Missões ou Adoração?
Uma Perspectiva Reformada de Missões!
[1]

por

Rev. Gildásio Reis




Qual é a principal tarefa da igreja? Em resposta a esta pergunta, temos ouvido: “Missões é a principal tarefa da Igreja” ou “Se a Igreja não é missionária, então não é Igreja”. Não há dúvida, de que missões é uma prioridade da Igreja, mas não é a prioridade última. Na verdade, a Adoração a Deus o é. E isto porque Deus é o nosso alvo, e não o ser humano. John Piper diz que quando esta era terminar e representantes de toda raça, tribo e nação estiverem dobrados diante do Cordeiro de Deus, a obra missionária não mais terá razão de existir na igreja. Mas o Culto, continuará a existir. [2] Quando chegarmos ao fim dos tempos e todos os redimidos estiverem diante do trono de Deus, missões não serão mais necessárias. Missões representa apenas uma necessidade temporária da Igreja, mas o Culto a Deus permanecerá para todo o sempre.

 

Relação entre Adoração e Missões

Notem como o escritor do Salmo 67 faz a relação entre a adoração e missões, mas colocando a adoração como prioridade última. No verso 1 ele declara: “Seja Deus gracioso para conosco, e nos abençoe, e faça resplandecer sobre nós o rosto; (adoração); no verso 2 ele mostra a prioridade penúltima da igreja “para que se conheça na terra o teu caminho e, em todas as nações a tua salvação” (missões) e no verso 3 ele menciona o objetivo das missões que é a glória de Deus e não o bem estar dos homens “Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os povos todos”. (Glorificar a Deus). É imprescindível destacar que primariamente, não é por compaixão pela humanidade que compartilhamos nossa fé; é, acima de tudo, por amor a Deus. Portanto, se eu não amar a Deus, não estarei apto a fazer missões.

Isaías também registra a sua experiência de adoração e missões no capítulo 6 de seu livro. Nos versos 1 a 7 vemos o profeta no templo em adoração e tendo a visão da graça perdoadora do Senhor e no versos seguintes, no auge de sua contemplação do Senhor o vemos respondendo ao desafio missionário: “Eis-me aqui, envia-me a mim”. Primeiro, eu tenho meu coração aquecido na adoração e depois dedico-o ao serviço missionário.

A adoração é a mais nobre atividade da qual o ser humano, e tão somente pela graça de Deus, é capaz de realizar; enquanto missões é o maior desafio que ele recebe como resposta e estímulo da sua atividade como adorador.


O zelo pela glória de Deus no culto motiva a obra missionária

Talvez alguém possa questionar: Por que esta ordem de prioridade é tão importante que seja estabelecida? Respondemos que, quando as pessoas não estão maravilhadas pela grandiosidade de Deus, não poderão ser enviadas para proclamar a mensagem: “grande é o SENHOR e mui digno de ser louvado, temível mais que todos os deuses” (Sl 96.4).

“A paixão por Deus no culto precede a oferta de Deus na pregação”. [3] Ninguém pode divulgar com convicção aquilo que não estima com paixão. Não poderá clamar, “Alegrem-se e exultem as gentes” (Salmo 67.4a) aquele que não pode afirmar no seu coração, “eu me alegrarei no SENHOR” (Salmo 104.34b; 9.2). Quando a paixão por Deus está fraca, o zelo por missões certamente será fraco também.

As igrejas que não exaltam a majestade e a beleza de Deus dificilmente poderão acender um desejo efervescente para “anunciar entre as nações a sua glória” (Salmo 96.3).

Andrew Murray fez um pronunciamento há mais que cem anos onde relacionou a Adoração e Missões com as seguintes palavras:

Quando buscamos saber por que, com tantos milhões de cristãos, o verdadeiro exército de Deus que está enfrentando os exércitos da escuridão é tão pequeno, a única resposta é: falta de coração e entusiasmo. O entusiasmo pelo reino de Deus está faltando, porque há tão pouco entusiasmo pelo Rei. [4]

Ninguém poderá se dispor à magnitude da causa missionária se não experimentar a magnificiência de Cristo (Apocalipse 15.3-4; cf. Salmos 9.11; 18.49; 45.17; 57.9; 96.10; 105.1; 108.3; e Isaías: 12.4; 49.6; 55.5)

Concluímos fazendo menção da primeira pergunta do Catecismo de Westminster que diz: “Qual é o fim principal do ser humano?” E a resposta correta é: “O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-Lo para sempre.” É dentro desta perspectiva, que afirmamos que a prioridade última da Igreja do Senhor é Glorificar a Deus e como resultado desta adoração, a obra missionária será realizada.


NOTAS:

[1] - O presente artigo foi inspirado no livro de John Piper, Alegrem-se os Povos – A Supremacia de Deus em Missões. São Paulo , SP ( Editora Cultura Cristã: 2001 )

[2] - Piper, Op. Cit., p.13

[3] - Piper, Op Cit., p.13

[4] - Murray, Andrew. A Chave Para o Problema Missionário . Camanducaia: Minas Gerais (Editora Missão Horizontes: 1999) p. 123


Rev. Gildásio Reis, Pastor da Igreja Presbiteriana de Osasco, Psicanalista Clínico, Mestre em Teologia pelo centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (Educação Cristã) e Professor de Teologia Pastoral no Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição.

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