Pós-Milenismo

por

Loraine Boettner, D.D.a

 


Capítulo 9 - Milênio, uma Figura Simbólica



À medida que lemos o livro do Apocalipse, expressões figuradas ou simbólicas são encontradas por todos os lados. As igrejas são simbolizadas pelos sete castiças de ouro. Sete espíritos diante do trono são usados para simbolizar a plenitude de um único Espírito Santo. Lemos do Cordeiro tendo sete chifres. Nós não esperamos ver um cordeiro literal, nem sete chifres literais, mas sabemos que estes simbolizam a plenitude do poder de Cristo. Doze é o número da Igreja, e sempre quando a Igreja é mencionada, temos este número ou seu múltiplo, — doze apóstolos, vinte e quatro anciãos, ou a totalidade do povo de Deus simbolizada pelo número 144.000. Na Bíblia, o número dez representa totais arredondados. Por conseguinte, temos a lei moral sumarizada em dez mandamentos. Dez pragas no Egito, cada uma direcionada a um deus adorado pelos egípcios, mostrando a completa superioridade do Deus dos hebreus sobre os deuses do Egito. No Tabernáculo, o Santo dos Santos, o lugar no qual Deus manifestava Sua presença, tinha dez côvados de comprimento, dez côvados de largura, e dez côvados de altura. O cubo, com todos lados iguais, simboliza a perfeição. Mil é o cubo de dez, e simboliza a vastidão de número ou tempo. No Salmo 50:10 a expressão “o gado sobre milhares de montanhas” não significa somente que os gados em mil montanhas são do Senhor, mas que todos os gados em todas as montanhas do mundo são dEle. Quando o Senhor ensinou a Pedro que ele deveria perdoar seu irmão não sete vezes, mas setenta vezes sete (Mateus 18:22), Ele não quis dizer 490 vezes, mas que ele deveria perdoar-lhe tantas vezes quanto ele sinceramente pedisse para ser perdoado. A Nova Jerusalém, da qual lemos em Apocalipse 21, é descrita como uma cidade na forma de um cubo [quadrado], 12.000 estádios (1500 milhas) em uma borda, uma figura que simboliza a perfeição, grandeza e vastidão. “E o seu comprimento, largura e altura eram iguais”, disse João. A cidade era rodeada por um muro de 144 côvados (12 ao quadraddo), ou 216 pés, o que para o povo que João escreveu, simbolizava absoluta segurança. Nem as formas e nem as dimensões da cidade podem ser tomadas com exatidão matemática, como se ela fosse um gigantesco edifício.

Em Apocalipse 20, não entendemos João escrevendo de um dragão literal ou de uma serpente literal. E nem o entendemos falar que o anjo tem uma chave literal ou uma corrente literal em sua mão, com a qual ele amarrará o Diabo. Está totalmente claro que os “mil anos” não devem ser entendidos como uma exata medida de tempo, mas antes como um número simbólico. Estrita aritmética não tem lugar aqui. O termo é uma expressão figurada, indicando um indefinidamente longo período de tempo, um completo, um perfeito número de anos, provavelmente não menor do que mil anos literais; porém, em todas as probabilidades, muito mais longo. Ele é, contudo, um período definitivamente limitado, durante o qual certos eventos ocorrerão, e depois do qual certos outros eventos se seguirão. Concernente a este simbolismo de número, o Dr. Warfield disse:

“É totalmente certo que o número 1.000 representado na Bíblia, simboliza absoluta perfeição e inteireza ; e que o simbolismo da Bíblia inclui também o uso de um período de tempo para expressar a idéia de grandeza, em ligação com eficácia e inteireza. Eles constituem uma linguagem, e como qualquer outra linguagem, eles são enganosos, a menos que sejam entendidos e lidos como expressões de idéias definidas. Quando o profeta diz sete ou quatro ou três ou dez, ele não nomeia estes números aleatoriamente, mas expressa por cada um uma noção específica. O número sagrado sete em combinação com o igualmente sagrado número três, forma o número de santa perfeição, dez, e quando este dez é elevado ao cubo para mil, o profeta diz tudo o que poderia dizer para conduzir nossas mentes à idéia do completo absoluto. É indubitavelmente de maior importância, contudo, para ilustrar o uso de tempos-períodos à idéia de inteireza. Ezequiel 39:9 proporciona um caso. Ali a inteireza da conquista de Israel sobre seus inimigos é expressa pela afirmação de que sete anos seriam usados para queimar os restos da batalha: eles 'sairão', nós lemos, 'e acenderão o fogo, e queimarão as armas, e os escudos e as rodelas, com os arcos, e com as flechas, e com os bastões de mão, e com as lanças; e acenderão fogo com elas por sete anos'. Seria absurdo supor que isto significa que o fogo deveria realmente durar sete anos. Temos aqui somente uma hipérbole para indicar a grandeza da massa [de pessoas] à ser consumida e a inteireza da consumação. Um emprego um tanto similar de tempo-frase para expressar a idéia de grandeza é encontrado no décimo-segundo verso do mesmo capítulo, onde, depois da derrota de Gogue, 'e de toda sua multidão', é dito: 'e a casa de Israel os enterrará durante sete meses, para purificar a terra'. Isto é, a multidão dos mortos era tão grande que pelo uso de uma hipérbole é dito que seu enterro seria consumado em sete meses”.

