Santa Ceia - Carta de Calvino ao Cardeal Sadoleto

por

João Calvino



1. INTRODUÇÃO

Calvino em resposta ao Cardeal Sadoleto nos traz um pequeno tratado, dizendo quão rico é o sacramento da Ceia do Senhor.

Ele nos mostra: Finalidade e razão da instituição da Ceia para nós; Quais os frutos e utilidades ao recebermos a Ceia; Qual o seu uso verdadeiro; Enganos e superstições que têm corrompido a Ceia e as diferenças entre os evangélicos e os papistas.

Calvino neste pequeno tratado ainda dirige suas palavras a disputa entre os luteranos e zwinglinos e também a origem desta disputa. Este ponto não será comentado por não se tratar especificamente do pensamento de Calvino sobre a ceia, mas sim de outros dois reformadores, Zwínglio e Lutero.


2. FINALIDADE E RAZÃO DA INSTITUIÇÃO DA CEIA

Neste ponto, Calvino mostra que a Santa Ceia é objeto da bondade de Deus. Este Deus que supre as necessidades físicas dando o alimento físico para o corpo é Aquele que alimenta espiritualmente também. Se a vida que foi regenerada é espiritual, o alimenta para esta vida deve ser também espiritual. Na vida não se deve aguardar uma herança celestial, mas já saber que se é introduzido nela pela esperança. Esta vida não deve somente ser aguardada, mas saber que ela liberta da morte.

Então ele argumenta que o alimento desta vida, que é espiritual, não deve ser algo corruptível e perecível, mas alimentos que possam nutrir as almas. E as Escrituras ensinam que o mesmo pão que alimenta a alma é a mesma Palavra pela qual o Senhor regenera. Os que são regenerados, o são por meio da Palavra, por Ela alimentados e nutridos. Isso acontece na Santa Ceia. E o Senhor sabendo que cada um necessita se alimentar não dá outro alimento a não ser o Seu próprio Filho, Jesus Cristo.

Sabe-se que Jesus Cristo é o único alimento que pode nutrir as almas, e este alimento é distribuído por meio da Sua Palavra. Através do Sacramento da Ceia ouve-se a Palavra de Deus e assim se tem uma comunicação com Cristo. Calvino coloca que devido a fraqueza do homem, o pecado, não se tem condições de receber a Palavra de Deus quando é apresentada simplesmente por meio da doutrina e prédica, mas sendo Deus misericordioso para com o homem, Ele sinaliza de forma visível pelo qual pode-se ver a realidade de Suas promessas. E por meio deste sinal há confirmação e fortalecimento que livra o homem de toda a dúvida e incerteza.

Há também um mistério muito grande e incompreensível nesta afirmação de que na Ceia se tem comunhão com o corpo e o sangue de Jesus Cristo. Calvino ainda diz que sendo os homens ignorantes e incapazes, não consegue compreender as mais simples coisas de Deus. Para isso era necessário que Ele desse a entender este mistério de uma maneira adaptada ao entendimento humano.

A Ceia do Senhor foi instituída para firmar e selar as consciências humanas às promessas contidas no Evangelho. Promessas estas que fazem do homem participante do corpo e do sangue de Cristo. E também para dar a certeza de que Cristo é O Verdadeiro alimento espiritual e levar o homem a certeza da Salvação.

Também é utilidade da Ceia o exercício de reconhecer a grande bondade de Deus para com o homem e assim O magnificar com maior afinco. A Ceia exorta a uma vida de santidade e pureza , por que aquele que participa é feito membro de Cristo, e também ao amor fraternal que é recomendado.

Estas são as finalidades da Ceia ser realizada hoje dentro das igrejas evangélicas, sendo considerada como uma marca da igreja verdadeira. Entendendo serem estas as razões para que a Ceia seja realizada e considerando cuidadosamente tudo o que foi dito por Calvino pode-se tirar maiores proveitos dela e poder utilizá-la de maneira mais reta.

