Pós-Milenismo

por

Loraine Boettner, D.D.a

 


Capítulo 8 - A Era Milenar Aproxima-se por Degraus Imperceptíveis



A era dourada de justiça não é, certamente, para ser imaginada como começando subitamente, ou em qualquer data particular. Não é para ser apontada no calendário, pois ela virá como o resultado de um longo, lento processo. “O reino de Deus não vem com aparência exterior” (Lucas 17:20). Ele é “primeiro a erva, depois a espiga, por último o grão cheio na espiga” (Marcos 4:28). Ou novamente, ele é “mandamento sobre mandamento, mandamento sobre mandamento, regra sobre regra, regra sobre regra, um pouco aqui, um pouco ali” (Isaías 28:10). A vinda do Milênio é como a vinda do verão, embora muito mais lentamente e em uma escala muito maior. Na peleja entre as estações, há muitos avanços e muitos aparentes retrocessos. Novamente os primeiros anúncios de primavera aparecem, somente para serem superados pelos ventos de inverno. E freqüentemente parece que a peleja tem sido perdida e que o frio do inverno nunca será quebrado. Mas, gradualmente as brisas moderadas da primavera tomam o comando, e depois de um tempo nos encontramos na gloriosa estação do verão.

Tentar apontar uma data na qual o Milênio começa é como tentar distinguir o dia ou ano quando a história Medieval terminou e a história Moderna começou. O descobrimento da América por Colombo é usualmente tomado como o marco dividindo as duas. Pelo menos para nós, como Americanos, é quando o medievalismo termina e onde a história da América começa. Mas, este descobrimento não fez imediata mudança na vida do mundo, e na realidade o próprio Colombo morreu sem saber que ele tinha descoberto um novo mundo. Em retrospecto e por conveniência, nós arbitrariamente escolhemos uma data como o ponto de divisão entre duas eras. Mas na realidade, tal idade mistura-se com outra tão lentamente e tão imperceptivelmente que nenhuma mudança é reconhecível no tempo. Somente com a perspectiva da história podemos olhar para trás e fixar uma data aproximada, talvez dentro de um ou dois séculos, em relação a quando uma era cessa e outra inicia. Assim é com a vinda do Milênio. Indubitavelmente ele seguirá a lei de outros grandes períodos na história da Igreja, sendo gradual e incerto em sua aproximação.

Encontramos que continuamente durante a era da Igreja, tem havido progresso em direção aos altos padrões morais e espirituais, somente para sofrer trágicos atrasos através de uma série de guerras ou retrocessos. Olhando do ponto de vista dos atuais eventos do dia, pode não ser possível dizer de que maneira as marés estão se movendo. Porém, sobre os séculos há progresso, grande progresso, se olharmos quinhentos anos para trás, ou mil, ou dois mil anos. Certamente muitos daqueles que nos dizem que o mundo está se tornando pior mudarão suas mentes mui rapidamente se eles subitamente se encontrarem nos dias coloniais, ou na Escuridão da Idade Média, ou na era pré-Cristã.

O seguinte parágrafo do Dr. William Hendriksen, Professor no Seminário Calvino, com respeito à “prisão” de Satanás em Apocalipse 20:1-3, vai direto ao assunto. Nós discordamos com o Dr. Hendriksen somente em que nós consideramos a era milenar como pertencendo primariamente a uma era futura, enquanto que ele, como um Amilenista, compreende-a como abrangendo toda a era da Igreja. Mas, isto não tem nada a ver com o assunto. Diz ele:

“A Igreja se tornou internacional. A Igreja internacional é muito poderosa; como um poderoso exército, marcha a Igreja de Deus!...O particularismo do Velho Testamento deu lugar ao universalismo do Novo. A Bíblia já foi traduzida em mais de 1.000 línguas. A influência do Evangelho sobre o pensamento e a vida humana pode ser superestimada. Em alguns países, as benditas verdades do Cristianismo afetam a vida humana em todas as suas áreas: política, econômica, social, e intelectual. Só a pessoa desprovida de senso histórico e, portanto, incapaz de ver o presente à luz das condições que prevaleciam em todo mundo antes da ascensão de Cristo, pode falhar na apreciação da glória da era milenar na qual estamos agora vivendo. Verdadeiramente, a profecia encontrada no Salmo 72 está sendo realizada diante de nossos olhos" (Mais do que Vencedores, p. 227).

