Calvino: “Os que consideram Calvino somente um teólogo não conhecem bem a extensão de seu gênio. A redação de nossos sábios editos, da qual participou ativamente, honra-o tanto quanto sua Instituição. Qualquer que seja a revolução que o tempo possa trazer a nosso culto, enquanto o amor à pátria e à liberdade não se extinguir entre nós, jamais a memória desse grande homem deixará de ser abençoada.” [J.J. ROUSSEAU, Do Contrato Social, São Paulo, Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. XXIV), 1973, II.7. p. 64]. Vd. John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 337-344; Quentin Skinner, As Fundações do Pensamento Moderno, São Paulo, Companhia das Letras, 1996, p. 465ss.; H.H. Meeter, La Iglesia e El Estado, 3ª ed. Grand Rapids, Michigan, TELL., [s.d.], p. 93ss. “O Estado [segundo Calvino] não é, pois, um mal necessário, mas um instrumento da providência divina“ (André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 369); André Biéler, A Força Oculta dos Protestantes, passim.

[835]Vd. John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 344-346; André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, passim

[836] John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 328-330.

[837] Vd. W. Stanford Reid, ed. Calvino e Sua Influência no Mundo Ocidental, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1990, passim.

[838] Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 562.

[839]Cf. Émile G. Léonard, Histoire Générale du Protestantisme, Paris, La Réformation, 1961, Vol. I, p. 307; Ricardo Cerni, Historia del Protestantismo, 2ª ed. Corregida, Edinburgh, El Estandarte de la Verdad, 1995, p. 64-65.

[840] Karl Barth, em introdução à obra, Calvin, Textes Choisis par Charles Gagnebin, p. 11.

[841] “A doçura da graça” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, p. 125] de Deus é a tônica da Sua relação com o Seu povo. “É preciso lembrar que sempre que atribuímos nossa salvação à graça divina, estamos confessando que não há mérito algum nas obras; ou, antes, devemos lembrar que sempre que fazemos menção da graça, estamos destruindo a justiça [procedente] das obras.” [João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 11.6), p. 389].

[842] “Se Cristo é a nossa paz, segue-se que todos quantos se acham fora dele permanecem em estado de inimizade com Deus.” [João Calvino, Efésios, (Ef 2.14-16), p. 69]. “Cristo não é só o primogênito de toda criatura; ele é também o restaurador da humanidade.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 8.5), p. 169]. “Se Cristo não é adequadamente conhecido e lhe é simplesmente atribuído o nome de Redentor, enquanto que, ao mesmo tempo, a justiça, a santificação e a salvação são buscadas em outras fontes, ele é lançado para fora do fundamento e pedras falsas são postas em seu lugar.” [João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 3.11), p. 111].

[843]"'A Escritura é proveitosa.' Segue-se daqui que é errôneo usá-la de forma inaproveitável. Ao dar-nos as Escrituras, o Senhor não pretendia satisfazer nossa curiosidade, nem alimentar nossa ânsia por ostentação, nem tampouco deparar-nos uma chance para invenções místicas e palavreado tolo; sua intenção, ao contrário, era fazer-nos o bem. E assim, o uso correto da Escritura deve guiar-nos sempre ao que é proveitoso.” [J. Calvino, As Pastorais, (2Tm 3.16) p. 263].

[844] Calvino, escrevera: “É chocante blasfêmia afirmar que a Palavra de Deus é falível até que obtenha da parte dos homens uma certeza emprestada.” [João Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.15), p. 98]. Em outro lugar: “.... a Palavra do Senhor é semente frutífera por sua própria natureza.” (João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 3.6), p. 103].

[845]Como vimos, no Catecismo de Genebra (1541-1542), nas primeiras duas perguntas, lemos:

“Mestre: Qual é o fim principal da vida humana?

Discípulo: Conhecer os homens a Deus Seu Criador.”

“Mestre: Por que razão chamais este o principal fim?

