Se Deus conhece as escolhas do nosso livre-arbítrio, como ainda temos livre-arbítrio?

por

www.carm.org

 

Sempre tenho me surpreendido pela noção sustentada por algumas pessoas de que se Deus sabe o que iremos escolher no futuro, então, não temos realmente livre-arbítrio. Eles dizem que se Deus sabe que iremos fazer uma certa escolha do "livre-arbítrio", então, quando chegar o tempo de fazer aquela escolha, visto que Deus sabe o que iremos escolher, não somos realmente livres para fazer uma escolha diferente e a presciência de Deus significa que não podemos ter livre-arbítrio. Honestamente, não vejo isto como sendo um problema de forma alguma. Iremos trabalhar com a idéia de que somos criaturas com livre-arbítrio e que Deus conhece todas as coisas, mesmo as nossas futuras escolhas. Além do mais, iremos definir livre-arbítrio no sentido do "teísmo aberto" como sendo a capacidade de fazer escolhas iguais entre opções, a despeito da natureza pecaminosa da pessoa. [1] Dada estas condições, a onisciência de Deus e o nosso livre-arbítrio são incompatíveis como os "teístas abertos" reivindicam?


Analogia

Por analogia, saber o que irá acontecer não significa que somos impedidos ou induzidos a fazer com que algo aconteça. O sol se levantará amanhã. Eu não farei com que ele se levante nem o impedirei de se levantar por saber que isto acontecerá. Da mesma forma, se eu coloco uma taça de soverte e uma taça de couve-flor na frente de meu filho, eu sei, de fato, qual será escolhida, a de sorvete. O fato de eu saber de antemão não impede meu filho de fazer uma livre escolha quando o tempo chegar. Meu filho é livre para fazer uma escolha e o conhecer tal escolha não tem efeito sobre ela quando a mesma é feita.

Lógica

Logicamente, Deus saber o que iremos fazer não significa que não podemos fazer algo. Isto significa simplesmente que Deus sabe o que iremos escolher fazer de antemão. Nossa liberdade não é restringida pela presciência de Deus; nossa liberdade é simplesmente percebida de antemão por Deus. Nisto, nossa capacidade natural de fazer outra escolha não tem sido removida de forma alguma, assim como também minha escolha de escrever dentro dos parênteses (oi) não foi removida por Deus, que sabia que eu colocaria a palavra "oi" dentro dos parênteses antes do universo ser feito. Antes de escrever a palavra "oi", eu ponderei sobre que palavra escreveria. Minha ponderação foi um ato meu e a escolha foi minha. Como fui, então, de alguma forma restringido na liberdade quando escolhi o que escrever somente porque Deus sabia o que eu iria fazer? Não importa o que escolhamos, o que fazemos livremente pode [e na verdade o é] ser conhecido por Deus e Seu conhecimento não quer dizer que não estamos fazendo uma livre escolha.

 

Tempo

Parte do assunto aqui é a natureza do tempo. Se o futuro existe para Deus da mesma forma como o presente, então, Deus está consistentemente em todos os lugares ao mesmo tempo e não é limitado pelo tempo. Isto significa que o tempo não é uma parte de Sua natureza, a qual Deus está sujeito, e que Deus não é uma entidade linear; isto é, significa que Deus não é limitado a agir em nosso mundo do tempo e não é limitado ao presente somente. Se Deus não é limitado a existir no presente, nosso presente, então, o futuro é conhecido por Deus, porque Deus habita no futuro assim como no presente (e no passado). Isto significa que nossas futuras escolhas, tão livres como são, são simplesmente conhecidas por Deus. Novamente, nossa capacidade de escolher não é alterada ou diminuída por Deus existir no futuro e saber o que livremente escolheremos. Apenas significa que Deus pode ver o que iremos escolher livremente - porque isto é o que escolhemos livremente - e saber qual será essa escolha.

Parte do problema no open theism é que por restringir Deus ao presente somente, Sua existência é definida de tal forma que implica que o tempo é parte de Sua natureza e que Ele é restrito a ele. A questão é se isto é ou não lógico, bem como se é ou não bíblico. Para uma análise da lógica da posição, por favor, veja "Uma refutação lógica do open theism".

