Eternidade e Tempo

por

W. E. Best

 


Capítulo 2 - Distinção entre Eternidade e Tempo Ilustrada



O tempo é uma presença transitória em contraste com a eternidade que é uma presença permanente. Visto que o tempo presentemente coexiste com a eternidade, o homem, que é uma criatura do tempo, tem dificuldade em diferenciá-los. Os puritanos falavam da eternidade como uma “eterna duração”. Duração, contudo, pode ser medida; mas a eternidade é imensurável. O dicionário defina “duração” como continuação no tempo ou o comprimento de tempo durante o qual algo continua ou existe. A eternidade não pode ser explicada pelo uso de um termo que fala “do comprimento de tempo”. Ela não pode ser medida por um termo mensurável. Se a eternidade fosse composta do que os puritanos chamavam de “a extensão da duração”, ela seria composta de uma sucessão sem fim de unidades mensuráveis de tempo. Assim, a eternidade estaria gradualmente acabando no tempo. Contudo, a eternidade não pode ser nem diminuída, nem alongada.

O conceito de Martinho Lutero de eternidade era “a coisa completa ao mesmo tempo”. Agostinho tinha mostrado que não podia existir cem anos presentes. Sua ilustração era que se o primeiro daqueles anos está acontecendo agora, ele é presente, mas os noventa e nove anos futuros ainda não existem. Ele concluiu que se o segundo ano está acontecendo, o primeiro se foi, o outro é presente, e o resto são futuros; portanto, não pode haver cem anos presentes. Quando alguém considera a veracidade desta declaração, ele pode substituir por mês, dia, hora, minuto e segundo, e a conclusão é que o presente não tem comprimento de forma alguma. Além do mais, alguém não pode falar de passado ou futuro como tendo alguma realidade. Somente o presente tem realidade, e a eternidade pode ser expressa como “o imensurável presente”.

Quando Deus fala de Sua eternidade, Ele diz, “EU SOU” (Êxodo 3:14). Se ele tivesse dito, “EU ERA”, o significado seria que Ele foi e agora já não é mais. Além do mais, se Ele tivesse dito, “EU SEREI”, o significado seria que Ele ainda não é o que Ele será. Einstein brigou com o problema de que não pode haver uma medida de tempo, porque ele não fica parado o suficiente para que se possa medi-lo. Por conseguinte, a conclusão é que a eternidade não é tempo, como um arco-íris, desaparecendo na eternidade em ambos os lados. A eternidade não corre à partir do passado, ou uma certa quantia já teria sido gasta. Portanto, a eternidade é o permanente e imensurável presente.

Há uma diferença entre a sucessão de eventos no tempo e a intensidade de experiência na eternidade. A intensidade da experiência substituirá a extensidade quando o tempo cessar de existir. A palavra “extensidade” significa a qualidade de se ter extensão. Psicologicamente, ela é a atitude ou sensação pela qual a extensão espacial (pertencente ao espaço que também envolve tempo) é percebida. A palavra “intensidade” refere-se à qualidade ou condição de ser intenso. A qualidade essencial da eternidade é intensidade e não extensidade. Por exemplo, pensar no comprimento como a essência da vida eterna é supor que a realidade dela pode ser medida por até quando ela dura. Nós somos tão conscientes de nossa mortalidade que tendemos a enfatizar o aspecto quantitativo de nossa vida em Cristo, com sua garantia de vitória sobre a morte. Contudo, o aspecto quantitativo de nossa vida em Cristo é imensamente insignificante. Tal vida não é projetada pela eloqüência persuasiva que produz um mero assentimento mental para um período de tempo (veja João 10).

A diferença entre extensidade e intensidade pode ser ilustrada mostrando-se a diferença entre vida na prisão e punição capital. A intensidade da punição capital excede a extensidade da vida na prisão. A vida na prisão é mensurável, mas a punição capital é imensurável. Aplique esta mesma distinção à morte de Jesus Cristo. A extensidade de Seu sofrimento humano sobre a cruz durou três horas, mas a intensidade do sofrimento da Pessoa infinita compensou pela eternidade do castigo que Ele suportou.

O homem sempre está buscando um entendimento melhor da eternidade e uma maneira mais concisa de expressar sua crença em tal assunto infinito. Vários modos de ilustrar a eternidade têm sido sugeridos, mas muitos deles são extremamente inadequados.

