Dons Espirituais
por
Fred G. Zaspel
Capítulo 01 - DEFINIÇÕES
ou O que é um Dom Espiritual?
Palavras DescritivasPara entender a natureza dos dons espirituais, devemos olhar primeiro para as palavras que os escritores da Bíblia usaram para descrevê-los. 1 Coríntios 12 lista-os para nós. Cada palavra, parece, observa os dons de outro ponto de vista, mostrando outro aspecto do seu propósito, função ou origem. Olhar estes termos juntos produzirá uma descrição mais completa dos dons que eles estavam descrevendo.
“Espirituais”No verso 1, a Versão Autorizada (KJV) menciona “dons espirituais”. No grego lemos simplesmente “espirituais” (ton pneumatikon), significando “coisas caracterizadas ou controladas pelo Espírito”. Dons espirituais são, portanto, em primeiro lugar, coisas controladas ou caracterizadas pelo Espírito.
“Dons”No verso 4 encontramos a palavra “dons”, que é traduzida a partir da palavra grega charisma; portanto, nosso termo “carismático”. A palavra raiz significa “graça”. Assim, se pneumatikon nos fala que os dons espirituais são coisas caracterizadas pelo Espírito Santo, charisma nos ensina que eles são dons da graça de Deus. Eles não algo que conseguimos ou merecemos. Eles são dons da graça. Apesar do que o termo “carismático” significa e implica hoje, não há tal coisa como um dom não-carismático. Todos dons são carismáticos; isto é, todos os dons são livremente dados por um Deus gracioso.
Este termo é usado também em Romanos 12:6 e 1 Pedro 4:10. (Deve ser observado que quando Paulo fala de dons em Efésios 4:7-8, ele emprega outro termo, dorea, que enfatiza virtualmente a mesma verdade; isto é, que os dons espirituais são justamente isto — dons, não recompensas.) Isto é mais adiante enfatizado durante toda a primeira metade do capítulo 12. Por exemplo, o verso 7 nos diz que eles são dados; novamente no verso 8 é o mesmo. Os versos 11 e 18 declaram que os dons são dados soberanamente pelo Espírito de Deus: Ele os distribui como quer.
Com esta verdade reconhecida, um princípio básico começa a emergir, um princípio que desenvolveremos mais tarde em maior detalhe. Naturalmente tendemos a pensar que um homem bem dotado deve ser um homem piedoso. Um pastor, por exemplo, que é especialmente dotado em diversas áreas (tais como pregação, ensino, liderança, aconselhamento, etc.) é quase instintivamente presumido ser espiritualmente maduro e mais avançado na santidade do que todos os crentes “comuns”. “Como explicar o fato dele ser cheio de dons?”, pensamos. O simples fato do assunto é que ele pode ou não ser espiritualmente maduro. O fato dele ser cheio de dons não tem nada a ver com a questão, pois os dons não são dados em proporção à santidade ou qualquer outra coisa. Os dons são dados livre e soberanamente por Deus a qualquer um que Ele queira. Eles são dons da graça, não méritos, e assim, eles não indicam de modo algum a santificação de uma pessoa. Eles não provam nada, exceto que Deus dá dons livremente. Os dons espirituais são “carismáticos” — dons da graça.
“Administrações”No verso 5 Paulo os chama de “administrações” [versão inglesa — em algumas outras versões “ministérios”, “serviços”]. O termo no grego é diakonia, “serviço”, a mesma palavra da qual tomamos a palavra “diácono”, que significa “servo”. O próximo fato sobre os dons espirituais, portanto, é que eles são serviços a serem prestados. Sua função primária é para os outros. Dons são para servir.
“Operações”O verso 6 os chama de “operações”. Esta é a palavra grega da qual tomamos nossa palavra portuguesa “energia” (energema). Os dons espirituais são também energizadores. Provavelmente esta palavra enfatiza a divina energia nos capacitando a realizar o serviço. Pedro tinha esta mesma idéia em mente quando ele diz para “ministrar” (servir) com a “capacidade” (força) que Deus dá (1 Pedro 4:11). Deus nos dota para realizar o serviço na Sua força.
