Fazendo, Cumprindo e Quebrando Promessas - Parte 2

por

Vincent Cheung

 

(O que se segue é uma correspondência de e-mail editada)


Algumas passagens na Bíblia têm o objetivo de serem “leis da causa”, similares à idéia de “precedência” em nosso sistema legal, de forma que suas aplicações não são limitadas ao contexto imediato; antes, elas apresentam os princípios sobre os quais casos similares devem ser julgados.

Por exemplo, Paulo usa a lei “Não amordace o boi” como algo semelhante a uma lei da causa e ensina a partir dela o direito de um ministro receber dinheiro daqueles a quem ele ministra:

Quem serve como soldado às suas próprias custas? Quem planta uma vinha e não come do seu fruto? Quem apascenta um rebanho e não bebe do seu leite? Não digo isso do ponto de vista meramente humano; a Lei não diz a mesma coisa? Pois está escrito na Lei de Moisés: “Não amordace o boi enquanto está pisando o grão”. Por acaso é com bois que Deus está preocupado? Não é certamente por nossa causa que ele o diz? Sim, isso foi escrito em nosso favor. Porque “o lavrador quando ara e o debulhador quando debulha, devem fazê-lo na esperança de participar da colheita”. Se entre vocês semeamos coisas espirituais, seria demais colhermos de vocês coisas materiais? (1 Coríntios 9:7–11, NVI)

Quando diz respeito ao princípio 4, o qual é raramente ensinado, uma das passagens mais relevantes é Números 30:1-16. Lemos assim:

Moisés disse aos chefes das tribos de Israel: “É isto que o SENHOR ordena: Quando um homem fizer um voto ao SENHOR ou um juramento que o obrigar a algum compromisso, não poderá quebrar a sua palavra, mas terá que cumprir tudo o que disse.

“Quando uma moça que ainda vive na casa de seu pai fizer um voto ao SENHOR ou obrigar-se por um compromisso e seu pai souber do voto ou compromisso, mas nada lhe disser, então todos os votos e cada um dos compromissos pelos quais se obrigou serão válidos. Mas, se o pai a proibir quando souber do voto, nenhum dos votos ou dos compromissos pelos quais se obrigou será válido; o SENHOR a livrará porque o seu pai a proibiu.

“Se ela se casar depois de fazer um voto ou depois de seus lábios proferirem uma promessa precipitada pela qual se obriga a si mesma e o seu marido o souber, mas nada lhe disser no dia em que ficar sabendo, então os seus votos ou compromissos pelos quais ela se obrigou serão válidos. Mas, se o seu marido a proibir quando o souber, anulará o voto que a obriga ou a promessa precipitada pela qual ela se obrigou, e o SENHOR a livrará.

“Qualquer voto ou compromisso assumido por uma viúva ou por uma mulher divorciada será válido”.

“Se uma mulher que vive com o seu marido fizer um voto ou obrigar-se por juramento a um compromisso e o seu marido o souber, mas nada lhe disser e não a proibir, então todos os votos ou compromissos pelos quais ela se obrigou serão válidos. Mas, se o seu marido os anular quando deles souber, então nenhum dos votos ou compromissos que saíram de seus lábios será válido. Seu marido os anulou, e o SENHOR a livrará. O marido poderá confirmar ou anular qualquer voto ou qualquer compromisso que a obrigue a humilhar-se. Mas, se o marido nada lhe disser a respeito disso até o dia seguinte, com isso confirma todos os seus votos ou compromissos pelos quais se obrigou. Ele os confirma por nada lhe dizer quando os ouviu. Se, contudo, ele os anular algum tempo depois de ouvi-los, ele sofrerá as conseqüências de sua iniqüidade”.

“São essas as ordenanças que o SENHOR deu a Moisés a respeito do relacionamento entre um homem e sua mulher, e entre um pai e sua filha moça que ainda vive na casa do pai”.


Isso é diretamente aplicável aos cristãos. E embora o contexto imediato se refira a “um voto ao SENHOR”, os princípios se aplicam a todos os tipos de promessas, visto que a passagem inteira é um mandamento de Deus “a respeito do relacionamento entre um homem e sua mulher, e entre um pai e sua filha moça que ainda vive na casa do pai”. Assim, não somente ela é aplicável, mas ela é ainda mais obviamente aplicável do que algumas das leis de caso.

(Concernente à aplicabilidade da lei do Antigo Testamento, por favor, leia meu Commentary on Ephesians e The Sermon on the Mount. E para uma estrutura de autoridade no lar, por favor, leia meu Commentary on Ephesians e Renewing the Mind).

Apliquemos o exposto acima a um exemplo.

Suponhamos um parente ou um amigo de uma mulher casada que queria tomar dinheiro emprestado. A mulher não tem o direito de prometer um empréstimo sem antes perguntar ao seu marido. Se a mulher, contudo, promete o empréstimo e seu marido está presente, então, ele tem o direito de imediatamente anular a promessa. O marido não terá pecado por anular a promessa feita ilegitimamente pela esposa, e a esposa não terá pecado por reter o empréstimo que ela tinha inicialmente prometido, visto que a promessa foi anulada pelo marido. Todavia, a esposa deveras teria pecado fazendo a promessa sem perguntar ao seu marido. Agora, se a mulher promete o empréstimo e o marido não está presente, então, ele tem o direito de anular a promessa logo que ouvir sobre ela, e o resto é o mesmo.

