Soli Deo Gloria
por
Rev. José Maurício Passos Nepomuceno
Durante todo o desenrolar histórico do relacionamento de Deus com Seu povo, um alerta tem sido notório e reincidente: Deus deseja ser glorificado em, por e através de nós e de nossa instrumentalidade.Deus não precisa receber a glória dos homens para ser completo ou sentir-se realizado. Pois, como disse o próprio Cristo Jesus, Ele já possuía toda glória antes que o mundo existisse (João 17.5). Mas, então, por que Deus deseja ser glorificado pelos homens? Por que os fez para a Sua própria glória?
Na resposta a essas questões, está um dos pontos focais da teologia reformada. Pois, entre os conceitos básicos da Reforma Protestante figura a resposta mais profunda à inquietante questão da razão da existência humana: Por que e para que existe o homem? Os reformados responderam: o homem existe porque Deus o criou e o criou para a sua própria glória.
Essa postura reformada é a mais simples análise do ensino bíblico sobre a existência do homem; basta uma olhadela do texto bíblico e logo descobriremos isso (Isaías 43.7). Desde a meninice, os filhos dos crentes reformados aprendem: qual é o fim principal do homem? Glorificar a Deus e gozá-Lo para sempre. Isso é o que diz o Breve Catecismo de Westminster.
Soli Deo Gloria foi um lema reformado que derivava do entendimento de que, assim como o homem, tudo o que ele faz deve se destinar à glória de Deus. Essa deve ser a mola motora que nos estimule a viver neste mundo.
Um dos maiores problemas do homem, em todos os tempos e sobretudo nos dias atuais, é a questão do seu próprio significado. O que significa viver? Muitas pessoas não querem mais viver, pois perderam o rumo, não encontram razão para estarem vivas amanhã.
Nos tempos modernos, os homens descobriram o consumismo, e isto tornou-se o seu fator motivador - depois do primeiro carro, vem o segundo, aquele novo televisor com mais polegadas que a própria estante, a estante maior vem em seguida... E todos esperam que a economia melhore, para poderem consumir mais.
Nos dias dos Reformadores, as mesmas questões estavam fervilhando, mas eram respondidas de outra forma. De uma maneira geral, as pessoas comuns e muitos “incomuns” viviam para a Igreja. Isso aparentemente era muito bom, pois havia um sentimento religioso e uma busca pelo divino. No entanto, a Igreja havia tomado o lugar central da vida das pessoas; elas estavam dependentes da igreja como uma instituição. Definitivamente, o romanismo havia destruído o catolicismo (conforme foi dito por um sacerdote católico-romano em durante a reunião do conselho de padres casados - Goiás).
O Império, o governo local, o comércio, o latifúndio, a extração mineral, o conhecimento, a arte, a filosofia e toda e qualquer outra riqueza estava atrelada à igreja. Onde está o mal disso? Reside no fato de que a igreja pensava em sua própria glória e grandiosidade.
Lutero vivia para a Igreja até que descobriu que a igreja não estava mais vivendo para Cristo e sim para o papado e para si mesma. Não somente ele; Calvino, Zwínglio, Farel, J.Knox..., todos afirmaram com suas palavras e atos que iriam viver para Deus. Como Calvino comentou: “... Deus deseja que a Sua glória seja manifesta no seu povo”. (Calvin Commentaries on the Isaiah 43.7).
Hoje, corremos o risco perigoso de viver para a nossa própria glória. Isso fará, aos poucos, com que as pessoas que estão na igreja percam o sentido real de sua existência, quando outras coisas tomam a frente dAquele que deve ser o nosso único motivo para termos sido feitos “Igreja de Deus”: viver somente para a glória de Deus.
O homem somente encontra o seu significado quando consegue cumprir com o propósito para o qual foi criado. Mas, isso só alcança o homem redimido em Cristo, pois este é recriado por Deus para viver essa realidade.
Ser um reformado implica em viver somente para Ele e para a Sua glória. Por isso, é necessário sempre reformar, para que, em todas as coisas que fazemos, Deus seja glorifcado. Pois, corremos hoje atrás de muitas coisas, visando quase sempre o nosso bem- estar. Não que seja pecado em si o ato de buscar o próprio progresso, mas isso não pode tornar-se o motivo de nossa existência. Descubra a vida gloriosa que há em viver e fazer tudo somente para a glória de Deus. Soli Deo Gloria! Amém!
Agradecemos o autor, Rev. Maurício Nepomuceno, pelo envio e permissão da publicação do presente artigo. O Rev. Nepomuceno, pela graça de Deus, é um dos nossos colaboradores.
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