“Deixados para Trás”: Má Ficção, Péssima Teologia!

por

Charles Henderson



Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins estão na lista dos autores mais citados dentre os maiores sucessos editoriais do momento por causa da série “Deixados Para Trás”. Provavelmente eles fizeram mais do que quaisquer outros para tornar o termo “arrebatamento” familiar para a maioria dos norte-americanos. Para colocar em termos numéricos, a dupla vendeu mais de 65 milhões de cópias, relativas aos doze livros da série. Vários milhões de livros foram traduzidos e vendidos para 16 diferentes línguas ao redor do mundo.

Dada a desconcertante popularidade desses romances, alguém questiona estupefato: qual o segredo de tanta atração? Na tentativa de responder para mim mesmo essa questão, dei uma segunda olhada no livro número sete da Série. Imediatamente após a sua publicação, o “O Possuído” catapultou para o topo da lista dos bestsellers do New York Times, um feito notável, especialmente quando se leva em conta que esse jornal não considera as vendas feitas apenas em livrarias cristãs. Este livro compartilha das premissas de todos os anteriores ‘Deixados Para Trás'. LaHaye e Jenkins seguem um padrão que nos diz que é simplesmente uma dramatização dos eventos previstos na Bíblia. Em “O Possuído”, encontramo-nos na metade do período de sete anos que os autores entendem como sendo a Tribulação. É um tempo caótico para os povos da terra. Apenas três anos e meio antes dos eventos descritos neste livro, todos os nascidos de novo, crentes que davam crédito à Bíblia, foram “arrebatados” diretamente para o Céu. Sem estas pessoas devotas, decentes e fiéis ao lado para defenderem a causa do bem e da verdade, o controle do mundo cai nas mãos do carismático Nicolae Carpathia, líder do novo governo mundial. Carpathia, nascido na Romênia, humanista e pacifista, é um ex-secretário geral das Nações Unidas.

Jenkins e LaHaye levam os seus leitores a crer que o resto da população dos Estados Unidos é tão susceptível à sedução de Carpathia, designado pela Revista “People” como 'o homem mais sexy que existe', que os norte-americanos aceitaram abrir mão de existirem como nação para se submeterem à soberania de um governo mundial que o Romeno construiria num lugar chamado Nova Babilônia, em algum lugar do Oriente Médio. Este livro abre com o assassinato de Carpathia e termina com a sua ressurreição. É assim que aparenta. Só que de fato o Carpathia ressuscitado nada mais é do que Satã encarnado. Satã, banido do Céu, veio governar o Mundo como o Anticristo. Para o fiel que ousa resistir, o futuro se mostra sombrio. Mas uma pequena parte de crentes verdadeiros, incluindo entre eles Rayford Steele, o ex-piloto; Cameron “Buck” Williams, editor da Revista Eletrônica “A Verdade” e alguns outros, se lançaram numa valente resistência. Lutam em e contra todas as vicissitudes, inspirados pela esperança de que um dia eles também possam ser retirados da escuridão e aflição atuais para se unirem ao Salvador e seus amados no Céu.

Aparentemente, o fato de que esse cenário não é, e nunca foi, a visão prevalecente dentro da maioria das igrejas cristãs do que acontecerá no “final dos tempos” não afeta a popularidade desses livros.

Na verdade, a idéia de um Arrebatamento que retiraria os cristãos com segurança do Cenário de um mundo preste a entrar num caos sem medida é um desenvolvimento relativamente recente. Concebida primeiramente por John Nelson Darby da Irmandade de Plymouth, em 1827, foi incorporada e difundida de forma massiva a partir da publicação em 1909 da Bíblia de Referência de Scofield. Entre os críticos mais estridentes deste Cenário de Arrebatamento encontram-se os milhões de cristãos evangélicos e fundamentalistas que encontram nele uma leitura fatalmente fragmentária da própria Bíblia. É desnecessário dizer que, para aqueles que como nós não crêem que os eventos futuros relativos ao Terceiro Milênio estão preditos e pré-determinados pelas profecias bíblicas, tais cenários são mais fantásticos do que ficção cientifica. Alem disso, escritores como Hal Lindsey e Jenkins/LaHaye revivem uma teoria do século dezenove e de tal maneira a empacotam que transformam uma doutrina religiosa obscura numa forma de entretenimento.