Mas quer o marido esteja ou não presente quando a mulher faz a promessa, se ele não disser nada assim que ouvir sobre ela, então, é como se ele tivesse dado a sua aprovação e confirmado a promessa. Tanto o marido como a esposa são então moralmente obrigados a fazer cumprir a promessa e conceder o empréstimo. Contudo, se o marido mudar de idéia e decidir reter o empréstimo uma vez que ele tenha explicitamente ou implicitamente confirmado a promessa, então ele comete pecado, e é como se ele tivesse pessoalmente feito e então quebrado a promessa. Nesse caso (isto é, quando o marido muda de idéia após confirmar a promessa), a esposa deverá obedecer o marido e reter o empréstimo — ela não peca fazendo isso, mas a culpa cai sobre o seu marido. Por outro lado, se a esposa decide fazer cumprir a promessa mesmo após o marido ter mudado de idéia, então ambos, o marido e a esposa, cometem pecado — ele peca quebrando a promessa, e ela peca desobedecendo ao seu marido.

Quanto ao marido, ele tem o direito de prometer o empréstimo sem discutir o mesmo com sua esposa; contudo, como resultado do seu amor e respeito por sua esposa, para proteger a confiança e intimidade do relacionamento matrimonial, e para manter a ordem no lar, seria sábio para ele discutir com sua esposa de qualquer forma, e ele deveria usualmente (praticamente sempre) fazer a promessa somente se ambos concordarem com ela. Todavia, a decisão final sempre descansará com o marido.

Certamente, os feministas não gostam disso, mas eu não gosto dos feministas, assim, estamos empatados. Mas eu ainda estou correto.

Note não somente a tremenda autoridade do marido, mas também a tremenda responsabilidade que é colocada sobre ele. Está sobre ele a avaliação se a família pode ou não ter recursos para oferecer o empréstimo, assim como determinar todas as conseqüências espirituais, sociais e financeiras de fazer a promessa. Quer ele pense ou não que é uma boa idéia (e especialmente se ele pensar que não é uma boa idéia), se ele aprova e confirma a promessa feita pela esposa (ou se ele é o único que faz a promessa), e então, se dificuldades severas assolam a família por causa do empréstimo — visto que o dinheiro necessário não está disponível — então, assumindo que não há justificação moral para fazer a família passar por tal dificuldade, a culpa novamente cai sobre o marido, não sobre a esposa.

É verdade que algumas esposas são melhores do que os seus maridos para analisar a situação financeira da família. Em tais casos, os maridos devem reconhecer isso, e discutir o assunto com suas esposas, e então fazer sua decisão. Mas quer eles façam ou não isso, eles devem tomar a decisão final e assumir a responsabilidade moral por ela. Eles são aqueles com a maior autoridade no lar, mas eles são também aqueles que são os mais responsáveis pelo que acontece na e às suas famílias.

Nós temos usado o relacionamento matrimonial e o empréstimo como um exemplo, mas o princípio se aplica também ao relacionamento entre um pai e uma filha, e com respeito a outros tipos de votos e promessas.

Além disso, note que embora tenhamos usado o exemplo para ilustrar o princípio 4, essa passagem [de Números 30] também trata de outros indivíduos e relacionamentos, tais como um homem, uma viúva e uma mulher divorciada. Uma exposição completa da passagem não deveria negligenciar esses.


[Leia a parte 1]

[Leia a parte 3]



LEITURA RECOMENDADA:


Vincent Cheung, Commentary on Ephesians

Vincent Cheung, The Sermon on the Mount

Vincent Cheung, Renewing the Mind

Martha Peace, The Excellent Wife

Elizabeth Handford, Me? Obey Him?

J. David Pawson, Leadership is Male

John Piper, Wayne Grudem, ed., Recovering Biblical Manhood and Womanhood

Stephen Clark, Man and Woman in Christ

Werner Neuer, Man and Woman in Christian Perspective

George W. Knight III, The Role Relationships of Men and Women

John Benton, Gender Questions

Andreas J. Kostenberger, God, Marriage, and Family

Kostenberger, Schreiner, Baldwin, ed., Women in the Church

Wayne Grudem, Evangelical Feminism and Biblical Truth

Susan Foh, Women and the Word of God

Mary Kassian, Women, Creation, and the Fall

Mary Kassian, The Feminist Gospel

Mary Kassian, The Feminist Mistake

Richard Hove, Equality in Christ?

Daniel Doriani, Women and Ministry

Wayne Grudem, ed., Biblical Foundations for Manhood and Womanhood

Wayne Grudem, Dennis Rainey, ed., Pastoral Leadership for Manhood and Womanhood

Nancy Leigh DeMoss, Biblical Womanhood in the Home

Gordon Clark, Essays on Ethics and Politics

Gordon Clark, The Pastoral Epistles

John Murray, Principles of Conduct

Wayne Grudem, Evangelism Feminism: A New Path to Liberalism?

 

 


Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 26 de Julho de 2005.


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