 

3. UTILIDADE E FRUTOS DA CEIA

Reconhecendo a utilidade da Ceia, se pode valorizá-la da maneira como deve ser feita. Calvino coloca agora quais as utilidades da Ceia.

Primeiramente , Calvino mostra que a Ceia supre a carência do homem. Quando o homem examina o que ele é e o que há nele, necessariamente ele é envolto por uma crise de consciência. Por que não há ninguém que possa encontrar em si mesmo alguma partícula de justiça, pelo contrário todo homem é de todo cheio de pecado e iniqüidade, de maneira que não há necessidade de que ninguém fora dele o julgue, o condene ou o acuse. A todos aguarda a ira de Deus e nada, nem ninguém pode escapar a morte eterna. E a menos que a humanidade esteja adormecida ou entorpecida, este pensamento sobre o juízo de Deus será como uma tortura perpétua. Quando se pensa no juízo de Deus não se pode esquecer da condenação humana. Que esperança poderia se ter de ressurreição quando é considera-se o corpo físico? Neste corpo que é podre e miserável! E agora, o Pai Celestial socorre ao homem nesta miséria e podridão por meio da Ceia, como um espelho. E aí se pode contemplar o Senhor Jesus crucificado para abolir as faltas e livrar o homem da corrupção e da morte. É na ceia que é recebido um consolo, sabendo que ela conduz a humanidade a Cruz de Cristo e a Sua ressurreição. Dando ao homem a certeza que ainda que haja nele iniqüidade o Senhor não deixa de aceitá-lo, como se fosse justo.

Segundo , por meio da ceia o homem torna-se participante das riquezas de Cristo. Sabendo que nele não há de bom que contribua para a salvação, pode-se dizer que a ceia nos dá o testemunho de que somos feitos participantes da morte e paixão de Cristo. Nela pode-se ter o que é útil e necessário para a salvação. Assim pode-se dizer que na ceia o Senhor Jesus estende aos homens todos os tesouros e graças espirituais. Recorda-se que a Ceia é um espelho onde se vê Cristo crucificado livrando os homens da condenação, e ressurreto dando a justiça e vida eterna. É certo que esta mesma graça é oferecida por meio do Evangelho.

Terceiro , na Ceia é recebido a Jesus Cristo mesmo. Sabendo que todos os bens que são recebidos na ceia são provindos de Cristo. Então só se recebe os tesouros de Cristo se primeiramente O recebê-LO como Salvador. Jesus é a matéria e a substância dos sacramentos. A eficácia da ceia é somente por se ter a certeza de haver recebido a morte e ressurreição de Cristo, tendo as almas lavadas pelo sangue de Jesus; e recebida a justificação pela Sua obediência.

Em resumo, a esperança que se tem é em razão de tudo o que Ele fez. Em tudo o que foi dito pode-se saber o seguinte: Jesus Cristo é a fonte e matéria de todos os bens, logo, é fruto e eficácia de sua paixão e morte. O corpo foi entregue e o sangue derramado em favor dos homens, então não se deve participar apenas comendo o pão ou apenas bebendo o cálice, mas deve-se comer do pão e beber do cálice como foi ordenado. Não se pode aproveitar deste momento com inteireza sem participar de todo o sacramento, pão e vinho. O princípio fundamental da Ceia é que toda a utilidade da ceia seria anulada se Jesus Cristo não fosse dado como substância fundamento de toda a ceia. Através da ceia participa-se de uma verdadeira comunhão com Jesus Cristo, e por isso não há como fazer dela uma coisa inútil e sem valor. O Seu Espírito é dado como sendo a vida e desta mesma forma Ele diz que a Sua carne é verdadeira comida e seu sangue, verdadeira bebida. E estas palavras não são vãs, por isso se deve ter as almas saciadas em seu corpo e seu sangue, os verdadeiros alimentos.

