Quando a “compaixão” é satânica

por

Dan Phillips

 

 

Eu recebo grande encorajamento dos apóstolos. Que bando de tolos! Que maus aprendizes incrivelmente incapazes, todos vestindo (metaforicamente) camisas “Eu estou com estúpido”. [1]

Em Mateus 16, Jesus pergunta-lhes quem as pessoas dizem que ele era. Então, depois da resposta deles, ele aponta o dedo e pergunta: “E vocês – quem vocês dizem que eu sou?” (Mateus 16:15, humeis enfático). Pedro, em um de seus breves momentos brilhantes, dá a resposta correta, e Jesus diz que ele poderia saber aquilo somente por revelação divina. Observando Pedro nos Evangelhos, esta é uma afirmação quase óbvia.

Então Jesus conta a eles exatamente o que irá acontecer consigo. Ele deixa de fora algo essencial? De forma alguma. E ainda assim, quando tudo eventualmente acontece como previsto, eles ainda estão completamente embasbacados. Se tivessem a chance, eu quase ouviria eles comentando: “Mas... mas por que você não nos disse?”. Que idiotas! Meu tipo de gente. Eu teria me encaixado ali sem qualquer dificuldade. (Bem, exceto por falar grego com um sotaque californiano).

Porém, quando eu recentemente re-reli esta passagem, o que me atingiu foi a resposta de Pedro ao anúncio sombrio de Jesus. Pedro confessou a maravilhosa verdade sobre Jesus e recebeu a sua confirmação. Estava sendo um grande dia para o Pedrão.

Mas o que Pedro faz com esta nova informação sobre Jesus, em que ele simplesmente coroou o Cristo, o Filho do Deus vivo? Ele o repreende! Ele chama Jesus para conversar, o censura e tenta fazer Jesus voltar ao normal (sim, isto parece tão estranho para quem escreve como para quem lê).

Mas note como Pedro repreende Jesus. O grego hileos soi, kurie é difícil de traduzir. Provavelmente a melhor forma de interpretar seja parafrasear as linhas das notas de rodapé da ESV: “Que Deus tenha misericórdia de ti, Senhor!”.

Claramente, Pedro está horrorizado até a alma com a idéia. Isto o aterroriza. Eu não o acusaria de um grande interesse próprio ou qualquer outra motivação do tipo. Pedro claramente ama Jesus, de todo o coração, e a idéia de ele ser tratado desta forma simplesmente enoja Pedro até a alma. Nós podemos culpá-lo? Em seu lugar, teríamos realmente suspirado, nos conformado, aceitado piedosamente e dito “Sim, bem, isto é o que algumas profecias parecem sugerir...”?

Ainda assim, Jesus o condena. Na verdade, ele o condena terrivelmente. “Para trás de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim. Pois você não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens” (Mateus 16:23, ESV). Era demais para o dia feliz de Pedro!

Mas por que Jesus chama Pedro de “Satanás”? Pedro não foi motivado por uma sensível preocupação compassiva por Jesus? Eu não entenderia de outra forma. Jesus não disse de outra forma. Ele não culpa os sentimentos de Pedro, mas os pensamentos de Pedro. A versão HCSB diz: “Você não está pensando nos assuntos de Deus”. “Não pensando” é tradução de ou phroneis, o que aponta para uma disposição de mente, uma atitude ou padrão mental. O assunto em questão não vem da perspectiva de Deus.

De que forma isto é como Satanás? Minha mente volta-se para a primeira aparição de Satanás, em que nós o vemos como o Melhor Amigo do Homem. Não é como ele apresenta-se? Primeiro, ele não pode acreditar que Deus realmente separou todas as árvores do jardim. “Deus realmente disse isto?”, ele começa. Ele odeia ver a mulher tão privada, tão reprimida.

Então quando Eva corrige a Satanás sobre Deus, ele imediatamente passar a acalmar a ansiedade dela. Ela não deveria negar algo assim a si mesma! A fruta que ela quer é a fruta que ela precisa, e Deus não tem nenhuma boa razão para afastá-la dela! Que Deus tenha misericórdia de ti, Eva. Pegue a fruta e realize-se, descubra seu potencial!

Então ele trabalhou nos pensamentos de Pedro, imperceptivelmente, manipulando este bom impulso até que aquilo que saiu da boca de Pedro era exatamente o que Satanás queria que ele dissesse. Pedro sem dúvida sentiu um tipo de compaixão; mas esta compaixão era satânica. Não partiu de um ponto inicial de Deus, pensar de forma rigorosamente analítica e auto-crítica, e nem permaneceu nisto.

