A Importância da Providência

por

Matt Perman



A Teologia é especialmente importante por ser o fundamento de nossa adoração, obediência e alegria. Se tentarmos ser práticos sem uma base doutrinária verdadeira e sólida, decerto falharemos redondamente. A Providência de Deus é uma das mais significativas verdades bíblicas e teológicas. De fato, existem muitas aplicações práticas desta crença que Deus, em Sua Providência, está no controle de todas as coisas. Por vezes questiona-se: “É realmente importante que se entenda e se creia na Providência de Deus?”. Como resposta, eu ofereço as seguintes aplicações. Creio que elas falam por si mesmas.

Entender a Providência gera em nós um profundo senso de gratidão a Deus por todas as coisas – incluindo o amor e a fé que a Ele direcionamos – pelo fato de todas as coisas serem d'Ele (v. Rm 11.36 e Tg 1.18). Assim como também deveria produzir em nós um certo temor piedoso e uma reverência a Deus em nossos corações – por ser Ele quem efetivamente está no controle, e não nós. Ele está sobre o trono diante do qual devemos nos prostrar. Mas não apenas isto, saber que este Deus é tão preocupado com a Sua criação e que, em Sua sabedoria, Ele está governando todas as coisas para a Sua glória maior e para o bem maior de Seu povo, também deveria trazer-nos grande alegria.

O conhecimento da Providência deveria nos manter longe do desespero e, em vez disso, dar-nos paciência e conforto, força e esperança nos sofrimentos e adversidades pelas quais passamos, por sabermos que toda dor tem um propósito. Em verdade, Deus só permite que males ocorram aos seus filhos para que um bem maior lhes seja assim produzido. Destarte, o controle de Deus sobre os eventos maus em nossas vidas é realmente amoroso, e não vingativo. Por nada poder nos ocorrer sem que passe pelas mãos amorosas de Deus, em todos os males que nos sobrevêm, podemos ter a confiança de José, de que “Deus transformará o mal em bem”(cf. Gn 50.20), e adorarmos como Jó: “... e ele lançou-se em terra e adorou. E disse, ‘... O Senhor o deu e o Senhor o tomou. Bendito seja o nome do Senhor’” (Jó 1.20-21). Isto deveria destruir toda lamúria e amargura e, pelo contrário, dar-nos grande esperança e regozijo. Margaret Clarkson disse: “A Soberania de Deus é a rocha inexpugnável à qual o coração humano sofredor deve se agarrar. As circunstâncias que cercam nossas vidas não são acidentes; podem ser obras malignas, mas esses males permanecem firmemente sob o controle das mãos poderosas do nosso Deus soberano... Todo mal está sujeito a Ele, e mal algum pode tocar Seus filhos a menos que Ele próprio permita” [1].

Nós jamais estamos à mercê das circunstâncias ou das pessoas. Se as pessoas ameaçam nos prejudicar ou aqueles que possuem autoridade sobre nós agem injustamente para conosco, podemos encontrar a alegria no fato de que, em última análise, Deus está trabalhando para produzir um bem maior. Mais ainda, podemos ter efetivamente um grande incentivo para agir a fim de melhorar nossas circunstâncias, pois sabemos que Deus pode levar as pessoas a cumprirem a Sua vontade.

Quando o mundo parece seguir desgovernado ao nosso redor, podemos ter paz e confiarmos em Deus por sabermos que Ele realizará todos os Seus propósitos. Nenhum deles falhará (v. Jó 42.2 e Is 46.10), porque tudo está debaixo do Seu controle e prosseguindo consoante o Seu plano (cf. Ef 1.11). Isto também deveria nos dar um grande encorajamento e confiança para que orássemos. Por Deus poder realizar aquilo que Lho peçamos. Por mais estressantes, confusas ou difíceis que as coisas pareçam ser, precisamos jamais nos deixar dominar pelo abatimento, visto que Deus está no controle.