Primeiro encontramos as obras de LaHaye, e de Jenkins, durante a histeria do chamado bug da virada do milênio (Y2K), ocorrida a alguns anos atrás. Lembram-se do bug do milênio, da temível sigla Y2K ? Embora hoje o bug da virada do milênio nos computadores tenha sido esquecido pela maior parte das pessoas, em 1999 houve aqueles que achavam que as conseqüências desta peculiaridade na maneira em que os dados seriam calculados nos computadores pessoais, de alguma forma, traria uma catástrofe para o nosso planeta. Entre os que advertiam acerca da proximidade dos dias finais estavam Tim LaHaye e Jerry Jenkins. Por muitos anos eles haviam previsto uma catástrofe planetária, e o aparentemente pequeno bug do computador se lhes pareciam exatamente o começo de toda a hecatombe. O mercado de ações deixaria de funcionar. O sistema elétrico entraria em colapso. As fontes de abastecimento seriam cortadas. Haveria pânico nas ruas. Dirigidas pelo medo, as pessoas colocariam os seus destinos nas mãos de um governante inescrupuloso que pudesse assumir o controle da situação. Logo, as ficções contidas em seus romances transformar-se-iam em fato, exatamente como a Bíblia assim dizia. Mas, nada de preocupação, por que tão logo a tempestade estivesse acontecendo, os crentes fiéis seriam salvos milagrosamente. Assim que 80 milhões de cristãos americanos fossem arrebatados aos céus, o mundo inteiro soçobraria no caos. Como se sabe agora, nada ainda que remotamente comparado a isso aconteceu.

Teria isso feito com que Tim LaHaye e Jerry Jenkins mudassem o seu modo de pensar? Não, de modo algum. Ao invés disso, outros sinais mais claros do final dos tempos ainda foram encontrados. Os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001 se lhes pareceram confirmar os temores deles associados equivocadamente com o vírus do computador Y2K. Agora está claro, escreve Tim LaHaye: “este mundo de nossos dias está no caminho de tornar-se cada vez mais violento e tumultuoso do que qualquer período da história”.

Decerto que a onda de terrorismo, de ataques suicidas, chamou atenção da maioria das pessoas, especialmente nos EUA. Mas o terrorismo do Século XXI fez dele o período “mais violento” de toda história humana? Os primeiros dois anos deste século foram mais violentos e “tumultuosos” do que a Idade das Trevas/Idade Média? Piores do que os anos violentos da Guerra Civil? Piores do que a II Guerra Mundial com o holocausto e com o lançamento da bomba atômica? 50.000 americanos perderam suas vidas na Guerra do Vietnã; 3.000 nos ataques terroristas de 11/09. Esses anos de abertura do Século XXI são mesmo os mais violentos do que qualquer outro na história? Colocando à parte essas questões reais, Jenkins e LaHaye não têm nenhuma dúvida sobre isso. Este cenário é tudo parte do Plano de Deus; estamos entrando num período de tribulação em que bilhões de pessoas experimentarão uma morte brutal e violenta. E o que é surpreendente, eles esperam que as pessoas creiam que isso é parte da “boa nova” proclamada primeiramente por Jesus Cristo que veio para que o mundo pudesse ser salvo. Como uma tremenda transformação, tanto a “boa nova” quanto a proclamação de “paz na terra” se transformaram em tétrica previsão de morte e destruição para a maioria oprimida dos povos da Terra.


Tão Norte-Americano como Torta de Maçã.

Então eu volto à pergunta que fiz no início. Por que esses romances são tão populares? Deixe-me dar uma sugestão. Porque elas são tão norte-americanas como a torta de maçã. Os autores negociam com moeda corrente num dos mais poderosos mitos americanos: o do herói que se salva no momento crucial da aflição. Lembra daqueles filmes de mocinho, classe B, do cinema mudo, em que a heroína é amarrada aos trilhos da estrada de ferro? A locomotiva está à vista, trovejando diante de seu corpo indefeso. De repente surge do nada o mocinho no cavalo branco, a galope para salvá-la. Apenas com uma fração de minuto, corta as cordas e liberta a bela mocinha. O passeio do casal com o por do sol à vista nos leva a crer que eles serão felizes daí em diante. Este mito secular foi reencarnado logo depois em algumas coisas que a televisão mostra caracterizando as mulheres mais moças competindo pelo seu direito a um casamento com um milionário ou a conquista de multimilhões de dólares das loterias, que apresentam a promessa de imediata salvação da tediosa vida diária e de acesso ao estilo de vida dos ricos e famosos.

A Série “Deixados Para Trás” sugere que você também pode ser o vencedor do Grande Prêmio do Espaço. Escapar desse mundo de horror para estar entre aqueles que você ama no Céu! Quanto maior for a desgraça que alguém faça aparecer no mundo, tanto melhor, pois maior será o escape, maior será a fome do Salvador, quer na forma de um bilhete sorteado da loteria estadual, ou de um belo milionário, ou do herói final, Jesus Cristo.

Finalmente, assim apregoados, esses romances não somente são má ficção, são má teologia, também. A verdadeira força do Cristianismo não está na oferta de um escape milagroso dos problemas deste mundo, mas na inspiração para resisti-los. Deus oferece não o último salvamento para uns poucos crentes enquanto a maioria da raça humana perece no caos, mas oferece a esperança tão bem expressa pelo próprio Jesus Cristo nas suas palavras de oração, de que seja feita a vontade de Deus “assim na terra como céu”.

Deus nos colocou sobre este conturbado planeta para sermos seus guardiões, não para sermos um povo fissurado que se apressa em correr em direção às portas da saída ante o primeiro sinal de problema.

 



Tradução livre: Anamim Lopes Silva


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