Calvino também explica que da mesma forma que João batista quando foi batizar a Jesus viu o Espírito Santo, ele não viu nada diferente de uma pomba que era um sinal verdadeiro do Espírito. Espírito que não poderia ser visto por João se não fosse por intermédio daquela pomba. Assim na ceia o pão e o vinho são sinais visíveis que representam o corpo e o sangue de Cristo, por meio dos quais Cristo lembra de seu corpo e sangue derramado pelos homens. E assim Calvino diz que os sacramentos do Senhor não podem ser separados de sua verdade e substância. Quando é dado o sinal visível, sabe-se o que representa o sinal e por quem nos é dado.

Deve-se confessar que, sim é verdadeira a representação que Deus oferece na Ceia, a substância interior está unida aos sinais visíveis, da mesma forma como o pão é entregue na mão assim é comunicado o corpo de Cristo. Pode-se então entender que Jesus Cristo na Ceia dá a própria substância de seu corpo e sangue, a fim de que O tenha e com Ele participe de todos os seus bens.

Quarto, Cristo admoesta a reconhecer os bens que Deus dá. Isso é um fruto proporcionado pela ceia. Reconhecendo isto lhe será dado o louvor que é devido. Calvino coloca neste ponto que a Ceia faz o homem ver e meditar quantas coisas lhe tem sido dadas. E quando olhar tudo o que tem saiba que o Senhor o tem abençoado, fazendo-o glorificá-Lo e louvá-lo com sua vida. A ceia faz aos homens enxergarem coisas espirituais. E ele deseja que seja anunciada a Sua morte até o Seu retorno. E assim, não se esquecer tudo o que Ele proporciona e deve-se trazer à memória com ações de graças. A ceia, portanto livra o homem de ser ingrato para com Deus. E não o deixa esquecer que Cristo morreu na cruz pelos seus pecados.

Quinto, exorta a ter um viver santo. Se na ceia o homem é unido a Cristo é porque tornam-se um corpo. Sendo Ele o cabeça. E assim, o homem deve se conformar a Sua pureza, e ter entre todos amor e paz, que deve reinar entre os membros de um mesmo corpo. A principal coisa que fará o homem ter um viver santo não é um símbolo da ceia, mas sim que o Seu Espírito aja internamente na vida de cada homem. Então, a virtude do Espírito Santo unido aos sacramentos deve levar os homens a crescer e melhorar em santidade de vida e especialmente em amor.

Graças a Deus pelo lucro espiritual que pode ser retirado da Ceia. Ela alimenta e também leva à uma reflexão sobre a vida diante do Senhor.


4. QUAL O USO VERDADEIRO DA CEIA?

 

Qual o uso legítimo da ceia? Este ponto visa mostrar como se deve observar este sacramento do Senhor que é tão importante. Muitos têm ao ministrar a Ceia a tratado com menosprezo e descuido, sem nenhuma preocupação em obedecer as ordens do Senhor. Estes abusam da Ceia e a contaminam.

Nada há abaixo do céu e acima da terra mais valiosos que o sangue e o corpo de Cristo. Por isso Paulo exorta o exame de si mesmo para o seu bom uso. Se houver a preocupação da Ceia ser ministrada como o Senhor deseja, o erro será evitado.

Primeiro, arrependimento e fé. Deve-se, no momento da ceia, cada um se examinar para ver se há um genuíno arrependimento e uma fé verdadeira para com o Senhor Jesus. Arrependimento e fé devem andar juntos. Se é reconhecido que toda a felicidade está na graça do Senhor, é necessário que se compreenda quão grande é a miséria humana sem ela. O afeto do homem por Cristo só será possível ele se sentir entristecido por seu viver. Quando se reconhece que sem Cristo não há nada que livre o homem do juízo de Deus pode-se saborear a bondade de Deus, despertando no homem um desejo de ser obediente à Sua Palavra e com vontade de renunciar toda a vida que o precedeu, para ser com Ele nova criatura. Se se deseja participar da Ceia devidamente, deve-se confiar que Cristo é a justiça, vida e saúde, sabendo que Suas promessas são certas e seguras e assim, renunciar todas as confianças contrárias. Deve-se ir até Ele com fome e sede. Não seria um engano buscar o alimento sem se ter fome? Para se ter apetite não é necessário apenas um estômago vazio, mas também um apetite bem disposto e em condições de receber alimento.