Há alguns que dizem que a duração da existência Divina é desde a eternidade, de acordo com o nosso modo finito de entender a eternidade. Eles declaram que a duração Divina deve ser considerada como completamente permanente e o “agora” sempre presente, e que ela é impossível de ser divida em partes, assim como o é a própria existência Divina. Eles concluem que, como o presente “EU SOU” da existência divina enche, ao mesmo tempo, os céus e a terra, o presente “agora” da Divina duração compreende, ao mesmo tempo, todo o tempo e eternidade. A duração, contudo, é mensurável.

Alguns têm procurado ilustrar a eternidade com um círculo porque sua circunferência permanece imutável. Alguém pode andar ao redor do círculo de maneira interminável, porque não há fim. Mas, o que dizer sobre a repetição do círculo mensurável?

Há outros que dizem que a eternidade e o tempo não são duas linhas, das quais a menor corre paralelamente por um instante com a outra, que se estende infinitamente. Mas a eternidade é o centro imutável cujos raios abrangem o contorno completo do tempo.

Alguns crêem que a eternidade é infinita em sua relação com o tempo. Eles dizem que o passado, presente e futuro são “um eterno agora” para Deus. Não há sucessão lógica ou cronológica nos pensamentos de Deus. O tempo é uma duração mensurável de sucessões. Uma duração sem sucessão ainda seria duração, embora agora fosse imensurável. Por conseguinte, a eternidade é a duração sem princípio, a existência sem limites ou dimensão, o presente sem o passado ou futuro, a infância sem a juventude ou velhice, e o hoje sem o ontem ou o amanhã.

A eternidade e o tempo diferem. O tempo é uma duração mensurável, mas a eternidade não é uma duração que é imensurável. Um estudo do significado bíblico de eternidade revelará que duração nunca deve ser usada em sua descrição. Quando alguém estuda o assunto da vida eterna, ele aprende que o termo é usado qualitativamente e não quantitativamente. O termo “eterno” carrega mais a idéia de intensidade ou profundidade do que de extensidade de comprimento. A melhor forma de declarar isto é que o tempo é a presença transitória e a eternidade é a presença permanente. O adjetivo “transitório” significa não-contínuo, não-duradouro, não-permanente ou não-eterno. Por outro lado, o adjetivo “permanente” significa continuar sem mudança ou fim.

A eternidade não pode ser confundida com o tempo, embora ambos coexistam presentemente. O tempo tem tanto princípio como fim. Mas a eternidade não tem nenhum dos dois. O tempo se move do futuro, através do presente para o passado, mas a eternidade é constante. Quando o futuro depósito de tempo tiver passado através do presente, nada será deixado para correr através do “agora”. O tempo do tempo terá esgotado. Assim, nada será deixado senão a eterna constância.

Como a eternidade de Deus deve ser vista à partir da perspectiva de qualidade (altura e profundidade) e não de quantidade (duração que é imensurável), a vida dada por Deus aos eleitos deve ser vista à partir da mesma perspectiva. Embora os eleitos de Deus sejam criaturas do tempo, eles possuem ou possuirão vida em corpos mortais. Cristo disse, “...Eu vim para que possam ter vida, e para que a possam ter mais abundantemente” (João 10:10). Dizer que a nova vida começa com o novo nascimento pode parecer uma observação banal. Mas é pior do que superficialidade. É uma meia-verdade. Esta vida vem de Deus, e é eterna. Estritamente de um ponto de vista humano, esta vida se estende tanto para o passado (2 Timóteo 1:9) como para o futuro (João 6:51). Os eleitos a quem foram dados a graça em Cristo antes do mundo começar, viverão para sempre.

O propósito eterno de Deus não pode ser considerado como uma pré-ordenação sem vida. As idéias deístas podem se levantar somente de uma concentração má equilibrada e não saudável sobre o aspecto da visão do homem da eternidade. O eterno decreto de Deus deve ser considerado como vivo e relevante tanto hoje e amanhã como o foi ontem, porque Deus habita a eternidade. Se Deus não fosse eterno, não haveria um pacto da graça eterno (Hebreus 13:20,21). Este pacto é unilateral. Somente o Deus eterno o fez e o mantém. Se a eternidade de Deus pudesse ser medida, Ele não seria imenso, imutável e perfeito (2 Pedro 3:8).

A vida eterna obtida pela graça é a maior de todas - qualitativamente e quantitativamente. A qualidade desta vida lhe dá quantidade. Embora o crente esteja neste mundo do tempo, pela graça ele não é deste mundo do tempo. Sua riqueza não é uma duração inexaurível, mas a vida eterna, que é sem fim. Quando o cristão passa do tempo para eternidade, a extensidade de sua experiência é substituída pela intensidade.

 


Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 21 de Julho de 2004.



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