Corte de Cabelo: O que diz a Bíblia?

por

Felipe Sabino de Araújo Neto



Gostaria de fazer alguns breves comentários, em prol da liberdade cristã, sobre o corte de cabelo para mulheres.

Primeiramente, analisemos dois textos das Sagradas Escrituras:

1. Números 6:1,2,5 – “E FALOU o SENHOR a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Quando um homem ou mulher se tiver separado, fazendo voto de nazireu, para se separar ao SENHOR...Todos os dias do voto do seu nazireado sobre a sua cabeça não passará navalha; até que se cumpram os dias, que se separou ao SENHOR, santo será, deixando crescer livremente o cabelo da sua cabeça”.

Em primeiro lugar, notemos que o mandamento acima foi dado diretamente por Deus: “Falou o Senhor a Moisés”. Seja o que for que o texto apresente, agradável ou não para nós, em concórdia ou não com a nossa teologia, é a Palavra de Deus, viva, eficaz e acima de tudo INERRANTE. Portanto:

a) – O próprio Deus instituiu o voto de nazireu;
b) – O voto se estendia tanto a homens com a mulheres;
c) – Uma das exigências era o não passar navalha sobre a cabeça.

Agora perguntamos: se as mulheres não cortavam e nem mesmo aparavam o cabelo (pois tal ato era e é pecado), como alegam certas pessoas, como Deus instituiria um voto onde ele permitisse a prática de um pecado? É o mesmo que dizer que Deus poderia ter instituído um voto no qual a pessoa poderia adulterar, mentir, roubar ou qualquer outro tipo de pecado.

Além do mais, que sentido teria tal voto para uma mulher, se a mesma já cumprisse a ordem “sobre a sua cabeça não passará navalha”? Seriam todas as mulheres, de todas as épocas, praticantes do voto do nazireado?

2. 1 Coríntios 11: - “Julgai entre vós mesmos: é decente que a mulher ore a Deus descoberta? Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o homem ter cabelo crescido? Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu”.

O texto acima é muito usado, sem contexto e sem permissão, para “corroborar” a “doutrina” de que o corte de cabelo é pecado para mulheres cristãs, passível até mesmo de perda de salvação quando praticado:

Algumas poucas considerações devem ser tomadas do texto acima:

a) O texto diz de desonra e honra, e não de pecado. O que é desonra para o homem não o é para a mulher; o que é honra para o homem não o é para a mulher. Mais uma vez recorremos a Números 6. Se honra aqui, é sinônimo de pecado, como dizem os advogados do cabelo, como Deus mandaria algum homem praticar tal pecado? O texto é claro: cabelo crescido é desonra para homem. Se ter o cabelo crescido é pecado para o homem, como pode o Espírito de Deus ter se apartado de Sansão justamente quando ele deixou de praticar tal pecado? Mais uma vez vemos a incoerência de tais afirmações. Como disse o nosso Senhor: “Errais por não conhecer as Escrituras...”.

b) Como dito no item anterior, o texto fala de desonra e não pecado. Gostaríamos e estamos esperando até hoje que os defensores da abstinência de corte de cabelo apresentassem a prova histórica-exegética-gramatical para entendermos o termo dessa forma.

c) Da mesma forma, esperamos que seja provado que “crescido” significa sem corte ou aparo nenhum, e não simplesmente comprido. Não é de estranhar que tais pessoas recorram à novas visões, revelações e sonhos para “provar” tal fato (violando, sem temor, o mandamento expresso de não se acrescentar nada às Escrituras no desfecho do livro de Apocalipse; e ignorando a maldição a ser lançada sobre os tais que pratiquem o mesmo. Veja Apocalipse 22:18). Concordamos estritamente com a tradução Nova Versão Internacional quando cita assim tal versículo: “própria natureza das coisas não lhes ensina que é uma desonra para o homem ter cabelo comprido, e que o cabelo comprido é uma glória para a mulher?”. A base de nossa concordância com tal tradução não é tendenciosa, mas simplesmente pelo fato de ser uma tradução mais fiel aos originais, e que livra de erros de interpretação tais como o citado neste artigo. Convido o leitor a pesquisar qualquer léxico grego e comprovar este fato.

