Pós-Milenismo

por

Loraine Boettner, D.D.a

 


Capítulo 2 - Enunciado da Doutrina



Nós definimos o Pós-Milenismo como aquela visão das últimas coisas que sustenta que o Reino de Deus já está agora sendo estendido no mundo através da pregação do Evangelho e da obra salvadora do Espírito Santo nos corações de indivíduos, que o mundo finalmente será Cristianizado, e que o retorno de Cristo ocorrerá no final de um longo período de justiça e paz comumente chamado o “Milênio”. Deve ser acrescentado que nos princípios pós-milenistas, a segunda vinda de Cristo será seguida imediatamente pela ressurreição geral, pelo julgamento geral, e pela introdução do céu e do inferno em sua plenitude.

O Milênio para o qual os Pós-Milenistas olham adiante é, dessa forma, uma era de ouro de prosperidade espiritual durante esta presente dispensação, isto é, durante a era da Igreja, e será produzido através de forças já neste momento ativas no mundo. Ele é período de tempo indefinidamente longo, talvez muito mais longo do que mil anos literais. O caráter transformado dos indivíduos refletirá em um enlevamento da vida social, econômica, política e cultural da humanidade. Portanto, o mundo de uma forma geral gozará de um estado de justiça tal como no presente tempo tem sido visto somente em relativamente pequenos e isolados grupos, como por exemplo, em alguns círculos familiares, alguns grupos de igrejas locais e organizações de parentes.

Isto não significa que haverá um tempo nesta terra quando cada pessoa será um cristão, ou que todo pecado será abolido. Mas, significa que o mal, em todas suas muitas formas, finalmente será reduzido à proporções insignificantes, que os princípios cristãos serão a regra, e não a exceção, e que Cristo retornará a um mundo verdadeiramente cristianizado.

Além disso, o Pós-Milenismo sustenta que a proclamação universal do Evangelho e a final conversão da larga maioria dos homens em todas as nações durante a presente dispensação, foi o expresso mandamento, propósito e promessa da Grande Comissão dada pelo próprio Cristo, quando Ele disse: “É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém” (Mateus 28:18-20).

Nós cremos que a Grande Comissão não inclui meramente o formal e externo anúncio do Evangelho pregado como um “testemunho” para as nações, como os Pré-Milenistas e Amilenistas sustentam, mas a verdadeira e eficaz evangelização de todas as nações de forma que os corações e vidas das pessoas sejam transformados por ela. Isto parece totalmente claro à partir do fato de que toda autoridade no céu e na terra e uma varredura sem fim de conquista foi dada a Cristo e através dEle para os Seus discípulos, especificamente para esse propósito. Os discípulos foram ordenados não meramente para pregar, mas para fazer discípulos de todas as nações. Não foi para uma experiência duvidosa que foram chamados, mas para um triunfo certo. A pregação do Evangelho sob a direção do Espírito Santo e durante esta dispensação é, portanto, os meios todo-suficientes para a realização deste propósito.

Nós devemos reconhecer que a Igreja durante os dezenove séculos passados tem sido extremamente negligente em seu dever, e que a urgente necessidade de nossa época é que ela tome seriamente a tarefa lhe designada. Em vez de discussões de problemas sociais e econômicos, críticas literárias e entretenimento superficial no púlpito, a necessidade é de sermões com real conteúdo do Evangelho, designado para mudar vidas e salvar almas. A carga de negligência aplica-se, certamente, não somente aos ministros, mas igualmente à laicidade. Cada indivíduo cristão é chamado para dar seu testemunho e para mostrar sua fé pelo testemunho pessoal, ou através da distribuição da palavra impressa, ou através do generoso e eficaz uso de seu tempo e dinheiro para os propósitos cristãos. Cristo ordenou a evangelização do mundo. Esta é a nossa tarefa. Certamente Ele não retornará, e de fato não pode, e dirá para Sua Igreja: “Bem está, servo bom e fiel”, até que a tarefa tenha sido consumada. O Rev. J. Marcellus Kik disse:

“Que ainda há um remanescente de paganismo e papismo no mundo é uma falha principalmente da Igreja. A Palavra de Deus é tão poderosa na nossa geração como o era durante a história primitiva da Igreja. O poder do Evangelho é tão forte neste século como o era nos dias da Reforma. Esses inimigos teriam sido completamente conquistados, se os cristãos desses dias e época fossem tão vigorosos, intrépidos, fervorosos, piedosos, e féis como o eram os cristãos nos primeiros séculos e no tempo da Reforma” (Uma Escatologia de Vitória, p.250).