Não se pode desejar a Jesus Cristo se não se aspirar sua Justiça, que consiste em renuncia de desejos e obediência a Ele. Não se deve querer pertencer ao corpo de Cristo tendo uma vida dissoluta. Quando se está unido a Cristo não se pode viver junto aos pecados nos quais se andava outrora. Então, para que se alcance um verdadeiro arrependimento deve-se desejar que a vida se conforme ao exemplo de Cristo. E sabe-se que isso deve se cumprir em todos os aspectos da vida, mas particularmente no amor fraternal que é recomendado neste sacramento. Não se deve participar da Ceia tendo algum ódio ou rancor contra alguém que faz parte do mesmo corpo.

Mas como não há na terra pessoa alguma que tenha progredido tanto na fé e na santidade de vida que não tenha debilidades, podem haver algumas boas consciências que foram perturbadas com o que foi dito anteriormente, a não ser que as previna moderando os preceitos que se tem estabelecido tanto a respeito da fé como do arrependimento. E é muito perigoso ensinar uma confiança e um arrependimento perfeito, que exclua a todos que não se sente assim. Pois neste caso seria necessário excluir a todos. A fé dos filhos de Deus é de uma maneira tal que devem sempre pedir socorro a Deus pela incredulidade. Porque é algo que faz parte da natureza humana e que será libertada dela somente quando vier a ressurreição. Não há ninguém que não tenha muitas faltas, mesmo sabendo que existem uns mais imperfeitos que outros. Se se espera que na ceia as pessoas cheguem ostentando-se em pureza, a Ceia seria inútil e também causaria dano às pessoas. Este pensamento, de se achegar à Ceia com ostentação de pureza e fé, é contrário a vontade do Senhor. Mesmo com a pouca fé e a consciência sem estar de toda limpa, isso não deve impedir ao homem de se achegar a Mesa do Senhor. O verdadeiro arrependimento é firme e constante, e leva à batalha contra o mal que mora em todos, não somente um dia ou uma semana, mas constantemente e sem trégua.

Quando é sentido um forte desagrado e desgosto por todos os vícios, que nascem do temor a Deus, e um desejo de viver bem a fim de agradar ao Senhor, existem condições de se participar da Ceia, mesmo sabendo que se leva na carne debilidades. Se não houvessem debilidades e imperfeições, para que serviria este sacramento? Então, sabendo que a ceia é um remédio que Deus dá para suprir as debilidades, fortalecer a fé, aumentar o amor fraternal, e fazer progredir em toda a santidade de vida, deve-se participar dela com toda esta consciência. Assim, a imperfeição não deve impedir a ninguém de participar da Ceia. Se é alegado que não se participa da Ceia porque a fé é débil e a vida não é de toda íntegra, é a mesma coisa que alguém não vai ao médico por estar doente. A debilidade da fé que é sentida no coração e as imperfeições da vida devem servir para admoestar a participar da Ceia.

Segundo, a freqüência da comunhão. Não se podem fazer indicações de quantas vezes a Ceia deve ser tomada pelos irmãos, pois algumas vezes podem existir impedimentos particulares para que a pessoa se abstenha. E não há nenhum mandamento expresso que obrigue a todos os cristãos a participar da Ceia todas as vezes que se ofereça a oportunidade, mas reconhecendo o propósito de Cristo ao dá-la, faz-se uso dela com mais freqüência. Quanto mais for sentido uma aflição pelas falhas, mais dever-se-ia exercitar aquilo que confirma a fé e leva a um progresso de pureza de vida. Vendo na Bíblia que não há nada que marque o dia ou ocasião da Ceia, deve-se realizá-la com maior freqüência.

Algumas pessoas usam desculpas frívolas para não participar da Ceia. Alguns dizem que não se sentem dignos e, com essa desculpa, não participam da Ceia durante todo o ano. Outros não participam por acreditar que não devem comungar com pessoas que não estejam preparadas para o momento.

