Pós-Milenismo

por

Loraine Boettner, D.D.a

 


Capítulo 4 - Um Mundo ou Raça Redimida



Nos princípios pós-milenistas uma forte ênfase é colocada na universalidade da obra de redenção de Cristo, e uma esperança é sustentada pela salvação de um número incrivelmente grande da raça da humanidade. Visto que foi o mundo, ou a raça, que caiu em Adão, foi o mundo, ou a raça, que foi o objeto da redenção de Cristo. Isto não significa que cada indivíduo será salvo, mas que a raça como uma raça será salva. Jeová não é uma mera deidade tribal, mas é descrito como “o Senhor de toda a terra”, “um grande Rei sobre toda a terra” (Salmos 97:5, 47:2). A salvação que Ele tem à vista não pode ser limitada a um pequeno grupo selecionado ou a uns poucos favorecidos. As boas novas de redenção não foram meramente novas locais para umas poucas vilas na Palestina, mas foi uma mensagem mundial; e o abundante e contínuo testemunho das Escrituras é que o reino de Deus é para encher a terra, “de mar a mar, e desde o rio até às extremidades da terra” (Zacarias 9:10).

Cedo no Velho Testamento temos a promessa de que “toda a terra se encherá da glória de Jeová” (Números 14:21, versão do autor); e Isaías repete a promessa que toda carne verá a glória de Jeová (40:5). Isaías foi colocado como “uma luz para os gentios”, e para “salvação até os confins da terra” (Isaías 49:8; Atos 13:47). Joel fez a clara declaração de que nos dias vindouros de benção, o Espírito que até aqui tinha sido dado somente à Israel, seria derramado sobre toda a terra. “E há de ser que depois”, disse o Senhor através do Seu profeta, “derramarei o meu Espírito sobre toda a carne” (Joel 2:28); e Pedro aplicou esta profecia para a efusão que começou em Pentecostes: “Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel...” (Atos 2:16).

Nada pode exceder a forma franca, direta e precisa com que a conversão das nações é anunciada nos Salmos:

Todas as nações que fizeste virão e se prostrarão perante a tua face, Senhor, e glorificarão o teu nome” (Salmos 86:9).

Todos os limites da terra se lembrarão, e se converterão ao SENHOR; e todas as famílias das nações adorarão perante a tua face” (Salmos 22:27).

Pede-me, e eu te darei os gentios por herança, e os fins da terra por tua possessão” (Salmos 2:8).

O 47º Salmo canta sobre a soberania de Deus, e sobre Seu domínio sobre as nações:

Porque o SENHOR Altíssimo é tremendo, e Rei grande sobre toda a terra. Ele nos subjugará os povos e as nações debaixo dos nossos pés. Escolherá para nós a nossa herança, a glória de Jacó, a quem amou. (Selá.) Deus subiu com júbilo, o SENHOR subiu ao som de trombeta. Cantai louvores a Deus, cantai louvores; cantai louvores ao nosso Rei, cantai louvores. Pois Deus é o Rei de toda a terra, cantai louvores com inteligência. Deus reina sobre os gentios; Deus se assenta sobre o trono da sua santidade” (Salmos 47:28).

Provavelmente em nenhum outro lugar o reinado universal de Cristo é declarado mais fortemente do que no Salmo Messiânico 72º:

Ele descerá como chuva sobre a erva ceifada, como os chuveiros que umedecem a terra. Nos seus dias florescerá o justo, e abundância de paz haverá enquanto durar a lua. Dominará de mar a mar, e desde o rio até às extremidades da terra. Aqueles que habitam no deserto se inclinarão ante ele, e os seus inimigos lamberão o pó. Os reis de Társis e das ilhas trarão presentes; os reis de Sabá e de Seba oferecerão dons. E todos os reis se prostrarão perante ele; todas as nações o servirão... todas as nações lhe chamarão bem-aventurado... e encha-se toda a terra da sua glória” (Salmos 72:7-11,17,18).

Todas as nações que fizeste virão e se prostrarão perante a tua face, Senhor, e glorificarão o teu nome” (Salmos 86:9).

Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés” (Salmos 110:1).