“Discípulo: Porque nos criou Deus e pôs neste mundo para ser glorificado em nós. E é coisa justa que nossa vida, da qual Ele é o começo, seja dedicada à Sua glória.” [John Calvin, Catechism of the Church of Geneva, perguntas 1 e 2. In: John Calvin, Tracts and Treatises on the Doctrine and Worship of the Church, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1958, Vol. II, p. 37].

Desta forma, o homem como criatura de Deus, só se realiza quando vive para a glória de Deus, que é também, o seu fim último (2Co 5.8; Gl 2.20; Fp 1.21,23). O Catecismo Menor de Westminster, à pergunta nº 1, “Qual é o fim principal do homem?”, responde: “O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre.” (Ver: Is 43.7; 60.21; 61.3; Rm 11.36; 14.7-8; 1Co 10.31; Ef 1.5-6).

“Sabemos que somos postos sobre a terra para louvar a Deus com uma só mente e uma só boca, e que esse é o propósito de nossa vida.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 6.5), p. 129].

[846]"Fé verdadeira, é aquela que o Espírito de Deus sela em nosso coração." (J. Calvino, As Institutas, I.7.5). “A causa eficaz de fé não é a perspicácia de nossa mente, mas a vocação de Deus. E ele [Pedro] não se refere somente à vocação externa, que é em si mesma ineficaz; mas à vocação interna, realizada pelo poder secreto do Espírito, quando Deus não somente emite sons em nossas orelhas pela voz do homem, mas, pelo Seu próprio Espírito atrai intimamente nossos corações para Ele mesmo.” [John Calvin, Calvin's Commentaries, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, 1996 (reprinted), Vol. 22, (2Pe 1.3), p. 369]. “Lembremo-nos de que a fé genuína está então contida em Cristo, que ela não sabe, nem deseja saber, nada mais além dele” [J. Calvino, Efésios, (Ef 4.13), p. 127].

[847]Calvino, comentando o texto de 2Tm 2.19, diz: “... A despeito de toda a fraqueza da carne, os eleitos, não obstante, não correm esse risco, porque não estão firmados em sua própria capacidade, mas estão fundados em Deus.” [J. Calvino,As Pastorais, (2Tm 2.19), p. 239]. “Deus nos elegeu para sermos seu povo peculiar, a fim de fazer notório seu poder nos preservando e nos defendendo” [João Calvino,O Livro dos Salmos, Vol. 2 (Sl 46.7), p. 335]. Calvino observa que “em virtude de nosso coração incrédulo, o mínimo perigo que ocorre no mundo influi mais em nós do que o poder de Deus. Trememos ante a mais leve tribulação, pois olvidamos ou nutrimos conceitos mui pobres acerca da onipotência divina.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 68.17), p. 658].

[848]Calvino, comentando Gálatas 4.26, diz: “.... A Igreja enche o mundo todo e é peregrina sobre a terra. (...) Ela tem sua origem na graça celestial. Pois os filhos de Deus nascem, não da carne e do sangue, mas pelo poder do Espírito.” Continua: “Eis a razão por que a Igreja é chamada a mãe dos crentes. E, indubitavelmente, aquele que se recusa a ser filho da Igreja debalde deseja ter a Deus como seu Pai. Pois é somente através do ministério da Igreja que Deus gera filhos para si e os educa até que atravessem a adolescência e alcancem a maturidade.” [João Calvino, Gálatas, (Gl 4.26), p. 144].

[849]Na Resposta ao Cardeal Sadoleto (01/09/1539), Calvino declara que a igreja é:

"...A assembléia de todos os santos, a qual espalhada por todo o mundo, está dispersa em todo tempo, unida sem dúvida por uma só doutrina de Cristo, e que por um só Espírito guarda e observa a união da fé, junto com a concórdia e caridade fraterna". (Juan Calvino, Respuesta al Cardeal Sadoleto, 4ª ed. Países Bajos, Felire, 1990, p. 30-31). Ele diz que os membros da Igreja são reconhecidos "por sua confissão de fé, pelo exemplo de vida e pela participação nos sacramentos", sendo estes sinais indicativos de que tais pessoas "reconhecem ao mesmo Deus e ao mesmo Cristo que nós" (As Institutas, IV.1.8). “Onde se professava o Cristianismo, se adorava um único Deus, se praticavam os Sacramentos e se exercia algum gênero de ministério, ali permaneciam as marcas da Igreja.” [João Calvino, Gálatas, (Gl 1.2), p. 25].