“Manifestações”Finalmente, o verso 7 se refere a eles como “manifestações”. A palavra grega (phanerosis) significa “fazer visível”, ou “mostrar”. Os dons espirituais, então, são mostras visíveis de serviço aos outros. Os dons espirituais não são habilidades dadas para fazer algo para si mesmo, sozinho. Isso é egoísmo. Eles são “serviços” visíveis realizados para outros. Eles são exercitados em amor, Paulo ensina no capítulo 13, e “o amor não busca os seus próprios interesses” (13:5).
DefiniçãoColocando todos estes termos juntos, encontramos que um dom espiritual é uma capacidade dada por Deus para servir a igreja eficazmente. Há definições longas que poderiam ser dadas, mas esta parecer dizer tudo. Deus tem graciosamente, de forma imerecida, equipado a cada um de nós com a capacidade de ministrar aos outros dentro do corpo de Cristo. Um dom espiritual, então, é mais do que uma possessão, é um canal através do qual o Espírito Santo ministra para Sua igreja. Isto significa que Ele escolheu edificar a Igreja.
DistinçõesDons e Dom
Nessa conjuntura, algumas distinções são apropriadas. Os dons do Espírito não são iguais ao dom do Espírito. Em Atos 2:38 Pedro diz para aqueles que inquiriram sobre a salvação, “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo”. O “dom” (singular) do Espírito é simplesmente o próprio Espírito Santo. O próprio Espírito Santo era o Dom prometido para todos aqueles que cressem em Jesus. Jesus falou disto em diversas ocasiões. João 7:38-39 registra uma dessas. Jesus disse, “Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva”. Então João adiciona o comentário interpretativo, “Ora, isto ele disse a respeito do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado”. João 14:15-18,26; 15:26; e 16:7 também fala do mesmo Dom prometido, com o faz Atos 1:4-5. Como desenvolveremos mais tarde, o Espírito Santo é o Dom de Cristo para Sua igreja, e isto é fundamental para o recebimento dos dons (plural) do Espírito: quando O recebemos, então, recebemos também o que Ele dá; isto é, os dons espirituais. Por exemplo, desde que eu me casei com minha esposa, tenho comicamente lhe dito várias vezes, “o que é seu é meu, e o que é meu é seu!”. Isto pode ser um pouco unilateral, mas você vê o princípio — quando eu a recebi, eu também recebi o que era dela. Tudo o que era dela se tornou meu também quando nos tornamos unidos em matrimônio. E o mesmo é verdadeiro para ela. Da mesma forma, quando eu recebo o bendito Espírito de Deus, eu O recebo em tudo o que Ele tem para oferecer. Entre os maravilhosos ministérios do Espírito na vida do crente está o ministério de dotar para o serviço. Isto nós recebemos quando O recebemos.
Talvez seja útil parar aqui e explicar outro ponto neste versículo (Atos 2:38). Quando Pedro disse “arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado para remissão de vossos pecados” ele não estava ensinando que o batismo é uma condição para a salvação. A preposição grega traduzida “para” neste verso (eis) carrega a idéia de “por causa de”. “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado por causa da remissão de vossos pecados”. É como aqueles pôsteres na estação policial, “homem procurado ‘por' roubo” [1] — eles não estão solicitando voluntários! Eles estão declarando que alguém é procurado “por causa de” seu crime já cometido; ele não é procurado para cometê-lo! O mesmo é verdade aqui; nós somos batizados em obediência a Cristo, por causa do perdão de nossos pecados e não para ganhar tal perdão.
Dons e Fruto
Nem devemos confundir os dons do Espírito com o fruto do Espírito. Os dons são serviços para serem prestados aos outros; “fruto” fala das graças ou traços característicos de uma pessoa habitada pelo Espírito Santo. Quando o Espírito de Deus toma residência num homem, Ele não somente o capacita para servir, mas também começa a cultivar a santidade, a evidência de que é um solo profundo, o “amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gálatas 5:22-23). Tanto o fruto como os dons são essenciais. Ambos são manifestações da habitação do Espírito. Mas os dois não são a mesma coisa.
