Eternidade e Tempo

por

W. E. Best

 


Capítulo 1 - Eternidade e Tempo Devem Ser Distinguidos



Um recente artigo de jornal relata um reconhecimento entre muitos doutores de um fenômeno de quase-morte. O relato era que muitas pessoas falam sobre o fenômeno por causa da publicidade com respeito à investigação da quase-morte. De acordo com o artigo, as experiências de quase-morte têm se tornado comuns e não são mais consideradas fictícias. A pesquisa que foi feita revelou uma variedade de experiências quase-morte. Aqueles que reivindicam ter as experiências dão vários testemunhos: (1) Eles têm um senso de paz e anestesia. (2) Eles experimentam uma visão panorâmica de suas vidas. (3) Eles sentem a presença de parentes mortos ou espíritos. (4) Eles se sentem como que passando por algum tipo de passagem ou túnel.

As várias conclusões derivadas desta pesquisa são interessantes. Um doutor, que pediu anonimato, diz que sua experiência fora do corpo enquanto passava por uma cirurgia, alterou seu ceticismo sobre uma vida após morte. Ele diz que sempre creu em Deus, mas sua experiência lhe fez perceber que realmente há algo além desta vida aqui. Alguns supõem que suas vidas mudaram para melhor pelas suas experiências de quase-morte, mas outros dizem que suas experiências causaram desordens. Alguns se tornaram afobados, e outros insatisfeitos com seus trabalhos e casamentos. Há alguns que se tornaram tão enamorados com suas experiências de quase-morte, que eles não querem mais seguir com os negócios da vida. Pelo contrário, eles desejam esta maravilhosa morte.

Uma pergunta levantada foi se as experiências de quase-morte abrem os olhos para o céu, ou se elas são meramente o desatar do cérebro à medida que a morte se aproxima. O artigo declara que uma década de investigação tem descartado algumas teorias e produzido algumas outras: (1) A endorphins, uma substância como a morfina, liberada pelo cérebro durante um trauma, pode dar paz e anestesiar. (2) Ataques do lóbulo temporal, que algumas vezes fazem com que o cérebro repita experiências da vida, podem resultar em visões panorâmicas da vida de alguém. (3) Observações fora do corpo podem ser evidência de que a mente e o cérebro podem existir separadamente. (4) Anoxia, a falta de oxigênio no cérebro, pode produzir a sensação de uma flutuação fora do corpo. A rapidez do sangue à medida que a pessoa volta à consciência pode resultar nas luzes brilhantes testemunhadas por alguns. (5) As memórias subconscientes da experiência do nascimento podem ser a causa da sensação de movimento através de uma passagem ou túnel. (6) As imagens do céu da quase-morte podem ser a mente invocando figuras baseadas em prévias instruções religiosas. (7) As experiências de quase-morte não são a morte em si mesma, e elas não podem ser interpretadas como visões de pessoas que voltaram dos mortos.

As experiências de quase-morte de milhões deveriam promover interesse no estudo do tempo e da eternidade. As experiências subjetivas de pessoas no tempo nunca devem ser aceitas como válidas em relação às realidades eternas. Os cristãos devem se acautelar de uma filosofia humanista que faz das experiências humanas a norma para julgar a realidade. A filosofia humana nega que a Escritura forneça a norma para fé ou prática. Além do mais, ela enfatiza a liberdade humana não para meramente escolher corretamente, mas para criar um mundo subjetivamente significante. Então, a antropologia substitui a teologia. Conclusivamente, com aqueles que abraçam esta filosofia, as opiniões humanistas ofuscam e substituem os fatos objetivos da Sagrada Escritura.

O tempo é valioso porque ele não tem somente um princípio, mas um fim. Portanto, há um futuro, um presente e um passado. A única parte do tempo que realmente existe é o presente. O passado se foi, e o futuro ainda não chegou. Falhar em redimir o tempo, isto é, “o agora”, é perdê-lo: “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, redimindo o tempo, porquanto os dias são maus” (Efésios 5:15,16). A palavra grega para “redimir” é o particípio médio presente de exagoradzo, que significa pagar pela renúncia de um direito, redimir ou libertar. Na voz média ele significa segurar para si mesmo ou salvar de perda.

