A Divina Trindade

por

W. E. Best

 

(Deuteronômio 4:35; 6:4, 5; Isaías 46:9; 1 Coríntios 8:6)

“A ti te foi mostrado para que soubesses que o SENHOR é Deus; nenhum outro há, senão ele” (Deuteronômio 4:35). “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder” (Deuteronômio 6:4,5). “Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim” (Isaías 46:9 NASB). “Todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele” (1 Coríntios 8:6).

A palavra “trindade” não é encontrada na Escritura, mas ela foi usada desde o início do segundo século para expressar a doutrina escriturística da unidade indivisa da natureza Divina da Deidade. Há distinções pessoais entre o Pai, Filho e o Espírito Santo. Grandes debates têm se levantado sobre a palavra “Pessoas” nas distinções do Pai, Filho e Espírito Santo. Alguns têm argüido que a palavra “pessoa” sugere a existe a existe de três Deuses. O argumento tem lógica somente quando o termo “pessoa” é usado em seu sentido costumeiro e moderno. Visto que as distinções não são aquelas de essência, mas distinções pessoais dentro da, a palavra “Pessoa” não deve ser censurada. Essa palavra, como aplicada às três subsistências da Deidade, como a palavra “Trindade”, não é encontrada na Escritura. Contudo, a idéia que ela expressa é escriturística.

Como todas as outras ciências, na ciência da teologia alguns termos técnicos são necessários. A existência de três Pessoas distintas na Deidade não significa que cada uma seja como que separada das outras, assim como um ser humano é separado de outro. Embora os pronomes singulares, Eu, Tu, e Ele sejam aplicados a cada uma das três Pessoas, os mesmos pronomes singulares são aplicados ao Deus Triuno. O Pai, Filho e o Espírito Santo podem ser distinguidos, mas eles não podem ser separados, pois cada um possui a mesma substância ou essência idêntica. Uma Pessoa da Deidade não existe sem as outras duas. Algumas coisas predicada de uma Pessoa na Deidade não são predicada das outras Pessoas. O Pai enviou o Filho, mas o Filho não enviou o Pai. Ambos, o Pai e o Filho, enviaram o Espírito Santo, mas o Espírito Santo nunca enviou o Pai, nem o Filho. Ambos, o Pai e o Espírito Santo, estavam com o Filho na encarnação, mas nenhum deles assumiu uma natureza humana. Deus o Pai é Deidade invisível. Deus o Filho é Deidade manifesta. Deus o Espírito Santo é Deidade comunicada.

A palavra “pessoa” na teologia é definida como um modo de subsistência, a qual é marcada por inteligência, vontade e existência individual. A mente humana não pode compreender o mistério da Trindade pois o finito não pode compreender o Infinito. A palavra “Pessoa”, estudada teologicamente, é usada num sentido diferente dos seus outros usos. Por exemplo, a essência Divina não pode ser ao mesmo tempo três Pessoas e uma Pessoa se “pessoa” é empregada num único sentido. Contudo, ela pode ser ao mesmo tempo três Pessoas e um ser pessoal. As características pessoais pelas quais as Pessoas na Deidade se diferem uma das outras não podem ser as características pessoais da Deidade inteira.

“Pessoa” é usada para expressar uma idéia de personalidade dentro da Deidade. Isso evita, por um lado, a idéia de uma mera forma de manifestação e, por outro lado, a idéia de personalidades completamente independentes nos seres humanos. A verdade da Trindade não assevera que há três Deus em um Deus (triteísmo). Ela não afirma que Deus meramente se manifesta de três formas diferentes (trindade de manifestações). Os Trinitarianos sustentam que há três Pessoas eternas na substância da Deidade (monoteísmo). O Pai, Filho e o Espírito Santo são um Deus. Cada Pessoa tem uma qualidade distintiva. Nenhuma das Pessoas é Deus sem as outras. Cada uma, com as outras, é Deus.

O Senhor nosso Deus é um Senhor. Deus é chamado o Deus vivo porque Ele é a fonte da vida natural (Atos 17:28) e da vida espiritual (João 17:2). Ele tem vida em Si mesmo (João 5:26) e dá vida à todas as criaturas. Deus é chamado o Deus verdade para distingui-Lo de todos os falsos deuses (1 Coríntios 8:6). Não pode haver dois infinitos. Dois infinitos implica uma contradição. Como pode algo ser igual ao Superior ou igualmente excelente ao mais Excelente? Visto que Deus, o Deus da Sagrada Escritura, enche os céus e a terra, não há espaço para outro deus.