E para terminar, gostaria de enumerar algumas implicações desta “doutrina”:

a) Salvação exclusiva – Como é do conhecimento de todos, uma das características principais e singulares de uma seita é a apregoação de uma salvação somente e unicamente em seus arraiais. Vide Congregação Cristã; Testemunhas de Jeová; Catolicismo Romano, etc. Contudo, sem perceber, os “defensores do cabelo” afirmam categoricamente que as mulheres de todas as outras denomimações que não praticam tal costume (ou seja, quase 99% das existentes no mundo) irão para o inferno, pois praticam freqüentemente e sem arrependimento tão vil pecado.

b) Salvação “Moderna” – Outra triste implicação (espante-se!!!) de tal “ensino” é que não houve absolutamente nenhuma mulher salva antes de 1910. Estarrecido com tal afirmação? Pois bem (sem querer levantar acusações contra denominações ou pessoas, mas sim contra “doutrinas”), é do conhecimento de qualquer leitor da história eclesiástica do Brasil que a abstinência do corte de cabelo começou a ser anunciada em território tupiniquim a partir de aproximadamente 1910, com o início da Assembléia de Deus e da Congregação Cristã.

Todos os irmãos da Assembléia louvam os “Heróis da Fé” contidos no livro que leva tal título, publicado pela própria CPAD (Casa Publicadora das Assembléias de Deus). Será que tais pessoas não enxergam que as inferências inegáveis da sua crença é de que todas as esposas, filhas e membros de sexo feminino de tais homens de Deus, ou seja, sob os cuidados pastorais dos mesmos,foram para o inferno por negligência deles? Será que eles não percebem que Moody, que é dito ter ganho 1 milhão de almas para Cristo, perdeu todas as que eram do sexo feminino, inclusive sua esposa e filhas, porque esqueceu de pregar sobre o terrível pecado do corte de cabelo? Quem se atreverá continuar chamando Spurgeon de “O Príncipe dos Pregadores”, se ele nunca pregou sobre tal pecado? O que adiantou o sermão “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado” de Jonathan Edwards, se ele não advertiu as mulheres ouvintes do triste fim daquelas que cortarem ou apararem os seus cabelos? E assim por diante....Veja, leitor, as tristes implicações que poderiam ser multiplicadas aqui.

Tal evangelho, que esperou aproximadamente 1910 para ter a primeira discípula genuína do mesmo, não é o evangelho que é “poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”.

c) Legalismo e não liberdade cristã – Muitos procuram em vão os motivos da frieza espiritual do povo evangélico. Embora, com certeza, haja muitas razões, umas delas é evidente: o farisaísmo existe nas igrejas. Em muitas igrejas não se prega mais o arrependimento, a confissão dos pecados diante de Deus e a fé inamovível no Cristo vivo. Ao invés disso é apresentada uma lista de pré-requisitos para ser contado como membro de certa comunidade. O uso de alguns chavões (glória a Deus, Aleluia, Sangue de Jesus tem poder), roupas diferentes, cabelo sem corte e “shazam”: sou crente, “salvo” em Cristo. O resultado de todo este legalismo é a produção em massa de prosélitos e não discípulos, de fariseus e não adoradores, de “sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia”. Ao invés de se proclamar a liberdade conquistada por Cristo para o Seu povo, é anunciado um conjunto de tradições, de costumes, de práticas farisaícas modernas para se adquirir o favor divino. Quanta presunção! Quanto desprezo pelo sacrifício de Cristo! Pregam uma salvação baseada nas obras, o que é condenado veementemente pela Bíblia (Efésios 2:8 e outros). Tudo aquilo que Jesus condenou nos fariseus, tem ressuscitado nos nossos dias. Precavemo-nos de tal fermento.

 

Diante de tudo isso, só podemos concluir juntamente com o grande apóstolo: “As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo , mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne” (Colossenses 2:23).


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