Nós temos feito muitos progressos durante a era Cristã, mas ainda, nos argumentos pós-milenistas, eles dificilmente vêem que até mesmo nas mais avançadas nações da terra tenhamos visto algo que seja digno de ser chamado mais do que o alvorecer primitivo do Milênio. Podemos dizer que até agora estamos engajados primariamente em colocar o fundamento mais bem do que construir a superestrutura. Alguns Amilenistas, como acabamos de ver, negam que haverá uma futura era de ouro nos princípios do pós- ou pré-milenismo, e sustentam em vez disso que o termo abraça todo o período entre a primeira e a segunda vinda de Cristo. Nós cremos, contudo, que embora estejamos progredindo, ainda temos uma longa distância a percorrer, e que o Milênio será algo muito mais avançado e glorioso do que qualquer coisa que já tenha sido vista.

Nós sustentamos que Cristo não é meramente um vencedor potencial, mas um vencedor real sobre o pecado. Durante o reino inter-adventual Ele está firmemente colocando em efeito a vitória que Ele venceu, gradualmente superando as forças do mal, até que todos Seus inimigos tenham sido feitos o escabelo de Seus pés (Atos 2:35). A dispensação na qual agora estamos é um período de progressiva conquista, de forma que quando Ele retornar, este será um mundo convertido. São apropriadas aqui as palavras do Dr. Samuel G. Craig:

“Certamente, sobre o fundamento das Escrituras, somos autorizados a olhar adiante para um período relativamente dourado comparado com o que agora gozamos. Cristo é hoje o cabeça de um reino, um reino que não é meramente engajado em conflitos com o mal, mas que é triunfante sobre o mal. Nós estamos hoje vivendo no meio de um período que é relativamente dourado conforme medido com o período no meio do qual o Novo Testamento foi escrito. Além disso, Cristo continuará conquistando e conquistando, até que os reinos deste mundo tornem-se o reino de nosso Senhor e de Seu Cristo, até que de fato a oração que Ele ensinou aos Seus discípulos orar tenha sido realizada: 'Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu' ” (Jesus: Como Ele Era e Como É, p. 278).

Um mundo verdadeiramente cristianizado foi o objetivo proposto aos discípulos pelo próprio Cristo, porque Ele disse: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações”. E que isto deve ser um longo e lento processo foi indicado pela forma da promessa que Ele deu em conexão com o mandamento: “e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mateus 28:20). O fermento é para trabalhar até que ele levede toda a massa. O reino, como uma semente de mostarda, é para crescer até que se torne uma árvore. Aqui também é encontrado o cumprimento da promessa: “Porque a terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o mar” (Isaías 11:9). João nos dá a profecia de que o Diabo será preso por mil anos, “para que não mais engane as nações” (Apocalipse 20:3). E que esta última profecia não se relaciona com um estado intermediário, nem com a ordem eterna, mas com a ordem do presente mundo, deve ser claro à partir do fato que João viu o anjo “descer do céu” na terra, e do fato que as nações, entidades relacionadas com a ordem deste presente mundo, são especificamente mencionadas. As nações como tal, não terão lugar no reino celestial.

A terra durante a presente dispensação nunca poderá, certamente, tornar-se um paraíso recuperado. Mas, um mundo cristianizado pode outorgar um antegozo do céu, um penhor das boas coisas que Deus tem guardado para aqueles que O amam. Nos princípios cristãos, já são participantes da vida celestial. Eles foram “nascidos de novo” ou “nascidos de cima” (João 3:3); eles foram “vivificados”, apesar de que anteriormente estavam “mortos” em delitos e pecados (Efésios 2:1): eles são “participantes da vocação celestial” (Hebreus 3:1); eles “provaram o dom celestial” (Hebreus 6:4); sua “cidade está nos céus” (Filipenses 3:20); e Paulo diz que Deus já “nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” (Efésios 2:6). Quando nascemos de novo, nascemos para o Reino e participamos dos benefícios preliminares do Reino até mesmo neste mundo.

Por conseguinte, vemos o mundo progredir lentamente, mas certamente, para um objetivo apontado. Muito progresso tem sido feito, os feixes de luz do nascente Sol da Justiça estão começando a substituir a escuridão e confusão, a infelicidade e a ruína que eles estão destinados a dissipar. Diz o Dr. Warfield: “De acordo com o Novo Testamento, este tempo no qual vivemos é precisamente o tempo no qual nosso Senhor está conquistando o mundo para Si mesmo; e é a finalização desta conquista que, assim como marca a finalização de Sua obra redendora, assim também marca o tempo para Seu retorno à terra para consumar Seu reino e estabelecê-lo em sua forma eterna” (Artigo, O Evangelho da Segunda Vinda, na Revista da Bíblia, Abril de 1915).

 


Tradução livre: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 25 de Novembro de 2002.


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