Se a Ceia é tão importante assim, como podem ficar um ano sem participar dela? É certo também que o pensamento de que não deve haver comunhão está errado, pois a Bíblia diz que a Ceia é uma tarefa individual, que cada um julga e discerne sobre a sua própria vida: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo” . Enquanto nesta vida mortal, Cristo Jesus não é, jamais comunicado, de tal maneira que as almas sejam de todo saciadas. Ele é o alimento contínuo por meio deste Sacramento.

 

5. ENGANOS E SUPERTIÇÕES QUE TÊM CORROMPIDO A CEIA

O diabo tem tratado de corromper este Sacramento. Ele tem feito isso por meio de erros e superstições e não cessa de prosseguir em tal intento, a tal ponto, que tem transtornado tanto a Ceia, fazendo da ordenança do Senhor, mentira e futilidade. Calvino, então, não se detém em discutir quando começou este abuso e como tem crescido, mas preocupa-se em advertir, enumerando os erros que o diabo tem introduzido, dos quais se deve guardar, se for este o desejo, de se ter a Ceia em sua plenitude.

Primeiro, o Sacramento é um sacrifício oferecido a Deus pelo sacerdote . Ainda que a Ceia leve à cena de Jesus morrendo na cruz como sacrifício oferecido por Deus, o Pai, para a expiação e satisfação dos pecados, alguns homens têm inventado que a Ceia é um novo sacrifício oferecido a Deus pelo sacerdote para a remissão dos pecados daqueles que participam dela. Calvino diz que este pensamento é um sacrilégio, pois se reconhece a morte de Cristo como sacrifício único que reconcilia o homem com Deus, apagando todas as suas faltas. Se Jesus não é o único sacrifício, retira-se dEle a Sua honra e comete-se uma grande ofensa. Então, esta idéia de que a ceia é um sacrifício oferecido pelo Padre para remissão de pecados, deve ser considerada como diabólica. Isso vai contra toda a Bíblia.

Calvino defende aqui a suficiência de Cristo, dizendo de uma vez por todas que Seu sacrifício dá a certeza de que há remissão por todas as faltas. Ele combate o costume da Igreja antiga de figurar com gestos uma espécie de sacrifício quase idêntico à cerimônia do Antigo Testamento, exceto que, em lugar de um animal, usava-se a hóstia. Isso se assemelha ao Judaísmo e, não, à Ceia do Senhor. Os sacrifícios do Antigo Testamento prefiguravam o sacrifício de Cristo. Uma vez cumprido este sacrifício, resta apenas participar dele e, não, continuar a prefigurá-lo.

O segundo erro que o diabo tem semeado para corromper a Ceia, consiste em inventar que logo que as palavras institucionais são pronunciadas o pão se transubstancia em Corpo de Cristo e o vinho, em Seu Sangue. Esta afirmação não tem nenhuma base bíblica nem testemunho da Igreja Primitiva.

No Sacramento, o que se entende é que o pão material permanece sendo o sinal visível do Corpo. Há uma regra geral para isso: que os sinais visíveis devem ter alguma semelhança com a coisa espiritual que figuram. Pode-se ver isso tanto no Sacramento da Ceia quanto no Sacramento do Batismo, onde a água que limpa toda a sujeira do corpo simboliza aquilo que é feito por intermédio do batismo, limpeza das almas. Conclui-se que a transubstanciação é uma invenção do diabo para corromper a Ceia.

Terceiro, a presença local de Cristo. Para algumas pessoas, Jesus Cristo está contido sob estes símbolos e que ali é necessário buscá-Lo. Para sustentar esta afirmação, é necessário admitir ou que o Corpo de Cristo não tem dimensão ou que pode estar em diversos lugares e, ao sustentar tal coisa, chega-se à conclusão de que em nada se difere de um fantasma. Então, sustentar que a presença do Corpo de Cristo seja encerrada no sinal ou se una localmente a Ele, não somente é uma ilusão, como também, um erro condenável, oposto à glória de Cristo e destruidor do que se deve sustentar acerca de Sua humanidade.