A doutrina da Trindade e o Cristianismo estão inseparavelmente unidas. A vida eterna está envolta no conhecimento “... [desta] vida eterna: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (João 17:3). Deus, pelo Seu Espírito, revelou o conhecimento através do qual, no poder do Espírito regenerador, uma pessoa é capaz de conhecer o Pai e o Filho: “Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus” (1 Coríntios 2:10). A eleição pelo Pai, a redenção pelo Deus o Filho, e a regeneração pelo Deus o Espírito Santo nunca podem ser separadas no Cristianismo (Efésios 1:3-14; 1 João 5:1-9).

Uma trindade de Pessoas relacionadas a uma essência não contradiz nenhuma verdade absoluta. Analogias não podem nada fazer nada, senão estabelecer um princípio. Por exemplo, há no homem uma combinação de unidade e pluralidade — os elementos materiais e imateriais combinam para formar um indivíduo. Portanto, a Trindade afirma não mais do que um Ser existindo num sentido singular e num outro plural. As palavras “Triunidade”, “unidade” e “igualdade” se aplicam à Trindade. A palavra “Triunidade” indica que na Deidade há três centros pessoais de consciência pessoal compartilhando a mesma igualdade básica de Ser. A palavra “unidade” significa que há um em três, não três deuses. A palavra “igualdade” transmite o pensamento de que cada membro da Deidade é co-igual e co-eterno com os outros. Portanto, o Pai é Deus (Romanos 1:7), o Filho é Deus (Hebreus 1:8), e o Espírito Santo é Deus (Atos 5:3,4). O que Deus é agora Ele foi e será. Visto que as três Pessoas na Deidade são atualmente o um Deus, elas têm sido um desde a eternidade.

A Deidade habitando no Cristo encarnado não é por poder, como Sua habitação no universo. Não é por graça, como Sua habitação nos santos. Não é por dons, como ela habitou nos apóstolos. Não é por símbolos, como ela habitou no tabernáculo. A habitação da Deidade no Cristo encarnado é essencialmente e pessoalmente no Filho de Deus que é o Filho do homem. Os cristãos adoram um Deus na Trindade e a trindade na unidade, sem confundir as Pessoas na Deidade ou dividindo a essência.

A menos que os cristãos aprendam a distinguir as obras do Pai, Filho e Espírito Santo, a confissão da Trindade não tem sentido. O Pai é a fonte de todas as coisas. O Filho é Aquele através de quem as coisas são construídas. O Espírito Santo é Aquele através de quem todas as coisas alcançam o seu destino final: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! PORQUE QUEM COMPREENDEU O INTENTO DO SENHOR? OU QUEM FOI SEU CONSELHEIRO? OU QUEM LHE DEU PRIMEIRO A ELE, PARA QUE LHE SEJA RECOMPENSADO? Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!” (Romanos 11:33-36). Se as Pessoas na Deidade existissem independentemente, tal cooperação seria impossível. Portanto, o propósito do Pai, a redenção do Filho e a regeneração do Espírito Santo são descritos na Escritura (Efésios 1:3-14; 2 Tessalonicenses 2:13, 14; 1 Pedro 1:1-3).

Se não houvesse nenhuma trindade na natureza Divina, a Paternidade em Deus teria um princípio e teria um fim. Além do mais, a Filiação não seria uma perfeição, mas imperfeição, pois existiria somente para um propósito temporário. O mesmo que é dito do Filho pode ser dito do Espírito Santo. Visto que a paternidade e a filiação são eternas em Deus, a lei de amor requer que os cristãos se conformem a Deus em ambos aspectos, como a mais alta dignidade do ser deles. A reciprocidade de afeição data além do tempo. Um pai humano pode ser tanto pai como filho. Contudo, isso não pode ser verdade da Pessoa Divina. Uma pessoa humana pode ser um filho e não um pai, mas tornar-se um pai subseqüentemente. Tal mudança na Deidade destruiria a imutabilidade. As três Pessoas na Deidade são co-eternas. Elas existem lado a lado, mas não independentemente ou separadamente.

