A “Oferta Sincera” do Evangelho, Parte 1

por

Vincent Cheung



A doutrina em questão tem sido chamada de “a livre oferta”, “a oferta bem intencionada”, e “a oferta sincera” do evangelho (veja “Nota” abaixo). Minha posição é que ela faz de Deus um tolo esquizofrênico. Ela é anti-bíblica e irracional, e assim, deve ser rejeitada e combatida.

Deixe-me oferecer uma breve declaração e explicação aqui.

Porque não sabemos de antemão quem estão contados entre os eleitos e os não-eleitos, e porque a Escritura nos ordena pregar a toda pessoa, não devemos tentar determinar por nós mesmos quem são os eleitos e os não-eleitos, e então, pregar o evangelho somente àqueles a quem consideramos os eleitos. Antes, devemos pregar indiscriminadamente o evangelho a todos os homens.

Por outro lado, é errado e pecaminoso pregar o evangelho como se houvesse uma chance para até mesmo os não-eleitos obterem fé e serem salvos, como se Deus estivesse sinceramente lhes dizendo que Ele deseja sua salvação e que eles podem ser salvos (Lucas 10:21; João 6:65). Não conhecemos o conteúdo preciso do decreto de Deus na eleição (no que diz respeito a quem são os eleitos e quem são os não-eleitos), de forma que não devemos agir como se o conhecêssemos. Contudo, isso não significa que devamos falar como se a eleição fosse falsa quando pregamos o evangelho.

Pelo contrário, em nossa mensagem, devemos deixar claro que Deus ordena seriamente que toda pessoa, seja eleita ou não-eleita, creia no evangelho, fazendo assim toda pessoa moralmente obrigada a crer –– aqueles que assim o fizerem serão salvos, e aqueles que não o fizerem serão condenados. Mas não devemos apresentar isto como uma “oferta sincera” de salvação da parte de Deus para até mesmo os não-eleitos. A fé vem somente como um dom soberano de Deus, e Deus decidiu imutavelmente reter este dom dos não-eleitos, e os endurecer ativamente; portanto, oferecer sinceramente a salvação aos não-eleitos, como se Deus desejasse que eles fossem salvos e como se fosse possível para eles serem salvos, seria mentir para eles em nome de Deus. Não há uma oferta real ou sincera de salvação aos não-eleitos, mas somente uma ordem séria e real que eles nunca podem obedecer, e que Deus imporá contra eles com o fogo do inferno.

Novamente, isto não nos impede de pregar indiscriminadamente o evangelho a todos os homens, visto que não é o nosso direito nem o nosso dever escolher os eleitos e pregar somente a eles, ou escolher os não-eleitos e excluí-los. O ponto é que não devemos apresentar o evangelho como uma oferta sincera de forma alguma, como se o “desejo” de Deus pudesse diferir do Seu decreto, como se Deus pudesse decretar ou tivesse decretado contra o Seu “desejo” (quando a Escritura ensina que Ele decreta o que Ele deseja –– isto é, Seu “bom propósito” –– e o que Ele deseja, Ele decreta e faz certo), e como se fosse possível para até mesmo os não-eleitos serem salvos; antes, devemos apresentar o evangelho como uma ordem séria a todos, e como se fosse requerido de todos o crer (Atos 17:30), e como se Deus intentasse chamar os eleitos e endurecer os não-eleitos pela mesma pregação do evangelho (2 Coríntios 2:15-16).

Em outras palavras, o conteúdo e a pregação do evangelho pode e deve ser completamente consistente com as doutrinas da eleição e da reprovação, bem como com todas as outras doutrinas relacionadas. Para muitos, afirmar a “oferta sincera” é meramente uma escusa para crer como um Calvinista, mas pregar como um Arminiano.


NOTAS:

Estes termos não são sempre usados consistentemente ou com precisão, de forma que eles representam uma considerável abrangência de significados. É verdade também que nem todos que negam a “oferta sincera” crêem exatamente nas mesmas coisas. Portanto, aqueles que afirmam a “oferta sincera” podem se encontrar concordando comigo em alguns pontos, enquanto outros que afirmam a “oferta sincera” podem discordar daqueles mesmos pontos. Da mesma forma, nem tudo o que eu disse sobre ou contra a “oferta sincera” se aplica igualmente a todos que afirmam o ensino.

Em adição, aqueles que afirmam a “oferta sincera” são freqüentemente inconsistentes em sua linguagem. Por exemplo, alguém pode estar denunciando aqueles que negam a “oferta sincera”, e então começar a falar sobre o assunto como dizendo respeito a uma “ordem”, como se uma oferta e uma ordem fossem a mesma coisa, quando elas não o são de forma alguma. Certamente, tais inconsistências fazem uma discussão precisa sobre o assunto ainda mais difícil, especialmente quando meu propósito é dar somente uma breve explanação.

Outra razão para confusão é que aqueles que afirmam a “oferta sincera”, freqüentemente fazem suposições injustificadas sobre aqueles que a negam. Por exemplo, alguns daqueles que afirmam a “oferta sincera” assumem que aqueles que a negam se oporiam necessariamente à pregação do evangelho de uma forma indiscriminada a todos os homens. Mas isto não é verdade –– aqueles que negam a “oferta sincera” ainda podem pregar indiscriminadamente o evangelho a todos os homens, mas eles o fazem por uma razão diferente e baseados num entendimento diferente da situação.

Assim, a melhor maneira de se beneficiar da nossa breve discussão é considerar as reais crenças com as quais estou tratando, seja em minhas afirmações ou negações, e não necessariamente como o termo é usado num caso particular ou por uma pessoa particular. Por exemplo, você pode ser alguém que afirme a “oferta sincera”, mas você pode achar que estou tratando do assunto exatamente como você crê. Em tais circunstâncias, é melhor considerar as próprias crenças com as quais estou tratando, ao invés de você considerá-las como parte necessária do que alguém que afirma a “oferta sincera” deva afirmar.


[Leia a parte II]



LEITURA RECOMENDADA:

Herman Hoeksema, The Clark-Van Til Controversy
(See www.trinityfoundation.org )

David Engelsma, Hyper-Calvinism and the Call of the Gospel

David Engelsma, Common Grace Revisited

Herman Hoeksema and Henry Danhof, Sin and Grace
(Veja www.rfpa.org )

David Engelsma, Is Denial of the “Well-Meant Offer” Hyper-Calvinism?

David Engelsma, He Shines in All That's Fair

Herman Hanko, Is the Denial of the “Well-meant Offer” of the Gospel “Hyper-Calvinism”?

Vincent Cheung, Comments on “Why I am not a Calvinist”

Vincent Cheung, The Doctrine of Hell - [tradução]



Nota sobre o autor: Vincent Cheung é o presidente da Reformation Ministries International [Ministério Reformado Internacional]. Ele é o autor de mais de vinte livros e centenas de palestras sobre uma vasta gama de tópicos na teologia, filosofia, apologética e espiritualidade. Através dos seus livros e palestras, ele está treinando cristãos para entender, proclamar, defender e praticar a cosmovisão bíblica como um sistema de pensamento compreensivo e coerente, revelado por Deus na Escritura. Ele e sua esposa, Denise, residem em Boston, Massachusetts. http://www.rmiweb.org/


Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 05 de Abril de 2005.


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