Se Cristo for rebaixado a elementos corruptíveis deste mundo e, ainda, destruído tudo o que as Escrituras ensinam acerca de Sua natureza humana, anula-se a glória de Sua ascensão. Este é também um erro diabólico.

Quarto, adoração da hóstia. Esta adoração à hóstia é uma idolatria. E, adorar o pão como se ali Jesus estivesse, é fazer dele um ídolo melhor que um Sacramento. Não é ordenado adorar; apenas tomar e comer. O sinal tinha sempre o intuito de fazer com que a pessoa olhasse para Cristo. Na Igreja Primitiva o povo era exortado a levantar seus corações ao Senhor, antes de se celebrar a Ceia, para dar a entender que deviam adorar a Jesus e, não, ao sinal visível.

Calvino destaca que essa adoração à hóstia – para ele uma calamidade – provém da Igreja Papal e, desta igreja também foi colocado que o povo deve se contentar com apenas metade da Ceia, o pão. É certo que o Senhor Jesus depois de haver ceado, ao passar o cálice aos discípulos não disse a apenas um: “Bebe!”, mas o Senhor disse: “bebei dele todos”. Jesus não fez diferença para ninguém, todos deveriam participar do pão e do cálice. Isso que foi feito pelos papistas é artimanha de satanás para confundir o povo. O Senhor Jesus disse que todos devem beber do cálice, enquanto que o Papa se atreve a dizer que não bebam todos, dizendo isso para mostrar que tem privilégios sobre o povo, honrando Sua dignidade sacerdotal. Tudo isso que o Papa diz não é acusar a Deus de haver se equivocado quanto a maneira como deve ser a Ceia? Para sustentar esta idéia muitos dos papistas ainda se utilizam do argumento que o Senhor Jesus na ceia falava somente aos apóstolos, os quais haviam sido instituídos na ordem sacerdotal. Mas como eles responderão a Paulo que disse ter entregado a todo o povo cristão de Corinto o que também havia recebido, comer do pão e beber do cálice.

Assim, vê-se que é uma perversidade dividir o sacramento da ceia, separando as partes que Deus uniu.

Quinto, subistituição da doutrina pela cerimônia. Este ponto é algo também muito importante sobre o que o diabo tem feito com a ceia. Ele tem feito a ceia se tornar algo sem nenhuma doutrina, mas algo cerimonial. Estas cerimônias são inadequadas, sem nenhuma utilidade e perigosas. Muitas destas cerimônias têm sido usadas com fins monetários e por charlatões. A ceia é algo que deve ser realizado baseado na doutrina bíblica e não em uma cerimônia fria e sem eficácia. O sacramento toma a virtude da Palavra, quando é dito de forma inteligente. Na missa não há palavra inteligente. Pelo contrário são jogadas palavras perdendo todo o mistério deste sacramento, pois o que é falado é falado em secreto. A missa era toda ministrada em Latim. Somente os padres entendiam. Calvino ainda dizia que a Missa era mais uma profanação que uma observação da Ceia de Cristo, e que falta a substância própria e principal da Ceia, ou seja, que o mistério seja bem explicado ao povo e claramente recitadas as promessas, e não que um sacerdote murmure tudo separadamente e em voz baixa, sem sentido e razão.

Calvino termina esta parte com uma pergunta. Se você já tem o corpo porque se apegar a Sua sombra? Se é o desejo restaurar as cerimônias que foram abolidas é necessário que o véu do templo, que Jesus Cristo rasgou com a Sua morte, seja recolocado no local e se escureça a claridade do Evangelho. Esta multidão de cerimônias na Missa reporta ao judaísmo, totalmente oposto ao cristianismo. Não é o desejo repelir as cerimônias que servem a honestidade e a ordem pública, e aumentam a reverência devida ao Sacramento, mas que sempre sejam sóbrias e convenientes. Porém não se pode tolerar um abismo tal, que tem sido trazido pelas cerimônias, sem limite nem medida, posto que tem produzido mil superstições e tem provido ao povo uma espécie de estupidez, sem trazer edificação alguma.