Dons e Talentos
Finalmente, uma palavra sobre talentos. Qual a diferença entre um dom e um talento? É freqüentemente dito que nós nascemos com certos talentos, habilidades naturais, mas quando nascemos de novo é nos dado dons espirituais — talentos sendo naturais e dons sendo sobrenaturais. É interessante que tal brilhante distinção nunca é descrita nas Escrituras. Ela é freqüentemente inferida ou apenas presumida, hoje, mas nunca declarada dessa forma nas Escrituras. E com todos os fatos examinados, parece que esta distinção é inútil e difícil, se não impossível, de se demonstrar.
Deixe-me explicar. Gálatas 1:15-16, por exemplo, declara, efetivamente, que Paulo foi dotado para pregar desde antes o seu nascimento. Mas este dom, obviamente, não foi exercitado até muitos anos depois. Certamente, ele, sem dúvida, pregava e ensinava antes de crer, mas tal pregação ou ensino recebeu inteiramente uma nova dimensão quando ele foi salvo. Ele tinha o dom (talento) desde o começo; ele se tornou “espiritual” quando ele se tornou espiritual. (Um homem “espiritual” é um cristão. Esta é a terminologia de Paulo em 1 Coríntios 2:14-15). Seus dons (os quais, sem dúvida, foram soberanamente dados também) “naturais” se tornaram espirituais simplesmente porque ele mesmo se tornou espiritual. Ou olhe isto de uma outra forma: qual é a diferença entre o que o seu professor de Escola Dominical faz para você todas as manhãs de Domingo e o que seu professor da faculdade lhe faz? A diferença é óbvia: o ensino do seu professor de Escola Dominical, ou do seu pastor — embora o mesmo talento, dom, possa ser usado numa sala de aula secular — tem uma dimensão totalmente diferente. Este ensino é espiritual e ministra para a igreja. O talento é o mesmo, mas recebeu uma nova dimensão e uma nova capacidade — uma capacidade para as coisas espirituais. Muitos professores se tornaram “espirituais” e assim ganharam a capacidade para ministrar para a igreja com o mesmo talento, o mesmo dom, que ele tinha desde o começo. Este talento simplesmente se tornou aprimorado em sua capacidade de servir à igreja eficazmente. Tornou-se espiritual. Assim o contraste não é absoluto; nem há distinções necessárias. Deus sabiamente e providencialmente equipa no nascimento; a dimensão espiritual é adicionada no novo nascimento, mas o talento em si mesmo é basicamente o mesmo.
Uma ObservaçãoAntes de deixar este assunto de definições, mais uma observação é necessária, e é no que concerne a palavra “manifestações”. Extamente o que é manifesto? O que é feito visível? É o próprio Espírito Santo! Um dom espiritual é uma “manifestação do Espírito” (1 Coríntios 12:7, itálico adicionado). Isto é como o Espírito Santo é visto — no exercício dos dons espirituais. Uma das maiores demonstrações do Espírito Santo é uma igreja na qual os membros estão exercitando os dons uns para com os outros. Uma igreja funcionando como um corpo bem dotado é uma bela demonstração do Espírito. Assim, um dom espiritual não é somente uma habilidade para servir; ele é um canal através do qual o Espírito Santo ministra ao corpo. Isto coloca a discussão num nível mais alto de importância! Quando você exercita seu dom a serviço de outros crentes, isto será reconhecido como a manifestação, a demonstração do Espírito de Deus. Deus escolheu ministrar ao Seu povo através de nós! Poucas coisas podem se comparar à benção de saber e experimentar isto.
Portanto, se pergunte: como o Espírito Santo ministrou através de você nesta semana? Como Ele o fará na próxima?
NOTAS:
[1] - Nota do tradutor: A tradução perdeu um pouco da comparação, pois no inglês tanto em Atos 2:38 como na frase é usada a preposição ‘for' (para, por, etc.). A tradução literal para o português ficaria sem sentido: “homem procurado ‘para' roubo”. O duplo sentido é possível somente no original: “man wanted `for' robbery”.
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