“Forçado a Crer” (2)

por

Vincent Cheung

 

Eu decidi citar mais exemplos de Hodge. Novamente, isto não é para selecioná-lo para o criticismo, como se ele fosse especialmente errado ou incompetente — não, seus erros e inconsistências são muito disseminados, e comuns à maioria dos calvinistas que leio, e eu leio somente os melhores. Assim, estou dizendo que este é um problema sério, e gostaria de dar mais exemplos, de forma que os leitores poderão se precaver quando estudando obras teológicas.

Contudo, visto que em meus próprios escritos já tratei de todos os problemas que estão presentes em Hodge, eu oferecerei apenas breves comentários para cada exemplo, e algumas vezes apenas declararei minha posição e continuarei, para que esta série de artigos não se torne importunamente longa.

Você pode encontrar minhas explicações e argumentos para tudo o que for trazido nesta série em minha Systematic Theology, Ultimate Questions, Commentary on Ephesians e nos artigos “The Problem of Evil”[tradução], “Arguing by Intuition” [tradução] e “The Sincere Offer of the Gospel” [tradução].

A permissão do pecado, em sua relação tanto com a justiça como com a bondade de Deus, é um mistério insolúvel, e todas as tentativas de resolvê-lo somente obscurecem o conselho com palavras sem conhecimento. É, contudo, o privilégio da nossa fé saber, embora não da nossa filosofia compreender, que ela foi uma permissão mui sábia, justa e misericordiosa; e que ela redundará para a glória de Deus e para o bem dos Seus escolhidos. (160)

O pecado não ocorreu apenas por mera permissão. O pecado não é “um mistério insolúvel”, visto que a Escritura o explica. Hodge torna o assunto “obscuro” o suficiente sem necessidade alguma.

Deus, possuindo pré-conhecimento e poder infinito, existiu sozinho desde a eternidade; e no tempo, motivado por Si mesmo, começou a criar num vácuo absoluto. Todas as causas ou condições limitantes que existiram mais tarde foram, antes de mais nada, intencionalmente trazidas à existência por Si mesmo, com perfeito pré-conhecimento de sua natureza, relações e resultados. Se Deus então, prevendo que se Ele criasse um certo agente livre e o colocasse em certas relações, ele agiria livremente de uma certa maneira, e todavia, com este conhecimento seguiu em frente para criar este próprio agente livre e colocá-lo precisamente nestas posições, Deus estava, ao assim fazer, obviamente pré-determinando a certeza futura do ato previsto...(203)

Todavia, o decreto permissivo de Deus determina verdadeiramente a certeza futura do ato; porque, Deus sabendo certamente que o homem em questão em dadas circunstâncias assim agiria, colocou o próprio homem precisamente naquelas circunstâncias nas quais ele deveria assim agir. (210)

Isto é exatamente como muitos arminianos e open teístas explicam a soberania de Deus, que Deus exercita Sua “soberania” sobre os homens meramente colocando-os em certas situações nas quais Deus prevê como eles pensariam e agiriam, antes do que diretamente agir sobre as mentes para determinar seus pensamentos e ações. O que Hodge diz aqui não é apenas Calvinismo inconsistente — não é Calvinismo de forma alguma.

Nós temos o fato distintivamente revelado de que Deus decretou os atos livres dos homens, e, todavia, que os agentes são, não obstante, responsáveis, e conseqüentemente, não obstante isso, livres em seus atos. — Atos 2:23; 3:18; 4:27, 28; Gênesis 50:20, etc. (210)

Ele fala desta forma durante todo o livro, mas embora algumas destas passagens [da Bíblia] declarem que os atos foram pré-determinados por Deus, nenhuma delas diz que aqueles atos são livres. De fato, é óbvio que estas passagens explicitamente provam o próprio oposto do que Hodge reivindica, ou seja, que todos aqueles atos foram pré-determinados por Deus de uma forma que os homens não são livres. A “liberdade” assim revelada está puramente na imaginação falaciosa de Hodge.

Além do mais, Hodge nunca prova que a responsabilidade pressupõe liberdade, que é uma premissa anti-bíblica que tem manchado a maioria dos escritos calvinistas, a qual tenho repetidamente e conclusivamente refutado.