Se acreditamos na Providência, podemos nos maravilhar com a grandiosidade da sabedoria de Deus, visto que Ele opera juntamente todas as coisas para a Sua glória e para o bem do Seu povo (Rm 8.28) – não somente apesar da oposição, mas mesmo pela oposição ao Seu povo. Ele faz o mal sair pela culatra e faz com que Satanás continuamente atire em seu próprio pé quando tenciona algum mal contra os santos de Deus, visto que a intenção de Deus é, por fim, trazer-lhes benefícios. Esta é a maravilhosa sabedoria pela qual glorificamos a Deus!

Devido a isso, nós podemos ter uma alegre confiança em Deus quanto ao nosso futuro. Longe da Providência ser uma doutrina desencorajadora, ela nos liberta para que obedeçamos a Deus com confiança e segurança – mesmo quando a obediência parece ser arriscada ou “tola” pelos padrões do mundo. Saber que Deus está no controle nos encoraja a obedecê-lO a despeito dos perigos, para a Sua glória. Em todas as coisas, podemos ter grande coragem e ousadia.

Entender a Providência é também muito importante para a humildade. Daniel 4.35 é um verso chave acerca do controle de Deus sobre todas as coisas: “Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: ‘Que fazes?”. Este verso é especialmente significativo à luz do contexto do capítulo inteiro. Deus havia revelado a Nabucodonosor, através de um sonho, que o seu reino lhe seria tomado. Por que Deus estava fazendo isto, afinal? Porque Nabucodonosor era orgulhoso. E por que Deus via Nabucodonosor como orgulhoso? Porque ele não reconhecia que “o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer” (v. 25). O reino de Nabucodonosor não seria restaurado até que ele compreendesse que “o céu domina” (v. 26). Logo, o conhecimento da Providência absoluta de Deus parece ser importante para a humildade.

Somente depois de Nabucodonosor ser humilhado é que ele veio a compreender que Deus estava no controle e fez aquela declaração registrada no verso 35, citado acima. Deveras, a atitude de Nabucodonosor diante de Deus em Sua soberana majestade deveria ser compartilhada por todos nós: “Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo, exalto, e glorifico ao Rei do céu, pois todas as suas obras são verdadeiras, e os seus caminhos, justos, e pode humilhar os que andam na soberba” (v. 37).

Por todas estas coisas, um coração sensível e crente na providência de Deus nos fará pessoas mais fortes. Não obstante, talvez mais importante ainda seja o fato de que a verdade da Providência glorifica grandemente a Deus e O exalta em Sua supremacia. Uma negação dela envolve uma redução da visão que nutrimos em nossos corações acerca da supremacia de Deus, visto que não mais O veremos como alguém autoritativo sobre todas as coisas e que, com a Sua sabedoria, mantém a Sua criação debaixo do Seu controle. Aceitar a verdade da Providência, por outro lado, provê um incentivo poderoso para adorarmos. John Piper dá uma ilustração da alma humana como se ela fosse uma fornalha de adoração, com o Espírito Santo trazendo o fogo, uma visão adequada de Deus servindo de combustível, e a adoração sendo o calor resultante do nosso amor, expresso no louvor a Deus. Se tivermos uma visão deficiente sobre Deus, nossa adoração também será deficiente em virtude do “combustível” ser fraco. Mas, se tivermos uma visão exaltada sobre Deus, decerto nossa adoração virá a ser fervorosa. Como J.B.Moody disse “Pelo fato da adoração verdadeira ser baseada na grandiosidade reconhecida, e a grandiosidade ser vista supremamente na Soberania, em nenhuma outra base os homens adorarão realmente”.


Notas:

[1] Margaret Clarkson, citada em "Does Divine Sovereignty Make a Difference in Everyday Life?" por Jerry Bridges in The Grace of God, The Bondage of the Will, Thomas Schreiner and Bruce Ware, ed., (Grand Rapids, MI: Baker Books, 1995), vol. I, p. 209.

 


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