"AMÉM!" ou "AMÉM?"
Qual deve ser a maneira correta de se usar esta expressão tão conhecida no meio Cristão?
por
Rev. André do Carmo Silvério
Amém é uma expressão que vêm sendo usada constantemente em nossas Igrejas. Ela é usada quando alguém quer convidar o povo a abrir suas Bíblias, como por exemplo: “vamos abrir a Palavra de Deus no Livro dos Salmos, amém?”, ou, “quem encontrou, diga amém!”, e, até mesmo quando um pregador saúda a Igreja dizendo assim: “Eu quero saudar a Igreja com a ‘graça e a paz do Senhor', amém?”. Certa feita, estive em uma igreja e no momento em que o pastor passou a palavra para o pregador, este se dirigiu para o púlpito, abriu a sua Bíblia e em seguida disse: “Amém?”.
Temos a impressão que a palavra amém tem se tornado um maneirismo ou um “chavão evangélico”. Para tudo se usa o amém, mesmo quando não se tem nada para falar e fazer. Entretanto, à luz da Palavra de Deus, qual seria o correto uso desta expressão tão conhecida no meio evangélico?
O dicionário nos diz que amém significa “palavra litúrgica de aclamação, que indica anuência firme, concordância perfeita, com um artigo de fé; assim seja”. [1] No aspecto teológico, a palavra amém aparece 56 vezes em toda Bíblia , sendo 28 no Velho e 28 no Novo Testamento. No Antigo Testamento, a palavra hebraica usada é “amen”, que “expressa uma afirmação certa em face de algo que foi dito. É usada após o pronunciamento de maldições solenes (Nm 5:22; Dt 27:15) e após orações e hinos de louvor (1Cr 16:36; Ne 8:6; Sl 41:13, etc)”. [2] Desta forma, há de se perceber que o termo é empregado com a finalidade de confirmar uma verdade e não de indagar sobre algo.
No Novo Testamento, a palavra usada é “amen”, de onde procede a nossa palavra “amém” em português. Da mesma forma que no Antigo Testamento, a expressão amém é utilizada ao final de orações e hinos de louvor (Mt 6:13; 9:25; 11:36; Fp 4:20; 1Tm 1:16; Ap 7:12, etc). “Isto indica que o termo assim usado em nossas orações deve expressar certeza e segurança no Senhor, a quem dirigimos a nossa oração”. [3]
Partindo dessa premissa, podemos ver algumas implicações do correto uso da palavra “amém”:
Em primeiro lugar: a palavra amém poderia ser utilizada no término de uma leitura bíblica no culto; em orações cantadas (hinos e cânticos espirituais); orações proferidas por irmãos durante o culto ou reuniões de oração; ao término da mensagem exposta pelo pregador e também ao findar do culto, como por exemplo, o “amém tríplice”.
Em segundo lugar: o amém só deve ser respondido quando entendemos aquilo que é falado ou cantado. O apóstolo Paulo exortando a Igreja de Corinto diz: “E, se tu bendisseres apenas em espírito, como dirá o indouto o amém depois da tua ação de graças? Visto que não entende o que dizes” I Co 14:16. João Calvino ainda diz que a finalidade de se dizer amém após a oração é “indicar publicamente que as orações, feitas por um, eram de fato de todos eles. Portanto, ela indica a confirmação não só daquilo que afirmamos na oração, mas também do que pedimos nela”. [4]
Em terceiro lugar: a expressão amém deve ser utilizada sempre como ato afirmativo ou de exclamação (!), nunca de interrogação (?). Das 56 vezes que a palavra aparece na Bíblia, 53 são afirmações, como: “Bendito seja o Senhor para sempre! Amém e Amém! ” Sl 89:52 ou “Todos os anjos estavam de pé rodeando o trono, os anciãos e os quatro seres viventes, e ante o trono se prostraram sobre o seu rosto, e adoraram a Deus, dizendo: Amém! O louvor, e a glória, e a sabedoria, e as ações de graças, e a honra, e o poder, e a força sejam ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém!” Ap 7:11-12. Portanto, a palavra Amém não é usada para indagar e sim para afirmar. Exemplo disso também nos dá o rei Davi ao dirigir a Deus um Salmo de ações de graças em um culto congregacional: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, desde a eternidade até a eternidade. E todo o povo disse: Amém! E louvou ao Senhor” 1Cr 16:36. As outras três expressões encontradas no Texto Inspirado, nada têm haver com uma interrogação (1Co 14:16; 2Co 1:20 e Ap 3:14). Aliás, neste último texto, João atribui a Jesus a expressão Amém, ou seja, aquele que testemunhou verdadeiramente a criação de Deus.
Diante daquilo que a Bíblia nos ensina, usar a palavra Amém como “chavão” ou “jargão” é desfocar completamente o seu sentido. Num estudo ou em uma palestra, não há nada de errado em se questionar os ouvintes se eles estão entendendo. Mas, para isso, não é necessário usar o “amém?”, e, sim, o famoso “ok?” ou “tudo bem?”, ou mesmo, se você quer saber se todos abriram a Bíblia ou se encontraram o texto, ao invés do “amém?”, pergunte: “todos abriram?, todos encontraram o texto?”. Que assim, queira o Senhor nosso Deus nos abençoar, para que façamos o mais correto uso das expressões bíblicas. Amém !
NOTAS:[1] - Dicionário Aurélio Século XXI , on-line.
[2] - Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento , Vida Nova, p. 86.
[3] - Ibid, p. 86.
[4] - João Calvino, Comentário de 1Coríntios, Paracletos, São Paulo 1996, p. 420.
Rev. André do Carmo Silvério
Pastor da Igreja Presbiteriana do Jardim Girassol – Guarulhos,
Professor de Teologia Sistemática no Instituto Bíblico Presbiteriano Rev. Boanerges Ribeiro e Secretário de Mocidade da Confederação Norte Paulistano
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