O correto modo de falar do tempo não é passado, presente e futuro, mas futuro, presente e passado. O tempo não é um movimento à partir do passado, mas à partir do futuro. O tempo que é passado está perdido para sempre. Ele não pode ser redimido. Visto que o futuro ainda não chegou, alguém pode fazer o máximo que ele puder, e ele ainda não existirá. O tempo é um ponto e tem uma localização. Uma expressão comum é “naquele ponto no tempo”. A localização do tempo é o presente. Portanto, os cristãos devem continuamente tirar o máximo proveito do “agora”.

O tempo começou com a criação. Três coisas básicas para o universo criado são: espaço, matéria e tempo. O espaço consiste de três dimensões –– comprimento, largura e altura. Estas são as três dimensões básicas que nos são familiares. A matéria consiste de energia, moção e fenômeno. O tempo consiste de futuro, presente e passado. Este universo foi criado por Deus para Sua glória (Gênesis 1:1; João 1:3; Colossenses 1:16). A essência de Deus não pode ser compreendida, mas Sua existência não pode ser negada (veja Romanos 1:19,20; Apocalipse 4:11). O propósito de Deus na criação está sendo presentemente completado. “Porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém” (Romanos 11:36). Por favor, observe que o verso não diz “das”, “por” ou “para” as pessoas. Todas as coisas estão se movendo para a sua consumação para que “ Deus possa ser tudo em todos” (1 Coríntios 15:28). O princípio da criação, portanto, inclui o princípio do tempo.

O tempo tem uma importante relação com o homem. Ele fala do período de sua vida, porque há um tempo para nascer e um tempo para morrer (Eclesiastes 3:1,2). A brevidade da vida e a certeza da morte são geralmente entendidas. “O homem, nascido da mulher, é de bem poucos dias e cheio de inquietação [NASB: de vida curta e cheia de tumultos]. Nasce como a flor, e murcha; foge também como a sombra, e não permanece....Visto que os seus dias estão determinados, contigo está o número dos seus meses; tu lhe puseste limites, e ele não poderá passar além deles” (Jó 14:1,2,5). O homem está constantemente sujeito aos objetos que deveriam fazer com que ele refletisse sobre a sua saída do tempo. Contudo, a depravação da natureza humana está tão fascinada com os prazeres do tempo que ele raramente reflete sobre a eternidade. A vida humana é lisonjeira em seu princípio. Ela começa como uma flor, mas se torna tumultuada em sua continuação. A vida é incessante em seu curso. Ela escapa como uma sombra e se move gentil e silenciosamente.

Uma distinção deve ser feita entre o tempo apontado por Deus e o tempo esperado pelo homem. O período de vida não pode ser estendido além do tempo determinado por Deus. Jó falou de seus dias como sendo determinados (Jó 14:5). Davi disse: “Faze-me conhecer, ó Senhor, o meu fim, e qual a medida dos meus dias, para que eu saiba quão frágil sou” (“quanto tempo eu tenho aqui” –– nota de margem na KJV; “quão transitório eu sou” –– NASB) (Salmos 39:4). Não há contradição entre estes versos e aqueles que parecem ensinar que o homem pode alongar os seus dias: “ ...por que morrerias antes do teu tempo?” (“não em teu tempo” –– nota de margem na KJV) (Eclesiastes 7:17). “ A duração da nossa vida é de setenta anos; e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, a medida deles é canseira e enfado; pois passa rapidamente, e nós voamos” (Salmos 90:10). “...homens de sangue e de traição não viverão metade dos seus dias; mas eu em ti confiarei” (Salmos 55:23). O verdadeiro prolongamento da vida é viver enquanto vivemos. Isto significa não gastar tempo, mas usar cada dia para fins dignos. Qual é o significado das passagens das Escrituras que falam de prolongar a vida de alguém? Deus prometeu aos judeus, se eles fossem obedientes, que suas vidas seriam prolongadas na terra de Canaã e que eles não seriam presos em cativeiros (Deuteronômio 4:40; 5:16,33; 22:7). Quando Paulo citou Deuteronômio 4:40 em Efésios 6:3, ele omitiu as palavras conclusivas, “na terra que o Senhor teu Deus te dá”, e fez dela uma promessa não confinada a um povo ou terra.