A admissão do pecado na criação de um Deus infinitamente sábio, poderoso e santo é um grande mistério, do qual nenhuma explicação pode ser dada. Mas que Deus não pode ser autor do pecado é provado —

1st. Da natureza do pecado, o qual é, em sua essência, a carência de conformidade à lei, e a desobediência ao Legislador.

2d. Da natureza de Deus, que é em Sua essência santo, e que na administração de Seu reino sempre proíbe e pune o pecado.

3d. Da natureza do homem, que é um agente livre responsável e que origina os seus próprios atos. A Escritura sempre atribui à graça divina as boas ações, e ao coração mal as ações pecaminosas dos homens. (211)

Apenas porque Hodge não pode resolver algo não significa que isto seja um “grande mistério, do qual nenhuma explicação pode ser dada”. [A admissão do pecado] não é um mistério se a Escritura claramente a explica, e assim ela o faz.

Então, nenhum dos três pontos prova que Deus não pode ser o autor do pecado.

Ponto #1 não mostra que Deus não possa ser o autor do pecado; antes, se Deus é o autor do pecado, o ponto #1 apenas nos mostra que Ele o iniciou.

Ponto #2 também falha. Ele nem mesmo começa a nos dizer o porquê Deus não pode ser o autor do pecado; antes, se Deus é o autor do pecado, ele nos diz que Seu ato de autorizar o pecado é um ato santo. Ser o “autor” do pecado não é a mesma coisa que pecar.

Ponto #3 é uma falácia, pois nas páginas anteriores do livro, ele tentou, mas falhou, mostrar que o homem é um “agente livre que origina seus próprios atos”. Então, a segunda parte do ponto #3, embora comumente assumida, é completamente falsa. Sim, a Escritura acusa os atos pecaminosos dos homens, e diz que Deus os julgará, mas os atribui ao decreto soberano e ao poder ativo de Deus.

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Nos melhores calvinistas, você usualmente encontrará pelo menos um destes principais erros grotescos em todas as páginas; nos calvinistas medianos, você encontrará vários destes principais erros grotescos em todas as páginas; e os piores calvinistas são realmente arminianos. Eu não estou exagerando — este é um problema sério e difundido.

Se vamos ser cristãos, então, descartemos todas as premissas não-cristãs, e se vamos ser calvinistas, então, renunciemos todas as suposições arminianas. Hodge é tão severamente debilitado em seu raciocínio porque ele está arrastando todo o peso do Arminianismo e do humanismo com ele, enquanto ele tenta ser um calvinista. A maioria dos calvinistas tem feito a mesma coisa.

Haverá mais dois artigos nesta série nos quais providenciarei exemplos adicionais de Hodge.


[Leia a parte I]

[Leia a parte III]

[Leia a parte IV]

 

 

LEITURA RECOMENDADA:

Vincent Cheung, Systematic Theology
Vincent Cheung, Commentary on Ephesians
Vincent Cheung, Ultimate Questions
(Vejawww.rmiweb.org/books.htm )

Vincent Cheung, The Problem of Evil - [tradução]
Vincent Cheung, Arguing by Intuition - [tradução]
(Veja www.rmiweb.org/other.htm )

Vincent Cheung, The “Sincere Offer” of the Gospel, Part 1 - [tradução]
Vincent Cheung, The “Sincere Offer” of the Gospel, Part 2 - [tradução]

Gordon Clark, Predestination
Gordon Clark, God and Evil
(Veja www.monergismbooks.com )





Nota sobre o autor: Vincent Cheung é o presidente da Reformation Ministries International [Ministério Reformado Internacional]. Ele é o autor de mais de vinte livros e centenas de palestras sobre uma vasta gama de tópicos na teologia, filosofia, apologética e espiritualidade. Através dos seus livros e palestras, ele está treinando cristãos para entender, proclamar, defender e praticar a cosmovisão bíblica como um sistema de pensamento compreensivo e coerente, revelado por Deus na Escritura. Ele e sua esposa, Denise, residem em Boston, Massachusetts. http://www.rmiweb.org/


Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 14 de Abril de 2005.


http://www.monergismo.com/

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