Nós chamamos especial atenção ao fato de que este último verso do Salmo 110 significa que Cristo conquistará tudo. A posição à mão direita é a posição de poder e influência. Esta conquista está agora em processo de realização a medida que Ele avança contra Seus inimigos. Seu reinado intermediário à mão direita de Deus é para continuar até que todos Seus inimigos tenham sido subjugados. No Novo Testamento o próprio Cristo citou este versículo para provar Sua Deidade (Lucas 20:42,43). Pedro também citou este versículo (Atos 2:34,35) para provar que o que havia ocorrido em Pentecostes era o cumprimento do Salmo 110:1. Ele, dessa forma, viu seu cumprimento, não como um futuro ato cataclísmico no dia do julgamento, mas no derramamento do Espírito Santo na Igreja durante a presente era. Este processo continuará até que todos os inimigos de Cristo tenham sido colocados debaixo de Seus pés, de forma que Ele reine sobre toda a terra.

Não há lugar para dúvidas naqueles anúncios encontrados nos Salmos. Eles são tão não-ambíguos como qualquer coisa que possa ser falada pelo mais sanguíneo defensor de missões estrangeiras neste século vinte. Apesar deles virem do tempo de Davi, e a maioria deles de sua pena. Por ele, o Espírito Santo por vinte e nove séculos, tem testificando que a Igreja visível de Deus está destinada a abranger todas as nações que Ele criou em toda face da terra. Um tempo está chegando quando eles reconhecerão o Senhor como seu Governador. Eles têm por muito tempo Lhe esquecido, mas um dia eles reconhecerão Suas reivindicações e volverão a Ele, até mesmo nas extremas partes da terra. O Sr. Kik disse: “O conceito do Concerto de 'todas as nações lhe chamarão bem-aventurado' apresenta-se na poesia do Saltério. O compositor dos Livros de Louvor do Velho Testamento olhou para o triunfo da Igreja sobre a terra. Não há melhores hinos missionários do que aqueles contidos nos Salmos. Um dos fatores contribuintes para o pessimismo, depressão e derrotismo, de hoje em dia, dentro da Igreja é a omissão dos Salmos nos hinários” (Uma Escatologia de Vitória, p.22).

Em Isaías 2:2,3 nós lemos: “E acontecerá nos últimos dias que se firmará o monte da casa do SENHOR no cume dos montes, e se elevará por cima dos outeiros; e concorrerão a ele todas as nações. E irão muitos povos, e dirão: Vinde, subamos ao monte do SENHOR, à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do SENHOR”. No livro de Hebreus o “Monte Sião”, a montanha santa de Deus, é espiritualizado para significar a Igreja (Hebreus 12:22). Portanto, nesta profecia [Isaías 2:2,3] ele [o Monte Sião] deve significar que a Igreja, tendo alcançado uma posição de forma que ela permaneça como uma montanha ou uma planície, será proeminente e reguladora em todos assuntos do mundo.

Ezequiel nos dá a figura de uma crescente corrente de águas saradoras que saíam debaixo do umbral do templo; águas que primeiramente davam somente nos artelhos, então nos joelhos, depois nos lombos, e então um grande rio, cujas águas não podiam ser atravessadas (Ezequiel 47:1-5). A interpretação de Daniel do sono do Rei Nabucodonosor ensina a mesma verdade. O rei viu uma grande estátua, com várias partes de ouro, prata, bronze, ferro e barro. Então, ele viu uma pedra cortada sem auxílio de mão, a qual feriu a estátua de forma que o ouro, a prata, o bronze, o ferro e o barro se fizeram como pragana das eiras do estio. Esses vários elementos representam grandes impérios mundiais que foram quebrados em pedaços e completamente destruídos, enquanto que a pedra cortada sem auxílio de mão representa um reino espiritual que o próprio Deus instalou, e que figurativamente se tornará uma grande montanha e encherá toda a terra. “Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre” (Daniel 2:44). A interpretação geralmente aceita do sonho é que as quatro partes da estátua representam os quatro sucessivos impérios, o Babilônico, o Medo-Persa, o império Macedônico de Alexandre o Grande, e o império Romano. À luz do Novo Testamento, vemos que o reino final, representado pela pedra cortada sem auxílio de mão, foi o único que Cristo instalou, e que certamente foi instalado enquanto o império Romano ainda existia. A Igreja, uma instituição não de homens, mas de divina origem e, portanto, descrita como “pedra cortada sem auxílio de mão”, foi destinada a subsistir e a quebrar em pedaços todos os reinos anti-Cristãos, isto é, convertê-los e transformá-los, e então, figurativamente, tornar-se uma grande montanha e encher toda a terra, tão proeminente que será em cada fase da vida humana.