 

6. DIFERENÇAS ENTRE OS EVANGÉLICOS E OS PAPISTAS

Calvino começa este ponto dizendo que ele pode ser chamado de “Aquele a quem Deus deu uma compreensão correta de sua verdade e os papistas”.

Ao contrário dos papistas que entendem a missa como um sacrifício do sacerdote, os evangélicos acreditam que o certo é que a morte e paixão de Cristo é o único sacrifício pelo qual tem sido satisfeita a ira de Deus e tem sido dada aos homens uma justiça eterna, e além disso, que o Senhor Jesus entrou no santuário celestial, para comparecer ali pelos homens intercedendo por todos eles, com ação de graças.

Os evangélicos também reconhecem que a Ceia comunica o fruto desta obra, porém não pelos méritos de participação na ceia, senão pelas promessas que por meio dela são dadas, sempre que as recebem com fé.

Os evangélicos não acreditam na transubstanciação, mas que os sinais visíveis retêm sua verdadeira substância representando a verdade espiritual que já foi falada.

Mesmo entendendo que o Senhor é oferecido na Ceia os evangélicos sabem que ali não é uma habitação local de Cristo. Cristo não está ligado a um sinal visível. Eles entendem que mesmo diante dos sinais não devem adorar a as hóstias, mas devem elevar o entendimento e os seus corações ao alto, tanto para receber a Jesus como para adorá-LO.

Os evangélicos também sustentam que privar o povo de Deus de participar de um dos elementos da Ceia do Senhor é violar e perverter Sua ordenança.

Entendem também que a utilização de tantas cerimônias tomadas dos judeus é acrescentar algo que não foi passado pelos apóstolos. E ainda colocando a ceia sem nenhuma doutrina, mas como se fosse algo que funcionasse como uma espécie de magia.


CONCLUSÃO

Qual é o pensamento de Calvino sobre a Ceia? Seu pensamento é mostrado sempre baseado nas Escrituras e maneira como Cristo ordenou que fosse feito. Calvino não faz nenhuma alteração de época, pelo contrário se firma naquilo que o Senhor Jesus mandou e não se importa com tudo aquilo que muitos têm feito.

Este sacramento como o batismo também, é de extrema importância para nossas vidas como cristãos, pois por meio dele somos alimentados e satisfeitos.

Então o pensamento de Calvino muito acrescenta hoje. Primeiramente seu pensamento mostra qual a razão e finalidade de Cristo te instituído a Ceia. Que este sacramento não foi ordenado por acaso.

Em segundo lugar, o pensamento de Calvino faz com que os cristãos possam ver quais os frutos recebidos e a utilidade da ceia. Mostrando que existem frutos que são dados aqueles que dela participa. Há um lucro ao se participar da Ceia.

Em terceiro lugar, ele procurou mostrar que existem usos errados e assim, qual o seu uso verdadeiro. Mostrando quão valiosa é a Ceia.

Depois Calvino mostra que muitos enganos e superstições são feitos em cima da ceia. Assim, ele mostra que a Ceia não é nada mágico, mas algo que é feito naqueles que crêem na obra de Cristo. E por Ele são transformados.

Por fim Calvino se detêm em mostrar as diferenças entre os evangélicos e os papistas. E aí ele mostra os erros praticados pelos papistas.

Vê-se que esta resposta de Calvino ao Cardeal é de uma importância tremenda a Igreja do Senhor, pois é um estudo baseado no que Cristo ensinou sobre a mesma.


FONTE:

CALVINO, Juan. Tratados breves I – La Santa Cena – Carta al Cardenal Sadoleto . Buenos Aires: Editorial La Aurora, 1959.

 


Esta é uma tradução de uma parte desta obra (Tratados breves I – La Santa Cena – Carta al Cardenal Sadoleto), onde Calvino argumenta e defende a maneira como a Ceia deveria ser celebrada.

Tradução e adaptação: Rev. Rodrigo Pena


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