 

Escritura

 

Escrituristicamente, Deus habita na eternidade. Salmos 90:2 diz, "Antes que nascessem os montes, ou que tivesses formado a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade tu és Deus". Mas estes versos, como outros, não declaram que Deus vive dentro ou fora do tempo. Pelo contrário, a Bíblia nos diz que Deus é eterno. Podemos, contudo, notar que a Bíblia ensina que Deus não tem princípio ou fim. Isto não é definitivo, mas podemos ser capazes de concluir que visto que o tempo é aquela sucessão não espacial de eventos do passado, através do presente, e para o futuro, e visto que a palavra "princípio" denota uma relação com e no tempo, e visto que Deus não tem princípio, que tempo não é aplicável à natureza de Deus. Em outras palavras, Deus não tem princípio e visto que "princípio" trata com um evento no tempo, Deus está fora do tempo.

Todavia, as Escrituras não são definitivas sobre este assunto e podemos somente concluir o que dissemos; a saber, que Deus é eterno, sem princípio, sem fim, e que Ele pode acuradamente e precisamente predizer o que acontecerá.

"Estando tu, ó rei, na tua cama, subiram os teus pensamentos sobre o que havia de suceder no futuro. Aquele, pois, que revela os mistérios te fez saber o que há de ser" (Daniel 2:29).

Assim, na relação do nosso livre-arbítrio com a capacidade preditiva de Deus, não há razão bíblica para asseverar que a presciência de Deus nega nossa liberdade.

 

Conclusão

 

Não há razão lógica para reivindicar que se Deus sabe o que iremos escolher, isto significa que não somos livres. Isto ainda significa que as livres escolhas que fazemos são livres - elas são apenas conhecidas de antemão por Deus. Se escolhemos algo diferente, então, esta escolha foi eternamente conhecida por Deus. Além do mais, este conhecimento por Deus não altera nossa natureza pelo fato de não mudar o que somos, livres para fazer escolhas. O conhecimento de Deus é necessariamente completo e exaustivo porque é Sua natureza o conhecer todas as coisas. De fato, visto que Ele tem eternamente conhecido quais serão todas as nossas livres escolhas, Ele ordenou que a história chegasse à conclusão que Ele deseja, incluindo e incorporando nossas escolhas no Seu plano divino: “Porque verdadeiramente se ajuntaram, nesta cidade, contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, não só Herodes, mas também Pôncio Pilatos com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho predeterminaram que se fizesse" (Atos 4:27-28). Eis o porque Deus sabe todas as coisas: "maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas" (1 João 3:20).

______________
1. Isto é chamado livre-arbítrio libertariano, ou seja, que uma pessoa é igualmente capaz de fazer escolhas entre opções, independente de pressões ou coerções de causas externas ou internas. O livre-arbítrio compatibilista sustenta que uma pessoa escolhe somente o que é consistente com sua natureza. Portanto, por exemplo, uma pessoa que é uma escrava do pecado (Romanos 6:14-20) e não pode entender as coisas espirituais (1 Coríntios 2:14), não será capaz de escolher a Deus de seu próprio livre-arbítrio, porque seu livre-arbítrio não tem a capacidade de contradizer sua natureza. Há muito debato sobre estes assuntos e dependendo do lado para o qual você se incline, sua interpretação da Escritura será afetada.


Tradução livre: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 03 de julho de 2004.

 

www.monergismo.com

Este site da web é uma realização de
Felipe Sabino de Araújo Neto®
Proclamando o Evangelho Genuíno de CRISTO JESUS, que é o poder de DEUS para salvação de todo aquele que crê.

TOPO DA PÁGINA

Estamos às ordens para comentários e sugestões.

Recomendamos os sites abaixo:

Academia Calvínia/Arquivo Spurgeon/ Arthur Pink / IPCB / Solano Portela /Textos da reforma / Thirdmill
Editora Cultura Cristã /Edirora Fiel / Editora Os Puritanos / Editora PES / Editora Vida Nova