Em contraste com isto, o Pré-Milenismo sustenta que o mundo não será convertido nesta dispensação, que é, na realidade, vã a esperança por sua conversão antes do retorno de Cristo. Ele sustenta, antes, que o mundo está crescendo progressivamente pior, que a presente geração terminará numa grande apostasia e rebelião, culminado pelo reino do Anticristo e pela batalha do Armagedon, no qual período Cristo virá com repentino e devastador poder para resgatar Seu povo, destruir Seus inimigos, e estabelecer um reino terreno de mil anos com Jerusalém como sua capital. Muitos parecem convencidos de que nós estamos agora no último estágio da apostasia Laodiceana, e que o fim está muito próximo. O Pré-Milenismo, então, desespera-se do poder do Evangelho para cristianizar o mundo, e afirma que ele é para ser pregado somente como um testemunho. Enquanto o Pós-Milenismo sustenta que a vinda de Cristo terminará esta era e que ela será seguida pelo estado eterno, o Pré-Milenismo sustenta que Sua vinda será seguida por outra dispensação, o Milênio, ou era do reino, e que a ressurreição final e o julgamento não ocorrerão até que terminem os mil anos. Tem sido também uma doutrina padrão do Pré-Milenismo em todas as gerações que a vinda de Cristo está “próxima” ou é “iminente”, ainda que cada uma das gerações dos Pré-Milenistas, desde o primeiro século até o presente tempo, tenha se equivocado neste posto.

O Pré-Milenismo, em sua forma dispensacional, divide a segunda vinda de Cristo em duas partes: (1) o Rapto, ou Sua vinda “para” Seus santos, no qual tempo os justos mortos de todas as gerações serão ressurretos na “primeira ressurreição”, os justos vivos serão transladados, e ambos grupos subirão para encontrar o Senhor nos ares; e (2) a Revelação, que ocorrerá sete anos mais tarde, no final da Grande Tribulação, no qual tempo Cristo retornará à terra “com” Seus santos, dominará o Anticristo, destruirá e aniquilará todos os Seus inimigos, ressuscitará todos os justos que morreram ou tenham sido mortos durante a Grande Tribulação, e estabelecerá Seu Reino na terra. No final do Milênio, os ímpios mortos serão ressurretos numa ressurreição final, e isto será seguido pelo julgamento deles e pela introdução do estado eterno. O Milênio no qual os Pré-Milenistas crêem é, então, um governo direto e pessoal de Cristo sobre esta terra.

O Amilenismo também difere do Pós-Milenismo, sustentando que o mundo não será cristianizado antes do fim chegar, que o mundo na realidade continuará assim como ele está agora, com um paralelo e contínuo desenvolvimento tanto do bem como do mal, do Reino de Deus e do reino de Satanás. Contudo, ele concorda com o Pós-Milenismo, afirmando que Cristo não estabelecerá um reino político e terreno, e que Seu retorno será seguido por uma ressurreição e julgamento universal. Pós- e Amilenistas, assim, concordam que o Reino de Cristo neste mundo não será político e econômico, mas espiritual e agora presente nos corações do Seu povo e internamente manifestado na Igreja.

O Amilenismo, como o termo implica, não apresenta um Milênio de maneira alguma. Alguns Amilenistas aplicam o termo à toda era cristã, entre o primeiro e segundo advento de Cristo. Alguns o aplicam a uma era relativamente cristã e pacífica, assim como a Igreja desfrutou após a amarga perseguição dos três primeiros séculos, em cujo tempo o Imperador Constantino fez do Cristianismo a preferida religião do Império Romano. Outros o aplicam a um estado intermediário. A posição dos Amilenistas não necessariamente lhes evita de crer que o mundo possa ser Cristianizado antes do fim chegar, mas a maioria dos Amilenistas não crê dessa forma. Antes, eles preferem dizer que provavelmente não haverá muita mudança relativa. Em suporte a isto, eles citam a parábola do trigo e do joio, na qual ambas crescem juntos até a colheita. Historicamente a principal pressão do Amilenismo tem sido mais vigorosa contra o Pré-Milenismo do que contra o Pós-Milenismo, visto que ele [o Pós-Milenismo] interpreta Apocalipse 20 simbolicamente e não crê que Cristo reinará pessoalmente num reino terreno.

Deve ser relembrado, contudo, que enquanto Pós-, A-, e Pré-Milenistas diferem com respeito à maneira e o tempo do retorno de Cristo, isto é, em consideração aos eventos que precederão ou seguirão Seu retorno, eles concordam com respeito ao fato de que Ele retornará pessoalmente, visivelmente e em grande glória. Cada um igualmente aguardando pela “bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo” (Tito 2:13). Cada um reconhecendo a declaração de Paulo que: “O mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus” (1 Tessalonicenses 4:16). O retorno de Cristo é ensinado tão claramente e tão repetidamente nas Escrituras que não pode haver nenhuma dúvida com respeito à isto, para aqueles que aceitam a Bíblia como a Palavra de Deus. Eles também concordam que em Sua vinda Ele ressuscitará os mortos, executará o juízo, e finalmente instituirá o estado eterno. Nenhuma daquelas visões tem uma tendência inerentemente liberal. Portanto, os assuntos nos quais eles concordam, são muito mais importantes do que aqueles nos quais eles discordam. Este fato deve lhes permitir cooperar como evangélicos e para apresentar uma frente unida contra os Modernistas e Liberais, os quais mais ou menos consistentemente negam o sobrenatural durante toda a abrangência da verdade da Bíblia.

 


Tradução livre: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 15 de Novembro de 2002.


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