Compaixão é uma emoção humana maravilhosa e louvável – ou pode ser, quando é moldada e direcionada com a Palavra. Mas, se Pedro não apresenta algo assim, ele nos mostra que compaixão pode ser errada. Quais são algumas formas específicas?

Dado o sinistro e sangrento aniversário que acabamos de passar nos EUA, [2] estou pensando no aborto. Defensores do aborto apresentam sua posição como uma posição compassiva, na verdade como a posição compassiva. Aqueles que se opõem ao direito ao aborto (como eles chamam) não têm compaixão pelas mulheres em crise. É claro, nós temos uma resposta pronta , e podemos mostrar que temos compaixão tanto da mãe quanto do filho.

Mas, e quanto aos “casos difíceis”? O que dizer do estupro ou incesto? Aqui é onde ouço a compaixão de muitos cristãos sobrepujar seu pensamento bíblico.

Mas veja, deixe-me ser claro. Eu acredito que a maior compaixão é completamente apropriada para vítimas destes crimes perturbadores. Acredito que mulheres assim devem receber todo tipo de ajuda, encorajamento e apoio que possam ser dados a elas.

Eu apenas não acho compassivo transformar uma vítima em alguém que vitima.

Em casos assim, existem duas vítimas: a mãe, e seu filho. Ninguém deveria ser punido por ser uma vítima. Ambos merecem compaixão e apoio. Eu apenas não vejo aprovação bíblica para encorajar uma mulher a vitimar seu filho, contratar o assassinato dele ou dela, e chamar isto de “compaixão”.

“Ah”, muitos dizem, “esta é uma questão muito emocional”. Sim, realmente é. Assim como a predição de Jesus sobre sua morte violenta. Esta foi uma questão muito emocional para Pedro. Pedro deixou suas emoções controlarem sua mente, e levou sua mente a uma direção satânica.

Não iremos aprender nada de Pedro?

Talvez você possa pensar em outras questões contemporâneas onde os valores satânicos se disfarçam debaixo de uma máscara de compaixão. Homossexualidade vêm à mente. Soa como uma verdadeira dispensação de compaixão dizer às almas torturadas que elas deveriam abandonar as lutas, aceitar suas paixões e abraçá-las. Mas esta é a compaixão do Inferno. Esta é a compaixão que ignora a Cruz, com suas igualmente grandes ameças de julgamento e promessas de redenção, resgate e liberdade. Dizer às almas sofrendo com alguma paixão vil, seja homossexualidade, adultério, roubo, ou assassinato, que elas não tem nenhuma esperança de libertação, que sua única esperança é redefinir-se e abraçar o pecado, não é compaixão, afinal.

Porém, meus últimos pensamentos aqui voltam-se para outra forma satânica de compaixão: a “compaixão” que temos de nossos próprios pecados.

Podemos ler superficialmente todos os particulares acima, se nós nunca enfrentamos estas batalhas específicas. É fácil para alguém que nunca teve o menor desejo homossexual fazer julgamentos morais de forma superficial sobre o assunto; e da mesma forma com todos os outros mencionados.

Mas e quanto à sua língua maligna? E quanto à minha tendência ao desespero incrédulo? E quanto ao arrogante desrespeito dela com o esposo? E quanto à falta de atenção dele com sua esposa, ou a despreocupação com seus filhos?

Oh, estes são diferentes, não são? Estes são nossos pecados queridos. Nós temos compaixão de nós mesmos, compaixão de nossos pecados de estimação. Nós criamos um campo-de-força de racionalizações ao redor deles. Eles são diferentes, porque nós somos diferentes e nossa situação é diferentes. Certamente eles não podem ser levados para Cruz! Mortificar estes pecados? Dar-lhes uma morte dolorosa? Lutar e lutar, sangrenta e incessante e impiedosamente, até que eles parem de debater-se e respirar, e sejam substituídos por atitudes e comportamentos que honram a Deus? Que Deus tenha misericórdia de nós, isto nunca pode acontecer!

Soa familiar?

Compaixão satânica. Deus nos permite que nós todos aprendamos de Pedro.



NOTAS
:

[1] Nos EUA é muito comum as pessoas usarem camisas com o dizer “I'm With Stupid”.

[2] O autor fala dos 33 anos da legalização do aborto nos EUA.

 


Tradução: Josaías Cardoso

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