Na visão que Daniel viu, registrada no capítulo 7, a besta fará guerra contra os santos e prevalecerá contra eles durante um tempo, - mas, “chegou o tempo em que os santos possuíram o reino” (Daniel 7:22).

Jeremias nos dá a promessa que um tempo está chegando quando não será mais necessário para um homem dizer para seu irmão ou para seu vizinho, “Conhecei ao SENHOR”; “porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o SENHOR; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados” (Jeremias 31:34). O último livro do Velho Testamento contém a promessa de que “desde o nascente do sol até ao poente é grande entre os gentios o meu nome; e em todo o lugar se oferecerá ao meu nome incenso, e uma oferta pura; porque o meu nome é grande entre os gentios, diz o SENHOR dos Exércitos” (Malaquias 1:11).

No Novo Testamento encontramos o mesmo e claro ensino. No Concílio de Jerusalém, Tiago citou a profecia de Amós 9:11,12, que nos dias vindouros, Deus derramaria bênçãos espirituais sobre Seu povo, “para que possuam o restante de Edom, e todos os gentios que são chamados pelo meu nome”, - Edom aqui sendo tomado como os inimigos típicos de Jeová; e Tiago, falando por inspiração e citando esta profecia, lhe dá uma larga interpretação, dizendo que “o restante dos homens”, e “todos os gentios”, “busque ao Senhor” (Atos 15:17). Isto claramente implica na universal conversão das nações.

O Novo Testamento coloca uma forte ênfase no fato de que o mundo é o objeto da redenção de Cristo. “Cristo é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1 João 2:2). “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (João 3:16,17). “E vimos, e testificamos que o Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo” (1 João 4:14). “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29). “Nós mesmos o temos ouvido, e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo” (João 4:42). “Eu sou a luz do mundo" (João 8:12). "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2 Coríntios 5:19).

A parábola do fermento ensina a universal extensão e triunfo do Evangelho, e ela ainda ensina que seu desenvolvimento será realizado através do gradual desenvolvimento do Reino, não através de uma súbita e cataclísmica explosão. Lá, se nos conta que “o reino dos céus é semelhante ao fermento, que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado” (Mateus 13:33). O Reino dos céus, como o fermento, transforma o que entra em contato com ele. Todos os alimentos são transformados pelo seu contato com o fermento. Similarmente, Cristo ensina que a sociedade será transformada pelo Reino dos céus, e o resultado será um mundo Cristianizado. Os Pré-Milenistas não admitem isto. Admitir, contradiz todo o seu sistema. Por conseguinte, eles buscam outro significado, e onde Cristo diz que o Reino dos céus é semelhante ao fermento, eles dizem que o fermento não é um símbolo do Reino dos céus, mas do mal. J. S. Silver, um dos seus escritores representativos, diz: “Literalmente, ele [o fermento] denota o pecado, conseqüentemente aqui ele significa apostasia” (O Retorno do Senhor, p. 247). E outro escrito representativo, W. E. Blackstone, diz: “Nós cremos que o fermento na parábola de Mateus 13 representa...as falsas doutrinas que têm se arrastado e então penetrado na igreja professante, a qual tem se tornado na maior parte, meramente formal e nominal” (Jesus Está Vindo, p. 95). Nós ficamos confusos em entender como alguém, professando tomar a Bíblia em seu valor nominal, particularmente aqueles que põe grande pressão sobre a interpretação literal, pode deliberadamente contradizer as palavras faladas tão clara e inequivocadamente e fazê-las significar o exato oposto, neste caso, a falsa doutrina. Essas, são as mesmas pessoas que protestam tão vigorosamente contra a “espiritualização”. Qualquer um que pode dessa forma mudar o significado das Escrituras, podem fazê-la significar qualquer coisa que lhe agrade. De acordo com esta interpretação, Cristo deve ser entendido como dizendo, na realidade, que: “O reino dos céus é semelhante à influência má, que traz todo o mundo para um estado de apostasia”. Este é um exemplo de extremidade que alguns tomam; a forçada interpretação que eles utilizam, para defender uma teoria. Eles nunca chegaram a um pensamento de que se eles não estão tentando evitar a clara implicação da parábola.