O número sete empregado por Ezequiel naquelas passagens é substituído pelo número mil em nossa presente passagem, com o efeito de aumentar gigantescamente a idéia da grandeza e integridade comunicada. Quando os santos são ditos viver e reinar com Cristo por mil anos, a idéia pretendida é a de inconcebível exaltação, segurança e bem-aventurança, a qual não pode ser expressa pela linguagem ordinária” (Artigo, O Milênio e o Apocalipse, reimpresso nas Doutrinas Bíblicas, p. 654).

Similarmente, o Dr. Abraham Kuyper disse: “Os números e as indicações de pessoas aparecem neste livro não como números reais, mas como números figurativos. Havia mais do que sete igrejas na Ásia Menor. Não devemos tomar o número 144.00 como se este fosse o número de um homem, daqueles que foram primeiramente salvos. Os 1.600 estádios de corrente de sangue, que chegava até aos freios dos cavalos, não é uma designação geográfica. Todas essas figuras devem ser entendidas simbolicamente” (Artigo, Quiliasmo ou Pré-Milenismo, p. 28).

Que Calvino entendia os “mil anos” figurativamente está claro, fora de qualquer dúvida. Ele expressa a idéia com uma breve referência:

“Depois, não há muito tempo, se levantaram os milenaristas, os quais limitam o reino de Cristo à mil anos. A ficção deles é demasiadamente pueril para merecer refutação”. (Institutas, Livro II; Capítulo 25)

Nós devemos mostrar, contudo, que em Apocalipse 20, os “mil anos” dos versos 1-3 e os “mil anos” dos versos 4-6, não relatam a mesma coisa. O Milênio dos versos 1-3 relatam um período futuro na terra, durante o qual o Diabo estará amarrado, a fim de que não possa enganar as nações. O Milênio dos versos 4-6, durante o qual tempo as almas “daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus” estarão vivendo e reinando com Cristo, relaciona-se com um estado intermediário e para cada alma individual, e isto abrange aquele período entre a morte e a ressurreição. Que estas “almas” que estão vivendo e reinando com Cristo estão em um estado intermediário é indicado: (1) pelo fato de que João as viu como “almas”, e não como pessoas com corpos; (2) pelo fato que elas são contrastadas com um segundo grupo, “o resto dos mortos” (versículo 5, versão do autor); portanto, ambos grupos devem ser identificados como mortos — aqueles que haviam morrido no Senhor, dos quais Apocalipse 14:13 nos fala, e aqueles que haviam morrido em seus pecados e, conseqüentemente, não tinham parte no reino intermediário de Cristo; e (3) pelo contrate entre a expressão “a primeira ressurreição”, e a outra expressão figurada, “a segunda morte” (verso 14). Ninguém pode entender este último termo como aplicando-se a uma segunda morte física. Ele é comumente entendido como se referindo ao eterno castigo dos ímpios. Similarmente, “a primeira ressurreição” é uma expressão figurada, e este evento (vida no estado intermediário) é assim chamado para distingui-lo da ressurreição dos corpos que ocorrerá mais adiante. Alguns, todavia, entendem “a primeira ressurreição” como se referindo à regeneração da alma, isto é, ao novo nascimento do crente, o qual é seguido por um período de santificação nesta vida e é coroado por sua existência no céu, para reinar com Cristo durante o período entre a morte e a ressurreição. Em ambos os casos, os “mil anos” é entendido simbolicamente como se referindo a um período indefinidamente longo de tempo. Para os santos do Velho Testamento e para os que morreram na parte primitiva da era Cristã, este reino já tem, agora mesmo, continuado por muito mais tempo que mil anos literais.

 


Tradução livre: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 17 de Novembro de 2002.


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