O Pai é Deus. Se o Filho de Deus não tivesse pré-existência em Sua divina natureza antes dEle nascer da Virgem Maria, não haveria nenhum Deus o Pai há 2.000 anos atrás. Negar o Filho eterno é negar o Pai eterno: “Qualquer que nega o Filho também não tem o Pai; e aquele que confessa o Filho tem também o Pai” (1 João 2:23). “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mateus 11:27). “ Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer” (João 1:18). “Jesus respondeu: Se eu me glorifico a mim mesmo, a minha glória não é nada; quem me glorifica é meu Pai, o qual dizeis que é vosso Deus. E vós não o conheceis, mas eu conheço-o; e, se disser que não o conheço, serei mentiroso como vós; mas conheço-o e guardo a sua palavra” (João 8:54,55).

O Filho é Deus. Jesus Cristo é revelado nas Escrituras como Deus; portanto, Ele deve ser adora, servido e obedecido como Deus. Suas próprias excelências Divinas provam que Ele é Deus: (1) “O teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo; o cetro do teu reino é um cetro de eqüidade” (Salmos 45:6) é aplicado à Jesus Cristo (Hebreus 1:8). (2) “Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés” (Salmos 110:1) é aplicado à Jesus Cristo (Mateus 22:44). (3) “ Desde a antiguidade fundaste a terra; e os céus são obra das tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás; todos eles, como uma veste, envelhecerão; como roupa os mudarás, e ficarão mudados. Mas tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim” (Salmos 102:25-27) é aplicado à Jesus Cristo (Hebreus 1:10-12). (4) “No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o templo. Os serafins estavam acima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, e com duas cobriam os pés, e com duas voavam. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Isaías 6:1-3) é aplicado à Jesus Cristo (João 12:41).

A Escritura é clara que Jesus Cristo existia e agia antes da Sua encarnação. A revelação objetiva de Deus é a obra do Filho de Deus. A manifestação subjetiva de Deus é a obra do Espírito Santo. Assim como a característica distintiva de Deus o Pai é que Ele não é gerado, a característica distintiva é que Ele é gerado. A subordinação de Cristo ao Filho é oficial e essencial. Como o filho humano não é menos humano do que seu pai, o Filho Divino não é menos Deus do que o Pai Divino. Cristo não somente dá o Espírito, mas Ele também opera através do Espírito.

O Espírito Santo é Deus. Muitos cristãos professos não têm um conceito maior do Espírito Santo do que o de uma influência impessoal e sobrenatural de Deus. O Espírito Santo é uma Pessoa, e Ele é Deus (Atos 5:3, 4; 1 Coríntios 12:6,11). O Espírito é chamado de outro Consolador (João 15:26). Ele é mencionado com o Pai e o Filho na comissão para batizar (Mateus 28:19). Ele é colocado num plano de absoluta igualdade com o Pai e o Filho como a fonte de poder e bênção (2 Coríntios 13:14). Como uma Pessoa, o Espírito Santo fala (Atos 8:29), envia (Atos 10:19, 20), chama (Atos 13:2), guia (João 16:13, 14), conforta (João 14:16, 17), regenera (João 3:8), ensina (1 João 2:20-22), intercede (Romanos 8:26, 27), e pode ser entristecido (Efésios 4:30).

A declaração de que “o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado” (João 7:39) é confusa para alguns. Dizer que o Espírito “ainda não fora dado” é como dizer que antes de Thomas Edison a eletricidade ainda não existia. Havia tanta eletricidade no mundo antes de Edison como existe agora. Thomas Edison ensinou a existência da eletricidade e como armarzená-la e usá-la. Há muitas referências no Antigo Testamento com respeito à existência e obra do Espírito Santo (Gênesis 1:2; Êxodo 28:3; 31:2, 3; Jó 26:13; Salmo 139:7; Zacarias 4:6). O Espírito Santo veio em Sua presença habitadora no dia de Pentecoste como o Cristo encarnado veio em Seu primeiro advento quando Ele nasceu da Virgem Maria. Assim como o Pai não foi claramente revelado até o nascimento de Cristo, as coisas de Cristo não foram claramente reveladas até a vinda do Espírito em Pentecoste. Ele não revelou as coisas de Cristo até que elas estivessem prontas para serem feitas conhecidas. A Escritura é clara que o Espírito Santo existia e agia antes de Pentecoste. A manifestação subjetiva de Deus é a obra do Espírito Santo. A revelação objetiva de Deus é a obra de Deus o Filho. O Espírito Santo torna a revelação objetiva de Deus numa experiência subjetiva no eleito.

 


Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 05 de Agosto de 2005.


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