Os Pré-Milenistas se agarram às palavras de Jesus em Mateus 24:14, “E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim” (Versão King James), como provando sua doutrina que o evangelho é para ser pregado somente como um “testemunho”, ou como um “prova” (Versão Americana Padrão), e conseqüentemente que, não é a sua intenção converter o mundo. Este verso por si mesmo pode não ser decisivo para o propósito e efeito de tal pregação. Mas definitivamente, tal não foi o caso quando Cristo deu a Grande Comissão para os seus discípulos. Lá Ele disse: “É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mateus 28:18-20).

Lá somos informados que “todo poder”, no céu e na terra, foi dado a Cristo para a execução desta obra. Comentando sobre este ponto, o Dr. Snowden disse: “Todo poder inclui todo poder de cada espécie que é aplicado para esta tarefa. Jesus Cristo jamais pode ter maior poder do que Ele tem agora, porque Ele tem agora todo o poder que existe. Os Pré-Milenistas colocam sua confiança em alguma 'vara de ferro', com a qual Cristo irá 'destruir toda oposição' quando Ele vier, mas Cristo agora tem a onipotência, e a tem escravizado na presente obra de pregação do evangelho para a conversão do mundo”. Ele continua e diz que: “A palavra Grega traduzida como 'fazer discípulos' é uma palavra forte, significando não meramente 'pregar' ou 'evangelizar', mas converter em discípulos....Nós temos nesta comissão, o expresso e inescapável ensino de que o evangelho é pregado não somente para 'evangelização' ou 'para um testemunho', mas para uma profunda obra de conversão...Essas nações serão convertidas em discípulos cristãos, e esta obra não está feita, mas apenas iniciada quando eles são 'evangelizados', ou simplesmente quando o evangelho lhes é pregado. Jesus aqui fala em termos universais; aqui está a esplêndida universalidade de Seu evangelho...Os Pré-Milenistas dizem que Cristo, o Rei, está ausente e nos conta que grande coisas Ele irá fazer quando retornar novamente. Mas o próprio Cristo nos assegura que Ele está presente e está conosco em nosso trabalho até agora...Reduzir esta grande comissão ao programa pré-milenista de pregação do evangelho, como um testemunho para um mundo que crescerá pior e pior até ser mergulhado em sua maldição na destruição, é enfraquecer o evangelho de Cristo e debilitá-lo a uma impotência patética. Isto é mandar o evangelho para fora do mundo como uma coisa fútil, pré-ordenado ao fracasso desde o início. Não! o evangelho é o poder de Deus para salvação, e Jesus Cristo, marchando na grandeza de Sua força, não nos manda vazios para expressar uma mensagem que irá extinguir-se lentamente no ar em um mundo desatento e hostil, reunindo somente uns poucos dentre sua inumerável multidão e confinando a vasta maioria à destruição, mas Ele nos envia para 'fazer discípulos de todas as nações', e através disto, vencer o próprio mundo” (A Vinda do Senhor, pp. 98-103).

Percebemos, então, que a obra da redenção de Cristo, verdadeiramente tem como seu objeto os povos de todo o mundo, e que Seu Reino se tornará universal. E visto que nada nos é informado em relação até quando a terra continuará, depois que o objetivo tiver sido alcançado, possivelmente podemos estar ansiosos por uma grande “era de ouro” de prosperidade espiritual continuando por séculos, ou até mesmo por milênios, durante qual período o Cristianismo será triunfante sobre toda a terra, e durante qual período até a grande proporção de adultos será salva. Parece-me então, que o número dos redimidos será acrescentado até que ele sobrepuje em muito o dos perdidos.

 


Tradução livre: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 16 de Novembro de 2002.


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