A santidade e firmeza da Igreja segundo Calvino, repousa principalmente em "três coisas", a saber: "doutrina, disciplina e sacramentos vindo em quarto lugar as cerimônias para exercitar o povo no dever da piedade." (Juan Calvino, Respuesta al Cardeal Sadoleto, p. 32).

[850] J. Calvino, As Institutas, III.20.2. Em outro lugar escreve: “Se devemos receber algum fruto de nossas orações, devemos também crer que os ouvidos de Deus não se fecharam contra elas.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 6.8-10), p. 133]. “A genuína oração provém, antes de tudo, de um real senso de nossa necessidade, e, em seguida, da fé nas promessas de Deus. (João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, p. 34). “Nossas orações só são aceitáveis quando as oferecemos em submissão aos mandamentos de Deus e somos por elas animados a uma consideração da promessa que Ele tem formulado.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 50.15), p. 412]. Comentando Rm 12.12, enfatiza que “a diligência na oração é o melhor antídoto contra o risco de soçobrarmos.” [João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 12.12), p. 438].

[851]João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 50.14-15), p. 410.

[852] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 30.6), p. 633. “Quando a segurança carnal se haja assenhorado de alguém, tal pessoa não pode entregar-se alegremente à oração até que seja feita maleável pela cruz e completamente subjugada. E esta é a vantagem primordial das aflições, ou seja, enquanto nos tornam conscientes de nossa miséria, nos estimulam novamente para suplicarmos o favor divino.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 30.8), p. 635].

[853] João Calvino, As Institutas, III.20.1.

[854]Calvino, cita Agostinho: “Se me interrogues acerca dos preceitos da religião cristã, primeiro, segundo e terceiro, aprazer-me-ia responder sempre: a humildade.” (J. Calvino, As Institutas, II.2.11). “Ao cultivarmos a bondade fraternal, é mister que comecemos com a humildade. (...) Será inútil a mansidão, a menos que tenhamos iniciado com a humildade.” [João Calvino, Efésios, (Ef 4.1), p. 108].

[855] “Sempre que a carne, ou seja, a corrupção natural, governa uma pessoa, ela toma posse de sua mente para que a sabedoria divina não logre entrada. Em razão disto, se porventura desejamos lograr algum progresso na escola do Senhor, devemos antes renunciar nosso próprio entendimento e nossa própria vontade.” [João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 3.3), p. 100]. “Os filósofos pagãos põem a razão como o único guia de vida, de sabedoria e conduta, porém a filosofia cristã demanda que rendamos nossa razão ao Espírito Santo, o que significa que já não mais vivemos para nós mesmos, senão que Cristo vive e reina em nós. Ver Rm 12.1; Ef 4.23; Gl 2.20.” (John Calvin, Golden Booklet of the True Christian Life, p. 22).

[856] Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 310. Vd. também, P. Schaff, The Creeds of Christendom, I, p. 448.

[857] João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, (Dn 6.10), p. 375.

[858]J. Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 8.26), p. 291.

[859] João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 30. “A glória de Deus deve resplandecer sempre e nitidamente em todos os dons com os quais porventura Deus se agrade em abençoar-nos e em adornar-nos. De sorte que podemos considerar-nos ricos e felizes nele, e em nenhuma outra fonte." [J. Calvino, O Livro de Salmos, São Paulo, Paracletos, 1999, Vol. 2, (Sl 48.3), p. 356].

[860] José Manoel da Conceição, Sentença de Excomunhão e Sua Resposta, Rio de Janeiro, Typographia Perseverança, 1867, p. 26.

 






Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa, pastor da I.P. Ebenézer, Osasco, SP e professor de Teologia Sistemática e Filosofia no Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição, São Paulo, Capital.

Fonte: Revista "Pensador Cristão", Junho/2002.


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