Os dias do homem não podem ser prolongados além do decreto de Deus, e nem todos os filhos obedientes vivem vidas longas. Todavia, isto não é inconsistente com a regra geral de que filhos obedientes são prósperos e felizes, e que a diligência faz com que os homens sejam abastados: “O preguiçoso deseja, e coisa nenhuma alcança; mas o desejo do diligente será satisfeito” (Provérbios 13:4). A preguiça é o credo do preguiçoso. Ociosidade é um pecado contra a ordem de Deus. Seja a vida temporal de alguém longa ou curta, uma pessoa diligente vive uma vida longa num tempo curto. Por outro lado, o preguiçoso vive uma vida curta num tempo longo. “O temor do Senhor aumenta [prolonga] os dias [nota de margem na KJV –– adiciona dias]; mas os anos dos ímpios serão abreviados” (Provérbios 10:27). O temor do Senhor leva a uma vida virtuosa, porque os cristãos temem Aquele que eles amam. De modo oposto, os ímpios temem Aquele que eles odeiam. Por conseguinte, “não viverão metade dos seus dias...” (Salmos 55:23). Conclusivamente, os ímpios viverão somente metade dos seus dias esperados, não dos seus dias determinados por Deus.

O tempo tem sido definido como “a consideração da duração, a medida dela, arrumada por certos períodos e marcada por certas medidas”. O rio do tempo aumenta em valor à medida que o cristão se apressa no oceano da eternidade. O tempo é a essência de tudo no universo físico. Portanto, este universo é um universo de tempo. Visto que o tempo presentemente coexiste com a eternidade, o homem tem dificuldade em diferenciá-los entre si. Sendo uma criatura do tempo, o homem quer colocar o tempo na eternidade falando de “eterno passado” e “eterno futuro”.

Tudo é eterno na eternidade. A eternidade não é uma extensão do tempo. Não há passado ou futuro na eternidade. Alguns dizem que há tempo na eternidade porque um evento sucederá outro. Uma pessoa deve entender que o que os estudantes da bíblia querem dizer por “antes” e “depois” com referência aos decretos de Deus não é que um é antes do outro na ordem de tempo, porque todos eles são desde a eternidade. Contudo, ela deve formar uma idéia de um decreto antes de outro na medida em que Deus decreta uma coisa como resultado de outro decreto. Por conseguinte, um decreto torna-se o fundamento de outro decreto. Por exemplo, o decreto de Deus de manifestar Sua glória deve ser considerado antes da criação e da queda do homem. A criação foi o meio de manifestar Sua glória. Portanto, o decreto de Deus de manifestar Sua glória precede –– em ordem –– o decreto de criar.

Há ordem, mas não tempo, na eternidade. A ordem não necessita de tempo. Ela significa arranjo, classificação ou coordenação de pessoas ou coisas por seqüência ou grau; mas tempo significa as relações sucessivas que qualquer evento tem com outro como futuro, presente ou passado. Por conseguinte, a sucessividade que é caracterizada por seqüências regulares de partes –– futuro, presente e passado –– traria duração finita para a eternidade, o que é impossível. Há ordem na eleição eterna. Visto que nossa eleição é em Cristo (Efésios 1:4), a eleição de Cristo para ser o nosso Salvador precede a nossa eleição nEle (Isaías 42:1; Lucas 23:35; 1 Pedro 2:4). Além do mais, os atos de Deus no tempo são os atos da vontade de Deus decretada antes do tempo. Os decretos eternos de Deus devem ser entendidos na mente de Deus na mesma ordem em que eles são executados no tempo.

 


Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 20 de Julho de 2004.



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